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5.3 A animação na vertente educativa

Hoje em dia a animação sociocultural tem um grande desafio perante o envelhecimento demográfico da população, devido ao aumento da esperança de vida e a diminuição da taxa de natalidade. Este cenário implica mudanças a nível educacional.

A diminuição das faculdades dos idosos é algo inevitável, que origina uma nova visão da educação de adultos, com o intuito de melhorar as atitudes e capacidades cognitivas, comportamentais e emocionais da pessoa do idoso com a implementação de exercícios ou atividades da sua vida quotidiana. Daí que as atividades educativas ou socioeducativas constituem um elemento fundamental para prevenir e melhorar a deterioração biológica que se produz no ciclo de vida do ser humano. Já dissemos com a idade a inteligência fluida diminui, ao contrário da inteligência cristalizada que se mantém estável, sendo que esta última se relaciona com o vocabulário e com a informação geral (útil), similitudes e juízos. No âmbito da educação gerontológica podemos admitir uma visão otimista em que se mantêm as aptidões ou capacidades, enriquecendo-se a inteligência cristalizada com a promoção de atividades que impliquem ação e experiência (Martins, 2013: 61-62). É óbvio que essa educação gerontológica centraliza-se na formação de profissionais (adultos) que programem

e fomentem estratégias para minorar o processo de envelhecimento, proporcionando, assim, novos interesses e novas atividades, estimulando e praticando a vitalidade físico-mental, de modo a ocupar o tempo livre dos idosos.

Sabemos que a animação educativa ou socioeducativa integra a componente de animação, com características relacionadas com uma ação educativa, sendo pois uma das estratégias de intervenção que favorecem o desenvolvimento (pessoal, social) do indivíduo. A aprendizagem coletiva é muito mais motivadora que a individual, já que a sua prática permite mais facilmente assimilar os conteúdos, desenvolver competências e habilidades, explorar e questionar os conhecimentos, convertendo-se numa ajuda na melhoria das aprendizagens. De facto, aprender em grupo permite situações de descoberta, devido à partilha de saberes e o experimentar, para além de favorecer vivências, determinantes para assumir novas atitudes e comportamentos (Elizasu, 1999: 65-72).

Uma das funções fundamentais da animação (sociocultural e socioeducativa) é precisamente converter e promover os coletivos de idosos em agentes e protagonistas do seu próprio desenvolvimento (Martins, 2013: 247-256). No caso das pessoas de terceira idade há características definidas, tais como a idade (avançada), a libertação de responsabilidades profissionais ou laborais e, consequentemente, o aparecimento de mais tempo livre, associado a algum agravamento de problemas de saúde e alterações físico-motoras próprias da senescência. Com o intuito de minorar esses problemas surgidos com o processo de envelhecimento, as atividades e tarefas tem que ser diversificadas e adaptadas às situações do indivíduo e, ainda tendo em conta as suas necessidades. Por isso, quando se elabora uma intervenção de animação socioeducativa com idosos devemos ter presente os pressupostos inerentes à animação, possibilitando a sua realização pessoal e a relação grupal, a compreensão do meio envolvente e dos seus problemas e a participação na vida comunitária. Ou seja, o objetivo da animação para idosos é melhorar a integração desse coletivo específico na sociedade, de modo a se valorizarem e poderem expressar as suas opiniões (Trilla, 1993).

Deste modo, a animação de grupos possibilita aos idosos momentos de satisfação e de desfrute/prazer dos vários pressupostos socioculturais vigentes e lúdico-recreativos, desenvolvendo comportamentos, reflexões e o diálogo comunicativo (cognição estimulativa), criando novas atitudes e medidas para usufruir plenamente da vida. O promover a dinâmica da animação (socio) educativa, por intermédio de práticas (lúdicas, recreativas, de expressões e de comunicação), permite aos indivíduos colocarem-se na situação dos outros, reproduzindo situações e descobrindo novas formas de relação com o saber e de estruturação da personalidade, tendo em conta o grau de envolvimento, o tempo de autonomia e responsabilidade partilhada. Neste sentido a educação para a cidadania (ativa) deve ser uma tarefa exigente e responsável (Cunha, 2004).

Os principais objetivos da animação dos idosos conjugam-se com a promoção de pressupostos inovadores, novas descobertas, reviver experiências e memórias o que valoriza a educação ao longo da vida. Os vários tipos de atividades na prática de animação para idosos proporcionam uma vida mais harmoniosa, dinâmica, satisfatória e um certo bem-estar (afetivo e relacional), proveniente do seu envolvimento e participação. Ou seja, incrementa-se a ocupação adequada do tempo livre para evitar que o tempo de ócio não seja passivo, despersonalizante ou depressivo (frustrante). Desta maneira haverá que rentabilizar os recursos institucionais/comunitários e serviços (participação dos cuidadores) com o intuito de melhorar a qualidade de vida do idoso e, paralelamente valorizando as suas capacidades, competências, saberes e cultura (Elizasu, 1999). De acordo com estas linhas orientadoras da animação proporciona-se um incremento da autoestima e autoconfiança dos idosos.

É evidente que para organizar e desenvolver uma atividade de animação para esse coletivo de idosos é imprescindível conhecer bem o público-alvo ao nível das suas características pessoais, valores, saberes, capacidades, dificuldades, gostos pessoais, cultura, graus de dependência, etc. (contactos informais – diagnóstico de contexto). Além disso é

pertinente conhecer a instituição e os seus espaços onde se realizam as atividades de animação, em todas as suas vertentes, quer ao nível do funcionamento, organização, recursos materiais e financeiros e humanos, bem como das prioridades e objetivos dos responsáveis institucionais inerentes à prática da animação. É neste sentido que para uma animação ser eficaz e eficiente seja necessário o conhecimento da comunidade local, estudando a cultura, as tradições e os modos de vida, bem como o conhecimento de outras instituições, equipamentos e organizações sociais e culturais de modo a promover a animação intergeracional. Ou seja, no dizer de Trilla (1998) essa animação implica a interação sincronizada de quatro pilares: o coletivo de idosos (público-alvo); o animador; a instituição e os seus cuidadores e a comunidade local.

Torna-se conveniente a criação de um ambiente sereno, descontraído e aberto às experiências, de modo a despertar a curiosidade e a vontade nos idosos. Na animação socioeducativa mais específica é fundamental a escolha de atividades que não cansem os idosos, dando importância aos interesses, motivações e estado de ânimo, mas nunca obrigando ou impondo. Por isso, o animador, nas suas funções, fomenta o entusiasmo e a motivação dos idosos, desenvolvendo a empatia com o intuito de compreender os idosos, chegando mesmo a colocar-se no lugar deles. Deve ser positivo, demonstrar seriedade através dos comentários positivos de forma a gerar atitudes construtivas de ambas as partes. Ao ser importante na vida dos idosos, o animador deve ter um espírito de adaptação, de organização dos espaços, um leque de variedade de atividades/jogos e planificando os mesmos antecipadamente, de modo a apresentá-los com clareza, além de ser um observador atento e mediador ao acompanhar os idosos durante a execução das atividades/jogos.

Lembramos que as pessoas em idade de reforma ou que se aposentam, com uma idade à volta dos 65 anos, a sua preocupação fundamental é o valor económico do subsídio ou pensão, constituindo este o centro das suas atenções diárias, relegando para um segundo plano outros fatores relacionados com a vida de reformado e o modo como ocupar esse tempo de ócio. É a aqui que o papel do animador e das instituições sociais e comunitárias é importante, ao estimular e promover ações e intervenções que possam levar essas pessoas a participar ativamente em atividades que lhes dêem prazer.

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