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Os diferentes níveis de acesso à informação

No documento Governo eletrônico e direito administrativo (páginas 156-159)

CAPÍTULO 2 – BASES JURÍDICAS DO GOVERNO ELETRÔNICO

2.4. A equivalência de garantias

2.4.4. A transparência administrativa e o direito à informação por meios informáticos

2.4.4.4. Os diferentes níveis de acesso à informação

A tecnologia não só é capaz de trazer avanços, mas ao mesmo tempo pode oferecer novos perigos e inconvenientes, além de incrementar a potencialidade nociva daqueles já existentes747. Mais do que viabilizar a publicidade, as novas tecnologias dão uma nova dimensão aos critérios mais tradicionais que definem o que deve ou não ser pu-

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Mencionando direitos do administrado no acesso à informação eletrônica, cf. AGIRREAZKUENAGA, Iñaki, CHINCHILLA, Carmen, op. cit., p. 45; BERNADÍ GIL, Xavier, op. cit., p. 235; MARTÍN DELGADO, Isaac, La gestión electrónica del procedimiento administrativo, cit., p. 97; PALOMAR OLMEDA, Alberto, La utilización de las nuevas tecnologías en la actuación administrativa, cit., p. 375; SANZ LARRUGA,Francisco Javier, Documentos y archivos electrónicos, cit., p. 489.

744 Além disso, as exigências de qualidade não estão limitadas à operação de acesso aos dados, como parece sugerir a lei. A qualidade não se refere apenas à informação em si ou a sua divulgação, mas a todos os pro- cessos com ela relacionados, tais como sua criação, recolhida e armazenamento (cf. CERRILLO I MARTÍNEZ, La difusión de información pública en internet, cit., p. 23). Nos Estados Unidos da América, foi adotado o Information Quality Act, para estabelecer parâmetros de qualidade ante a crescente difusão de informação administrativa feita pelas agências federais (cf. ibidem, p. 27).

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Cf. CERRILLO I MARTÍNEZ, La difusión de información pública en internet, cit., p. 22. 746 Falando em atribuitos das informação, cf. V

ALERO TORRIJOS, Julián, La nueva regulación legal del uso de las tecnologías de la información y las comunicaciones en el ámbito administrativo, cit., pp. 229-230. 747 Cf. D

UNI, Giovanni, L'amministrazione digitale, cit., p. 80 e FERNÁNDEZ SALMERÓN, Manuel, VALERO

blicado pela Administração748. Em princípio, os dados que podem estar disponíveis em papel devem ser deixados disponíveis também no âmbito do governo eletrônico749. Assim, o acesso à informação contida em bases de dados públicas em regra deve ser acessível aos cidadãos, não podendo sofrer maiores limitações que as exigidas pela concorrência de ou- tros bens jurídicos constitucionalmente protegidos750.

De outra parte, a eventual necessidade de respeito aos demais bens cons- titucionais envolvidos torna imprescindível a fixação de níveis de acesso, conforme a in- formação considerada751. No governo eletrônico, como já mencionado, a tendência é a prestação das informações de maneira ativa, sem que haja uma fase de avaliação sobre a pertinência de cada solicitação. Por essa razão, os níveis de acesso devem ser estabelecidos antes de tornar disponível o serviço, ocasião em que deverão ser adotados os cuidados per- tinentes, tais como a definição dos critérios para a verificação da legitimidade do acesso e da forma pela qual a informação poderá ser oferecida. A nova legislação brasileira segue essa tendência, ao prescrever a classificação para efeito de sigilo (art. 23 e 24 da Lei n. 12.527/11)752.

748 As questões aqui apresentadas acompanham a evolução tecnológica. De fato, enquanto não utilizados os meios telemáticos, os problemas relacionados à preservação da intimidade não eram tão sensíveis. A primeira onda de informatização das Administrações Pública, nas décadas de 1960 e 1970, orientada principalmente para a busca de produtividade, manifestava pouca consideração pelas questões da vida privada (cf. TRUCHE

Pierre, FAUGERE, Jean-Paul, FLICHY, Patrice, Administration électronique et protection des données person- nelles - Livre blanc, Paris, La Documentation française, 2002, op. cit., p. 19). No entanto, desde então, a questão vem sendo objeto de debate (cf. GRISTI, Éric, op. cit., p. 512). A informatização da Administração foi descrita com frequência, por cerca de trinta anos, como fonte de ameaças para o administrado, possivelmente sujeito a um insuportável controle social simbolizado pela figura do Big Brother (cf. MAISL, Herbert, De l’administration cloisonnée a l’administration en réseau: fin de la vie privée et/ou satisfaction de l’usager, in CHATILLON, Georges, MARAIS, Bertrand du (org.), L’administration électronique au service des citoyens, Bruxelles, Bruylant, 2003, p. 349). Hoje tais temas se referem a uma realidade concreta, que permite identifi- car as respectivas questões jurídicas e procurar solucioná-las.

749 Cf. D

UNI, Giovanni, L'amministrazione digitale, cit., p. 65. 750 Cf. G

ONZÁLEZ BUSTOS, María de los Ángeles, Derecho a la información del ciudadano y las nuevas tec-

nologías, in SÁNCHEZ SÁNCHEZ, Zulima (coord.), Nuevas Tecnologías, Administración y Participación Ciu-

dadana, Granada, Comares, 2010, p. 25 e VALERO TORRIJOS, Julián, El acceso telemático a la información

administrativa, cit., p. 33. 751

Propondo níveis de acesso, cf. DUNI, Giovanni, I "viaggi telematici" dell'atto informatico. Note sul proce- dimento informatico, in Quaderni del DAE – Rivista di Diritto Amministrativo Elettronico, jul. 2003, dispo- nível em http://www.cesda.it/quadernidae/index.php, acesso em 08.12.2010, p. 1.

752 A Lei n. 14.141/06, do Município de São Paulo, condiciona a utilização das novas tecnologias à garantia de “níveis de acesso às informações” (art. 49, I).

Há situações mais extremas, que não comportam grandes questionamen- tos quanto à introdução das novas tecnologias. De um lado, as informações básicas, im- prescindíveis para o funcionamento democrático e de interesse para o público em geral – tais como legislação, jurisprudência e informação sobre a atuação parlamentar –, estão su- jeitas a um regime de liberdade de circulação753 e devem ser oferecidas indiscriminada- mente a todos os cidadãos, em igualdade de condições754, do modo mais amplo possível e sem nenhuma forma de controle de identidade do solicitante755, cabendo apenas garantir ao administrado a autenticidade de tal informação756. São as informações de interesse coletivo referidas pela Lei de Acesso à Informação (art. 8º). De outro lado, as informações sujeitas ao sigilo, por necessidades relacionadas à segurança da sociedade ou do Estado, não devem ser objeto de publicidade alguma (art. 23). Tendo em vista o dever de controlar o acesso a estas informações (art. 25) é imprescindível, caso empregados meios informáticos, a utili- zação das técnicas apropriadas para evitar que tais dados sejam levados ao conhecimento do público, conforme o disposto em regulamento (art. 25, § 3º), sem prejuízo das provi- dências em relação à observância do sigilo pelos profissionais envolvidos (art. 26, caput).

Outra situação é a das informações pessoais, entendidas como aquelas que fazem referência a pessoas determinadas, o que pode ser verificado de modo direto ou por meio de uma operação lógica757. Neste caso, a realização da transparência administra- tiva passa a confrontar-se com o direito à proteção dos dados pessoais, aspecto integrante do direito à intimidade e à vida privada758. Tal tema será tratado nos itens seguintes.

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Cf. TRUDEL, Pierre, op. cit., p. 47.

754 Assim já se afirmou: “A igualdade de todos no acesso à informação administrativa constitui um ponto de singular relevância. Relaciona-se com o princípio democrático, a cláusula do Estado de Direito e o princípio da divisão de poderes. A tal propósito, a Administração deve exercer um papel ativo, de caráter prestacional, que assegure a qualidade da oferta pública da informação” (cf. BARNÉS VÁZQUEZ, Javier, Una reflexión in- troductoria sobre el Derecho Administrativo y la Administración Pública de la Sociedad de la Información y del Conocimiento, cit., p. 76, tradução livre).

755 Cf. G

ARCÍA-POGGIO, Paz, op. cit., pp. 8-9. Aplica-se, aqui, o princípio da segurança graduada, ou seja, o respeito ao anonimato em todas as solicitações que não exijam identificação (cf. nota 418).

756 Cf. F

ERNÁNDEZ SALMERÓN, Manuel, El acceso a los registros y archivos administrativos, cit., p. 617. É o caso, também, dos editais em geral, que podem encontrar maior difusão e capilaridade por meio da internet, inclusive pela possibilidade de localização de informação por meio de motores de busca (cf., comentando a legislação española, que prevê expresamente os editais em meio digital, VALERO TORRIJOS, Julián, Acceso a los servicios y difusión de la información por medios electrónicos, cit., p. 265).

757 Cf. V

ALERO TORRIJOS, Julián, El acceso telemático a la información administrativa, cit., p. 34. 758 Cf. T

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