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Tráfico de órgãos, tecidos e células

O transplante de órgãos foi reflexo dos inúmeros avanços da medicina durante o século XX jungido à solidariedade humana, provocou reflexos positivos na qualidade de vida de doentes em todo o mundo. Todavia, esses feitos têm sido maculados por inúmeros relatos de tráfico de seres humanos com fins de extração de órgãos, tecidos e células.

Comumente, essa modalidade de tráfico seduz aquelas pessoas que sobrevivem socialmente no estado de pobreza e miserabilidade, fazendo com que vendam seus órgãos, tecidos e células, que serão posteriormente transplantados,

370Relatório do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – 2010. Disponível em: <

http://portal.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B5753E656-A96E-4BA8-A5F2-B322B49C86D4%7D>. Acesso em: 30/01/2011, p. 25.

371Nesse sentido: Relatório do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

– 2010.

Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B5753E656-A96E-4BA8-A5F2- B322B49C86D4%7D >. Acesso em: 30/01/2011, p. 25.

372Nesse sentido: Relatório do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

– 2010.

Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B5753E656-A96E-4BA8-A5F2- B322B49C86D4%7D>. Acesso em: 30/01/2011, p. 24.

por acreditarem que sairão da condição de miséria em que vivem. No entanto, o que ocorre, na maioria das vezes, por não estarem preparadas para lidar com a negociação, ou seja, a venda de partes do próprio corpo, comercializam por valores ínfimos, se comparados aos preços de revenda negociados pelos traficantes no mercado negro.373

Esse quadro reflete que os países em desenvolvimento tornaram-se verdadeira “fonte de órgãos” e são frequentemente visitados por “turistas doentes” de países ricos, que viajam para o estrangeiro com o objetivo de comprar órgãos de pessoas pobres. Tanto que em 2004, a Organização Mundial da Saúde instou os Estados-Membros a

tomarem medidas no sentido de proteger os grupos mais pobres e vulneráveis contra o turismo de transplante e a venda de tecidos e órgãos, prestando atenção ao problema mais vasto do tráfico internacional de tecidos e órgãos humanos.374

No ano de 2008, a Declaração de Istambul sobre Tráfico de Órgãos e Turismo de Transplante375, com escopo de versar sobre a problemática emergencial que envolve esse tema, definiu o tráfico de seres humanos com o objetivo de extração de órgãos, tecidos e células como:

O recrutamento, transporte, transferência, refúgio ou recepção de pessoas vivas ou mortas dos respectivos órgãos por intermédio de ameaça ou utilização da força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade, ou da oferta ou recepção por terceiros de pagamentos ou benefícios no sentido de conseguir a transferência de controle sobre o potencial doador, para fins de exploração através da remoção de órgãos para transplante.

A definição supramencionada contém três elementos distintos, mas correlacionados. São eles: os atos dizem respeito ao “recrutamento, transporte,

373Nesse sentido ver Pesquisa e diagnóstico do tráfico de pessoas para fins de exploração

sexual e de trabalho no Estado de Pernambuco – 2009. Disponível em:

<http://portal.mj.gov.br/main.asp?Team=%7B5753E656-A96E-4BA8-A5F2-B322B49C86D4%7D>. Acesso em: 30/01/2012, p. 57.

374Declaração de Istambul sobre Tráfico de Órgãos e Turismo de Transplante.Disponível em:

<http://www.cremers.org.br/download/declaracaodeistambul.pdf>.

375A adesão do Brasil à Declaração de Istambul sobre Tráfico de Órgãos e Turismo de Transplante deu origem à Resolução da Organização Mundial da Saúde (OMS) WHA que trata do

tráfico de órgãos, tecidos e células; Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0201_07_02_2012.html>. Acesso em: 07/09/2011.

transferência, refúgio ou recepção de pessoas vivas ou mortas dos respectivos órgãos”, tecidos e células, os quais asseguram a penalização dos traficantes.

Já os meios descritos, alguns dos quais são utilizados pelos criminosos para conseguir seu objetivo criminoso, são: a ameaça ou utilização da força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade, ou da oferta ou recepção por terceiros de pagamentos ou benefícios.

Os fins são direcionados no “sentido de conseguir a transferência de controle sobre o potencial doador, para fins de exploração através da remoção de órgãos para transplante”. Tais termos descrevem a intenção do traficante.

Desse modo, o intuito das políticas internacionais de enfrentamento a essa modalidade de tráfico de seres humanos foi a prevenção e a criminalização, bem como o combate da comercialização dos transplantes, na qual um órgão é tratado como uma mercadoria, sendo vendido, comprado e negociado com desígnio de obtenção de ganhos financeiros.

O UNODC publicou recentemente informações relevantes inseridas nessa temática, que oportunamente são trazidas à baila: a) o tráfico de pessoas para fins de extração de órgãos, tecidos e células é uma das formas de tráfico que seguem o padrão semelhante a outras modalidades de tráfico de seres humanos, como, por exemplo, o aproveitamento de grupos vulneráveis, mas, intrinsecamente, contém algumas diferenças significativas; b) alguns dos sujeitos ativos do crime e o modus operandi do tráfico de órgãos são distintos das outras modalidades de tráfico de seres humanos, na medida em que exigem médicos, a compatibilidade do receptor, o tempo de duração da exploração e da posterior liberação da vítima, se houver; c) os órgãos mais procurados no mercado negro do tráfico são: os rins, seguidos pelo fígado, com a finalidade de transplantes. Essas práticas têm aumentado exponencialmente com a crescente demanda por transplantes de doador vivo, em razão de um aumento significativo entre as taxas de pacientes com doença renal crônica, por exemplo, e de doação de órgãos de doadores falecidos; d) 46% dos rins transplantados e 14,6% dos fígados vêm de doadores vivos; e) estima-se que 10% dos transplantes globais envolvam órgãos traficados; f) não há disponibilidade de doadores suficientes em nível global para a demanda de receptores necessitados; g)

a maioria das vítimas de que se tem conhecimento vende seus órgãos motivadas pelo desespero em acabar com a situação de pobreza.376

Assinala-se, ainda, que o tráfico de órgãos e o tráfico ilícito de imigrantes muitas vezes encontram-se no mesmo contexto, uma vez que se constataram casos em que pessoas pagaram o “custo de sua viagem”, submetendo-se à extração de algum órgão.377

4.5. Tráfico de seres humanos com o objetivo de prática delitiva ou qualquer

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