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METODOLOGIAS MULTICRITÉRIO

3.2. A METODOLOGIA MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO

3.2.3. O processo decisório segundo a metodologia MCDA

3.2.3.1.5. Construção dos descritores

Diante do exposto, a estrutura arborescente reflete os valores dos decisores segundo os quais as ações potenciais são avaliadas. Contudo, até este momento da estruturação se conhece quais os aspectos levados em consideração na avaliação das ações, mas não se tem a possibilidade de comparar a conseqüência de duas ações potenciais. Tal impossibilidade se deve à ausência de informações quanto ao significado preciso de cada Ponto de Vista e à identificação das possíveis conseqüências, aceitas pelos decisores, que as ações potenciais podem impactar. Então, torna-se necessário a identificação dos graus em que cada ação pode influenciar em cada Ponto de Vista, através da sua operacionalização, por meio de descritores.

De acordo com Bana e Costa e Silva (1994), pode-se definir um descritor como um conjunto de níveis, associado a um PVF, que descreve os possíveis impactos das ações potenciais. Ao se proceder a avaliação local (avaliação de uma ação em relação a um determinado PVF) de uma ação potencial, basta identificar em qual dos níveis do seu descritor esta ação impacta. Para tal, os níveis de impacto devem ser bem definidos, de tal forma que aos decisores/atores não suscitem dúvidas entre um nível de impacto e outro. Além disso, devem ser ordenados, com a definição da direção de preferência, de forma a identificar as diferentes atratividades em cada nível de impacto (Bana e Costa e Silva, 1994). Pode-se entender a atratividade como a intensidade de preferência de um nível em relação a outro. Portanto, os possíveis níveis devem ser ordenados do melhor ao pior nível de impacto, constituindo-se numa

escala de preferência local.

A existência de tal é, neste tipo de abordagem (baseada nos valores), uma condição necessária para que cada PVF possa ser considerado operacional para a avaliação de ações potenciais. No entanto, esta condição não é suficiente e está ligada a uma segunda exigência, que se relaciona ao conceito de indicador de impacto. O impacto real de uma ação potencial sobre um PVF deve, também, ser identificado por um nível, e apenas um, da escala associada a este PVF (Bana e Costa, 1992). Pode-se dizer, então, que a etapa de construção dos descritores constitui-se como uma das mais trabalhosas para o facilitador, sendo, também, uma das mais relevantes para a construção do modelo multicritério de avaliação.

Após a construção dos descritores, solicita-se aos decisores que determinem, em cada descritor, os níveis ‘neutro’ e ‘bom’. Segundo Vansnick (1989, p. 636), “um nível neutro é um impacto considerado nem favorável, nem desfavorável em termos de um Ponto de Vista”. As ações potenciais que impactam abaixo deste ponto indicam que os decisores as consideram repulsivas, ou seja, não satisfatórias. Quanto ao nível considerado bom, pode-se dizer que as ações potenciais que impactam acima deste ponto indicam que são mais desejáveis, ou seja, satisfatórias. Portanto, os níveis bom e neutro se constituem como pontos de referência, no intervalo entre os quais impactam as conseqüências da maioria das ações potenciais.

Após o estabelecimento dos níveis de impacto neutro e bom em cada descritor, o facilitador pode, então, determinar o perfil de impacto de cada ação potencial, a qual permite a visualização da performance em todos os PVFs, de tal forma a possibilitar, entre outras coisas, a comparação entre as várias ações potenciais.

Propriedades básicas dos descritores de impacto das ações

Para Keeney (1992), um descritor de impacto deve, necessariamente, atender a três propriedades básicas: mensurabilidade, operacionalidade e compreensibilidade/inteligibilidade, as quais estão diretamente relacionadas às propriedades desejáveis dos PVFs, conforme já apresentado.

Uma questão importante, segundo Bana e Costa (1992) e Keeney (1992), refere- se aos possíveis efeitos da ambigüidade, por não possibilitar a adequada operacionalização do descritor de um Ponto de Vista e por associar-se, indevidamente, a uma ou a todas as propriedades citadas acima. De acordo com estes autores, considera- se ambíguo aquele descritor cujos níveis de impacto geram interpretação dúbia ou cujos níveis de impacto sejam semelhantes a um outro nível de impacto, relacionado a outro PVF. A ambigüidade tem como conseqüência direta a geração de dúvidas e inseguranças aos intervenientes do processo.

Considera-se mensurável um descritor formado por um número x de níveis de impactos, que o detalhem de forma a eliminar qualquer dúvida quanto à definição do PVF em análise. Um Ponto de Vista é operacional quando for adequado para descrever as possíveis conseqüências de uma ação potencial em relação a um PVF. Já, um Ponto de Vista é compreensível/inteligível quando, para os vários intervenientes no processo, tanto a descrição das conseqüências da ação quanto a interpretação destas em relação ao

PVF são entendidas pelos intervenientes da mesma maneira.

Tipos de descritores de impacto das ações

Segundo Keeney (1992), existem três tipos de descritores:

i. naturais – um descritor natural é aquele para o qual pode-se facilmente identificar uma unidade de medida, cujo significado seja igual para todos os intervenientes do processo. Tipicamente, estes descritores são associados a pontos de vista relacionados com aspectos quantitativos;

ii. construídos – um descritor construído é aquele para o qual não se consegue, naturalmente, identificar uma unidade de medida, sendo necessário proceder- se a construção dos respectivos níveis de impacto. Tipicamente, a ocorrência deste tipo de descritor se faz presente quando o Ponto de Vista se refere a aspectos qualitativos; e

iii. indiretos – um descritor indireto é aquele que faz uso de medidas indiretas (através de PVEs) para compor o descritor associado a um PVF, uma vez que não é possível a identificação de um descritor natural ou construído para o mesmo. Assim, para cada PVE (medida indireta) tem-se um descritor, o qual pode ser uma medida natural para o próprio PVE. No entanto, os níveis deste descritor, necessariamente, devem ser construídos com base no grau em que uma ação pode influenciar o PVF em questão.

Por outro lado, de acordo com Bana e Costa e Silva (1994, p. 119), “um descritor pode ser quantitativo ou qualitativo, discreto ou contínuo, direto ou indireto ou construído, e nada garante a sua unicidade, isto é, um mesmo Ponto de Vista pode ser descrito por vários indicadores diferentes”.

Um descritor é denominado quantitativo quando seus níveis de impacto são descritos apenas por números. Por outro lado, um descritor é denominado qualitativo quando seus níveis de impacto exprimem ou determinam qualidades, necessitando-se de expressões semânticas para descrever o Ponto de Vista.

Um descritor é denominado discreto quando seus níveis de impacto são descritos por um número finito. Já, um descritor é denominado contínuo quando seus níveis de impacto são descritos por números sucessivos, ou seja, por uma função contínua. Este descritor é apropriado quando o decisor necessita de um alto grau de precisão, quando a mensuração dos níveis através de descritores discretos pode provocar perda de informações e quando o número de possíveis níveis de impacto for infinito.