• Nenhum resultado encontrado

2.4 – As teorias explicativas do envelhecimento

Imaginário (2004) apresenta teorias relacionadas com o envelhecimento, que o revelam como um processo de desenvolvimento gradual e multifatorial, determinado pelo declínio biológico e de funções adaptativas, que se realça mais com o avanço da idade. Todo o ser vivo passa por um processo de envelhecimento, desde o nascimento até à morte. Sendo este um fenómeno universal e individual, todos envelhecemos de uma forma específica e mediante fatores múltiplos e complexos. Os fatores biológicos, sociais e psicológicos variam grandemente, não ocorrendo em simultâneo, nem estando necessariamente relacionados com a idade cronológica da pessoa. A velhice não é definível por uma simples cronologia, mas sim pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas (Netto & Borgonovi,

2002: 47-50. Apesar de o envelhecimento humano ser aceite como algo que ocorre de forma universal, ainda não existe um consenso sobre a natureza e as características do ciclo da velhice (Osório Requejo, 2007: 185).

Há um conjunto muito vasto de teorias explicativas do envelhecimento e do seu processo. Recorremos a Bengtson et al. (2009: 56-69), a Martins (2013: 113-119), a Netto & Borgonovi (2002) e a Schaie (2001: 318-321) para indicar, em seguida, as mais destacáveis:

Teorias de inspiração biológica (relógio biológico do ser humano). Dividem-se em duas classes de enfoques: teorias do deterioro (os radicais livres e as mudanças funcionais na membrana – superfície celular, no imunológico, nos sistemas nervoso, pulmonar, cardiovascular, muscular-esquelético/ósseo, na marcha e equilíbrio, na composição corporal e mudanças na termorregulação) e as teorias do programa genético ou de relógio (envelhecimento: celular: ‘in: vitro’: – proteínas e macromoléculas, teorias moleculares, informação errónea celular, programação genética e teoria integradora do envelhecimento fisiológico, celular e molecular) (Netto & Borgonovi, 2002: 47-52).

Teorias psicológicas e/ou psicossociais do envelhecimento. Estas teorias entendem a velhice através: do: critério: ‘tempo’: (realidade: biográfica: do: enfoque: da: estratificação: da: função de status e classe dos reformados, da dimensão geracional e o discurso histórico) e ‘espaço:cultural’:(conceção:antropológica:de:cultura:na:versão:‘reprodutora’:e:na:significação criativa). Destacamos a teoria da desvinculação, teoria do etiquetado e do desaparecimento social, teoria da dependência estruturada) e as teorias psicológicas sobre a fase da velhice e as educativas. Por sua vez, entre as teorias psicossociais mais frequentes, destacamos a teoria da continuidade, a teoria da atividade e a teoria da desinserção. É óbvio que há uma maior tendência em pensar nos aspetos psicológicos que nos biológicos. A ideia do envelhecimento psicológico teve o contributo da psicologia cognitiva, interessando-se pelo funcionamento das pessoas idosas no mundo real, principalmente no declive cognitivo da inteligência (mudanças). As mudanças psicológicas produzidas na idade avançada passaram a ser estudadas na perspetiva do ciclo vital e num contexto multidisciplinar, tendo em conta as experiências de idades anteriores e as circunstâncias biológicas e sociais dos indivíduos.

Teorias dos fatores culturais e de socialização. Há um conjunto de teorias sociológicas, entre outras as seguintes:

*-Teoria da desvinculação intrínseca das relações, desengajamento, desligamento ou ‘desempenho’ Esta perspetiva, proposta por Eliane Cummings e William Henry, intentou compreender as limitações teóricas da gerontologia, construindo uma teoria sociológica sobre: a: velhice: sob: o: preceito: do: ‘retiro do indivíduo’ após a aposentação/reforma ao participar o idoso, pouco na vida ativa da comunidade. Parte do princípio que há um desligamento recíproco entre o individuo e a sociedade. As consequências dessa desvinculação provocam uma mudança no número de pessoas com que o idoso se relaciona e no número de interações que realiza.

*-Teoria da atividade. Difundida por Cavan e Tartler propõe ações de intervenção com idosos. Posteriormente, Havighurst, Albrech e Maddox, revisam esta teoria designando-a ‘teoria:do:envelhecimento:sem:trauma’ destacando a atividade do idoso, baseada na premissa de que as pessoas precisam de contacto social (convivência social), mas, em geral, são impedidas dessas interações por obstáculos físico-sociais, tais como reformas compulsivas e a morte dos seus seres queridos (viuvez).

*- Teoria do colapso de competência (Kuypers e Bengston). Esta teoria aborda a competência social do idoso e as consequências negativas (colapso de competências) que originam crises na idade avançada. Estas crises são provocadas pela perda de saúde, do companheiro ou conjugue (viuvez) e outras perdas que levam a uma espiral de negatividade,

vulnerabilidade do autoconceito, perda de papéis sociais, marginalização ou isolamento. Propõe-se a reconversão destas situações através de terapia de reconstrução social, do apoio ambiental/familiar (e do voluntariado) favorecedor da vontade pessoal e de encorajamento. A intervenção terapêutica atende os problemas familiares resultantes da dependência dos idosos (terapia familiar e de grupo), da capacidade de identificação das tensões/conflitos familiares, propondo estratégias práticas situacionais (consciencialização das interações pessoais e no ambiente social/familiar), canalizadas para os idosos, os familiares e os cuidadores (formais, informais).

*-Teoria da troca social. Esta teoria foi elaborada inicialmente por Homans e Blan, na década de 30, centralizando-se no modelo económico racional de decisão comportamental, relativamente à vida social que o indivíduo tinha antes, na base do grupo, no envolvimento e trocas sociais (cálculo de custo-benefício, advindo das relações sociais): Este: ‘engajamento’: nas interações seria compensador quando se afastavam os aspetos nefastos (maximizar o ‘lucro’:nas:relações):Daí propor que o idoso se afaste das interações sociais, quando possui poucos recursos e, por isso, o problema da continuidade se compara com a dos adultos mais jovens.

*-Teoria da continuidade. Esta teoria, difundida por Atchley, continua na linha da teoria da atividade, já que tudo o que o individuo aprende e interioriza no processo de socialização faz parte da sua personalidade e estilo de vida. Ou seja, o último período do ciclo vital não é mais que o prolongamento das constantes presentes em outros momentos da vida, já que envelhecemos segundo o que tenhamos vivido. Assim, sustentam que o processo de envelhecimento tende naturalmente à manutenção dos grupos sociais existentes durante a vida.

*-Teoria da homeostasia. Foi Walter Bradford Cannon quem introduziu o termo ‘homeostasia’:e:posteriormente:dividiu-o nas seguintes designações: homeostasia ecológica e biológica. Esta teoria surge como uma metáfora à vida social dos idosos, uma vez que este coletivo deve promover um meio social equilibrado e adaptável às modificações sociais. O equilíbrio é essencial à sobrevivência de todas as idades, sendo o problema a adaptação, pois o idoso terá que aceitar as condições impostas pela sociedade, senão caí na exclusão ou isolamento. A homeostasia aborda a questão da sobrevivência pela adaptação ao meio ambiente externo e interno, pela estabilidade, para o indivíduo poder viver e conviver socialmente. Muitos estudos insistem na homeostasia social ao indicarem o equilíbrio e adaptação social aferida numa sociedade que gera exclusão, mas que reduz as interações sociais e cria ócio e satisfação dos idosos em promoverem relações socioculturais.

*-Teoria do contexto social. O comportamento ao longo do período da velhice depende de certas condições biológicas e sociais do indivíduo. Os três fatores que incidem na velhice são a saúde, os condicionalismos económicos e os apoios sociais e assistenciais.

*- Teoria da ancianidade como subcultura. Esta teoria, divulgada por Rose e Riley, na década de 60, baseia-se que a idade cria uma subcultura de idosos, com normas de conduta específicas. As características comuns das pessoas que constituem um estrato social, unido ao isolamento, solidão e pouca atividade, explicam que sejam um grupo social aparte. Mesmo dentro deste setor de indivíduos idosos, há subgrupos dependentes das apetências, da conceção de vida e estilos de vida, etc.

*- Teoria do meio social. Foi difundida por J. Gubrium que considerava que a velhice se relaciona com algumas condições biológicas e sociais do indivíduo (saúde, remuneração e apoios sociais). Assim, a saúde seria o fator determinante, pois muitas pessoas idosas estão limitadas por doenças crónicas, muitas delas incapacitadas.

*- Teoria do interacionismo simbólico. Esta teoria, originada na antropologia de M. Mead, afirma que os seres humanos na sua comunicação simbólica aprendem da conduta de outras pessoas com quem convivem ou se relacionam no ambiente físico-social.

*- Teoria da etiquetagem. Para V. Bengston esta teoria explica algumas condutas dos idosos, como as oriundas de etiquetar uma pessoa como senil, senescente, ancião, dependente ou inativo, sendo tratada socialmente como tal, o que condiciona o seu comportamento social:e:verá:modificado:o:seu:role:social:o:‘status’:e:a:identidade

Por conseguinte, a velhice não é um desgaste lento no ser humano, nem é uma doença, nem tem que ser acompanhada por dores ou ansiedades. Existem doenças na velhice, assim como há doenças na infância e juventude, mas isto não significa que a infância seja uma doença. O envelhecimento é a crescente incapacidade do corpo de uma pessoa em não fazer o que fazia antes. O resultado é que, com a passagem do tempo aumenta a probabilidade de morte. Assim, as teorias relacionadas com o processo de envelhecimento explicam essas mudanças graduais e inevitáveis relacionadas com a idade e que aparecem em todos os seres humanos (envelhecimento normal). As próprias investigações gerontológicas recentes demonstram que o processo e a vivência do envelhecimento resultam numa etapa vital peculiar, com heterogeneidade, complexidade e pluralidade mediatizada pelo género, raça e classe social e, por isso a plêiade de teorias que a abordam desde as perspetivas biológicas, psicológicas e sociológicas (Bengtson et al., 2009: 51-72). Apesar do interesse no envelhecimento no mundo científico da gerontologia, ainda não sabemos o mecanismo íntimo pelo qual envelhecemos. No entanto, já se definiram os mecanismos e os fatores que influenciam este processo vital. Todos os estudos coincidem que existe uma base genética em que atuam diferentes atores externos que variam para os mais diversas patologias, ou que podem atrasar ou acelerar o processo de envelhecimento no indivíduo.

Outline

Documentos relacionados