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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO/REVISÃO DE LITERATURA 2 CAPÍTULO II SOCIEDADE EM REDE

4 CAPÍTULO IV INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL E O CASO DE BELO HORIZONTE

4.7 Inclusão digital em Belo Horizonte

4.7.3 Programa BH Digital

4.7.3.1 Breve histórico

Quatro anos após o início das ações de Inclusão Digital no Brasil, em 2004, a Prodabel tem a sua primeira iniciativa de Inclusão Digital que foi, por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação, a implantação de laboratórios de informática nas escolas públicas municipais para atender os alunos e a comunidade escolar.

Nesse mesmo ano, de forma pioneira, para atender a cidade de Belo Horizonte na oferta em TIC, foi adquirida pela Secretaria de Planejamento do Munícipio (SMP) a Unidade Móvel de Inclusão Digital, composta por 14 computadores conectados à internet e impressoras. Por meio de convênio municipal, a SPM cede à Prodabel a Unidade Móvel de Inclusão Digital para ofertar às comunidades carentes, gratuitamente, cursos de informática básica e uso da internet.

Em 2005, com sua reeleição para o governo municipal, o prefeito Fernando Pimentel (Partido dos Trabalhadores - PT) nomeia a funcionária pública e professora Silvana Veloso (PT) como assessora da Prodabel, para assumir a coordenação das ações de Inclusão Digital no munícipio de Belo Horizonte. Silvana, uma militante da inclusão social, bem articulada com o governo municipal, em especial com a cúpula da PBH e das Secretarias Municipais de Educação (SMED) e da Secretaria Municipal de Políticas Sociais (SMPS), promove a primeira reunião do fórum das ações de Inclusão Digital em Belo Horizonte. Como um dos principais resultados desse fórum, os coordenadores dos espaços de Inclusão Digital em Belo Horizonte apontaram como problema a necessidade de manutenção técnica dos equipamentos e a qualificação dos gestores destes espaços.

Em 2005, um marco do projeto de Inclusão Digital do município de Belo Horizonte foi criação da Diretoria de Inclusão na Prodabel, com a missão de integrar e coordenar todas as ações de Inclusão Digital do município de Belo Horizonte. Cria-se nessa diretoria o Programa BH Digital, que tem como parceiro a Associação Municipal de Assistência Social (AMAS).

O primeiro projeto de Inclusão Digital do município de Belo Horizonte se deu com a doação de computadores usados pelo Banco do Brasil (2.000 computadores) e a capacitação de jovens das classes C e D em informática básica e recondicionamento de computadores. Todos os computadores doados foram recondicionados e cedidos para as comunidades carentes com o objetivo de implantar os primeiros Telecentros comunitários em Belo Horizonte.

Em 2007, com atuação da Diretoria de Inclusão Digital fortemente alinhada estrategicamente e politicamente com os governos municipal e federal, a cidade de Belo Horizonte garante recursos

federais e implanta o CRC de Belo Horizonte, com o apoio do Programa CI, dando assim continuidade às ações de recondicionamento, formação e abertura de novos Telecentros comunitários.

Por meio de editais públicos, muitas cidades do Brasil foram beneficiadas pelos programas e ações de Inclusão Digital do Governo Federal, dentre elas a capital do Estado de Minas Gerais, a cidade Belo Horizonte. Em 2006, em uma forte articulação política com o Governo Federal, a Prefeitura de Belo Horizonte - PBH, em parceria com a Prodabel e sob a rubrica da inclusão, aprovou o convênio 004/2006 com o Ministério das Comunicações-MC para instalação, na cidade de Belo Horizonte, de 12 Estações Rádio Base (ERB) com a frequência “livre” 5 GHz e Hotspots 2.4 GHz. Essa ação correspondeu à liberação de recursos na ordem de 3,5 milhões de reais, criando, assim, o início da rede de acesso livre à internet (Hotspots) de Belo Horizonte para atender aos Centros de Inclusão Digital (Telecentros, laboratórios de informática das escolas públicas municipais), espaços públicos municipais, além dos órgãos públicos que fazem atendimento ao cidadão. Para garantir a criação e a gestão dos espaços de Inclusão Digital na cidade por meio da Prodabel, a PBH aprova em seu plano plurianual de ação governamental – PPAG de 2006-2009 – recursos financeiros para criação e manutenção dos Telecentros e para a capacitação de pessoas de classes sociais desfavorecidas em TIC.

Um ano após a aprovação desses recursos na PBH, foi institucionalizado o programa BH Digital por meio da Prodabel, que muda a sua missão, passando a ser responsável pela gestão e por ações de Inclusão Digital no município de BH.

Em 2007, o Convênio, agora com o Ministério do Planejamento (MP), nº 004/2007 libera recursos financeiros para implantação (2007) e manutenção (2008-2013) do Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC). Esse convênio foi estabelecido em parceria com as secretarias municipais de Política Social e Adjunta de Assistência Social do Município de Belo Horizonte (SMPS) e Associação Municipal de Assistência Social do Município de Belo Horizonte (AMAS), consolidando-se, assim, como ação intersetorial do Programa BH Digital.

Em 2009, o programa BH digital foi incluído na lista dos projetos sustentadores do planejamento estratégico da PBH em duas áreas temáticas: (1) modernidade e (2) cidade para todos, sendo o único projeto da Prodabel a configurar entre eles e reafirmando, assim, a prioridade das políticas de Inclusão Digital do município de Belo Horizonte como políticas públicas de inclusão social e digital.

O crescimento das políticas de Inclusão Digital no município e seu reconhecimento em nível nacional pelos seus resultados positivos fazem da PBH, por meio da Prodabel, uma das beneficiarias do Programa Telecentros.br, cujo objetivo é a doação de computadores (novos e usados), mobiliário, datashow, conexão Internet – GESAC e bolsas para monitores via CNPq. Por meio da seleção pública MP/MCT/MC nº 01/2010, a Prodabel assina em 26 de março de 2010 o convênio SIATC.0098, beneficiando não apenas o município de Belo Horizonte, mas também os dez municípios de sua Região Metropolitana. Com esse convênio, a política de Inclusão Digital passa a integrar de forma articulada o âmbito metropolitano.

Em 2010 o Programa BH Digital consolidou parcerias para expansão e efetividade das políticas de Inclusão Digital não apenas no Município de Belo Horizonte, mas também para várias cidades que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no âmbito do projeto da Rede 10, que envolve os municípios limítrofes à capital: Betim, Brumadinho, Contagem, Ibirité, Nova Lima, Ribeirão

das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano. A proposta inicial do convênio Telcentros.br comtemplava a abertura ou manutenção de 345 Telecentros para Belo Horizonte e 95 para os munícipios da Rede 10, os quais poderiam ser beneficiados com: novos computadores e/ou bolsa de monitoria e/ou mobiliário e/ou conexão à internet GESAC.

Em 2011, o Programa BH Digital rendeu a Belo Horizonte o título de cidade mais digital do Brasil, com 252 Telecentros ativos, 59 Hotspots, uma Unidade Móvel de Inclusão Digital e 12 estações rádio base (ERB) instaladas na cidade, distribuindo sinal de internet com cobertura real a 85% do território do município de Belo Horizonte.

Até ao final de 2013 o BH Digital já havia instalado mais de 400 Telecentros na cidade e conquistado vários prêmios nacionais e internacionais, sendo considerado um dos maiores e melhores projetos de Inclusão Digital do Brasil. Em diversos anos consecutivos, o BH Digital ganhou prêmios instituídos pela Associação de Usuários de Informática e Telecomunicações – SUCESU, fato que lhe deu notoriedade e foi registrado, em 2011, como uma das iniciativas de sucesso de programas de Inclusão Digital e Social no banco de dados de experiências de Participación Ciudadana en la Región MERCOSUR, no ámbito do Programa MUNICIPIA Laboratório Políticas Locales, MERCOCIUDADES. Em 2011, Belo Horizonte foi considerada a cidade mais digital do país, de acordo com a Momento Editorial e com a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações – CPqD, que selecionaram entre 75 cidades brasileiras a capital mineira para receber o prêmio Índice Brasil de Cidades Digitais, além do prêmio AREDE 2011, com o Programa denominado Oportunidade Legal – OLÉ/BH. Em 2013, o Programa BH Digital foi selecionado como inciativa de sucesso no Guangzhou International Award for Urban Innovation, na China.

Silvana Veloso permaneceu à frente da Diretoria de Inclusão Digital da Prodabel até dezembro de 2012, quando encerra a primeira gestão do prefeito Márcio Lacerda (PSB), sucessor do ex-prefeito Fernando Pimentel, deixando uma história de conquistas na área de Inclusão Digital para a Prodabel e o munícipio de Belo Horizonte.

Em 1 de janeiro 2013, reeleito em primeiro turno com 52,69% dos votos válidos, com muitas alianças políticas e derrotando o candidato Patrus Ananias (PT), o prefeito Márcio Lacerda muda a orientação em seu programa de governo e, como consequência, a composição dos cargos de alto escalão na administração municipal, que assume uma vertente mais neoliberal voltada a resultados financeiros e quantitativos, menos sociais, o que afeta diretamente a diretoria de Inclusão Digital da Prodabel. Para sua nova gestão, Márcio Lacerda (2013-2016) nomeia para a Prodabel novos diretores, exceto para a Diretoria de Administração e Finanças. Em ato administrativo, contrário aos da gestão anterior, nomeia-se para a Diretoria de Inclusão Digital um gestor com qualificações militares, Coronel Ricardo Belione de Menezes, comprometendo o programa de Inclusão Digital do Município de Belo Horizonte, que demandaria uma gestão voltada para as ações sociais.

O novo diretor, militar, sem prévio conhecimento na área da Inclusão Digital, subserviente às orientações do diretor de infraestrutura da Prodabel, Francisco Afonso Mansilha, em conjunto com este começa o desmonte da política de Inclusão Digital do munícipio de Belo Horizonte. O primeiro grande impacto ao programa de Belo Horizonte dessas políticas foi retirar o BH Digital dos programas sustentadores (importantes e acompanhados pelo prefeito) da administração Márcio Lacerda. As

consequências desse ato são devastadoras para a Diretoria de Inclusão Digital. Começa o desmantelamento de sua estrutura organizacional e equipe solidificada e construída nos governos anteriores, com, por exemplo: mudança do foco na ação de manutenção e recondicionamento de computadores e fechamento de Telecentros comunitários. Essa nova orientação passa a priorizar a disponibilização do acesso por meio de Hotspots na cidade e o voluntariado para atender aos Telecentros locais, retirando, assim, um dos principais eixos do programa de Inclusão Digital do município: a oportunidade do primeiro emprego para jovens de comunidades carentes e sua articulação com as comunidades locais. O Diretor Belione deixa a diretoria em 30 de setembro de 2014, sem nenhuma grande evolução e conquista para o programa, e seu sucessor natural, o diretor Francisco Afonso Mansilha da Silva, assume a Diretoria de Inclusão digital interinamente. Com grande prestígio e articulação política junto à gestão de Márcio Lacerda, faz as principais alterações nas diretrizes da Diretoria de Inclusão Digital, concretizando o desmonte de sua estrutura organizacional e rompimentos ideológicos com o fim da gerência de recondicionamento de computadores, o desenvolvimento da evolução do software Libertas, o fim da gerência financeira e da capacitação e contratação de jovens para a manutenção dos Telecentros.

Durante o ano de 2014, em função dos projetos da Copa do Mundo FIFA no Brasil, o Governo Federal, no seu Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), beneficia a cidade de Belo Horizonte por meio Programa BH Digital, e é acordado o provimento de infraestrutura de serviços para empresas e municípios sem fins lucrativos e a oferta de banda larga ao usuário final nas localidades onde não exista oferta adequada dos serviços, incrementando e reforçando ainda mais a conectividade nos programas de Inclusão Digital.

Francisco Mansilha fica como diretor interino na Inclusão Digital até 01 de março de 2015, quando é nomeado como diretor desta diretoria José Aparecido Gonçalves. Com forte ligação aos projetos sociais no município de Belo Horizonte, Aparecido alimenta a possibilidade de retomada do programa de Inclusão Digital do município com seus valores humanitários, sociais e participativos, mas com grande dificuldade gestora em função da debilidade da estrutura organizacional de sua diretoria e das resistências do corpo diretor da Prodabel a novas ideias e possibilidades de retomada do programa. Em 2015, a Diretoria de Inclusão Digital retoma pontos importantes da política local de Inclusão Digital, como a renovação do convênio para os Centros de Recondicionamento de Computadores -CRC, por meio do Edital de Chamada Pública nº 01/2015/SID-MC, com a proposta aprovada nº 045490/2015. Nessa proposta, a Prodabel se classifica em primeiro lugar com nota de análise técnica de 53,50 pontos, reafirmando a sua vocação e experiência na área de Inclusão Digital. O recurso financeiro desse convênio só foi liberado à Prodabel em dezembro de 2017, em função de dificuldades na prestação de contas de outros convênios da PBH com o Governo Federal.

Mais uma vez, a diretoria sofre uma descontinuidade em sua gestão quando, em 24 de agosto de 2016, Aparecido deixa o cargo para apoiar candidatos à eleição municipal, mas deixa um legado de continuidade e ações de capacitação e mobilizações sociais, sem, contudo, conseguir reconstruir a estrutura organizacional necessária ao programa de Inclusão Digital. Ressume a Diretoria de Inclusão Digital, interinamente, mais uma vez, seu antecessor, o diretor Francisco Mansilha, que a gesta até 30 de março de 2017.

Em função do processo das eleições municipais em 2015, em janeiro de 2016, Alexandre Kalil (Partido Humanista da Solidariedade - PHS) assume a Prefeitura de Belo Horizonte, com 53% dos votos válidos no segundo turno da eleição em Belo Horizonte. Sem o apoio das lideranças políticas de Minas Gerais e filiado a um partido pequeno, o PHS, assume a prefeitura com o compromisso de nomear para os cargos públicos de alto escalação da PBH gestores com qualificações técnicas em suas áreas de atuação.

A Prodabel se beneficia dessa orientação política e nomeiam-se, ainda nos primeiros meses do ano de 2016, jovens gestores, com qualificações nas áreas das TIC e uma visão futurista da atuação da empresa pública de tecnologia para esta sociedade em rede para os cargos de Presidência, Diretoria de Infraestrutura, Diretoria de Sistemas, Diretoria de Atendimento ao Usuário e, com grande experiência em administração pública, o diretor de Administração e Finanças. Mas a Diretoria de Inclusão Digital, mais uma vez, fica com gestão interina do Diretor de Infraestrutura Tecnológica, que retoma prioritariamente a vertente tecnológica da Diretoria de Inclusão Digital por um ano e meio, até 13 de maio de 2018.

Em dezembro de 2017 os recursos do convênio Centros de Recondicionamento de Computadores - CRC (nº 01/2015/SID-MC) são liberados para a Prodabel, que retoma as atividades de recondicionamento e manutenção de computadores com os recursos do Governo Federal. Em abril de 2018, a Prodabel solicita ao MCTIC a prorrogação desse convênio até dezembro de 2019.

Em 14 de maio de 2018, nomeia-se o diretor Adriano de Souza Ventura, com articulação e apoio do alto escalão da PBH, para assumir a pasta da Inclusão Digital na Prodabel. Adriano, professor universitário, político do PT e com atuações significativas nas áreas sociais e dos movimentos sociais, reacende a chama de reconstruir o programa de Inclusão Digital da cidade de Belo Horizonte, contemplando, além da vertente tecnológica, a social e a inclusiva. Em seis meses de atuação, Adriano, com apoio da equipe técnica da Inclusão Digital, da diretoria da Prodabel e do alto escalão da PBH, reconquista o apoio dos movimentos comunitários e os resultados sociais e parcerias recomeçam a surgir no programa de Inclusão Digital do munícipio.

Não se sabe em que medida o processo eleitoral no Brasil, em outubro de 2018, para presidente, governador, senadores e deputados federais influenciará a gestão da PBH, da Prodabel e, em especial, a da Diretoria de Inclusão Digital.