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2.2 O envelhecimento e a velhice no ser humano

Já dissemos que envelhecemos não só fisicamente, mas também psicologicamente, porque o nosso cérebro fica menos produtivo e com menos neurónios, começando a ficar menos ativos (graus de dependência). Para além de envelhecermos fisicamente (organismo) e psicologicamente, também perdemos algum valor social, por ficarmos mais velhos e com mais incapacidades. Portanto, o papel na sociedade começa a perder relevância em diversos aspetos, nomeadamente participação social, de acordo com o papel que desempenhámos na sociedade (Zimerman, 2000: 27):

“Crise de identidade, provocada pela falta de papel social, o que levará o velho a uma perda de sua autoestima;

Mudanças de papéis na família, no trabalho e na sociedade. Com o aumento de seu tempo de vida, ele deverá se adequar a novos papeis.

Aposentadoria, já que, ao aposentar-se, ainda restam à maioria das pessoas muitos anos de vida; portanto, elas devem estar preparadas para não acabarem isoladas, deprimidas e sem rumo;

Perdas diversas, que vão da condição económica ao poder de decisão, à perda de parentes e amigos, da independência e da autonomia;

Diminuição dos contactos sociais, que se tornam reduzidos em função de suas possibilidades, distancia, vida agitada, falta de tempo, circunstâncias financeiras e a realidade da violência nas ruas”

Sabemos que muitas pessoas encaram a velhice como uma fase pessimista, de decadência e deterioração, culminado com a morte. Enquanto outras pessoas encaram a velhice como uma etapa de felicidade, de plenitude, com uma atitude positiva face à velhice, propondo um projeto de vida para esse ciclo de vida. Consideramos, tal como Osório Requejo (2007: 191)

que estes dois argumentos contraditórios, vividos na velhice e na realidade dos aposentados/reformados, não se adequam a nenhuma dessas situações:pois:“a velhice traz tantas possibilidades de crescimento qualitativo, como de deterioração progressiva e irreversível”:Também:Berger:(1995):citado:por:Fernandes:(2000):afirma:que:os:idosos:que: vêm a velhice de uma forma natural dão mais sentido à vida, são mais felizes e temem menos a: morte: Palmeirão: (2002: 44): concorda: da: mesma: opinião: “Os idosos que consideram a velhice como um fenómeno natural dão sentido à sua vida, são mais felizes e implicam-se mais no seu meio e na sociedade, melhorando a sua auto imagem e olhando-se de forma mais positiva”:Todo:o:ser:vivo:evolui:e:portanto:envelhece:a:partir:do:momento:em:que:nasce

Na verdade, ao longo do processo de envelhecimento, as capacidades de adaptação do ser humano vão diminuindo, tornando-o cada vez mais sensível ao meio ambiente que, consoante as restrições implícitas ao funcionamento do idoso, pode ser um elemento facilitador ou um obstáculo para a sua vida. Com o declínio progressivo das capacidades, principalmente a nível físico e cognitivo e, também, devido ao impacto da ideia de envelhecer, o idoso vai alterando os seus hábitos e rotinas diárias, substituindo-as por ocupações e tarefas que exijam um menor grau de atividade. Esta diminuição da atividade, ou mesmo inatividade, pode acarretar sérias consequências, tais como redução da capacidade de concentração, coordenação e reação, que por sua vez levam ao surgimento de processos de auto desvalorização, diminuição da autoestima, apatia, desmotivação, solidão, isolamento social e depressão. Quando estes fatores falham ou se tornam mais deficitários, o ser humano torna-se mais débil, vulnerável e a qualidade de vida é afetada (Netto & Borgonovi, 2002).

Em relação aos idosos, principalmente, nos idosos do nosso estudo, estes fatores são muitas vezes afetados, com as perdas dos familiares (viuvez, familiares, vizinhos), a inexistência do contacto com os outros, as debilidades e incapacidades físico-motoras, o que leva a um decréscimo da qualidade de vida neste período. Existem alguns idosos, que conseguem ultrapassar todos estes factos com serenidade e bom senso (características do idoso para se adaptarem ás situações negativas) e manterem a sua existência de forma satisfatória. Podemos afirmar que os fatores psicológicos, culturais e sociais têm muita influência ao longo da vida, pois determinam ou não um envelhecimento com qualidade. É fundamental ter estratégias de adaptação, de controlo sobre as mudanças que vão surgindo, para que os idosos saibam lidar com as perdas ocorridas e as que possam ocorrer e ainda com as incapacidades ou dependências. Segundo Paúl (2002), o segredo de uma velhice bem- sucedida depende da capacidade psicológica de cada um em encontrar o seu caminho de envelhecimento ótimo, caminho esse que cedo se inicia, com progressivos cruzamentos de fugas e entradas. Além disso, depende do diálogo entre o sistema biológico, psicológico e social do indivíduo e das repercussões que têm entre si (Netto & Borgonovi, 2002: 46-51).

Por outro lado, o modelo psicológico de velhice bem-sucedida considera o envelhecimento como um processo de especialização apoiado em mecanismos de otimização, seleção: e: compensação: (Paúl: 2002: 23): “O envelhecimento mais bem-sucedido é o dos indivíduos que mantém projetos e objetivos que correspondem a tarefas de vária ordem, afetiva, física e cognitiva, ainda que o corpo não facilite o cumprir desses desejos”:A:satisfação:de:vida:e: bem-estar na velhice implicam um reajustamento psicológico em relação às mudanças do corpo e uma adaptação à própria sociedade. É importante que o idoso mantenha objetivos de vida que vão para além da morte, que adapte os seus objetivos e tarefas aos limites do seu próprio corpo, com a execução de atividades e com autonomia. Tal como refere Paúl, (2002: 32) “ (): a: intervenção: passa por procurar motivos e vasculhar novos objetos de afeto, reconstruir significados em ligação com o tempo presente”

A: ‘qualidade: de: vida’: é: um: conceito: vago: e: multidimensional: que: está: incorporado: teoricamente, a todos os aspetos da vida humana e, por isso, é utilizado por várias disciplinas científicas. Contudo o viver é bom e compensador em áreas como o social, afetivo-emocional,

saúde e profissionalmente. No caso dos indivíduos idosos o termo envolve não apenas políticas de atenção ao idoso, mas também o estudo científico do envelhecimento, partindo da clarificação de algumas questões envolventes à sua situação e modo de vida (Schalock y Verdugo, 2003: 27-34).

Envelhecer com qualidade de vida implica que este processo seja vivido de forma dinâmica, a que os gerontólogos designam por – ‘Envelhecimento Ativo’: processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança para melhorar a qualidade de vida à medida que se envelhece (Schaie, 2001: 318-320). Por conseguinte, quando falamos de qualidade de vida nesta faixa etária dos idosos, assistência social, a saúde, as atividades ou tarefas socioculturais, a educação e o valor da pensão ou reforma (valor suficiente), também nos referimos:

Conseguir uma aproximação aos serviços médicos-sanitários (proximidade ou acesso); Disponibilizar serviços sociais dando resposta às necessidades dos idosos, promovendo a autonomia pessoal, a permanência na residência/domicílio e a convivência no meio habitual de vida;

Reconhecer os valores e o património cultural dessas pessoas (experiências e vivências) e a sua participação no desenvolvimento local e na política social;

Promover a participação democrática e cidadã, para que a sociedade integre essas pessoas e estes se integrem adequadamente nas atividades sociais e económicas, se for o caso;

Facilitar o acesso aos bens-culturais e fomentar entre os idosos o emprego criativo do ócio/lazer, de modo a melhorar a qualidade de vida e a capacidade de sentir-se útil.

Qualquer comunidade ou sociedade deve ser entendida como uma parte do tecido social que se situa entre os indivíduos (idosos) e a sociedade, proporcionando a comunicação, a convivência, as relações pessoais e intergeracionais e, ainda a participação entre todos os seus membros.

Devemos ter em conta que as relações com o meio e a qualidade de vida assumem, assim, um papel importante sobre a saúde e perspetivas futuras da pessoa. Podemos dizer que não basta juntar anos à vida, mas sim juntar vida aos anos. Quando falamos de envelhecimento, seja ele ativo, bem-sucedido, exitoso ou satisfatório, existem dois conceitos que são fundamentais, autonomia e a independência, em que o primeiro se refere à capacidade de controlo e de tomada de decisões diárias acerca da própria vida, de acordo com as suas próprias regras e referencias e o segundo à capacidade de tomar decisões relacionadas com o dia-a-dia com nenhum ou reduzido auxílio de outras pessoas (Bengtson et al., 2009).

Evidentemente torna-se importante a implementação de políticas de prevenção e manutenção do bem-estar das pessoas durante o seu ciclo de vida, caso contrário propicia problemas futuros, em que a visão da morte tornar-se-á numa visão do sofrimento, da dor, devido à inadequada manutenção da qualidade de vida. Devemos ter em conta que as relações com o meio e a qualidade de vida assumem, assim, um papel importante sobre a saúde e perspetivas futuras da pessoa.

Foi baseado no envelhecimento da população idosa que a OMS, no final dos anos 90, lançou o paradigma do envelhecimento ativo como sendo o processo de otimização de oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, no sentido de aumentar a qualidade de vida durante o envelhecimento. Esta definição mostrou uma visão ativa que reconhece o direito, em todas as idades, à igualdade de oportunidades e à participação no processo de desenvolvimento económico, social e cultural. Posteriormente, em 2002, na II Assembleia Internacional sobre o Envelhecimento da ONU (Organização das Nações Unidas), reforça-se esse conceito do envelhecimento ativo, com o objetivo de ampliar a expetativa de vida saudável, a produtividade e a qualidade de vida na velhice. O objetivo era dar uma conceção de velhice, como sinónimo de vitalidade, de produtividade, desmistificando o estereótipo da velhice associada à improdutividade e doença. Para um envelhecimento ativo,

o idoso deve ter em atenção todas as determinantes pessoais, sociais, comportamentais, económicas, culturais, o meio físico envolvente e os serviços sociais. Todos estes fatores, bem como a interação entre eles, desempenham um papel importante no que concerne à influência exercida sobre a forma como os indivíduos envelhecem em qualidade. Todos eles têm de ser encarados segundo uma perspetiva do ciclo vital, que reconheça que as pessoas não são um grupo homogéneo e que a diversidade individual aumenta com a idade.

Azeredo:(2002:178):refere:que:“A Ciência resolveu o problema do prolongamento da vida, mas agora é necessário resolver o da velhice com qualidade de vida”:De:fato:a:qualidade:de: vida tem vindo a ser estudada nos últimos vinte anos de forma mais intensa e refere-se ao estar subjetivo que, no caso do idoso, está associada a conceitos tais como: felicidade, qualidade de vida e velhice bem-sucedida (Simões, 1992). Assim, o bem-estar subjetivo é concretizado através de indicadores como a felicidade, o moral e a satisfação com a vida. Este refere-se ao grau de contentamento com a forma como a vida tem corrido.

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