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Delegação de competências

No documento Processo legislativo estadual (páginas 72-75)

CAP 3 SISTEMA DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADOTADO NO MODELO FEDERATIVO BRASILEIRO

3.2 Delegação de competências

Concernente à delegação de competências, com precedentes na história constitucional brasileira,107 prevista agora no parágrafo único do artigo 22, lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas nos vinte e nove incisos deste artigo. Vê-se que todas as matérias discriminadas no extenso rol de incisos do artigo 22 podem ser objeto de delegação108, desde que a matéria delegada seja delimitada em seu objeto, isto é, cinja- se a questões específicas, para atender a peculiaridades regionais, que, aliás, o próprio constituinte originário, no § 3º do art. 24, reconhece que há. Por isso mesmo, embora se deva reverência ao princípio da igualdade de tratamento às entidades federadas, indaga- se se poderia o legislador federal, em homenagem à dissimetria entre os Estados e atendendo a peculiaridades regionais, delegar somente a um ou a alguns ou, deveria delegar necessariamente a todos os Estados competência para legislar sobre matéria privativa da União. Alexandre de Moraes, após acentuar que na delegação devem vir satisfeitos os requisitos formal (lei complementar federal) e material (particularização de questões específicas do elenco das matérias privativas da União), ressalta outro requisito à delegação, o implícito, decorrente do art. 19 da CF: “vedação de criação, por parte de qualquer dos entes federativos, de preferências entre si. Dessa forma, a Lei Complementar editada pela União deverá delegar um ponto específico de sua competência a todos os Estados, sob pena de ferimento do princípio da igualdade

106 Idem, p. 40-41.

107 Constituição de 1937, art. 17: “Nas matérias de competência exclusiva da União, a lei poderá

delegar aos Estados a faculdade de legislar, seja para regular a matéria, seja para suprir as lacunas da legislação federal, quando se trate de questão que interesse, de maneira predominante, a um ou alguns Estados. Nesse caso, a lei votada pela Assembléia Estadual só entrará em vigor mediante aprovação do Governo Federal.”

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Fernanda Dias Menezes de Almeida anota ressalva e crítica a essa possibilidade de todas as matérias arroladas nos artigo 22, indiscriminadamente, poderem ser objeto de delegação: “A ressalva diz respeito às matérias dos incisos XI, XXI, XXIV e XXVIII. Em relação a elas entendemos que não se aplica o parágrafo único do artigo 22, uma vez que os Estados legislam por direito próprio sobre questões específicas, sempre que a competência da União se restringe à edição de normas gerais, não dependendo, portanto, de nenhuma delegação.” Ob. cit., p. 93.

federativa”.109 Foi o que fez o legislador federal, ao editar a Lei Complementar n.

103, de 14 de julho de 2000, autorizando “os Estados e o Distrito Federal a instituir

o piso salarial a que se refere o inciso V do art. 7º da Constituição Federal, por

aplicação do disposto no parágrafo único do seu art. 22”. Pelo pioneirismo da lei,

transcrevem-se os seus dois artigos:

“Art. 1º - Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal para os empregados que não tenham piso salarial definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho.

§ 1º - A autorização de que trata este artigo não poderá ser exercida:

I – no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para os cargos de Governador dos Estados e do Distrito Federal e de Deputados Estaduais e Distritais;

II – em relação à remuneração de servidores públicos municipais. § 2º - O piso salarial a que se refere o caput poderá ser estendido aos empregados domésticos.

Art. 2º - Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.”

Decorrente desta específica autorização, no Estado de São Paulo, por exemplo, foram editadas as leis ordinárias n.s 12.640/07 e 12.967/08. Na exposição de motivos do projeto de lei n. 180/08, do qual originou esta última lei, consta: “Trata a presente de proposta legislativa de reajuste dos valores fixados na Lei n. 12.640, de 11 de julho de 2007, que, no âmbito do Estado de São Paulo, instituiu pisos salariais para os trabalhadores que especificou, nos termos da delegação contida na Lei

Complementar n° 103, de 14 de julho de 2000, editada nos termos dos artigos 7°,

inciso V, e 22, parágrafo único, da Constituição Federal.” Também pelo valor histórico, reproduz-se:

“Lei n. 12.967, de 29 de abril de 2008 Revaloriza os pisos salariais mensais dos trabalhadores que especifica, instituídos pela Lei n. 12.640, de 11 de julho de 2007. O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei: Artigo 1º – O artigo 1º da Lei n. 12.640, de 11 de julho de 2007, passa a vigorar com a seguinte redação:

“ Artigo 1º - No âmbito do Estado de São Paulo, os pisos salariais mensais dos trabalhadores a seguir indicados ficam fixados em:

I - R$ 450,00 (quatrocentos e cinqüenta reais), para os trabalhadores domésticos, serventes, trabalhadores agropecuários e florestais, pescadores, contínuos, mensageiros e trabalhadores de serviços de limpeza e conservação, trabalhadores de serviços de manutenção de áreas verdes e de logradouros públicos, auxiliares de serviços gerais de escritório, empregados não-especializados do comércio, da indústria e de serviços administrativos, cumins, “barboys”, lavadeiros, ascensoristas, “motoboys”, trabalhadores de movimentação e manipulação de mercadorias e materiais e trabalhadores não-especializados de minas e pedreiras;

II - R$ 475,00 (quatrocentos e setenta e cinco reais), para os operadores de máquinas e implementos agrícolas e florestais, de máquinas da construção civil, de mineração e de cortar e lavrar madeira, classificadores de correspondência e carteiros, tintureiros, barbeiros, cabeleireiros, manicures e pedicures, dedetizadores, vendedores, trabalhadores de costura e estofadores, pedreiros, trabalhadores de preparação de alimentos e bebidas, de fabricação e confecção de papel e papelão, trabalhadores em serviços de proteção e segurança pessoal e patrimonial, trabalhadores de serviços de turismo e hospedagem, garçons, cobradores de transportes coletivos, “barmen”, pintores, encanadores, soldadores, chapeadores, montadores de estruturas metálicas, vidreiros e ceramistas, fiandeiros, tecelões, tingidores, trabalhadores de curtimento, joalheiros, ourives, operadores de máquinas de escritório, secretários, datilógrafos, digitadores, telefonistas, operadores de telefone e de “telemarketing”, atendentes e comissários de serviços de transporte de passageiros, trabalhadores de redes de energia e de telecomunicações, mestres e contramestres, marceneiros, trabalhadores em usinagem de metais, ajustadores mecânicos, montadores de máquinas, operadores de instalações de processamento químico e supervisores de produção e manutenção industrial;

III - R$ 505,00 (quinhentos e cinco reais), para os administradores agropecuários e florestais, trabalhadores de serviços de higiene e saúde, chefes de serviços de transportes e de comunicações, supervisores de compras e de vendas, agentes técnicos em vendas e representantes comerciais, operadores de estação de rádio e de estação de televisão, de equipamentos de sonorização e de projeção cinematográfica e técnicos em eletrônica.” (NR)

Artigo 2º – Esta lei entra em vigor no primeiro dia do mês subseqüente ao da data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 29 de abril de 2008. JOSÉ SERRA

Guilherme Afif Domingos

Secretário do Emprego e Relações do Trabalho Aloysio Nunes Ferreira Filho

Secretário-Chefe da Casa Civil”

Buscando propiciar efetiva flexibilização na distribuição de competências privativas da União mediante delegação aos Estados, outros projetos de lei complementar tramitam no Congresso Nacional. 110

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Na Câmara dos Deputados: PLP n. 272/90; PLP 33/03; PLP 47/03; PLP 136/07 (autoriza os Estados a legislar sobre mobilidade urbana, a partir das diretrizes nacionais que estabelece, conforme prevê o parágrafo único do art. 22 da Constituição Federal).

No Senado: PLS n. 21/2005; PLS 52/2007 (autoriza os Estados e o Distrito Federal a legislar sobre direito penal em questões específicas que define, nos termos do art. 22, parágrafo único, da Constituição Federal).

No documento Processo legislativo estadual (páginas 72-75)