• Nenhum resultado encontrado

METODOLOGIAS MULTICRITÉRIO

3.2. A METODOLOGIA MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO

3.2.3. O processo decisório segundo a metodologia MCDA

3.2.3.1.4. Família de Pontos de Vista Fundamentais

A nuvem de elementos primários de avaliação, surgida durante a fase de estruturação, é formada pelos objetivos dos atores e pelas características das ações (Bana e Costa, 1992). Para o autor, uma característica pode se revelar como suficientemente importante para a formação dos julgamentos de valor dos atores envolvidos, sem que os objetivos estejam claros. Da mesma forma, um objetivo pode emergir como importante sem que haja a necessidade de referência explícita das características. Tanto os objetivos como as características são elementos de grande importância para a construção das preferências dos atores.

Bana e Costa (1992, p.113) define um Ponto de Vista como “todo o aspecto da realidade decisória que o ator percebe como importante para a construção de um modelo de avaliação de ações existentes”. Para Montgolfier (1975, p. 46), um Ponto de Vista é “todo aspecto da realidade que uma pessoa ou uma organização considera importante para decidir sobre a escolha entre projetos”.

Portanto, os pontos de vista são as representações dos valores, dos objetivos e das crenças pessoais de cada ator interveniente, os quais são considerados como suficientemente importantes para a avaliação das ações potenciais, constituindo-se na realidade decisional dos atores, a qual direciona a construção do seu modelo de avaliação. Desta forma, os pontos de vista, bem como o modelo de avaliação resultante, são intransferíveis a outros contextos decisórios. Em última instância, os pontos de vista são revelados a partir do reagrupamento daqueles elementos primários (surgido a partir da identificação dos objetivos e das características, bem como das suas relações) que interferem na formação das preferências dos atores envolvidos. Em outras palavras, um Ponto de Vista nada mais é do que uma expressão que traduz o sistema de valor e/ou a estratégia de intervenção de um ator envolvido em um processo decisório.

Um Ponto de Vista pode ser considerado como fundamental se for independente e se for da vontade de todos os decisores. Assim,

“um Ponto de Vista é fundamental quando: (1) existe uma vontade consensual entre os atores (e o consentimento daquele que decide) de ver as ações submetidas a um processo de avaliação (absoluta e/ou relativa) restrito à coalizão dos elementos primários que formam esse Ponto de Vista e, quando (2) o desenrolar do processo de estruturação confirma a validade da hipótese de independência contida neste desejo dos atores” (Bana e Costa , 1992, p. 138).

A vontade dos decisores refere-se ao fato de que, por consenso, todos os atores intervenientes têm que concordar em um ponto: cada ação potencial deve ser submetida a uma avaliação parcial, segundo cada Ponto de Vista. A simples identificação dos candidatos a Ponto de Vista Fundamental – PVF não garante o sucesso da estruturação de um problema. Para que tais candidatos sejam validados pelos decisores, estes devem, necessariamente, respeitar certas propriedades para só, então, receber o nome de Família de Pontos de Vista Fundamentais – FPVFs. E, é com base nesta FPVFs que as ações potenciais existentes, ou que podem ser construídas, são avaliadas, a qual serve de base operacional para a construção do modelo de avaliação, tendo em vista tratar-se da representação dos aspectos essenciais, segundo os juízos de valor dos atores envolvidos.

Resumidamente, apresenta-se o significado de cada uma das nove propriedades descritas por Keeney (1992). Assim, um PVF pode ser:

i. essencial – é aquele que reflete um aspecto considerado suficientemente importante, na medida em que a sua presença é fundamental para satisfazer os anseios dos atores envolvidos, em relação ao objetivo maior. Portanto, uma FPVF é essencial quando todos os seus PVFs são relevantes para os atores e representam as percepções fundamentais do contexto decisional;

ii. controlável – é aquele capaz de ser alcançado e/ou explicado apenas pelas conseqüências das ações relacionadas ao contexto decisório em análise. Uma FPVF é controlável se as conseqüências das ações do seu contexto, julgadas importantes para o decisor, puderem ser explicadas pelo conjunto de PVFs; iii. completo (ou exaustivo) – é constituído pelos possíveis impactos

(conseqüências) segundo os juízos de valor dos atores envolvidos. Ou seja, quando da avaliação de uma ação potencial em relação a este PVF, as possíveis conseqüências desta ação devem se fazer presentes;

iv. mensurável – é aquele capaz de identificar os vários níveis de impactos (ou os graus de suas conseqüências) passíveis de serem alcançados através das ações potenciais;

v. operacional – quando é possível identificar as informações das várias ações potenciais aos seus impactos (às suas conseqüências), bem como a atratividade relativa destes níveis de impactos (conseqüências) em termos de

valor;

vi. isolável – é aquele que pode ser analisado e avaliado, independentemente de qualquer outro PVF, isto é, que permite tratamento de análise em separado dos outros PVFs;

vii. não-redundante – é aquele que não representa qualquer outro aspecto já considerado. Cada PVF deve refletir um tipo de preocupação dos atores; viii. conciso – é aquele que, além de refletir um aspecto considerado

suficientemente importante pelos atores, é relevante em relação ao contexto decisório em análise. Uma FPVF é consisa quando os PVFs integrantes são exatamente aqueles que refletem as percepções fundamentais, evitando-se que o número de PVFs seja demasiadamente grande; e

ix. compreensível/inteligível – é aquele que, para qualquer um dos atores envolvidos, tenha o mesmo significado. Ou seja, quando uma ação potencial é avaliada localmente, por um ator, a resposta oferecida sobre o impacto desta ação neste PVF deve ser entendida da mesma forma por todos os outros atores.

Após a observância destas propriedades, o conjunto dos Pontos de Vista Fundamentais passa, efetivamente, a denominar-se de família de Pontos de Vista Fundamentais. Ressalte-se, no entanto, que os decisores devem validar esta FPVF. O facilitador, então, apresenta a proposta da árvore de pontos de vista aos decisores, cuja nova negociação pode levar a algumas modificações. O significado da validação, por parte dos decisores, está diretamente vinculado ao aceite de que a estrutura representa aqueles aspectos pelos quais as ações potenciais podem ser avaliadas.

Para facilitar o processo de construção do modelo de avaliação, bem como a explicação para as outras pessoas (que não participaram do processo), de quais os aspectos levados em consideração, esta FPVF é representada, neste estudo, pela Estrutura Arborescente ou Árvore de Pontos de Vista.

Quanto a sua estrutura e a sua hierarquia, na árvore de pontos de vista, o nível superior menciona o objetivo geral dos decisores. O nível inferior a este é destinado às áreas de interesse, denominação sugerida por Bana e Costa (1992), a qual é utilizada neste trabalho. Em cada área de interesse agrupa-se todos os PVFs relacionados a um determinado assunto, os quais, por sua vez, podem ser explicados pelos Pontos de Vista Elementares – PVEs. Pode-se identificar tantas áreas de interesse quantas forem necessárias para

a apresentação dos PVFs. Assim, as áreas de interesse, por sua vez, são as explicações do objetivo geral do problema.