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METODOLOGIAS MULTICRITÉRIO

3.2. A METODOLOGIA MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO

3.2.1. A análise focalizada no valor

Keeney (1992) chama a atenção, primeiramente, para a busca dos valores, uma vez que estes são a razão de todo o processo decisório para, a partir disso, gerar as alternativas que são os meios para se alcançar os valores. Diferentemente da análise focalizada nas alternativas, a análise focalizada no valor ressalta a importância dos valores das pessoas nos processos de tomada de decisão. Os modelos construtivistas devem, pois, desenvolver-se a partir dos valores dos decisores e/ou afetados pelo problema, nunca a partir das alternativas existentes. A análise focalizada no valor consiste basicamente em duas atividades: primeiro, decidir o que se deseja e, segundo, imaginar como fazer.

O processo de criação de alternativas é mais enriquecedor do que aquela de escolha entre alternativas existentes. Entretanto, a tomada de decisão é usualmente focalizada na escolha entre alternativas, como se estas caracterizassem um problema por avaliação entre as mesmas. Segundo Keeney (1992), é como se as alternativas se apresentassem umas para as outras, e a decisão do problema inicia-se quando aparecem pelo menos duas alternativas.

Esta tem sido, regra geral, a decisão para o desenvolvimento de sistemas de Contabilidade Gerencial baseados em custos nas empresas. O caminho mais fácil na gestão de custos é a aplicação de metodologias já conhecidas no ambiente prático. Contudo, isto soluciona o “problema”, mas há um preço a pagar depois, quando as conseqüências aparecem. Comumente, as organizações se adaptam aos modelos, quando o caminho deve ser o inverso. Encarar a construção de um sistema de gestão contábil como uma oportunidade, para ganhar competitividade no mercado, é uma estratégia que deve seguir a abordagem construtivista do apoio à decisão.

3.2.1.1. O que são valores

Para Keeney (1992), valores são princípios utilizados para avaliação. As pessoas usam os valores para avaliar as conseqüências atuais ou potenciais de ações e inações, de propostas alternativas de decisão. Eles variam em termos de princípios éticos e são usados para guiar as preferências por escolhas.

Pode-se identificar os valores através de uma análise profunda, ou ainda de forma explícita através de afirmações expressivas do julgamento de valor humano. Ao usar o julgamento na tomada de decisão, deve-se estar certo a respeito do significado dos valores do decisor, uma vez que os mesmos são usados para articular o significado quantitativo ou qualitativo da decisão.

De acordo com Beinat (1995, p. 2), “cada decisão envolve fatos e valores: decisões objetivas não existem”. Os valores são componentes das pessoas. E, quando estas emitem opiniões, idéias e julgamentos, torna-se uma tarefa difícil a separação dos fatos das suas avaliações, principalmente porque tal distinção não é obvia.

Em geral, as pessoas têm dificuldade para analisar situações tanto simples como complexas, ou tomar decisões isentas de julgamento, uma vez que este é característica intrínseca do ser humano quando da manifestação do seu lado subjetivo. Uma pessoa pode, também, expressar os seus valores através de afirmações ou da maneira como conduz o processo de tomada de decisão. Numa decisão em grupo, os valores dos envolvidos no processo decisório podem refletir, no conjunto, os valores da organização ou mesmo de uma sociedade.

3.2.1.2. O que são funções de valor

De acordo com Beinat (1995), funções de valor são representações mat emáticas de julgamentos humanos. As funções de valor fornecem uma descrição analítica dos sistemas de valor dos atores do processo decisório e tem por objetivo captar os julgamentos humanos envolvidos na avaliação das alternativas.

“Uma função de valor traduz o desempenho de uma variável (usualmente um objetivo) em um escore de valor que representa o grau com que um objetivo de decisão (ou objetivos múltiplos) é alcançado” (Beinat, 1995, p. 8). A Figura 5 apresenta quatro exemplos de funções de valor, que representam diferentes situações decisionais e, conseqüentemente, diferentes tipos de julgamento humano.

1

0

40.000 50.000 80.000

a) Salário anual [R$/US$]

1 0 0 700 2.000 b) Nível de poluição [mg/kg] 1 0 0 1.000 2.000 c) Nível de poluição [mg/kg] 1 0 500 1.500 2.500

d) Lugares no estacionamento [número/km2]

Figura 5: Exemplos de funções de valor (adaptado de Beinat, 1995)

No eixo das ordenadas, o valor mínimo é representado pelo número 0 (zero) e o valor máximo é representado pelo número 1 (um). Estes números não têm valia dimensional, tão somente representam um escore ou contagem de valor em que o número 1 (um) indica o melhor desempenho do critério em análise, enquanto que o 0 (zero) indica o pior desempenho. Em uma função de valor, segundo Beinat (1995), as variáveis de decisão por exemplo, níveis de poluição não são analisadas pelos valores que apresentam, mas pelo que significam. Isto explicita o que vale para a decisão (o valor) em comparação com o que é medido para sustentar a decisão (a poluição).

A Figura 5a representa a função de valor mais simples e cuja aplicação verifica-se na oferta de emprego. O “valor” do salário cresce com o nível de salário, de acordo com a forma côncava normalmente aceita na economia. Por exemplo: um aumento de R$ 1.000,00 produz um “aumento de valor” maior no caso de salários mais baixos. Esta é uma representação pura de valores pessoais. Se os salários real e meta são respectivamente R$ 40.000,00 e R$ 80.000,00 anuais, então a função de valor especifica quão longe/perto cada oferta está do objetivo e do status quo. Entretanto, um outro avaliador pode expressar valores completamente diferentes do exemplo apresentado, e conseqüentemente alterar a curvatura da função de valor.

A Figura 5b, por outro lado, apresenta uma estratégia radicalmente diferente, aplicada à avaliação de emissão de poluentes de uma fábrica, cuja curva distingue somente entre boas e más situações e não ressalta valores intermediários. Qualquer nível

abaixo do limiar é tão bom quanto qualquer outro. Para a mesma situação, a Figura 5c apresenta uma estratégia mista de avaliação: abaixo de determinada concentração os “valores” são altos, ao representar boa qualidade ambiental. Após um certo nível existe uma diminuição drástica nos valores, que correspondem a um rápido aumento na deterioração ambiental. A parte final da curva é novamente achatada ao significar saturação dos efeitos.

A Figura 5d apresenta a avaliação do número de lugares no estacionamento de um centro urbano. A função mostra um número ótimo e valores decrescentes para números mais altos ou mais baixos, na medida em vez que um número baixo de lugares de estacionamento tem efeitos adversos nas atividades comerciais, enquanto que um número alto de lugares no estacionamento aumenta o risco de congestionamento e diminui a qualidade da área urbana.

As funções de valor deixam claro o que as pessoas desejam atingir. De acordo com Beinat (1995), pode-se utilizar as funções de valor não apenas para informações numéricas, mas também, para dados qualitativos expressos por um número finito de níveis, já que há uma ligação explícita entre a informação do fato e o julgamento humano. Contudo, vale ressaltar que uma função matemática não pode captar e incorporar de forma completa as variáveis existentes nos julgamentos das pessoas a complexidade dos valores, as hesitações, as sombras, as dúvidas etc. Entretanto, as funções de valor oferecem a possibilidade de tratamento dos valores e julgamentos das pessoas de forma explícita, lógica e sistemática.