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As exigências relativas à eficiência administrativa em meios digitais

No documento Governo eletrônico e direito administrativo (páginas 107-110)

CAPÍTULO 2 – BASES JURÍDICAS DO GOVERNO ELETRÔNICO

2.3. Novas tecnologias e eficiência administrativa

2.3.2. As exigências relativas à eficiência administrativa em meios digitais

É preciso considerar, também, que a informatização não pode ser vista como a panaceia da eficiência administrativa500. Em primeiro lugar, porque as novas tecno- logias tendem a ser mais úteis em relação à atividade administrativa formalizada – os tra- balhos burocráticos –, não proporcionando necessariamente benefícios em relação a todas as atividades da Administração. Em segundo lugar, porque o avanço tecnológico é bastante exigente e não está isento de problemas.

497

Cf. VALERO TORRIJOS, Julián, Las relaciones con la Administración Pública mediante sistemas electróni- cos, informáticos y telemáticos, cit., p. 269. Na Espanha, por exemplo, a Lei n. 11/2007, que trata do acesso eletrônico dos cidadãos aos serviços públicos, baseou-se declaradamente no princípio da eficácia. Assim é que consta de sua exposição de motivos que “A Administração está obrigada a transformar-se em uma admi- nistração eletrônica em função do princípio constitucional da eficácia administrativa” (in Boletín Oficial del

Estado, 23.07.2007, pp. 27150-27166, disponível em http://www.boe.es/boe/dias/2007/06/23/pdfs/A27150-

27166.pdf, acesso em 20.05.2011, p. 27150). 498

Cf. VALERO TORRIJOS, Julián, El régimen jurídico de la e-Administración, cit., p. 26.

499 Para o administrado, a reorganização da Administração em vista do governo eletrônico é mais relevante que o reconhecimento de um direito a exigir e obter o uso de tecnologia informática no seu relacionamento com a burocracia (cf. NATALINI, Alessandro, op. cit., pp. 110-111).

500 Cf. V

Entre as exigências próprias do governo eletrônico está a necessidade de que a introdução das novas tecnologias seja acompanhada do redesenho de processos ad- ministrativos e de uma profunda revisão das rotinas de trabalho501. A reengenharia de pro- cessos é uma tendência na administração contemporânea502, por forte influência da admi- nistração privada, sendo fundada, em grande parte, na introdução das novas tecnologias, mas não limitada a elas. Como as imperfeições na atuação administrativa nem sempre de- correm dos meios utilizados, é preciso que a informatização seja aproveitada como uma oportunidade para a revisão de métodos e formas de atuação503. Sem analisar devidamente as necessidades e exigências específicas acarretadas pelo uso de meios eletrônicos no pro- cesso, há um sério risco de reproduzir os hábitos e comportamentos próprios da adminis- tração baseada em papel e nas relações presenciais, de maneira que a modernização consis- ta única e exclusivamente na mudança de suporte504, ou seja, em um revestimento tecnoló- gico meramente cosmético505. Assim, mesmo com o uso intensivo de meios informáticos, é possível que persistam problemas ocasionados por fatores pouco relacionados à tecnolo- gia506. Isso sem esquecer a possibilidade de complicar, com a informática, aquilo que por papel é hoje simples, o que seria uma incongruência507.

Dentro do redesenho de processos está a questão da simplificação admi- nistrativa. Neste ponto, a utilização das novas tecnologias confronta-se com problemas ligados aos vícios dos excessos e deformações burocráticas508. De fato, o desenvolvimento de sistemas informatizados normalmente exige um esforço considerável em termos de pa- dronização e simplificação, uma vez que a informática não é compatível com as complexas análises humanas, muito menos com as indefinições e armadilhas típicas das deformações

501

Cf. GARCÍA MARCO, Francisco Javier, Ontologías y documentación electrónica en las actividades públi- cas, cit., p. 178. Sobre o redesenho de processos, cf. também o item 4.4, infra.

502 Cf. P

IPERATA, Giuseppe, Lo sportello unico, in Rivista trimestrale di diritto pubblico, vol. 52, n.1, 2002, p. 46. Ainda sobre o redesenho, cf. infra, nota 1185.

503

Cf. MARTÍN DELGADO, Isaac, La gestión electrónica del procedimiento administrativo, cit., p. 101. 504 Cf. V

ALERO TORRIJOS, Julián, El régimen jurídico de la e-Administración, cit., p. 182. 505 Cf. F

ERNÁNDEZ SALMERÓN, Manuel, VALERO TORRIJOS, Julián, Protección de datos personales y Admi- nistración electrónica, cit., p. 117.

506 Cf. V

ALERO TORRIJOS, Julián, El régimen jurídico de la e-Administración, cit., p. 182. 507 Cf. D

UNI, Giovanni, L'amministrazione digitale, cit., p. 80. 508 Cf. V

ALERO TORRIJOS, Julián, La nueva regulación legal del uso de las tecnologías de la información y las comunicaciones en el ámbito administrativo, cit., p. 209.

burocráticas509. Para não informatizar a burocracia, a introdução da tecnologia deve ser vista como uma ocasião importante para a simplificação administrativa510. Há quem afir- me, pois, que o governo eletrônico estaria sujeito a um princípio de simplificação de trâmi-

tes, definido em torno da necessidade de eficiência511. A simplificação de processos deve ser feita de modo equilibrada, não apenas pela eliminação de partes do procedimento, sem- pre levando em consideração que as atividades públicas não têm somente repercussões do ponto de vista produtivo, mas servem para garantir direitos e expectativas fundadas no or- denamento jurídico512.

Convém observar, ainda, que a atuação em meio eletrônico é muito mais intensiva em planejamento e preparação do que aquela em meio tradicional, planejamento por vezes ausente das práticas administrativas mais difundidas513. O documento em papel pode funcionar, ainda que imperfeitamente, sem planejamento algum, sendo sempre possí- vel desencadear uma ação administrativa por meio de um simples ofício, que provocará uma decisão. Já uma decisão em meio digital pode ser mais difícil de ser obtida, especial- mente se ela depender da construção de um novo sistema informático. Por outro lado, uma decisão equivocada em papel encerra-se em si mesma, ao passo que os investimentos em sistemas mal informatizados podem transformar a busca de eficiência em prejuízo para os cofres públicos por um longo período de tempo514.

Por outro lado, assim como ocorre no setor privado, nem sempre a utili- zação de meios eletrônicos é realmente a solução mais econômica para a Administração Pública. Embora a introdução das novas tecnologias possa eliminar algumas despesas, tan- to com o suporte material quanto com recursos humanos, elas trazem a necessidade de in- vestimentos, geralmente elevados, em equipamentos, redes, aplicativos e programas infor-

509 Tratando da simplificação verificada no caso do pregão eletrônico, em função da eliminação de variáveis incompatíveis com a lógica dos sistemas informatizados, cf. JUSTEN FILHO, Marçal, Pregão, cit., p. 279. 510 Cf. P

ALOMAR OLMEDA, Alberto, Gestión Electrónica de los procedimientos, cit., p. 417. 511

Cf. JINESTA LOBO, Ernesto, op. cit., p. 10. O princípio da simplificação de trâmites é expressamente refe- rido pela legislação española (cf. GAMERO CASADO, Eduardo, Objeto, ámbito de aplicación y principios generales de la ley de administración electrónica, cit., p. 107).

512

Cf. PIPERATA, Giuseppe, op. cit., pp. 53-54. 513 Cf. V

ALERO TORRIJOS, Julián, La nueva regulación legal del uso de las tecnologías de la información y las comunicaciones en el ámbito administrativo, cit., p. 210.

514 Cf. R

AMOS JÚNIOR, Hélio Santiago, ROVER, Aires José, O ato administrativo eletrônico sob a ótica do princípio da eficiência, cit., p. 37.

máticos515. Assim, embora haja uma tendência a amortizar tais investimentos em médio prazo516, pode haver um aumento de despesas nos estágios iniciais517. Por isso, a utilização de meios informáticos e telemáticos deve ser antecedida de uma ampla avaliação de custos e benefícios, levando em conta uma comparação com as ferramentas tradicionais518. É ne- cessário, na comparação com os meios tradicionais, considerar não somente os custos dire- tos da Administração Pública, mas os custos gerados para os usuários do serviço, assim como deve ser avaliado o possível aperfeiçoamento dos resultados e os benefícios diretos e indiretos ocasionados pelas novas tecnologias519. Vale considerar, ainda, as vantagens futu- ras da introdução das tecnologias, sobretudo o reaproveitamento, para fins operacionais, gerenciais e estratégicos, de resultados de atividades realizadas e das informações produzi- das.

No documento Governo eletrônico e direito administrativo (páginas 107-110)

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