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CAP 8 SANÇÃO, VETO, PROMULGAÇÃO E PUBLICAÇÃO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS LEIS

8.4 Promulgação Publicação

Outra questão, agora atinente à hipótese de veto parcial com rejeição, pela Assembléia Legislativa, e conseqüente promulgação da matéria. José Afonso da Silva, na segunda edição do livro Processo Constitucional de Formação das Leis, reafirma que ainda haveria a seguinte prática:

“Projeto vetado em parte, rejeitado o veto. (...) No Estado de São Paulo, numa hipótese como essa, o Presidente da Assembléia Legislativa, sendo mantida a parte vetada, incorpora-se à parte sancionada e publicada, e promulga tudo de uma vez, mas com número diferente. De modo que a parte sancionada e promulgada pelo Governador toma uma numeração, depois com a queda do veto parcial e incorporação do texto à parte não vetada, já transformada em lei, promulga-se tudo com outra numeração, ficando a mesma lei com dois números, sem motivo justificado e, talvez, pelo equívoco de pensar que a parte sancionada não foi promulgada, o que não é certo; a verdade é que, com o procedimento usado, além da confusão da mesma lei com números diversos, uma parte foi duplamente promulgada por autoridades distintas: Governador e Presidente da Assembléia.”292

Ocorre que há muito assim não mais se procede. A parte vetada do projeto e novamente aprovada pela Assembléia com a conseqüente rejeição do veto é promulgada, tanto pelo Governador, como pelo Presidente da Assembléia ou pelo primeiro Vice-Presidente, com o mesmo número da lei relativa à parte sancionada do projeto, como se pode constatar em publicações oficiais. 293

291 Idem, p. 228.

292 Ob. cit., p. 241-242.

293 - Lei Complementar n. 857, de 20 de maio de 1999, publicada no Diário Oficial de 21 de maio

de 1999, e a publicação da “parte vetada pelo senhor governador do Estado e mantida pela Assembléia Legislativa, do projeto que se transformou na Lei Complementar n. 857 (...) Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo, nos termos do artigo 28, § 8º, da Constituição do Estado, o seguinte dispositivo da Lei Complementar n. 857, de 20 de maio de 1999, da qual passa a fazer parte integrante:” Publicada em 11-12-1999, Diário Oficial do Estado – Poder Legislativo, p. 1.

Contudo, independentemente de a votação ser ostensiva ou secreta, com ou sem destaque, imperioso que haja deliberação do Legislativo sobre a matéria vetada. De fato, a ausência de deliberação, sobretudo nos vetos parciais, propicia incerteza e insegurança jurídicas. Aliás, constata-se um substancial déficit deliberativo, tanto de Assembléias Legislativas, como a paulista, e.g., quanto do Congresso Nacional concernente aos vetos opostos pelo Executivo. No Congresso, pendente de análise, há “140 projetos de lei vetados, perfazendo 881 partes sobres as quais incidiu a negação do Poder Executivo. Se à cifra aditarmos 18 projetos de lei com 178 dispositivos vetados, nem sequer lidos, conforme exige o regimento comum do Congresso, o total de proposições que tiveram negada a aprovação pelo Executivo atinge número talvez sem precedente na história do Parlamento: 158 projetos de lei e 1.059 partes a serem apreciados”. 294 Na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo remanesciam na Ordem do Dia da última sessão de 2008, para apreciação, mais de quatrocentos projetos de lei vetados, alguns de 1995 (itens 32, 33 e 34).295 Todavia, ao contrário do que ocorre nas sessões congressuais, não há o sobrestamento da deliberação de outras proposições, ou seja, não há ‘trancamento’ das outras matérias da Ordem do Dia, resolvendo-se a primazia de uma proposição sobre outra, para discussão e votação, mediante requerimento de preferência, regimentalmente previsto.

- Lei n. 10.710, de 29 de dezembro de 2000, publicada no Diário Oficial de 30 de dezembro de 2000, e a publicação das “partes vetadas pelo senhor governador do Estado e mantidas pela Assembléia Legislativa, do projeto que se transformou na Lei n. 10.710 (...) Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo, nos termos do artigo 28, § 8º, da Constituição do Estado, os seguintes dispositivos da Lei n. 10.710, de 29 de dezembro de 2000, da qual passam a fazer parte integrante:”. Publicada no Diário Oficial do Estado – Poder Legislativo, p. 1.

294 MACIEL, Marco. Veto e insegurança jurídica. Folha de S. Paulo, edição de 27-9-2007, p. A-3. 295 Na última sessão ordinária de 2008 constavam na Ordem do Dia 432 projetos de lei vetados. Fonte:

Secretaria Geral Parlamentar da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado – Poder Legislativo, edição de 18-12-2008, p. 8-15.

CONCLUSÕES

Partiu-se da premissa de que a Constituição de 1988 não mais impõe, de forma expressa, a compulsória observância do processo legislativo federal ao constituinte estadual. De fato, a ordem constitucional imediatamente anterior, em incontestável anti-federalismo, determinava incorporação automática ao direito constitucional legislado dos Estados, das disposições nela constantes. Ademais, impunha expressamente a obrigatória observância do princípio do processo legislativo.

O processo legislativo federal remanesce agora como princípio implícito e, se remanesce como princípio implícito, os Estados-membros não estão obrigados à observância dessa implícita limitação à sua própria autonomia; máxime enquanto padrão normativo a ser simetricamente adotado por eles. A essas conclusões, perfilhada também por uma corrente de juristas com acentuado matiz federalista, decisões majoritárias do Supremo Tribunal Federal não se filiaram, ainda; todavia, já há dissidências, como a do Min. Menezes Direito, entendendo que o princípio da

simetria deve comportar modulação e, acompanhado pela Ministra Cármen Lúcia,

“considerou que a legislação ordinária no âmbito federal, que dispensa o quorum mais rigoroso da lei complementar, não impede que, na competência dos Estados-membros, seja possível exigir lei complementar. Frisou que a força da Federação brasileira deve estar exatamente na compreensão de que os Estados-membros podem fazer opções constitucionais locais com os padrões normativos disponíveis na Constituição Federal sem que isso malfira, em nenhum aspecto, qualquer princípio sensível ou qualquer limitação expressa ou implícita, e concluiu não vislumbrar razão alguma para a aplicação alargada do aludido postulado”.296 É posição diametralmente oposta à do Min. Maurício Corrêa: “pertenço à corrente segundo a qual, sobretudo em tema de elaboração de norma constitucional, havendo disposição expressa na Constituição que

determine um certo parâmetro, os Estados-membros têm de obedecer a esse princípio. Do contrário, o Poder Legislativo dos Estados se transformaria numa verdadeira balbúrdia” (ADI 486/DF).

Pressupondo que o processo legislativo estadual não precisa ser mera transcrição do federal, procedeu-se neste estudo à análise e avaliação das Constituições Estaduais e dos Regimentos Internos das Assembléias Legislativas. Nelas fundamentadas e justificadas, apresentam-se, então, as conclusões finais.

Os constituintes estaduais procuraram conceder ao processo legislativo estadual alguma peculiaridade. De fato, embora não tenham criado espécies legislativas novas, algumas Constituições Estaduais deixaram, no entanto, de adotar todas as espécies legislativas previstas na Constituição Federal, o que, contrario sensu, também se contrapõe aos “simetristas”, adeptos da aplicação da compulsória simetria do processo legislativo federal ao estadual. Com efeito, os Estados deixaram de adotar espécies legislativas que, como a medida provisória e a lei delegada, implicam capitis

diminutio para a função legiferante do Poder Legislativo. Acre, Espírito Santo,

Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins não adotaram, ainda, o regime de leis delegadas. Mas, tão-só Acre, Maranhão, Paraíba, Piauí, Santa Catarina e Tocantins já podem editar medidas provisórias. Três Estados, ao menos, não acentuando o fortalecimento da função legislativa do Executivo, deixaram de adotar o regime das leis delegadas e o das medidas provisórias: Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo. Como no ordenamento constitucional imediatamente anterior somente Acre, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo não adotavam o regime de leis delegadas e estavam proibidos de adotar o decreto-lei, vê-se que apenas São Paulo continuou mantendo postura de fortalecimento do Poder Legislativo nesse aspecto.

O constituinte mineiro não prevê como espécie legislativa do processo legislativo estadual o projeto de decreto legislativo.

Distanciando-se do paradigma federal, que não admite a iniciativa popular com titularidade para deflagrar o processo de alteração da Constituição da República, quatorze Estados admitem-na já para proposta de emenda constitucional estadual: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Fortes, certamente, na convicção de que o rol de titulares para propor emenda à Constituição Federal não é

No documento Processo legislativo estadual (páginas 197-200)