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PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO E ESTUDOS REALIZADOS FASE APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

6 CAPÍTULO VI ESTUDO 1: INCLUSÃO DIGITAL E CIDADANIA DIGITAL 6.1 Introdução ao estudo documental

7 CAPÍTULO VII ESTUDO 2: PERCEPÇÕES SOBRE A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO, TELECENTRO E CIDADANIA

7.5 Síntese do capítulo VII Estudo

Este estudo permitiu-nos debater, com 32 participantes que frequentam cinco Telecentros em Belo Horizonte, por meio da técnica de grupo focal, questões relacionadas com a cidadania digital, e recolher dados acerca do modo como estes indivíduos pensam e sentem sobre viver em uma sociedade em rede, suas necessidades e aptidões em TIC, e a importância do Telecentro na sua vida e na comunidade, conforme um dos objetivos desta investigação.

Com base em evidências e proposições anteriores (e.g., Sey et al., 2013; CGI.br, 2013; Bustamante, 2010; Sposati, 2015; Grossi; Costa & Santos, 2013), este estudo indica que alguns dos usuários dos Telecentros conseguiram alterar e diversificar a sua trajetória de vida e exercer mais plenamente a cidadania e a cidadania digital por entender as necessidades desta sociedade, ter melhores oportunidades e minimizar o medo de usar as TIC. Tal hipótese verifica-se quando averiguamos que o uso dos Telecentros gera impactos positivos, diretos e indiretos, em seus hábitos, rumo a uma melhor qualidade de vida, à inserção e à participação (ativa e passiva) na sociedade, minimizando, assim, as diferenças de acesso à informação e de conhecimento dos que possuem mais recursos financeiros e educacionais.

Os resultados também indicam que os usuários dos Telecentros reconhecem que viver na sociedade tornou-se mais fácil e melhor, mas que para isto é preciso se qualificar, ter habilidade e gostar de usar as TIC. Comunicar e interagir melhor e mais, ter mais conhecimento, mais autonomia, dar opinião e se expressar, participar mais dos processos políticos e sociais são características, traduzidas pelos participantes, das pessoas que vivem nesta sociedade; também há o aumento das atitudes negativas, perda de hábitos culturais, dependência das TIC e a exclusão social e digital. Tal percepção sobre a sociedade atual, com exceção da exclusão social e digital, parece-nos utópica, pois pressupõe que todos tenham as mesmas oportunidades e desconsidera a pobreza, a diferença de nível socioeconômico e educacional e as diferentes etapas que cada um vive (jovem, adulto e idoso). Tal manifestação de utopia na sociedade atual reforça a afirmação de Henriques (2013) de que a desigualdade social se apresenta “naturalizada” aos olhos da sociedade brasileira, em que a cidadania dos incluídos é distinta da dos

excluídos. Também reforça a afirmação de Ferreira, Borges e Teixeira (2015) de que muitos autores têm sido otimistas, e de certa forma ingênuos, ao analisar as características da sociedade informacional apenas sobre os benefícios ocasionados pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação. Outro aspecto que nos chama a atenção é o reconhecimento da perda dos hábitos culturais locais, que vão em contramão ao exercício da cidadania.

Castells (2011) salienta que a constituição desta sociedade em rede alicerçada pelo processamento digital deu lugar a uma divisão geracional entre os que nasceram antes da era da internet (1969) e os que nasceram na era digital, e que “as redes globais incluíam algumas pessoas e territórios enquanto excluíam outros, assim induzindo a uma geografia de desigualdade social, econômica e tecnológica” (Castells, 2011, p. XXXVIII). Nesse sentido, verificamos que os idosos e adultos têm dificuldade e falta de hábito em utilizar as TIC, em especial para fazer política, comprar, procurar emprego ou navegar nas redes sociais e sentem medo, tristeza e insegurança ao utilizar estes novos processos, enquanto os mais jovens têm muita facilidade e gostam de usar as TIC para fazer todas as atividades e tarefas do seu dia a dia. Isso nos reforça a ideia de que os programas de Inclusão Digital são indicadores de superação dessa insegurança e desse medo. Tais programas têm proporcionado a muitas pessoas a possibilidade de ultrapassar a barreira da exclusão digital, o medo de usar as TIC e o analfabetismo digital, facilitando o acesso direto ao computador, à internet e aos cursos ofertados, gratuitamente, nos Telecentros.

Essas pessoas, aos poucos, vão atualizando os seus comportamentos, para se integrar na sociedade atual, com habilidades em TIC, e com mais oportunidades de acesso à informação (pelo menos na sua percepção). Contudo, não se pode afirmar que tais impactos diretos, por si só, minimizem as desigualdades sociais e a pobreza advindas da sociedade em rede (e.g., Sposati, 2015).

Podemos aferir que os Telecentros são espaços que combinam o acesso às TIC e suas linguagens, e favorecem a participação cidadã, com uma utilização determinada pela própria comunidade envolvida. Promovem processos de consulta ou fóruns públicos, mediando a relação da comunidade com o crescente número de serviços públicos online, e publicando dados que permitem à comunidade planejar suas demandas e reivindicações. Ou seja, contribuem realmente para o exercício da cidadania e da cidadania digital.

Tal conclusão é sustentada por essas pessoas terem consciência dos conceitos de cidadania e cidadania digital, ao representarem os direitos básicos (civil, social e político), em três áreas temáticas: viver melhor em sociedade, participar na sociedade e pertencer a uma comunidade, buscando, assim, o bem-estar e a dignidade para viver em sociedade. Isso contraria a tese de Jessé (2012) de que essas pessoas têm baixa autoestima e sejam considerados cidadãos de 2ª classe, por viverem em áreas pobres e terem pouca educação. Afinal, a dignidade humana não pode estar associada ao local onde se mora ou à escola que se frequentou ou a padrões de gosto, rejeitando-se a tese da estratificação de classes de cidadania por estes fatores, e de que uns são menos iguais que outros. Há o direito às diferenças sociais, mas um único direito à cidadania.

Por último, admite-se que a implantação dos programas de inclusão digital, em especial os Telecentros, como políticas públicas, está entre os fatores que influenciam mudanças no exercício da cidadania, apesar de seus movimentos lentos, mas contínuos e pouco visíveis a um olhar superficial e global, de gestores públicos mais interessados em números estatísticos do que em qualidade de vida.

Essa visão imediatista e quantitativa baseada em indicadores políticos populistas desses gestores públicos a respeito dos objetivos dos programas de inclusão digital quanto ao exercício da cidadania tem mudado à medida que a cidadania assume como um dos principais braços de apoio o uso das TIC. Exerce-se assim a cidadania digital, que acaba conferindo “nova vida” à própria cidadania ao mudar radicalmente os processos de interação e comunicação, permitindo, assim, uma oportunidade de participação e reivindicação mais igualitária entre aqueles que estão em classes sociais diferentes. Por outro lado, o uso das TIC para o exercício da cidadania, ou seja, a cidadania digital, traz riscos associados à pouca reflexão sobre os temas abordados, facilitando a reprodução de comportamentos, a falta de espaços comuns de reflexão e, por fim, o aumento da exclusão digital e social, por aqueles que não têm domínio destas e têm pouca alfabetização.

Em síntese, as pessoas encontram nos Telecentros espaço para comunicar, reivindicar seus direitos, divertir-se, aprender, participar ativamente na sociedade, melhorar a renda e, em suma, melhorar a qualidade de vida. Em sua grande maioria, revelam satisfação ao usar as TIC, o que pode incentivar, de certo modo, o empoderamento, a autonomia, a solidariedade, a comunicação e o lazer, a participação e ideias para ter maior renda. Ou seja, os Telecentros promovem a cidadania digital.