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1.1 O âmbito interdisciplinar da gerontologia

A gerontologia é a ciência do envelhecimento desenvolvido por estudiosos pertencentes a diversas áreas, como as biológicas (bioquímicas, fisiológicas), médico-sanitárias, psicológicas, sociológicas e pedagógicas. Não tem uma preocupação com os cuidados dos idosos doentes e dependentes, se bem que em alguns países a gerontologia clínica trate destes aspetos, que é muito específica do âmbito da geriatria. Em termos médico-assistenciais a gerontologia vincula-se com a geriatria, a qual estuda, na área das ciências médicas, a velhice, as incapacidades e as doenças, mas o seu campo de ação é o psicossociológico ao contemplar aspetos biológicos, demográficos, sociais, económicos, familiares e pessoais das pessoas idosas. Na verdade, aquilo que tratam a geriatria e a gerontologia parece que ainda não está concetualmente claro, constituindo um limite para que se possa estabelecer estes campos científicos. Isto é, os problemas do envelhecimento trazem para aquelas áreas implicações diretas no estabelecimento de hierarquização interna, bem como no que se refere a outros campos científicos do conhecimento sobre os idosos. A gerontologia ao abordar o envelhecimento alberga a geriatria, que está voltada para a prevenção e o tratamento das doenças na velhice, enquanto a gerontologia social se constitui de diversas áreas como a psicologia, o direito, o serviço social, etc. Por conseguinte, a gerontologia evidencia uma intervenção nos aspetos positivos do processo de envelhecimento (acumulação de conhecimentos e experiências) e sobre outros aspetos negativos da velhice e da vida dos idosos (debilitamento físico-motor, mental, isolamento, inatividade, sensação de comodismo e inutilidade, etc.), procurando na ocupação dos tempos lives (terapia ocupacional, atividades socioculturais e socioeducativas) e na compensação, as formas de evitar a sua inatividade ou graus de dependência. Esta luta por um envelhecimento bem-sucedido, em que a prevenção parece ser a saída encontrada pela gerontologia para escapar do binómio saúde - doença. Neste contexto todos os sujeitos são passíveis de intervenção, independentemente de seu estado de saúde ou de sua inserção (Groisman, 2002: 61-78).

Na verdade a gerontologia é teórica e prática, ou seja, biopsicossocial. No mundo anglo- saxónico considera-se a gerontologia como uma área científica de carater multidisciplinar, cujo enfoque se centraliza no envelhecimento saudável, a partir dos seguintes âmbitos:

Biológico - Processo de envelhecimento normal (nível estrutural/funcional) do organismo, analisando as mudanças físico-motoras normais e patológicas, que surgem na última etapa do ciclo de vida. Propõe um envelhecimento saudável dos sujeitos, nas componentes biogenéticas e do meio envolvente (ecológico);

Psicológico - Analisa todas as habilidades cognitivo-afetivas do adulto, aparecendo recentemente a designação de psicologia do envelhecimento e/ou na velhice, havendo ainda enfoques teóricos rudimentares, se compararmos com as etapas da juventude e adolescência. Debruça-se, por um lado sobre: inteligência (aptidão mental e capacidade de raciocínio), dividida em inteligência fluida (aptidão fisiológica e neurológica para resolver problemas e organizar a informação) e inteligência cristalizada (apoia-se na educação/conhecimentos e experiências adquiridas no meio cultural) e, ainda, da memória; o raciocínio (processo mental de organização do caos dos dados recolhidos pela mente, pela perceção e aprendizagem); a criatividade (originalidade e poder de inovação do sujeito para resolver problemas); a

personalidade, a identidade, o auto conceito e/ou autorreconhecimento de cada pessoa idosa (o que sou eu e o que pensam os outros de mim);

Social. Trata das influências da sociedade e/ou comunidade no indivíduo, estudando o seu 'status' social (posição social nos aspetos adscritos e adquiridos), roles sociais (interação) e/ou a posição ou papel no seio da sociedade. Destaca ainda a resolução de conflitos geracionais, da socialização e ressocialização nas relações e comportamentos dos indivíduos.

Por conseguinte, o objetivo científico da gerontologia integra por um lado, o processo de envelhecimento do ser humano (primário - resultado da idade, secundário - produto de alguma doença) e, por outro lado, as diferenças individuais relacionadas com a idade, a velhice e os idosos incapacitados (níveis de dependência com ou sem limitações).

Na verdade, a complexidade dos saberes da gerontologia determina que o seu objeto de estudo intercete várias áreas científicas (biológicas, psicológicas e sociais) das respetivas ciências biomédicas, sociais e comportamentais no estudo da velhice e/ou do idoso. Ao ser uma ciência nuclear que incide no processo do envelhecimento, é também uma ciência aplicada aos problemas emergentes dos idosos e dos sistemas sociais e, por isso, a gerontologia deve ser considerada uma disciplina científica abordada na perspetiva básica e aplicada (investigação), respondendo às necessidades do envelhecimento, da velhice e das pessoas idosas. A sua temática articula-se de modo multidisciplinar, visando a descrição de experiências das mudanças típicas do processo de envelhecimento do ser humano e dos seus determinantes genéticos, biológicos e psicológicos de envelhecer. Ou seja, estuda as caraterísticas dos idosos e/ou das pessoas da terceira e quarta idade, as suas experiências nesse ciclo de vida, ocorridas em diferentes contextos socioculturais e históricos e, por isso, abrange o envelhecimento normal e o patológico (Fernández-Ballesteros, 2000). A aproximação teórica e prática da gerontologia é sempre biopsicossocial o que determina uma interdisciplinaridade entre os conhecimentos: biológicos estudos sobre as mudanças com a idade e as alterações no sistema biológico do organismo; psicológicos estudo das mudanças e/ou estabilidade, com o transcurso do tempo, nas funções psicológicas (atenção, perceção, aprendizagem, memória, afetividade e personalidade); e sociais – estudos sobre as mudanças na idade relacionados com o papel e classe social, intercâmbio e estrutura social e os contributos da emergência dos fatores culturais nessas alterações e no envelhecimento populacional. Por isso, o objeto de estudo da gerontologia aborda a pessoa idosa, a velhice e o envelhecimento, constituindo como preventiva ao melhorar as condições de vida desses coletivos. É neste sentido que a diversidade de conhecimentos exige uma abordagem interdisciplinar ao seu objeto (enfoques, concetualizações) e à formação gerontológica específica e ampla dos seus profissionais.

No campo da gerontologia atuam vários profissionais com competências no âmbito das ciências da saúde, biologia, psicologia, ciências sociais, psicologia do desporto, nutrição, direito, educação social e ética, numa mistura de saberes sobre o envelhecimento que tem dado vários contributos visíveis e recentes, que implicam uma formação diferenciada e especializada que, muitas vezes, se interceta com a geriatria no campo da intervenção. O gerontólogo define o envelhecimento como processo que ocorre no percurso de vida, analisando como crescem e envelhecem os indivíduos (aspetos biopsicossociais da senescência) conceptualizando a idade como a referência padrão de comportamento social e, ainda, abordam os problemas funcionais dos idosos em termos de dificuldades e incapacidades (Paúl e Ribeiro, 2012). É óbvio que são úteis os contributos científicos das várias ciências do objeto de estudo, em termos multidisciplinares, integrando conteúdos teóricos (modelos), empíricos e metodológicos (Martins, 2013: 62-63) e, ainda, se exige uma interdisciplinaridade de algumas dessas disciplinas ou domínios científicos ao nível prático da intervenção ou da ação do gerontólogo, de modo a resolver problemas reais das pessoas idosas nos seus diversos contextos (institucionalizados ou não institucionalizados). Assim,

haverá situações em que se exige abordagens interprofissionais na intervenção e, em outras, situações soluções interdisciplinares. A própria gerontologia moderna considera-se, pelas suas inter-relações internas, mais como um campo de estudo, do que um objeto formal duma ciência específica e nova. Os próprios avanços gerontológicos surgem devido ao encontro de diversas disciplinas ou áreas científicas baseadas na investigação e nas metodologias utilizadas sobre o processo de envelhecimento do ser humano.

Por conseguinte, a gerontologia ou ciência do envelhecimento, é considerada como a ciência mãe, que se divide em quatro secções:

*-Gerontologia biológica ou experimental, ou também chamado envelhecimento. É uma ciência multidisciplinar que procura conhecer os mecanismos íntimos de envelhecimento e da sua patogénese. A evolução como ciência passou por duas fases: a primeira meramente empírica e especulativa, dedutiva (conclusões) e a segunda como demonstração experimental unida às suas teorias. Com o intuito de atrasar o envelhecimento, a gerontologia biológica destaca a perspetiva preventiva, a qual se divide nas seguintes seções: prevenção da toxicodependência; prevenção-higiénico-dietética de aconselhamento.

*-Gerontologia clínica e geriatria. Para Ferrer Rubies (1989) a geriatria define-se como a ciência médica voltada para o diagnóstico de doenças da velhice, cura, reabilitação e reinserção do doente no seu habitat (casa ou instituição) para isto deve ser adicionado prevenção destas doenças. A gerontologia clínica ou geriatria integra a recuperação ou adaptação funcional do idoso, incluindo a reabilitação e a terapia ocupacional.

*-Gerontologia social: É: a: designação: vulgarmente: conhecida: por: ‘Gerontologia’: Ao: ser: multidisciplinar, envolve os seguintes profissionais no campo da intervenção: assistentes sociais, educadores sociais, trabalhador social, serviço social, economistas, advogados, animadores socioculturais, arquitetos, políticos da saúde ou de serviços sociais, etc. Como ciências auxiliares tem a demografia e a epidemiologia. Somos da opinião de Rubies Ferrer (1989) que toda a saúde social, política, económica e ambiental se relaciona com na idade e, daí ser um campo de intervenção social.

*-Gerontopsiquiatria (‘psychogerontology’). Estuda os aspetos psicológicos e psiquiátricos dos idosos, principalmente doenças crónicas, as demências e as depressões como patologias características que marcam a morte do ser humano. A psicogerontologia intenta descrever, explicar, entender e mudar as atitudes do sujeito que envelhece. Esta visão refere-se aos aspetos psicológicos da pessoa idosa (psicologia do envelhecimento).

A diversidade de competências nesta abordagem leva à interdisciplinaridade e, consequentemente, a uma formação em gerontologia, tendo em conta a especialização em determinadas áreas relacionadas como objeto de estudo. Serve de exemplo que a geriatria tem a integrá-la uma base de conhecimento diferente gerontologia. Ou seja, os problemas geriátricos específicos podem exigir ou não, interdisciplinaridade nas soluções de trabalho em grupo, dependendo da natureza do problema, mas este deve ser analisado no domínio da gerontologia e tendo em conta as decisões de outros profissionais.

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