• Nenhum resultado encontrado

O crime organizado transnacional e o tráfico de seres humanos

A criminalidade organizada, favorecida pela globalização, entre outras, trata- se de uma das principais causas de intimidação, ameaça à segurança, ao desenvolvimento socioeconômico e político nos países, em todo o mundo. De modo que o breve estudo dessa temática mostra-se imprescindível, pois entre as propostas de plano de luta global está o combate ao crime organizado e sua relação com o tráfico de seres humanos.

Assim sendo, desde a perspectiva policial, podem ser destacados aspectos próprios desse modelo criminal, ou seja, a existência de uma associação de várias pessoas, duradoura ou estável, em sociedade, voltada para os mesmos interesses, dotada de uma estrutura organizada com base em critérios de disciplina e hierarquia, na qual os agentes atuam em conluio, direcionados a uma programação ilícita e com divisão de trabalho. Realizam de maneira simultânea negócios lícitos e ilícitos, empregam para tanto técnicas e meios diversos, servem-se de infraestrutura com comunicação de ponta, com grande mobilidade e alcance internacional.48

A primeira manifestação da criminalidade da globalização está naqueles grupos que realizam fatos delitivos no exercício de atividades econômicas inicialmente lícitas, como é caso dos abusos de poder no comércio internacional,

47Conforme informação extraída do Organized crime involvement in trafficking in persons and

smugglling of migrants. Disponível em: <http://www.unodc.org/documents/human-

rafficking/FINAL_REPORT_06052010_1.pdf>. Acesso em: 05/01/2011. Tradução livre realizada pela autora.

48Nesse sentido: MAYORDOMO RODRIGO, Virginia. El Delito de Tráfico Ilegal e Inmigración Clandestina de Personas. Madrid: Iustel, 2008, p. 169 apud DE LA CUESTA ARZAMENDI, J.L. EL Derecho Penal ante la criminalidad organizada: nuevos retos y limites. GUTIÉRREZ-ALVIZ

CONRADI, F. y VALCARCE Loópez, M (dir), La cooperación internacional frente a la criminalidad

defraudações a interesses financeiros, ilícitos em matéria tecnológica e criminalidade informática, etc.49

A segunda manifestação inclui fatos delitivos relativos a todo conjunto de transações internacionais, que por objeto já são ilícitas ab initio, como por exemplo, o tráfico internacional de drogas, armas, pessoas e órgãos humanos; moeda falsa; branqueamento de capitais, etc. Esses grupos organizados tendem a fixar um monopólio de abastecimento de bens e serviços ilegais em atendimento aos clientes, porque desse modo conseguem assegurar seus benefícios,50 e, assim, maximizar seus lucros.

Desse ponto de vista estrutural, essas organizações criminosas movimentam-se de forma complexa, tal qual a uma sociedade multinacional, equiparável nas esferas interna e internacional com a correspondente divisão de trabalho. Desse modo, asseguram sua eficácia, com o máximo de benefício e o mínimo risco. Observa-se que a criminalidade organizada não se limita a atividades manifestamente ilícitas ou ilegais, pois infiltram-se em muitos tipos de empresas legais e utilizam-se de táticas como a intimidação, a violência e a corrupção, que podem ser complexas, sutis, brutais, manifestas ou diretas.51

Hodiernamente, uma linha muito tênue separa a criminalidade organizada dos delitos econômicos, e isso acaba por refletir em problemas sociais e em outras modalidades delituosas. De modo que, segundo Alberto Silva Franco:

O crime organizado possui uma textura diversa: a) tem caráter transnacional na medida em que não respeita as fronteiras de cada país e apresenta características assemelhadas em várias nações; b) detém imenso poder com base numa estrutura global e organizativa que lhe permite aproveitar as fraquezas estruturais do sistema penal; c) provoca danosidade social de alto vulto; d) possui grande força de expansão, compreendendo uma gama de condutas infracionais, com ou sem vítimas, podendo ser difusas; e) dispõe de meios instrumentais de moderna tecnologia; f) apresenta um intrincado sistema de conexões com outros grupos delinquênciais, e uma rede subterrânea de ligações, com os quadros oficiais da vida social, econômica e política da comunidade; g) origina atos de extrema violência; h) exibe um poder de corrupção de difícil visibilidade; i) urde mil disfarces e simulações e, em resumo, é capaz de inerciar ou fragilizar os Poderes do próprio Estado.52

49Nesse sentido: PÉRES CEPEDA, 2004, p. 13-14. Tradução livre realizada pela autora. 50Nesse sentido: Idem. Ibidem, p. 13-14. Tradução livre realizada pela autora.

51Nesse sentido: Idem. Ibidem, p. 14. Tradução livre realizada pela autora.

52FRANCO. Alberto Silva. Um difícil processo de tipificação. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.21,

Nessa toada, as conexões entre o crime organizado e o tráfico de seres humanos envolvem a olhos vistos inúmeras condutas, englobam desde o fornecimento de pessoas (vítimas do tráfico) até a oferta por parte da organização criminosa de serviços ilegais específicos, como documentação falsa, transporte, alojamentos, entre outros.53

O crime em estudo pode ser praticado por organizações criminosas ou intermediários. Devido à complexidade das ações que configuram o tráfico de pessoas, no âmbito territorial, em que implicam traslados das pessoas traficadas, inclusive entre vários países, assim como o controle e a custódia a que são submetidas às vítimas, no particular, é imprescindível que exista um grupo delitivo organizado ou estruturado, nos quais pessoas cumpram determinados papéis que resultam indispensáveis para a concatenação de fatos que, somados, levam à consumação do delito.54

No tráfico de pessoas, o crime organizado transnacional intervém de maneira direta, pois envolve traficantes, proprietários ou administradores de locais de exploração laboral ou sexual, conta ainda com uma série de pessoas intermediárias e facilitadoras do crime, inclui taxistas, portadores, empregados de hotéis, turistas nacionais e estrangeiros. De maneira indireta, mas com plena consciência, intervém membros corruptos das polícias nacionais ou migratórias das fronteiras e outros funcionários governamentais, que atuam em coalizão com os grupos de delinquência organizada transnacional.55

Examinando o tema desde a perspectiva das organizações delitivas, as redes de traficantes de seres humanos constituem negócios lucrativos e em expansão devido à: a) existência da demanda crescente de migração internacional, tanto nos países de origem quanto nos de destino; b) as restrições à imigração legal impostas pelos países industrializados originam a demanda alternativa de imigração irregular; e c) se comparadas com outras atividades criminais, o tráfico ilícito de imigrantes e o

53Nesse sentido: PÉRES CEPEDA, 2004, p. 17. Tradução livre realizada pela autora.

54Nesse sentido: Manual sobre la investigación del delito de trata de personas, p.34-35.

Disponível em: <http:// www.unodc.org/documents/human.../AUTO_APRENDIZAJE>. Acesso em 20.05.2012. Tradução livre realizada pela autora.

55Nesse sentido: Manual sobre la investigación del delito de trata de personas, p. 35. Disponível

em: <http://www.unodc.org/documents/human.../AUTO_APRENDIZAJE>. Acesso em 20.05.2012. Tradução livre realizada pela autora.

tráfico de seres humanos oferecem baixos riscos de detenção e ajuizamento de processos na esfera penal.56

Igualmente, torna-se oportuno trazer à colação o quadro elucidativo proposto pela OTI, no estudo direcionado ao tráfico de seres humanos, para fins de exploração sexual, acerca das posições e funções ocupadas pelos integrantes das redes de tráfico de seres humanos complexas:

Tabela 1: Posições e funções ocupadas pelos integrantes das redes de tráfico de seres humanos complexas

POSIÇÃO FUNÇÃO

INVESTIDORES

“Aplicam recursos e supervisionam todo o empreendimento. Esses indivíduos não têm sua identidade conhecida pelos integrantes que trabalham em posições inferiores, garantindo, assim, o desvinculamento do comando da organização dos braços responsáveis pelas atividades ilícitas.”

ALICIADORES

“Identificam pessoas vulneráveis, fazem falsas propostas de trabalho, pagam as despesas iniciais do deslocamento e podem arcar até com outras despesas, como presentes ou cestas básicas, para obter a confiança da vítima ou de sua família. Desconhecem, na maioria das vezes, os detalhes das rotas do tráfico e, geralmente, são pagos ‘por cabeça’, ou seja, por pessoa aliciada.”

TRANSPORTADORES “Levam as vítimas de suas cidades de origem até a cidade de destino, no caso do tráfico interestadual ou, ainda, até a cidade de onde serão levadas para o país de destino ou de trânsito.”

SERVIDORES PÚBLICOS

CORRUPTOS “Em troca de suborno, fornecem documentos falsos à organização e outros meios de possibilitar o deslocamento das vítimas.” INFORMANTES “Armazenam dados sobre os serviços de repressão, sobre as rotinas de fiscalização da imigração e qualquer outra informação que se fizer

necessária.”

GUIAS “Recepcionam as vítimas e as acompanham de um ponto a outro. Algumas vezes o a companhamento é até o local de destino.”

SEGURANÇAS “Imigrantes ilegais que mantêm a ordem durante o trajeto, geralmente por meio da força física ou ameaça.” COBRADORES “Cobram os custos da viagem até o país de destino, geralmente por meio de violência e ameaças, ou mesmo através da intimidação de

amigos ou familiares da vítima.”

LAVADORES DE DINHEIRO “Cobrem o rastro do dinheiro, o qual pode ser reaplicado em atividades criminosas complementares ou em atividades legais dispersas.” ESPECIALISTAS E

PESSOAL DE APOIO “Pessoas contratadas para atuar em demandas pontuais, sem relação direta e contínua com a organização criminosa.” Fonte: Tráfico de Pessoas para fins de exploração sexual. OIT, 2005, p. 54-55.

56Nesse sentido: GERONIMI, Eduardo. Aspectos jurídicos del tráfico y la trata de trabajadores migrantes. Programa de Migraciones Internacionales Oficina Internacional del Trabajo Ginebra, p.

11.Disponível em: <http://www.ilo.org/public/english/protection/migrant/download/pom/pom2s.pdf>. Tradução livre realizada pela autora.

Portanto, o tráfico de seres humanos é um grande negócio econômico criminal, no qual operam, essencialmente, organizações criminosas especializadas, caracterizadas por ramificações e pelas relações internacionais, que não se limitam ao mundo criminal, mas se estendem a setores corruptíveis, como o político, o burocrático, da diplomacia e das forças de ordem, em particular nos países de origem e de trânsito, que compõem os fluxos migratórios. Em termos transnacionais, reflete-se em organizações criminosas, compostas por pessoas de distintos países, em mais um mercado ilícito, que inclusive gerencia o fluxo de imigrantes ilegais, explorando-os com a finalidade de obter lucro.57

Segundo Ana Isabel Péres Cepeda, em geral, essa estrutura complexa agrupa indivíduos que operam tanto na imigração clandestina como nas modalidades de tráfico de pessoas, pode ser definida como um sistema criminal integrado, levando-se em consideração as relações de interdependência e complementaridade. A partir de um ponto de vista descritivo, as organizações delituosas podem ser classificadas em três tipos distintos58:

a) Nível alto - Incluem-se as consideradas organizações étnicas, ou seja, aquelas em que a realização do planejamento e a gestão do deslocamento de pessoas dos países de origem para os de destino são promovidas por conacionais. O fluxo migratório é proveniente da Ásia (Filipinas, China), do subcontinente indiano (região peninsular do Sul da Ásia, como por exemplo, Bangladesh, Sri Lanka e África). O indivíduo é transferido de um continente para outro para ser sucessivamente explorado sexualmente, submetido a trabalhos forçados e à mendicância. Esse tipo de organização criminosa opera, também, no Leste Europeu, dedica-se especialmente ao tráfico para fins de exploração sexual, para inserir jovens e mulheres no mercado da prostituição. O alto escalão dessas organizações delituosas ocupa-se da logística imprescindível para transportar a mercadoria humana de um continente para outro, assegurando o pagamento do preço cobrado, por vezes, violentamente ou por meio de fiéis colaboradores. Para tanto, desenvolvem específicas ações, como gerir os capitais, estabelecer os preços, financiar os custos do processo migratório, escolher a fonte de determinados serviços ilícitos provenientes de organizações criminosas de nível médio, estipular condições contratuais, operacionais e financeiras de tais serviços. Também se

57Nesse sentido: PÉRES CEPEDA, 2004, p. 18. Tradução livre realizada pela autora. 58Nesse sentido: Idem. Ibidem, p. 18-23. Tradução livre realizada pela autora.

dirigem às atividades de corrupção de pessoas do mundo político, burocrático, diplomático, empresarial e financeiro, que no caso da modalidade transnacional, mostra-se imprescindível para a obtenção do êxito.59

b) Nível médio - Podem ser identificadas como aquelas organizações criminosas que operam em territórios estratégicos, situados em zonas estabelecidas dentro dos limites dos países de destino, mas também aqueles que constituem uma etapa obrigatória para os países da União Europeia. São especialistas em gerir a recepção e o transporte, por via terrestre ou marítima, de imigrantes clandestinos provenientes de várias partes do mundo. Tais organizações possuem um ótimo conhecimento do território local e uma consolidada rede de relações delituosas que se encarrega da fase operativa da viagem, constituída por uma série de atribuições específicas, como a expedição de documentos falsos, a corrupção de funcionários governamentais, eleição da rota e meios de transporte. Os detentores dos postos mais elevados dentro dessas organizações estão em contato direto com o alto escalão das organizações de nível alto, com os quais estabelecem acordos operativos e financeiros. Também mantêm laços estreitos com as de nível inferior, as quais asseguram a concretização das ações planejadas inicialmente.60

c) Nível baixo - É constituída por organizações menores, que operam nas nações de trânsito nas zonas limítrofes com os países de destino, sendo mais numerosas. Essas organizações desenvolvem suas atividades coordenadas juntamente com as organizações de nível médio, prestam seus serviços para imigrantes dotados de capital próprio. Ocupam-se materialmente em receber e administrar os clandestinos, passando-os pela fronteira e, dessa forma, efetuam seu transporte. Ao término da viagem, contatam as organizações étnicas.61

Para a OIM, de acordo com sua importância e grau de organização, a estrutura delituosa operante no tráfico de seres humanos apresenta-se da seguinte forma:

a) Traficantes ocasionais - Esta categoria abarca indivíduos que oferecem um simples serviço aos imigrantes. São pequenos operadores, residentes, normalmente, de zonas fronteiriças e frequentemente utilizam seus próprios barcos, táxis ou caminhonetes para o transporte de uma pessoa ou pequenos grupos de

59Nesse sentido: PÉRES CEPEDA, 2004, p. 19. Tradução livre realizada pela autora. 60Nesse sentido: Idem. Ibidem, p.19-20. Tradução livre realizada pela autora.

pessoas. Não obstante seu caráter amador, costumam prestar serviços para organizações internacionais, mas, em geral, respondem a uma ordem especial, que não é duradoura.62

b) Pequenos grupos criminais - Esta categoria inclui pequenos grupos organizados de traficantes que se especializaram no tráfico de pessoas de um país a outro, com itinerários invariavelmente fixos e com uma logística mais importante que a dos traficantes ocasionais. Atuam sobre uma base mais ou menos permanente, mas sua organização é menos profissional e complexa, se considerada a das redes internacionais de tráfico.63

c) Organizações delitivas transnacionais- Incluem grandes redes delitivas que levam à termo todo o processo de tráfico de seres humanos, que, em suma, versa sobre o transporte, o fornecimento de documentos falsos ou roubados, as permissões de trabalho ou cartas-convite para admissão nos países de destino, o alojamento durante trânsito ou no destino, a introdução clandestina para ulterior exploração laboral ou sexual. Essas organizações possuem bases logísticas nos países de origem, de trânsito e de destino e equipamentos altamente sofisticados. São frequentes as conexões dessas organizações com outros delitos internacionais, como o tráfico de armas, de veículos, de entorpecentes, ou de material nuclear, realizando simultaneamente o tráfico ilícito de imigrantes.64

No entanto, tal tipologia não se afigura como rígida, em especial quando relacionada ao tráfico de seres humanos, uma vez que existem práticas de cooperação e subcooperação de certas atividades em determinadas regiões controladas por outros grupos, nos quais o modelo de organização delituoso funciona em três etapas: a captação de imigrantes em seus países de origem, transporte e serviços conexos necessários para o trânsito, a inserção e a integração nos países de destino. Cada uma dessas fases caracteriza-se pelas distintas funções desempenhadas pelos traficantes e os diferentes graus de centralização.65

62Nesse sentido: GERONIMI, Eduardo. Aspectos jurídicos del tráfico y la trata de trabajadores migrantes. Programa de Migraciones Internacionales Oficina Internacional del Trabajo Ginebra.

Disponível em: <http://www.ilo.org/public/english/protection/migrant/download/pom/pom2s.pdf>, p. 12. "Trafic de migrants: caracteristiques et tendances dans differentes régions du monde", documento de síntesis presentado al 11º Seminario sobre Tráfico, OIM, Ginebra. 1994. Tradução livre realizada pela autora.

63Nesse sentido: Idem. Ibidem, p. 12. Tradução livre realizada pela autora. 64Nesse sentido: GERONIMI, loc.cit,. Tradução livre realizada pela autora. 65Nesse sentido: Idem. Ibidem, p. 12-13. Tradução livre realizada pela autora.

Em uma primeira etapa, na fase de captação ou recrutamento, a vítima é contatada por meios e táticas distintos, como anúncios em jornais, revistas locais ou na internet, com oferecimento de empregos no mundo desenvolvido, promessas de casamento com estrangeiros ou ainda ofertas para exercer a prostituição.66

Nessa fase, também ocorre aproximação pessoal, em geral realizada por conhecidos das vítimas (que podem ser comissionistas dos traficantes, agentes de recrutamento ou até vítimas do tráfico de pessoas que identificam futuras vítimas como forma de pagamento de sua dívida). Ou mediante tratativas com os pais e/ou familiares, a quem, mediante engano, propõem possibilidades de uma vida melhor para seus filhos, estudos no exterior, trabalho em casas de família, em troca do desempenho de serviços domésticos e reparos. É comum que a própria vítima entre em contato com os traficantes, seja porque desconhece a verdadeira natureza do tráfico, seja porque subestima suas consequências.67

A segunda etapa consiste no transporte, traslado e recepção nos países de trânsito e, posteriormente, de destino, sem prejuízo da exploração sexual ou laboral. As formas de coação podem se manifestar durante o trânsito.

Os meios de transporte e as rotas do tráfico de pessoas mostram a natureza dinâmica e a aperfeiçoada logística com que contam as organizações criminosas, que se adaptam constantemente às variações dos controles fronteiriços, a rigor da legislação penal dos Estados de partida, trânsito ou destino, ou à possibilidade de corrupção dos funcionários dos países em causa, entre outros fatores.68

Por fim, uma terceira etapa, já no lugar de destino, concretiza-se com a exploração das vítimas. Essa etapa, geralmente de longo prazo, inclui, entre outras formas, a exploração da prostituição alheia ou outras formas de exploração sexual, os trabalhos ou serviços forçados, a escravidão ou suas práticas análogas, a servidão ou extração de órgãos e tecidos humanos, sendo a violência ou a ameaça de violência utilizadas como as formas mais comuns de coerção contra as vítimas de tráfico de pessoas.69

66Nesse sentido: GERONIMI, Eduardo. Aspectos jurídicos del tráfico y la trata de trabajadores migrantes. Programa de Migraciones Internacionales Oficina Internacional del Trabajo Ginebra.

Disponível em: <http://www.ilo.org/public/english/protection/migrant/download/pom/pom2s.pdf>, p.13. Tradução livre realizada pela autora.

67Nesse sentido: Idem. Ibidem, p. 13. Tradução livre realizada pela autora. 68Nesse sentido: Idem.Ibidem, loc. cit,. Tradução livre realizada pela autora. 69Nesse sentido: Idem.Ibidem, p. 13-14. Tradução livre realizada pela autora.

É oportuno frisar que alguns grupos criminosos transnacionais dispõem de infraestruturas modernas, mantêm registrados os dados de cada vítima traficada (identidade, país de destino, residência dos familiares, rendimentos, locais para onde foram levadas) o que possibilita maior controle sobre ela, 70 inclusive por meio de ameaça relacionada à integridade física dos entes queridos que ficaram nos países de origem.

Diante desse quadro, organizações não governamentais estimam que, por ano, são introduzidas ilegalmente 400.000 pessoas no Continente Europeu, contabiliza, assim, o número de um para cada três migrantes que ingressam clandestinamente. Relacionado ao tema em estudo, acredita-se que aproximadamente entre um a dois milhões de mulheres ao ano são vítimas de tráfico

Outline

Documentos relacionados