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2. O ESTADO DA ARTE DA GESTÃO OPERACIONAL

2.1. A CONTRIBUIÇÃO DA CONTABILIDADE GERENCIAL

2.1.1. Os métodos de custeio

2.1.1.1. Custeio por absorção

Talvez, a metodologia mais antiga de custeio de produtos seja a que aloca todos os custos aos produtos fabricados. O custeio por absorção5, desenhado para épocas em que a

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O Custeio por Absorção ou Integral representa a apropriação de “todos” os custos, quer diretos ou indiretos, quer fixos ou variáveis, aos produtos, e tem como objetivo principal valorar o custo final, isto é, o custo

mão-de-obra direta e os materiais eram os fatores de produção predominantes no processo produtivo; a tecnologia era estável; os custos de coleta e pr ocessamento de informações eram altos; os custos fixos representavam uma pequena parte dos gastos empresariais e existia um número limitado de produtos, tem como objetivo principal a avaliação dos estoques e o fornecimento de informações para os demonstrativos contábeis voltados para o público externo.

Para Martins (1996), o custeio por absorção é o método derivado da aplicação dos princípios contábeis geralmente aceitos, nascido da situação histórica mencionada acima. “Consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, e só os de produção; todos os gastos relativos ao esforço de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos” (p. 41-42). As raízes do custeio por absorção vinculam-se ao RKW6, desenvolvido na Alemanha, cujo objetivo é identificar o valor de produzir e vender. Por isso, muitas empresas utilizam o custeio por absorção com a finalidade, também, de estabelecer o preço de venda para os produtos comercializados.

O custeio por absorção, como um método tradicional para a avaliação do desempenho dos produtos, aborda administrativamente a empresa como um conjunto de unidades especializadas com uma divisão rígida de responsabilidades, cujos gerentes estimam os recursos necessários para cumprir suas tarefas funcionais e são respons áveis pelo cumprimento destas com os recursos designados. A estrutura organizacional que decompõe as operações globais da empresa em departamentos separados, cada qual com suas atividades peculiares (fabricação, armazenamento, vendas, transporte, finanças, compras etc.) é considerada como suficiente para a geração de informações dentro desta sistemática, tanto para fins de tomada de decisão como para fins de prestação de contas no âmbito externo.

Os sistemas de gestão da produção, baseados no custeio por absorção, pressupõem que os produtos e seus correspondentes volumes de produção sejam os causadores dos custos nas empresas, os quais representam um importante indicador do desempenho operacional. Assim, os custos de produção tornam-se, individualmente, o centro das decisões operacionais.

Com o objetivo principal de atribuir valor aos produtos, formas alternativas de utilização do custeio por absorção alocam custos com base, por exemplo, no consumo de mão-de-obra direta, na quantidade de horas máquinas utilizadas, no volume produzido de cada um dos itens ou, ainda, em proporção a um conjunto destes fatores. Todavia, a falta de relacionamento entre os critérios de rateio e o consumo destes recursos resulta em arbitrariedade na formação do valor monetário dos produtos, quando da aplicação deste método para fins de avaliação de desempenho. De acordo com Martins (1996), no custeio por absorção a maior parte das apropriações é feita em função de fatores de influência que, na verdade, não vinculam efetivamente cada custo a cada produto.

completo de produzir produtos. 6

O RKW (abreviação de Reichskuratorium für Wirtschalftlichtkeit) desenvolveu-se no início deste século, na Alemanha (disseminada por um órgão semelhante ao antigo CIP - Conselho Interministerial de Preços) e consiste no rateio não só dos custos de produção como também de todas as despesas da empresa, inclusive financeiras, a todos os produtos.

Pela sua própria natureza, os custos fixos são invariáveis (pelo menos dentro de um certo nível de produção) e vinculam-se muito mais à empresa (estrutura) do que aos produtos. Assim, pela arbitrariedade quanto ao uso de critérios de rateio e por proporcionar resultados pouco úteis para fins de tomada de decisões, a mensuração proveniente desta metodologia oferece, em geral, um baixo nível de representação do desempenho financeiro dos produtos.

Alternativamente, para a redução do grau de arbitrariedade dos custos, esta metodologia se utiliza do conceito de departamentalização, com a alocação dos custos, primeiramente, aos centros de custos uma vez que eles acontecem nas diversas divisões das empresas, tanto nas que participam efetivamente do processo produtivo quanto naquelas auxiliares (de apoio) que simplesmente prestam algum tipo de serviço para as demais. Como o objetivo principal desta metodologia é valorar produtos, mesmo os custos pertencentes, num primeiro estágio, aos centros de custos devem, num estágio posterior, ser repassados aos produtos por meio de algum critério de rateio.

Como regra geral, esta metodologia procura formas alternativas de melhorar o processo de mensuração do desempenho dos produtos em base econômica-financeira através da identificação de critérios de rateio que melhor demonstrem a relação entre a ocorrência dos custos e o consumo destes no processo produtivo das empresas. Para isso, criam-se vários esquemas matemáticos para a identificação dos custos.

Apesar do esquema, aparentemente lógico, de distribuição dos custos, o método do custeio por absorção é o que mais tem recebido críticas da literatura especializada, particularmente no que diz respeito a sua relevância para a avaliação de produtos e pela forma com que os seus valores são atribuídos, haja visto tratar-se de uma metodologia voltada para a dimensão econômica-financeira. A crítica maior recai sobre a arbitrariedade com que os custos são apropriados, o que torna discutível os resultados para fins de mensuração do desempenho e de tomada de decisões.

Problema como este não é, todavia, exclusividade do custeio por absorção. Mas, como o seu esquema de alocação de custos realiza-se através do uso de critérios de rateio, diretamente para os centros de custos ou para os produtos, esta situação torna-se mais crítica. Como esta metodologia, no Brasil, é aceita para fins externos auditoria, imposto de renda, relatórios contábeis etc. − comumente, o custeio por absorção volta-se para os aspectos formais da Co ntabilidade e não consegue melhorar o nível das respostas para o processo interno de tomada de decisão.

Como questões principais deste método, para fins de avaliação do desempenho dos produtos, pode-se destacar:

i. possui um relativo grau de subjetividade, mesmo quanto à valoração monetária dos produtos, uma vez que apropria de forma integral os gastos da empresa aos produtos;

ii. atende integralmente aos aspectos fiscais e, relativamente, às necessidades gerenciais das empresas em termos de apoio à decisão; e

iii. não faz a relação entre os diversos aspectos do ambiente organizacional com as questões econômica-financeiras das empresas.