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METODOLOGIAS MULTICRITÉRIO

3.2. A METODOLOGIA MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO

3.2.3. O processo decisório segundo a metodologia MCDA

3.2.3.2. Fase de avaliação

3.2.3.2.3. Validação do modelo

Esta etapa representa a confirmação dos dados obtidos através dos procedimentos de avaliação da situação atual, cujo objetivo é verificar se, de fato, os decisores concordam com os resultados obtidos. Em outras palavras, esta etapa consiste em verificar se os atores envolvidos confirmam o modelo como uma representação dos seus anseios e das suas percepções. De acordo com Stewart (1997), a validade prática requer que dentro de um pequeno número de interações, o tomador de decisão seja capaz de obter suficiente entendimento da extensão da decisão e da necessária taxa de troca entre os diversos critérios, para ter confiança e para ficar satisfeito com a solução selecionada através das etapas de apoio do método empregado.

Stewart (1996) chama a atenção para alguns problemas relacionados à construção de modelos com o uso da abordagem compensatória, baseada em funções de valor. Dentre eles, destaca-se que

nem todos os critérios podem ser identificados com precisão, além do que as preferências explicitadas para prover os valores do modelo podem se desviar das preferências idealizadas pelos decisores como o resultado de uma formulação incompleta das preferências e/ou de erros de julgamentos. Neste sentido, a busca por um processo de validação do modelo construído, baseado na aprendizagem, se faz necessário para verificar se os atores participantes expressaram as suas verdadeiras percepções.

De acordo com Blumenthal (apud Bana e Costa e Vansnick, 1995a), o número de nuances que uma pessoa é capaz de introduzir ou manipular quando da expressão de um juízo absoluto é muito limitado. Esses limites variam dentro de um espaço estreito de julgamentos, os quais representam os limites da capacidade humana de processar informação. Miller (1976) atribui um número para esse limite, ao escrever sobre o “mágico número sete, mais ou menos dois”. Este estudo foi corroborado por outros pesquisadores, dentre eles Bana e Costa e Vansnick (1995a, p. 7), ao mencionarem que “o processo de interação utilizado na técnica MACBETH leva em conta estes conhecimentos. Concretamente, o MACBETH propõe ao avaliador que exprima os seus juízos absolutos de diferença de atratividade por uma de seis categorias de dimensão não necessariamente igual”.

Entretanto, nos casos em que os decisores formulam a convicção de que duas ações (ou mais) são igualmente atrativas, representa-se essas ações indiferentes por uma só dentre elas no processo de avaliação absoluta. Os procedimentos aplicados ao processo de construção do modelo compensatório de avaliação do serviço de telecomunicações da Telesc – Tele Centro Sul seguiram o aprendizado que a técnica MACBETH propiciou. Assim, por exemplo, nos caso em que os decisores assinalaram uma inconsistência semântica no preenchimento da escala de diferenças de atratividade, rapidamente eles revisaram os seus juízos, e na medida em que foram se familiarizando e aprendendo com o processo de avaliação por categorias, as situações de inconsistência se reduziram significativamente.

“Na prática, a grande dificuldade inerente ao processo de modelização reside na determinação das taxas de substituição em vários pontos no espaço dos critérios” (Raiffa, apud, Bana e Costa, 1995a, p. 11), que permitem a definição da função de valor global (critério único de síntese) ao explicitar as preferências dos decisores.

De acordo com Roy (apud, Bana e Costa, 1995a, p. 11),

“... na maioria das situações a função de valor V não é estável no espírito do decisor: quer porque basta que este atribua um pouco mais de importância a um critério para que possa mudar consideravelmente V, quer porque as apreciações do decisor sobre a importância relativa dos critérios são significativamente variáveis no tempo.

Se para um só decisor está longe de ser fácil atribuir valores precisos às taxas de substituição, perante múltiplos atores, portadores de sistemas de valor próprios e muitas vezes conflituosos, torna-se irrealista querer definir uma função de agregação única de consenso. De acordo com Roy (1993) as preferências evoluem e são de fato construídas durante o processo de apoio a decisão. Por este motivo, ao longo do processo de

construção do modelo de avaliação, os participantes (decisores e atores) aprendem mais sobre o problema e retificam, como conseqüência, os seus juízos de valor. Um procedimento estruturado de validação atua no intuito de confirmar, acima de tudo, o grau de aprendizado dos atores envolvidos com a conseqüente preferência sobre os vários critérios do modelo.

O problema da ponderação dos critérios

Segundo Bana e Costa (1995a), um problema fundamental subjacente à agregação é o da explicitação das ponderações dos vários critérios, sejam eles expressos através de taxas de compensação (como nas várias abordagens de síntese que se baseiam no conceito de compensação), sejam eles encarados como refletindo diretamente os graus de importância relativa dos vários critérios (como nos métodos não compensatórios de subordinação que se baseiam nos conceitos de concordância e discordância).

Neste sentido, Bana e Costa (1995a, p. 14), ressalta que

“... dadas as diferenças de significação teórica do conceito de ponderação inerente aos diversos métodos de análise multicritério, não tem qualquer sentido querer explicitar os valores dos coeficientes de ponderação independentemente e a montante da seleção do método de agregação mais adequado ao problema em estudo e ao tipo de sistemas de preferência dos atores respectivos. E isto porque o processo de modelização constitui um todo do qual a explicitação das preferências dos atores pelos vários critérios de avaliação é parte não dissociável”.

Contudo, as respostas dos atores têm uma natureza essencialmente qualitativa e/ou imprecisa. Paradoxalmente, tais processos, como na maioria das técnicas de ponderação, são utilizados para obter um vetor de valores precisos para os coeficientes de ponderação, o que é uma forte abstração da realidade, que na prática do apoio à decisão, de acordo com Bana e Costa (1995a), leva a aceitar que a maioria dos métodos de agregação não opera com informação qualitativa nos pesos. De acordo com a técnica aplicada ao presente estudo, aceita-se um quadro metodológico compensatório no qual, em vez de pretender-se, irrealisticamente, encontrar valores únicos para as taxas de compensação, modeliza-se as preferências dos decisores através da explicitação dos juízos de valor em escalas semânticas de atratividade, representadas pelas categorias da Escala Macbeth.

De acordo com Roy (1990), em muitos caso é difícil, e talvez arbitrário, fixar um valor numérico preciso para as taxas de substituição dos critérios utilizados no modelo de avaliação. Pode ser mais plausível inseri-las dentro de um valor mínimo e máximo possível. Portanto, torna-se igualmente difícil extrair com exatidão os limites entre as diversas expressões de valor dos decisores, principalmente por causa do subjetivismo envolvido. Isto, segundo Stewart (1996), corrobora a idéia de que a percepção do que constitui um ganho ou uma perda é subjetivo.

A técnica MACBETH utilizada neste trabalho, para a definição das funções de valor e das respectivas taxas de substituição dos pontos de vista leva em consideração aquelas informações. Portanto, o objetivo de apresentar um procedimento estruturado para a validação do modelo compensatório desenvolvido no presente estudo busca uma aproximação dos anseios dos decisores, nunca uma exatidão. A forma de abordar os decisores, ao extrair as suas preferências sobre estados possíveis, em comparação ao perfil atual do serviço de telecomunicações da Telesc – Tele Centro Sul, é um exemplo desta técnica que busca, acima de tudo, oferecer mais aprendizado aos atores envolvidos.

Além disso, deve-se considerar as observações de Miller (1976) sobre a limitação da capacidade que as pessoas têm em lidar com uma grande variedade de critérios simultaneamente. Na comparação par-a-par dos diversos pontos de vista o efeito do conjunto dos critérios pode ter sido ofuscado pela limitada comparação binária. E isto pode provocar distorções quando de uma comparação conjunta entre todos os aspectos do modelo de avaliação.

Baseado na idéia de que um processo estruturado de validação ajuda na confirmação dos resultados encontrados, além de proporcionar um melhor aprendizado aos participantes, desenvolve-se no Capítulo 4, uma contribuição a este problema específico com a elaboração de procedimentos de validação do modelo compensatório. Justifica-se tal necessidade pelo grande número de critérios (pontos de vista) envolvidos na construção do modelo de avaliação do serviço de telecomunicações da Telesc – Tele Centro Sul.

Para encerrar a etapa de avaliação, apresenta-se a análise dos resultados, que diz respeito aos comentários sobre os valores obtidos com os procedimentos de avaliação. Esta etapa, também por referir-se especificamente a cada caso, não é detalhada aqui neste capítulo de cunho teórico, mas sim no modelo construído no Capítulo 4.