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PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO E ESTUDOS REALIZADOS FASE APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

6 CAPÍTULO VI ESTUDO 1: INCLUSÃO DIGITAL E CIDADANIA DIGITAL 6.1 Introdução ao estudo documental

6.2 Objetivos específicos

Pretende-se fazer um levantamento dos programas de Inclusão Digital, e aprofundar os conceitos de cidadania digital e suas categorias, ou indicadores, o que passa por:

a) entender a importância dos programas de inclusão digital (com envolvimento público ou privado) no desenvolvimento socioeconômico do Brasil, em particular, em Belo Horizonte;

b) compreender e ampliar os conceitos de cidadania e cidadania digital, nas suas dimensões teóricas (civil, política e social), e categorias ou indicadores (que integram estas dimensões);

c) propor um modelo conceitual (com base nos indicadores propostos), para avaliação da percepção da cidadania digital, entre os usuários de Telecentros.

6.3 Método

Este estudo é bibliográfico e documental. Baseia-se quer em material publicado em livros, jornais, revistas e sites, disponibilizados ao público em geral, quer na análise de documentos existentes em órgãos públicos ou privados. Destacamos dois documentos nesta pesquisa documental (e.g., CGI.br, 2013; Garrido, Hart & Santana, 2012):

a) ‘Why public access ICTs matter - Global Impact Study of Public Access to ICTs’.

6.4 Resultados

6.4.1 Importância dos Programas de Inclusão Digital

As políticas sociais de Inclusão Digital no Brasil são muito importantes, pois visam a combater a pobreza e a desigualdade de direitos civis. A prioridade do Estado passa por estabelecer políticas públicas adequadas para que todos os cidadãos tenham a oportunidade de viver e participar de forma ativa na sociedade, exercendo a sua cidadania, no seu exercício mais profundo: a cidadania digital. Nesse sentido, no âmbito do Governo Federal, a política de Inclusão Digital iniciou-se em 1990, sob o paradigma da sociedade da informação, na elaboração de uma estratégia denominada “A construção da sociedade da informação no Brasil”. Em 2012 estavam listados 21 programas de Inclusão Digital no Brasil com diferentes objetivos (cf. Apêndice C). Na cidade de Belo Horizonte, local desta investigação, a Prefeitura Municipal vem promovendo desde 2005 ações de inclusão digital. Em 2007 foi criado o Programa de Inclusão Digital, denominado BH Digital, gerido pela Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte – PRODABEL. A infraestrutura de acesso a TIC, por parte do Estado brasileiro, tem, assim, um papel preponderante na efetivação da cidadania – restando avaliar as percepções da inclusão digital no âmbito qualitativo de construção da cidadania brasileira.

6.4.2 Conceitos de cidadania e cidadania digital, nas suas dimensões teóricas

Para entendermos quais as ações executadas pelos usuários de tecnologias de informação, no exercício da cidadania em sociedade em rede, propomos uma classificação das aptidões e dos níveis de utilização das TIC (e.g., CGI.br, 2013), e dos tipos de cidadania, ativa e passiva (cf. Apêndice D), evidenciando categorias (também denominadas como indicadores ou variáveis) importantes em relação às representações (ou percepções) da cidadania digital.

No levantamento do estado da arte efetuado, referente à classificação dessas aptidões em domínios e categorias, não foi encontrado qualquer domínio, ou categoria, associado à resolução de problemas locais e sociais, e suas ações, essenciais ao exercício mais profundo da cidadania (e.g., CGI.br, 2013; Garrido, Hart & Santana, 2012).

Assim, neste trabalho, propomos um novo domínio de identidades territoriais, com quatro novas categorias:

a) necessidades urbanas de condições de vida e consumo coletivo; b) afirmação da identidade local;

c) conquista de autonomia política local; d) participação, como cidadãos.

Baseado em Castells (2013), sustentamos o não agrupamento das ações associadas a necessidades urbanas de condições de vida e consumo coletivo, afirmação da identidade local, conquista de autonomia política local e participação na cultura, na qualidade de cidadãos, pois não se pode afirmar que estas ocorram no âmbito das comunidades residentes em favelas.

No estudo elaborado por Garrido, Hart & Santana (2012), avaliado em oito países, recorreu-se a uma abordagem que mede o impacto dos locais de acesso público (Telecentros, Cybercafés, bibliotecas públicas, etc.) em dois níveis: num primeiro nível de análise, examina-se como estes locais contribuem

para a inclusão digital, tendo em conta dois impactos diretos – o acesso ao computador e à internet, e a utilização e as competências em TIC; num segundo nível, utilizam-se seis domínios de impacto como chave principal para classificar os dados de uso dos acessos públicos, completados por 13 categorias de impacto – onze categorias dentro de seis domínios, e duas categorias de impactos transversais (cf. Apêndice D).

Observando essa classificação, em domínios e categorias/indicadores, e a classificação de categorias de inclusão digital já apresentada (cf. Apêndice D), constata-se que a primeira não inclui a participação política nem o desenvolvimento de atividades e projetos comunitários, fatores que são essenciais para avaliar a cidadania digital. Não é correto considerar que tais ações estejam incluídas no acesso às informações e aos serviços governamentais, tais como e-representação, e-legislação ou e-fiscalização, entre outros, pois são projetos e atividades de desenvolvimento comunitário e pessoal que não estão diretamente ligados aos serviços do governo, mas sim a uma identidade territorial, ou seja, a uma comunidade local.

6.4.3 Proposta do conceito alargado de cidadania digital

Devemos considerar uma definição de cidadania digital, para ser uma referência na pesquisa atual e futura. Com base nos direitos humanos apresentados – social, civil e político – e nos princípios da universalidade e indivisibilidade, propomos então

uma nova definição de cidadania digital (cf. Figura 21): o exercício da igualdade de direitos na vida em sociedade, de forma livre e consciente, na condição de pessoa como requisito único para a dignidade e titularidade, com a garantia dos direitos civis, políticos e sociais, e a

participação ativa nesses direitos, num processo contínuo de construção e modificação da sociedade, partilhando os benefícios disponíveis, em situação de igualdade, social e digital, tendo na interação e harmonia elementos-base da convivência humana.

6.4.4 Modelo conceitual – framework para avaliação da cidadania digital nos Telecentros

Com base no conceito de cidadania digital que redefinimos, sintetizamos na Figura 22 uma proposta de framework – visando à avaliação dos impactos dos locais de acesso público na percepção da cidadania e à melhor compreensão dos diferentes indicadores entre a tipologia utilizada por Garrido, Hart & Santana (2012) e os dados dos estudos brasileiros (e.g., CGI.br, 2013) (cf. Apêndice D)