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4 A integração social

Neste ponto serão abordados aspetos que se relacionam diretamente com o idoso, não só a representação social desta faixa etária, mas também com a sua autoimagem ou representação, assim como, os condicionantes que proporcionam alguns entraves ou potencialidades à sua integração social. Todos temos a noção da aparente dificuldade da tarefa de ser idoso nos dias de hoje. Ser velho não é sinónimo de demente ou senil. De um modo geral, não será a idade cronológica, aquela expressa nos bilhetes de identidade, que traça o perfil de cada ser humano. A chegada à velhice é um marco na vida de cada indivíduo, alcançá-la é uma vitória e, esta deve ser contemplada e reconhecida por todos.

Pimentel (2004) faz referência à condição de ser idoso em que uma das imagens mais comuns e difundidas, de se olhar para os idosos, é a excessiva limitação das suas capacidades e aptidões. Esta será, então a imagem, socialmente construída, de grosso modo, do que é um idoso. É verdade, sim, que são muitas as alterações que vão ocorrendo ao longo de todo o processo de envelhecimento, contudo, a velhice não é mais do que uma etapa do ciclo da vida, à qual todos aspiram chegar. Envelhecer é antes de mais uma arte, envolta de muito conhecimento do seu corpo e capacidade de interpretação do meio envolvente. Já que, iniciamos o nosso processo de envelhecimento aquando do nosso nascimento, é uma arte passar por todos os estádios de desenvolvimento e glorificar-se a velhice. Fernandes (2001) questiona o que é ser velho nas sociedades modernas. A velhice, como categoria social, pode- se dizer, na opinião da autora que, ficou institucionalmente fechada nas fronteiras de um limiar de idade fixo cujo acesso é reforçado pela detenção de uma pensão de reforma. Esta definição não tem sido adaptada às transformações sociodemográficas recentes e, pelo contrário tem encontrado reforço nas pré-reformas:Ao:entrar:na:idade:da:reforma:o:“jovem- velho”: pertence: automaticamente: ao: catálogo: dos: velhos: perde: o: estatuto social, perde capacidades e dá-se uma deterioração do estado geral de saúde. Há algumas características que, mais frequentemente se generalizam nos idosos, entre as quais se destacam: crise de identidade provocada por ele e pela sociedade; diminuição da autoestima; dificuldade de adaptação a novos papéis e lugares, bem como, a mudanças profundas e rápidas; falta de motivação para planear o futuro; atitudes infantis ou infantilizadas, como processo de mendigar carinhos; complexos diversos dados, por exemplo, à diminuição da libido e do exercício da sexualidade; tendência à depressão, à hipocondria ou somatização e mesmo tentações de suicídio; surgimento de novos medos (como o de incomodar, de ser peso ou estorvo, de sobrecarregar os familiares, medo da solidão, de doenças e da morte); diminuição das faculdades mentais, sobretudo da memória; problemas a nível cognitivo (de memória, linguagem, solução de problemas), motivacional, afetivo-emocional e de personalidade. É certo que, o autor carrega demasiado nas características que, de certa forma, estão generalizadas ao grupo, vendo-os pela homogeneidade que, na realidade é inexistente.

Que imagem é a autorretratada pelos próprios idosos? O que diz o seu espelho? Sabe-se que as atitudes (estereótipos) da sociedade face aos que vivem a velhice são muitas vezes negativas e, em parte, são os verdadeiros responsáveis pela imagem que eles têm de si próprios, bem como das condições e das circunstâncias. A velhice tem, assim, de ser encarada como um processo natural e inerente ao ser humano, vivida positivamente por cada indivíduo, cabendo à sociedade o papel de facilitador proporcionando condições que favoreçam a melhoria das condições e consequente qualidade de vida aos seniores. Cabe aos cidadãos promover a igualdade de oportunidades de intervenção na sociedade pela participação e cooperação intergeracional alcançando uma cidadania participativa e ativa por parte dos seniores. Os idosos são extremamente sensíveis e vulneráveis à opinião pública.

Cabe a verdadeira implementação do envelhecimento ativo, definido em 2002 pela OCDE (Quaresma e Calado, 2004:7) como:“a capacidade das pessoas que avançam na idade terem uma vida produtiva na sociedade e na economia. O que quer dizer que possam determinar a forma como repartem o tempo entre as atividades de aprendizagem, o trabalho, o lazer e os cuidados a outros”: Estamos: a: referir-nos assim, a uma meta no horizonte que revela a liberdade de escolha e sentimentos de utilidade em relação à sociedade a que pertencem. Esta será a ideia que deve reinar nesta temática, não só encontrar aconchego na quotidianidade da vida dos seniores mas, deverá imperar igualmente nas mentalidades dos que os rodeiam. De referenciar, que a gerontofobia, o ‘agismo’ e a infantilização são como comportamentos ou atitudes contra os quais temos de lutar. A gerontofobia caracteriza-se por uma atitude negativa em relação ao medo irracional de tudo quanto se relaciona com o envelhecimento e velhice. Esta fobia atinge todas as faixas etárias, pois o medo de envelhecer manifesta-se por expectativas irrealistas ou atitudes pessimistas. Como facilmente se depreende, esta fobia predomina no sexo feminino que repudia tudo o que tenha a ver com envelhecimento. Rugas, pele flácida, cabelo branco, entre outros, são alvas a abater. Por seu turno, o idadismo

(‘agismo’) reporta-se a todas as formas de discriminação com base na idade. Por exemplo, a doença não acontece numa pessoa de 90 anos pela sua idade, mas sim devido a algum problema intrínseco ao seu organismo. Outra atitude bastante utilizada e totalmente discriminatória é a infantilização. Observa-se quando já se verificam alguns sinais de perda de autonomia: Por: exemplo: “se não vier a esta atividade zango-me”: A: intenção: é: boa, mas o resultado deplorável. Estas atitudes, referenciadas, impedem à sociedade olhar para o sénior como capaz, útil e com potencial. O combate a atitudes como estas cabe não só à sociedade envolvente, mas principalmente aos profissionais e familiares próximos. Cabe, não só ao sénior, mas também à sociedade, promover um envelhecimento ativo, sabendo ganhar anos de vida de forma criativa e motivadora. A forma como a sociedade considera a velhice afeta o juízo que os seniores fazem de si mesmos. Desta forma, tendem a considerarem-se e a auto estigmatizarem como incapazes ou inúteis. Esta atitude generalizada socialmente pode condicionar os seniores a viverem os aspetos positivos da velhice e da total disponibilidade do tempo. Cabe à sociedade contribuir para a sua reintegração social, para que, desta forma, os seniores readquiram autoestima e autoconfiança. É certo que, nos dias de hoje, eles representam a grande fatia da população geral e juntos, tal como Fernandes (2000:32) refere, “constituem uma força social pelo seu número, têm mais cultura pela sua sabedoria () ”

Deste modo, podemos afirmar que todos estes pré-conceitos são construídos socialmente, quer pelo desconhecimento do que é a velhice, quer pelos valores vinculados atualmente que se dirigem a um estilo de vida onde os seniores parecem não ter qualquer lugar. Esta dialética idoso versus sociedade pode assumir-se como um entrave ao próprio desenvolvimento e confiabilidade nas potencialidades que cada um possui. Fernandes:(200030):acredita:“que se vai modificar alguma coisa no envelhecimento dos indivíduos, sem mudar nada no tipo de sociedade em que eles vivem, é ilógico e ilusório”: Esta é, para nós, a melhor maneira de caracterizar esta dualidade. Se o processo produtivo aparece como um indicador fundamental na caracterização do papel do idoso na sociedade, aprece-nos pertinente abordá-lo de forma sintética. Iremos debruçar-nos quer sobre a relação entre o idoso e o trabalho, quer sobre a relação entre o idoso e a reforma no contexto sociocultural e económico atual, onde predomina, em Portugal, uma forte crise económica traduzida em níveis elevados de desemprego, emprego precário e relações profissionais fragilizadas. É aqui mesmo o momento gerador de uma boa ou má adaptação à reforma. A adaptação à reforma pode constituir-se num processo complicado de ultrapassar para o indivíduo. Pensando bem, consiste numa passagem repentina, do ter que fazer durante todo o dia, para não ter o que fazer todo o dia. Os condicionalismos subjacentes ao processo de adaptação à reforma implicam um repensar dos modos e estilos de vida. Não se pretende uma mudança radical no dia-a-dia dos indivíduos. A melhor solução, para uma mais fácil adaptação, pode passar pelo desenvolvimento de atividades similares ou não desempenhadas enquanto ativos, aqui, já não deverá importar a remuneração ou não, mas antes a ocupação gratificante e reconhecida. Estar ocupado com, faz com que as pessoas anulem os sentimentos de inutilidade e enalteçam o valor que têm pelo reconhecimento social dos conhecimentos que possuem e põem à disposição de quem deseja aprender. A atividade profissional, segundo Pimentel (2005), mais do que uma fonte de rendimento, é uma forma de integração social e o indivíduo que entra na reforma vê o seu lugar na sociedade mudar, sente-se deslocado, em muitos casos não sabe onde empregar o seu tempo e energia. Outra explicação pela desorientação do reformado prende-se com a diminuição dos rendimentos, já que as reformas, no geral, são inferiores aos salários auferidos anteriormente que, por sua vez, pode agravar o processo de adaptação à entrada na reforma. Desta feita, os primeiros sinais de privação tendo de abdicar de bens supérfluos ou bens menos essenciais, são pela primeira vez vividos nesta altura.

O grande desafio é reorganizar o quotidiano, descentrar a profissão e encontrar um papel que garanta o sentido de utilidade. As alterações necessárias são particularmente intensas nos homens que, vêm ameaçados a sustentabilidade da sua família, uma vez que, aos homens é atribuído o papel de chefe de família. O mesmo não se passa com as mulheres, a rutura apresenta-se menos dramática, uma vez que, perdem um papel exterior à família, mas

mantêm e reforçam, o de donas de casa, a que estão acostumadas e lhes garante um certo sentido de continuidade. A presença do marido começa a ser constante em casa e a mulher tem de saber a lidar com isso, o marido não ajudando nas tarefas domésticas, faz o quê durante o dia? A diferenciação de papéis, até aqui clara, começa a dissipar-se, os homens invadem a esfera de ação da mulher, movimento a que esta resiste. Enquanto, que o homem não está disposto a perder as responsabilidades sociais que tinha, a mulher, por seu turno, não quer perder o controlo sob as tarefas domésticas. Desta forma, mesmo que o homem participe mais nas atividades de casa, as mudanças serão apenas superficiais A reforma não tem de ser vista como um marco negativo na vida de cada um. Geralmente associada ao descanso para sempre, é para muitos, uma meta a atingir o mais rapidamente possível, contudo e, chegada a altura, são muitos os que com ela não sabem lidar. O convívio constitui- se, aqui, como um meio através do qual, todos poderão viver uma velhice feliz, valores e sentimentos inerentes aos amigos e família.

Os sentimentos experimentados na “passagem: à: reforma”: podem ser positivos e negativos, segundo os testemunhos que dizem os próprios reformados. Os sentimentos positivos de passar à reforma ou período de pós-aposentação significam uma libertação das exigências e das responsabilidades inerentes à vida profissional (produtiva), momento a partir do qual, a pessoa ganha liberdade de movimentos, mais tempo livre ou de lazer e maior controlo sobre a vida pessoal. No aspeto negativo, a passagem à reforma é uma ponte para a estagnação, devido principalmente, ao sentimento de frustração provocado pelas atividades que passam a constituir as suas rotinas. Para estas pessoas, os sentimentos negativos prendem-se, certamente, com o receio de solidão, da falta de objetivos e de sentido de utilidade, ou mesmo com a perceção de perda de valor da própria vida ou deixar de ter projeto de vida. Em norma não há propriamente uma preparação para a reforma, já que “acontece e pronto”: não: se: fazendo: qualquer: esforço: intencional: quer: em: termos: do: envolvimento em novas atividades quer em termos de reajustamento do dia-a-dia. Depois sim, já na condição de reformadas, a maioria das pessoas tendem a procurar envolver-se em atividades diversas que lhes permitam manter-se ocupadas, sentirem-se úteis ou cultivarem uma rede de relações sociais, tendo em vista a preservação de uma imagem positiva se si mesmas.

Em relação ao bem-estar físico e emocional dos idosos reformados surge de um conjunto de fatores subjacentes à reforma, quer esta seja desejada ou não, planeada ou não. A saúde, a realização de atividades gratificantes, a ocupação útil do tempo, o envolvimento em novos projetos e objetivos, a interação positiva com familiares e amigos, tudo isto contribui, seguramente, para facilitar o ajustamento a uma nova condição de vida e para se alcançar um elevado índice de bem-estar. O bem-estar é tanto maior, quanto mais as pessoas consigam atingir um equilíbrio entre a realização de atividades individuais que lhes dão prazer e a participação em contextos sociais e familiares que são fonte de interação pessoal.

Por outro lado, a interação com o exterior surge importante, principalmente na interação com contextos sociais, em que uma das principais preocupações que os idosos exprimem consiste na eventualidade de verem diminuídos ou mesmo perdidos os contactos sociais após a aposentação. As atividades desenvolvidas na vida privada e em contextos comunitários repartem-se numa combinação entre o aprofundamento de interesses que já antes possuíam e a implementação de novas atividades e de projetos que concretizam, finalmente, sonhos alimentados ao longo da vida. O voluntariado surge como uma das atividades que mais ocupa este conjunto de pessoas. As expectativas acerca do futuro vincam alguma despreocupação ou mesmo indiferença, algo perfeitamente compreensível em pessoas que, vendo-se de boa saúde e a participar em múltiplas atividades, tem dificuldade em assumir que os problemas da velhice também irão afetá-las, mais tarde ou mais cedo. Se a imagem que temos de nós mesmo é positiva, não sentimos tanto o peso da idade cronológica e facilmente atiramos para fora dos nossos pensamentos os medos do futuro, mesmo quando no nosso subconsciente germina:a:ideia:de:estarmos:a:caminhar:inevitavelmente:em:direção:ao:“clube:dos:idosos”:O:

autor impõe, desde logo, uma conclusão inevitável, não é possível definir um padrão único de funcionamento: seja: ao: nível: da: “passagem: à: reforma”: seja: relativamente: à: vivência: da: condição: de: “reformado”: Deste: modo: não: podemos: generalizar: um: indivíduo: ao: grupo: atribuir-lhe características, ditas socialmente, do grupo, uma vez que, neste como em qualquer grupo reina a heterogeneidade. Sendo assim, será incorreto falar em idoso no singular, devendo preferir o plural, não pelo facto de tomarmos todos num só grupo, facto este que acontece se nos referirmos ao grupo de idosos, terceira idade ou seniores.

Em definitivo, em termos gerontológicos, as grandes preocupações dos idosos ou pessoas da terceira idade na sociedade atual, podem abarcar cinco áreas:

*-Pensões e/ou subsídios (dimensão económica para o bem-estar). Hoje em dia os reformados recebem uma pensão ou subsídio mínimo, que não lhes permite viver dignamente, principalmente os idosos e com graus de dependência. A questão do valor das pensões é um grave problema social.

*-Saúde e assistência social ou médico-sanitária. A atenção e prevenção são dois pilares fundamentais para o bem-estar social do coletivo de idosos, exigindo-se uma melhor formação profissional nestas áreas da saúde e assistência médica.

*-Serviços sociais. É uma área primordial que exige uma boa rede de serviços sociais, principalmente nas zonas rurais, que abarque a assistência domiciliária e a integração dos idosos no seu meio. Neste campo a ação do voluntariado é muito útil, para além, do papel dos educadores sociais na intervenção com a família e ao nível institucional, no desenvolvimento de relações intergeracionais, na organização de recursos socioculturais, na integração comunitária, etc.

*-Ócio e cultura. Aqui tem um papel importante a animação, nas suas diversas modalidades ou áreas de intervenção, ao proporcionar a autorrealização pessoal e social dos idosos, a partir da aproximação ao património histórico e cultural, em consciencializar a sociedade na valorização das suas experiências e vivências e, simultaneamente, eliminando os estereótipos negativos. O educador social e/ou o animador, ao nível comunitário ou institucional, facilitam a convivência e proporcionam a participação e integração social das pessoas idosas, desenvolvem atividades socioeducativas e/ou socioculturais de formação, de participação comunitária, de convívio, de relações pessoais, etc.

*-Participação. É o objetivo que se pretende para o coletivo de idosos, que eles participam ativamente na comunidade como cidadãos, tendo um grande papel a ação da animação sociocultural e da educação social.

Quando falamos de qualidade de vida, além dos serviços de assistência, da saúde, do valor das pensões, das relações familiares, etc. é, também falar de informação (consciência da situação pessoal e comunitária), de tomada de decisões (responsabilidade pelo futuro), de mobilização (causas e consequências das situações e compromisso na resolução de problemas), de organização (defesa dos direitos), acesso à cultura (autorrealização pessoal e social), capacidade de participar como cidadão (agente de transformação). Assim, os programas gerontológicos para idosos exigem uma rede comunitária, em que o animador gerontólogo é um interventor fundamental, nos processos de democratização da sociedade e na promoção intergeracional.

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