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PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO E ESTUDOS REALIZADOS FASE APRESENTAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

5 CAPÍTULO V INTRODUÇÃO À INVESTIGAÇÃO

5.2 Métodos qualitativos

O ser humano é complexo. Sua realidade social, econômica e política é desigual e cada novo paradigma advindo da evolução da sociedade conduz a novos modos de viver. Consequentemente, outros problemas e experiências de vida surgem como fenômenos sociais, cada vez mais complexos e difíceis de serem explicados. Assim, nem sempre esses podem ser compreendidos e explicados somente pela ciência formal (logica e matemática). Os homens distinguem-se dos demais animais por aspectos biológicos que lhes são específicos, não podem ser tratados isolados de seu meio, porque têm consciência reflexiva, autonomia estratégia, afetividade social e capacidade de finalização, assim se manifestando de forma diferente de acordo com sua interioridade (ideias e afetos) e o meio social em que vivem. Antes do século XX os textos já eram abordados de diversas formas para analisar os diferentes meios para se comunicar (e.g., Vilelas, 2009; Bardin, 2014; Martins & Theóphilo, 2007). Há de se entender esses fenômenos sociais, dinâmicos a cada mudança de paradigma social, com uma explicação em que suas hipóteses explicativas pudessem ser analisadas além da perspectiva quantitativa (ciência formal), em que a sequência preestabelecida em suas metodologias muitas vezes não consegue medir esses fenômenos e seus resultados são insatisfatórios. Precisava-se de uma nova abordagem que desvendasse e analisasse, sob uma perspectiva “hermenêutica”, as palavras, as entrevistas, os discursos, os textos, as publicações, ou seja, elementos que pudessem descrever plenamente os aspectos dos valores, da cultura e das relações humanas na sociedade. Nessa perspectiva, o que é possível de interpretar? Quais as mensagens obscuras, com duplo sentido cuja significação profunda é necessário desvendar e analisar? (e.g., Bardin, 2014). Surge, então, a investigação qualitativa como uma metodologia, inicialmente nas ciências sociais, que pudesse analisar e dar respostas aos fenômenos sociais, à dinâmica social, individual e holística do ser humano (e.g., Vilelas, 2009; Bardin, 2014).

Captar a essência da experiência humana em uma visão mais profunda e globalizante compreendendo o significado nos contextos das experiências vividas pelos sujeitos de cada estudo tem conduzido a uma maior utilização dos estudos e metodologias qualitativas (e.g., Vilelas, 2009).

Após segunda metade do século XX, com a descoberta dos computadores e tendo em vista a compreensão e os significados dessas experiências em dado contexto, a abordagem qualitativa configura-se como uma metodologia não apenas descritiva, que analisa pequenas amostras de dados ou informações de maneira indutiva, mas também uma metodologia que utiliza o recurso da inferência com base em indicadores37 de frequência ou indicadores combinados. Com base nos resultados dessa

37Indicadores: “Trata-se de um instrumento usado para monitorar uma operação ou condição de uma ação, tarefa ou processo. Indica uma afirmação ou suposição usada para verificar uma informação sobre algum curso ou que já aconteceu” (Lundin, 2016, p. 335)

inferência, toma-se consciência de que se pode regressar às causas, ou até descer a efeitos das características das comunicações, tentando compreender o significado dos atos, dos sonhos, dos gestos e das palavras que as pessoas atribuem aos fenômenos em análise, mais do que propriamente a interpretação dos mesmos. Isso só será possível se houver um contato direto e prolongado com o ambiente no qual o fenômeno está inserido, por isso, a pesquisa qualitativa pode ser chamada também de naturalística (e.g., Vilelas, 2009; Bardin, 2014; Martins & Theóphilo, 2007)

“Sendo assim, os métodos qualitativos são humanísticos, tendem a conhecer os sujeitos do estudo como pessoas, utilizando um plano de investigação flexível”, “[...] mas com critérios científicos que não podem ser esquecidos, como objetividade, validade e fidelidade da investigação” (Vilelas, 2009, p. 331- 333).

Na análise qualitativa, a fiabilidade e a validade dos instrumentos de recolha de dados dependem muito da sensibilidade, do conhecimento e da experiência do investigador e do seu processo de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo das mensagens (Vilelas, 2009). Além disso, para essa análise, segundo Martins & Theóphilo (2007), três situações devem ser observadas: a) entender a complexidade e a interação de elementos relacionados ao objeto do estudo; b) apurar situações nas quais a evidência qualitativa substitui a simples informação estatística relacionada a épocas passadas; e c) capturar dados psicológicos – todas com atenção especial aos indicadores qualitativos.

Para Ludke e André (citados por Martins & Theóphilo, 2007), é possível apontar duas fases do processo de análise dos dados qualitativos coletados, a de campo e a da regularização de padrões, sendo:

A primeira delas ocorre durante o tratamento de campo, quando o pesquisador, à medida que coleta as informações e evidências, também organiza o material, dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando identificar tendências e padrões relevantes. Num segundo momento, as tendências e padrões e regularidades encontrados são reavaliados, buscando-se relações e inferências em um nível de abstração mais elevado. (Martins & Theóphilo, 2007, p. 135)

Para tornar a pesquisa qualitativa mais robusta e diminuir os riscos de seus resultados não serem considerados um conjunto de informações difusas e irrelevantes, Martins & Theóphilo (2007), baseados em Bogdan e Biklen, sugerem a adoção de cinco procedimentos para minimização destes riscos: delimitação progressiva do foco de estudo; formulações de questões analíticas; aprofundamento da revisão da literatura; testagem de ideias junto aos sujeitos; e uso extensivo de comentários (cf. Tabela 12).

Tabela 12. Procedimentos para minimização de riscos na pesquisa qualitativa

Procedimentos Síntese da descrição

delimitação progressiva do foco de estudo

A coleta de dados é mais direcionada (focada) e a sua análise é mais bem definida quando ao longo do desenvolvimento desta se delimite o foco do estudo.

formulações de questões analíticas

É necessário fazer a articulação entre os pressupostos teóricos do estudo e os dados da realidade por meio da sistematização da coleta de dados e por meio da formulação de questões analíticas cuja finalidade é o melhor entendimento da análise de seus dados.

aprofundamento da revisão da literatura

É necessário tomar decisões mais seguras sobre os caminhos que irão ser seguidos na pesquisa qualitativa, e, para isto, há de existir uma relação das descobertas feitas durante a pesquisa com o que já existe na literatura.

testagem de ideias junto aos sujeitos

Sempre haverá necessidade de esclarecimento de pontos obscuros da análise da pesquisa qualitativa, e aconselha-se que este esclarecimento de ideias, percepções e conjecturas seja feito junto aos sujeitos participantes da pesquisa. uso extensivo de

comentários,

observações e

especulações ao longo da coleta

É fundamental relacionar as diversas variáveis para o entendimento do fenômeno que está sendo pesquisado, e, para isto, é aconselhável registro de comentários, observações e especulações ao longo da coleta de dados.

Tabela 12. Procedimentos para minimização de riscos na pesquisa qualitativa

Procedimentos Síntese da descrição

Fonte: adaptado de Martins & Theóphilo (2007)

Já segundo Vilelas (2009) a pesquisa qualitativa pode ser organizada em três macroetapas: pré- análise, exploração do material e tratamento dos resultados (cf. Tabela 13).

Tabela 13. Etapas do processo de análise de conteúdo Organização e sistematização das

ideias

Fase bruta em que os dados são codificados

Fase em que os dados brutos são submetidos às operações estatísticas a fim de se tornarem válidos e significativos Envolve procedimentos de:

escolha dos documentos, verificação dos objetivos e elaboração de indicadores Envolve procedimentos de: Recorte, contagem, classificação, desconto ou enumeração

Envolve procedimentos de: Inferências e interpretações

5 etapas: leitura flutuante, constituição