• Nenhum resultado encontrado

PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO E ESTUDOS REALIZADOS FASE APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

6 CAPÍTULO VI ESTUDO 1: INCLUSÃO DIGITAL E CIDADANIA DIGITAL 6.1 Introdução ao estudo documental

7 CAPÍTULO VII ESTUDO 2: PERCEPÇÕES SOBRE A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO, TELECENTRO E CIDADANIA

7.1 Introdução ao estudo exploratório

7.3.6 Tratamento de dados

7.3.7.2 Perceções sobre Telecentro

Os participantes, como usuários dos Telecentros, reconhecem a importância destes nas suas vidas cotidianas, afirmando que com o seu uso, diário ou esporádico, é possível obter mais conhecimento, adquirir habilidades nas TIC, formar-se ou aperfeiçoar-se em uma atividade ocupacional, aprender normas sociais e ter fácil acesso à informação.

Reconhecem os Telecentros como uma pertença social, como espaços, em sua maioria, perto de suas casas, onde são acolhidos e recebidos sem discriminação de sexo, idade, raça ou condição social, e por serem locais silenciosos e tranquilos para estar, trabalhar e estudar. Valorizam o espaço físico e a interação presencial com os funcionários (monitores voluntários ou empregados) dos Telecentros, que estão disponíveis para ensinar e tirar dúvidas sobre o uso das TIC.

Verificou-se também que o uso livre e gratuito do computador e da internet é razão vital para frequentarem esses espaços. As atividades relacionadas com as identidades territoriais, a comunicação e o lazer são as mais utilizadas, seguidas das categorias relacionadas com a educação, o emprego e renda, transversal, cultura e língua, saúde e serviços de governo (cf. Figura 26). A idade (faixa etária) influencia positivamente as atividades executadas nos Telecentros, sendo os mais idosos que mais salientam a categoria saúde - como uso relevante nos Telecentros. Na Tabela 26 resumem-se esses resultados (salientando-se as semelhanças e diferenças entre as representações encontradas).

Tabela 26. Categorias impactos indiretos nos Telecentros por faixa etária

Os jovens adultos (entre os 26 e os 35 anos), tais como os mais jovens (entre os 18 e os 25 anos), salientam a importância dos Telecentros como espaços que facilitam a comunicação e os momentos de lazer, bem como a identidade territorial, recorrendo a estes espaços mais para procura e promoção de emprego do que em termos de educação, por vezes em função de já terem a educação formal concluída. Os adultos (36 a 60 anos) e idosos (61 a 90 anos) utilizam sobretudo os recursos dos Telecentros para questões ligadas a identidades territoriais – com foco nos problemas da comunidade, na liderança local e na ajuda ao próximo – e, também, à comunicação e ao lazer. Entre as demais categorias, existe uma proximidade entre os adultos e os jovens adultos no que tange a questões ligadas a emprego e educação, enquanto os idosos utilizam mais os Telecentros para questões associadas à saúde, mas valorizam e preocupam-se com a educação, o emprego e a renda dos mais jovens (cf. Figura 27).

Portanto, os participantes duvidam que os recursos e atividades disponibilizados, por si só, levem alguém a mudar a visão do mundo e das pessoas:

“Mudei o meu jeito de pensar após conquistar um emprego pelo uso da internet no Telecentro” (M31). “Sim, mudou o meu comportamento porque eu não gostava de internet. Eu comecei a ter gosto pelo negócio. Eu não tenho internet em casa” (F36).

“O meu jeito de ser, de conversar, dialogar com as pessoas” (M31).

“Após usar a internet no Telecentro, estou abrindo a minha cabeça para novas coisas” (F19). “Ingressei na faculdade usando a infraestrutura do Telecentro” (F19).

“O conhecimento que temos aqui é 100% válido, eu acredito que irá abrir muitas portas, sim, vai ser um diferencial” (F19).

Uso Jovens Jovens Adultos Adultos Idosos

1º Comunicação e Lazer Comunicação e Lazer Identidades Territoriais Identidades Territoriais 2º Identidades Territoriais Identidades Territoriais Comunicação e Lazer Comunicação e Lazer

3º Educação Emprego e Renda Emprego e Renda Saúde

Emprego e Renda Educação Educação Emprego e Renda e

Educação

“Ele não muda a visão dele do mundo, das pessoas da sociedade, tendo a sociabilidade nos Telecentros, tendo acesso a outras coisas” (F19).

“Eu acho que independentemente do tipo de jogo, ele gera uma reação na pessoa… provoca alguma coisa ali naquela pessoa, um raciocínio mais rápido, uma atenção melhor. Em um jogo de tiro a pessoa tem que ficar focada, tem que conseguir olhar para três lados diferentes… senão ela morre” (M19). Questionados sobre o papel do gestor dos Telecentros, referem a que este deve ter uma liderança local, capaz de promover e organizar atividades sociais, de lazer/cultura e política de interesse da comunidade, para além das atividades relacionadas com o uso das TIC:

“Ele cuida das praças, revitalizando, traz cultura, lazer para as pessoas nessas praças” (F39). “Eles davam aulas de informática, costura, outras coisas mais amplas...” (F19).

“Quando ele precisa da ajuda de outras pessoas e ele usa aqui para se comunicar, para chamar a pessoa a vir…” (F19).

“Ele tem feito muita coisa no bairro em benefício, como praças limpas, bem cuidadas” (F36).

Por último, constata-se que esses espaços estão cada vez mais vazios e com menos pessoas/usuários, e atribuem este fato a: insuficiente divulgação do local e dos serviços ofertados para a comunidade; retirada de monitores (educadores) para o atendimento às pessoas; pouca manutenção e atualização dos equipamentos e sistemas; proibição do uso do celular com o wi-fi disponível do Telecentro; baixa oferta de cursos de formação e capacitação nos Telecentros. Reconhecem que na maioria dos locais a infraestrutura tecnológica poderia ser melhorada com máquinas, sistemas e acesso à internet de qualidade superior, e que a oferta de cursos de formação deveria ser ampliada, para otimização dos espaços e recursos disponíveis. As afirmações seguintes sustentam o que aqui referimos:

“Está meio ocioso. O espaço aqui é bem amplo. Quantas pessoas vêm aqui hoje?” (M48).

“Eu gostaria que tivesse mais aparelhos e profissionais para capacitar os jovens em todas as áreas da informática” (M50).

“E outra parte que deveria ser muito melhorada é a divulgação” (M19).

“O curso de inglês aqui dentro da comunidade seria ‘massa’ demais, muito bom, ia ajudar” (M24). “Deveria ter um investimento maior por ser muito importante para formar cidadãos melhores” (F19). “Em relação à obrigação social, eles poderiam oferecer aulas de artes ou então aulas de reforço e expandir mais, ajudar de várias formas e não focar só nos computadores” (M19).

“Em todos os sentidos … precisa ser mais frequentado” (M67).

Essas pessoas, como usuários frequentes, reconhecem as dificuldades de manter uma política de Inclusão Digital, através dos Telecentros, e têm esperança de que esta política continue com a oferta de acesso gratuito (computador e internet, cursos), apesar de recearem o seu fim, dada a grande expansão do uso dos celulares e smartphones. Defendem que dessa política pública resultam alternativas para poderem igualar as oportunidades de acesso e melhorar a sua vida, tornando-se cidadãos mais capacitados, informados e críticos. Ilustra-se:

“Eu acho que deveria ser olhado de uma forma diferente, até ganhar um certo tipo de prioridade porque, como todos já disseram, é o futuro [...] [e] é presente também” (M19).

“Como estávamos falando àquela hora sobre igualar aqueles que têm mais dinheiro e aqueles mais pobres, o Telecentro é para isso, para igualar. Se não tivesse o Telecentro, ia ser difícil” (F19).

“O uso do Telecentro pode mudar a forma desse menino enxergar a família, a sociedade, a comunidade, política, economia, o mundo, eu tenho certeza” (M19).