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as publicações analisadas e os períodos de pesquisa o Diário de Notícias

No documento AS CARTAS DOS LEITORES NA IMPRENSA PORTUGUESA (páginas 186-190)

a data do aparecimento do jornal Diário de Notícias (dn), em 1864, marca a transição, em portugal, de uma imprensa de opinião, de carácter partidário, para uma imprensa cujo objectivo primordial consiste na informação noticiosa. nasce, assim, pelas mãos de eduardo Coelho, jornalista e escritor, e de Thomaz Quintino Antunes, proprietário da tipografia responsável pela sua impressão, um

jornal “acessível a todas as bolsas e compreensível por todas as inteligências”, como anuncia o seu número-programa de 29 de dezembro (apud Tengarrinha, 1989: 215) – o novo dn custa 10 réis, numa altura em que os jornais costumavam ter um preço quatro vezes superior. são, neste contexto, os rendimentos obtidos pelos anúncios publicitários que permitem manter um baixo preço, sendo que o desenvolvimento deste tipo de receita só se deu a partir do surgimento do Diário

de Notícias (cfr. ibidem: 223 e 225).

por isso, podemos dizer que “foi o primeiro jornal português a seguir o modelo da ‘penny press’. assumia o seu carácter suprapartidárioe supraclassista, que coloca a ênfase na notícia e no acontecimento em detrimento do editorial” (Correia, 1998: 91). numa estratégia editorial que visa transformar o jornal num objecto de consumo apetecível, recorrendo pela primeira vez a ardinas para a sua venda nas ruas, o projecto do dn emerge como inovador e inaugura um conceito de periódico radicalmente distinto de todos os que se encontravam até à data no mercado (cfr. Cristo, 2008: 126).

o jornal começa com uma tiragem de 5 mil exemplares, volume que quase duplica no fim do seu primeiro ano de existência; em 1885, a tiragem média sobe para as 26 mil cópias diárias (cfr. Tengarrinha, op. cit.: 227). o sucesso do dn foi tal que, um mês e meio depois da sua fundação, surgem dois novos jornais com o mesmo modelo, em lisboa (As Notícias) e no porto (Jornal de Notícias), sendo que, dez anos volvidos, existiam no continente do reino 33 jornais vendidos a 10 réis (cfr. ibidem: 231).

a par do Correio da Manhã, Público, 24 Horas e Jornal de Notícias e do i, é um dos seis jornais diários pagos de informação geral e de âmbito nacional. é, por outro lado, possível colocar o Diário de Notícias no mesmo plano do jornal

Público, em termos de posicionamento como diários de referência; aliás, este

último assumiu-se desde logo como concorrente directo do primeiro, quando apareceu nas bancas em 1990.

o período seleccionado para a realização da nossa análise da secção “Tribuna do Leitor” do jornal Diário de Notícias decorreu entre 19 de Janeiro e 16 de fevereiro de 2007, altura em que, simultaneamente, levámos a cabo uma observação participante junto da secção das cartas do mesmo jornal,

acompanhando o trabalho do responsável pela selecção das cartas a publicar e, também, a recolha das cartas publicadas e não publicadas durante esse período.

Contudo, precisamente no dia 16 de fevereiro de 2007, último dia da nossa estadia no jornal, um acontecimento viria a transformar a sua orientação: a administração da GlobalNotícias, grupo económico detentor do dn e de outros títulos, anunciou, de forma inesperada, com o argumento algo vago de “incumprimento dos objectivos propostos”, a demissão de toda a direcção do jornal (composta por antónio José Teixeira, como director, e Helena garrido, eduardo dâmaso e João Morgado fernandes, como directores adjuntos), tendo nomeado Miguel gaspar como director interino, até então chefe de redacção do matutino. Cerca de um mês depois, foi anunciada uma nova direcção e um novo rumo para o dn, tendo João Marcelino como director (que, até aí, dirigia o

Correio da Manhã), filomena Martins e rui Hortelão como directores-adjuntos. a mudança de direcção implicou algumas reformulações na estrutura e no grafismo do jornal e, também, na secção das cartas. Sublinhe-se, no entanto, que a análise da rubrica da correspondência do Diário de Notícias incide, apenas, sobre o período referido, anterior à mudança de direcção, e que todas as considerações sobre a mesma, nomeadamente, em termos de espaço, estrutura ou critérios dizem respeito a esse mesmo período de análise.

o Expresso

à semelhança do dn, também o Expresso é um jornal “com história” na imprensa portuguesa, ainda que o seu surgimento tenha sido muito mais recente. de periodicidade semanal, o Expresso foi fundado a 6 de Janeiro de 1973, por francisco pinto balsemão, com uma tiragem de 65 mil exemplares, tendo desempenhado um papel histórico, não só no desafio à censura na fase final da ditadura do estado novo, mas também “ao ir contra a corrente do pensamento dominante de esquerda que homogeneizou a imprensa nacional no período

revolucionário”, logo após a queda do regime, em 25 de Abril de 19741. Continua a ser, actualmente, apesar da emergência de um concorrente assumidamente directo (a 16 de setembro de 2006, nasce o Sol, fundado pelo antigo director do

Expresso durante 22 anos, antónio José saraiva), o semanário de informação

geral de maior relevo.

no contexto do surgimento do Sol, o Expresso operou uma das maiores mudanças da sua história, no dia 9 de setembro de 2006: “o abandono do tradicional grande formato (broadsheet) e o seu redesenho para o formato

berliner, que títulos de referência, como o francês Le Monde, desde sempre

tinham adoptado e a que outros, como o britânico The Guardian, acabavam de se render, aparentemente com bons resultados” (Fidalgo, 2006a: 86). Antes disso, em Janeiro do mesmo ano, Henrique Monteiro tinha assumido a direcção do semanário, cargo que continuava a desempenhar à data da realização desta investigação2. os contactos informais de periodicidade semanal com o editor encarregue da gestão da página das cartas dos leitores, bem como a obtenção de respectivos documentos (cartas publicadas, seus originais e não publicadas), estabeleceram-se entre 15 de Maio e 13 de Junho de 2007.

a Visão

Tal como o Expresso, a revista Visão pertence também ao grupo Impresa e enquadra-se no âmbito das newsmagazines, formato que apareceu pela primeira vez com a revista Time, lançada em 1923, nos estados unidos – uma publicação semanal que intercalava notícias com opinião, apostando em reportagens e em “estórias” de interesse humano, através de uma abordagem séria e equilibrada das problemáticas (cfr. Cardoso, 2004/5: 112). dez anos depois, nasce no mesmo

1) informação retirada do website do observatório da imprensa (Centro de estudos avançados de Jornalismo). http://observatoriodaimprensa.pt/periodicos-portugueses/expresso/ [Consultado em 28 de abril de 2009].

2) em 2011, ricardo Costa assume a direção do expresso e Henrique Monteiro passa a ser director editorial para as novas plataformas do grupo impresa publishing, cargo que mantém à data da publicação deste livro.

país a Newsweek e ainda hoje se mantém a rivalidade entre ambos os títulos. integrando-se neste tipo de orientação, a Visão chega às bancas a 25 de Março de 1993, assumindo como referências internacionais não só a Time ou a Newsweek, mas também Le Nouvel Observateur, L’Express ou a brasileira Veja.

Carlos Cáceres Monteiro fundou e dirigiu o título até 2005, altura em que passou a ser director editorial da edimpresa. pedro Camacho assumiu, a partir daí, o comando da revista, mantendo-se em funções até à data da realização desta pesquisa e, também, da publicação deste livro.

a presença da investigadora na revista, através de encontros semanais informais com o responsável pela gestão das cartas, bem como a respectiva recolha documental que constitui o nosso corpus de análise (cartas publicadas, seus originais e textos não publicados), abrangeu o período entre os dias 18 de Junho e 16 de Julho de 20073.

No documento AS CARTAS DOS LEITORES NA IMPRENSA PORTUGUESA (páginas 186-190)