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As novas formas de criminalidade e o tráfico de seres humanos

Desde logo, convém destacar que a restrição das vias legais de entrada de imigrantes nos países desenvolvidos, iniciada a partir dos anos 70, na Europa Ocidental, América Setentrional e Canadá, criou bases para o nascimento desse novo e crescente mercado criminal, que é o tráfico de seres humanos, estruturado como uma verdadeira e peculiar indústria sofisticada, gerenciada por poderosas redes coordenadas que atuam simultaneamente em outras modalidades de tráfico, como de drogas e de armas.43

Nesse cenário, a globalização econômica e a integração supranacional provocaram duplo efeito sobre a delinquência. Primeiramente, deram lugar a determinadas condutas que tradicionalmente eram contempladas como delitos, deixaram ou deveriam deixar de sê-lo, pois isso se converteria em um obstáculo às próprias finalidades perseguidas nesse novo paradigma econômico-social. Noutro sentido, o atual modelo social dá lugar à conformação de modalidades novéis de delitos clássicos, assim como à aparição de novas formas delitivas. Além disso, gera

da família comete um crime ou caso ocorra alguma calamidade no seio familiar, tal como uma morte repentina. Nesses casos, ela é forçada a ficar pelo resto de sua vida prestando serviços laborais e sexuais para o sacerdote, sem receber nenhum pagamento. Muitos sacerdotes possuem um “harém de trokosi”. Elas são frequentemente punidas com chicotadas e privadas de alimento, no caso da recusa em prestar alguns desses serviços ou saírem do santuário sem permissão. Trokosi foi nomeada uma violação dos Direitos Humanos das mulheres em 1977 e 1999. Em Gana foi declarada uma prática ilegal. No entanto, muitas famílias tradicionais ainda mantêm a prática e milhares de meninas e mulheres permanecem nessa situação. Nesse sentido: op. cit., p. 43.

nova concepção de objeto do delito, centrada em elementos tradicionalmente alheios à ideia de delinquência como fenômeno marginal, em particular, os elementos de organização, transnacionalidade e poder econômico.44

Categoricamente, a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América, a preocupação com a atividade terrorista aumentou e culminou em reforços para a cooperação judicial e policial entre os Estados, especialmente a Comunidade Europeia, as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos. E mais, os problemas relacionados à delinquência da globalização entraram na lista dos problemas mundiais, e o que aparentemente estava limitado a alguns países revelou que, em princípio, nenhum Estado está imune, provocando reflexos em muitas legislações internas, com o escopo de prevenir ataques terroristas, delitos sexuais, entre outras figuras delituosas.

Outro dado deve ser mencionado, é que agregadas à globalização econômica e à integração supracional, a expansão da informatização e a diversificação das ações criminosas que passaram a incidir no mundo virtual, tornaram-se um terreno fértil e convidativo para a execução de delitos, gerando a incrementação de novos instrumentos para a prática delituosa, bem como fizeram surgir novéis crimes.

A todo lado passaram a existir novas criminalizações decorrentes da proteção penal de bens jurídicos coletivos ou supraindividuais, recentemente entendidos como dignos de proteção penal. Assim, os novos perigos do mundo industrial-global são cada vez mais objeto de normas penais, como drogas, terrorismo, tráfico internacional de armas e pessoas, transplante de órgãos e tecnologia genética, comportamentos socialmente lesivos praticados pelas classes economicamente abastadas. Todavia, tais criminalizações procedem não apenas da expansão do âmbito de objetos protegidos, mas também de uma antecipação da proibição penal, mormente a formulação de novos tipos de perigo abstrato.45

No contexto atual ocorreu o surgimento de uma nova realidade, com escopo de proteger os bens jurídicos mais caros para a sociedade. Assim, houve a necessidade de adoção de uma política criminal diferenciada, inserida no contexto do “Estado Preventivo”.

44Nesse sentido: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A Expansão do Direito Penal Aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.

104.

45Nesse sentido: GRECO, Luís. Modernização do Direito Penal, Bens Jurídicos Coletivos e Crimes de Perigo Abstrato. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 1-2.

José Joaquim Gomes Canotilho traça considerações importantes no que se refere aos novos traços jurídico-organizatórios para o combate dessas novas formas de criminalidade, sendo necessária a adoção de três pilares: a) a legitimação de parcerias de segurança e de cooperação internacional; b) a estratégia coerente quanto à troca de informação pelos diversos serviços e c) a centralização de bancos de dados.46

Ainda, para a efetiva proteção dos bens jurídicos difusos e coletivos, no contexto dos delitos da globalização, o Direito Penal passaria a atuar como prima ratio, sendo aplicado à espécie incriminadora dos crimes de perigo, nos quais a consumação do delito independe da lesão, se considerado que o evento do risco ao bem jurídico penalmente tutelado pode ser efetivo ou presumido.

Isso se deve ao fato de que, em relação às novas formas de criminalidade, o aparelho estatal atual mostra-se insuficiente para a resposta penal adequada e satisfatória na salvaguarda bens jurídicos difusos, coletivos, ou outros de primeira ordem perpetrados nos seios das organizações criminosas. Para tanto, o Direito Penal deve apresentar-se de forma prospectiva, vez que se justifica e é legitimado pela prevenção do dano ao bem jurídico de elevada magnitude.

Logo, há inúmeros questionamentos no que se refere à tipicidade, ao local do crime, à competência jurisdicional, à determinação da autoria, bem como os inúmeros delitos que podem ser praticados com o uso de computadores e da telemática, como a venda e a negociação de crianças para adoções ilegais, material pornográfico produzido com crianças e mulheres exploradas sexualmente, tratando- se, muitas vezes, de vítimas do tráfico de seres humanos, entre outros.

O tráfico de seres humanos é uma atividade que envolve uma série de outros crimes graves, de modo que é potencialmente impossível obter sucesso na empreitada delituosa sem estar associado a outros crimes que são cometidos durante o processo.

Por fim, o crime em tela apresenta-se como uma nova forma delituosa cujo objetivo é a maximização do lucro, no qual diversos atores podem estar envolvidos: a) organizações criminosas hierarquicamente e verticalmente organizadas; b) estruturas de rede horizontalmente integradas, constituídas por criminosos que

46Nesse sentido: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Terrorismo e Direitos Fundamentais.

Criminalidade Organizada e Criminalidade de Massa, Interferências e Ingerências Mútuas. VALENTE, Manuel Monteiro Guedes (coord.). Coimbra: Almedina, 2009, p.30.

representam uma função na operação criminosa, sem que haja um verdadeiro hanking hierárquico entre eles. Particularmente, nessas duas modalidades há a presença de especialistas no fornecimento de documentos falsos, no transporte de pessoas e ligações estreitas com funcionários corruptíveis; c) traficantes individuais ou contrabandistas; d) amigos e familiares dos imigrantes e ex-vítimas47.

Todo o quadro que se acaba de traçar remete-se brevemente à análise do tráfico de seres humanos e à criminalidade organizada transnacional.

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