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RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

5.9. Regulamentação da Responsabilidade Social Empresarial.

5.8.3. Casuística.

Sustentando o posicionamento aqui defendido, elencamos algumas normas já existentes e projetos de lei em trâmite no Congresso Nacional, com breves comentários.

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Quanto aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ver

www.pnud.org.br/odm/odm_vermelho.php. São eles: (1) erradicar a extrema pobreza e a fome; (2) atingir o ensino básico universal; (3) promover a igualdade entre os secos e a autonomia das mulheres; (4) reduzir a mortalidade infantil; (5) melhorar a saúde materna; (6) combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; (7) garantir a sustentabilidade ambiental; e, (8) estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento.

a) Lei nº 177/05 – Município de Apucarana, Paraná. Sem

querer analisar as regras licitatórias, mencionamos critério adotado pelo Município de Apucarana, no Paraná, em determina que todas as licitações deverão incluir entre os critérios de seleção os Objetivos do Milênio e os princípios do Pacto Global, determinando que somente as empresas que tiverem ações de responsabilidade corporativa e investimentos sociais ou ambientais comprovados relacionados aos instrumentos internacionais mencionados, poderão participar dos processos licitatórios.

Isso implica em que empresas que não tenham projetos sociais estão descartadas do processo licitatório. Se responsabilidade social é voluntária, opção de gestão do administrador, há tratamento desigual entre as empresas.

São requisitos para a habilitação em licitações, a habilitação jurídica (corresponde aos atos estatutários e representação legal da empresa); a regularidade fiscal; a qualificação técnica (demonstração de aptidão para o desempenho da atividade objeto da contratação púbica); a qualificação econômico-financeira (demonstração da saúde financeira da empresa, com apresentação de balanço patrimonial e outros documentos).

Quanto à qualificação econômico-financeira, os limites das exigências estão definidos no art. 31, da Lei nº 8.666/93, dispondo o seu § 4º sobre a possível exigência da relação dos compromissos assumidos pelo licitante que importem em diminuição da capacidade operativa ou absorção de disponibilidade financeira.

O art. 3º ressalta que “a licitação destina-se a garantir a

observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhe são correlatos.”

E mais o § 1º do mesmo artigo, veda aos agentes públicos incluírem condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo ou estabeleçam preferências ou distinções em razão de circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato.

b) Lei n° 12.234/06 – Estado de São Paulo. Faculta a

utilização de selo para empresas que se qualifiquem como contribuintes de projetos nas áreas sociais, realizada pelo Estado de São Paulo, através da Lei nº 12.234/06, instituindo o selo “Empresa Amiga de São Paulo”. O que de fato se presta a incentivar a participação da sociedade em ações sociais.

c) Lei nº 9.608/98. Embora tenha por escopo evitar

problemas trabalhistas, disciplina o voluntariado praticado pelos empregados, mas várias são as iniciativas de voluntariado empresarial em que as empresas incentivam os funcionários a se solidarizarem a causas sociais.199 Alguns chamam a atenção de que na verdade projetos internos

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Podemos citar como exemplo, o Projeto Crescer da BASF, que amplia as oportunidades de inserção no mercado de trabalho de jovens, na faixa etária de 16 aos 18 anos nos municípios de Guaratinguetá e São Bernardo do Campo e está estruturado por funcionários participantes de outro programa da BASF – Programa sou Voluntário.

como esses podem pressionar a participação do funcionário ao invés de estimular o voluntariado.

d) Projeto de Lei n° 1.305/2003. O equívoco na

conceituação da responsabilidade social acaba dando ensejo à elaboração de projetos de lei absolutamente equivocados sobre essa matéria, distantes da verdadeira essência da função social da empresa, tal como ocorre com o de nº 1305/2003 do Deputado Bispo Rodrigues, que obriga o empresário a praticar condutas socialmente responsáveis se em seus quadros tiver mais de 500 empregados.

Repita-se mais uma vez: a premissa fundamental da responsabilidade social é a ausência da obrigação legal ou de sanção (cogência). Esse projeto, todavia, visa tornar obrigatória a prática de atos de responsabilidade social pelo empresário.

Define Responsabilidade Social como sendo a conduta ética e responsável da Sociedade Empresária e do Empresário junto ao seu Público de Relacionamento.

Obriga as empresas com mais de 500 (quinhentos) empregados a elaborarem anualmente Relatório de Gestão Social, como instrumento de controle e transparência da Responsabilidade Social, cujo não atendimento implica nas sanções administrativas consubstanciadas em

perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento oficiais de créditos e proibição para contratar com a Administração Pública, pelo período

Conceitua Balanço Social como o instrumento de controle e transparência da Responsabilidade Social das Sociedades Empresárias e dos Empresários.

Também cria o Conselho Nacional de Responsabilidade Social, órgão federal para controle da transparência da responsabilidade social.

e) Projeto de Lei nº 1.351/2003200 - Dep. Ann Pontes

Estabelece normas para a qualificação de organizações de responsabilidade socioambiental e dá outras providências.

Conceitua Responsabilidade Social como o exercício

comprovado, documentado e publicado em balanço social das práticas, ações e iniciativas capazes de tornar efetivo o princípio da função social da propriedade, inclusive mediante participação direta e incentivo à participação dos sócios, acionistas, administradores, empregados, fornecedores e consumidores em ações sociais tendentes a melhorar as condições de vida, a qualidade de vida no trabalho e desenvolvimento humano.

Elenca os requisitos que as empresas deverão cumprir para qualificarssem-se como organizações de responsabilidade socioambiental. Tal qualificação confere direito a expedição de certificado assegurando às empresas, ainda: redução proporcional e progressiva das contribuições para entidades de formação profissional, assistência social e de apoio às micro e pequenas empresas, mediante abatimento das despesas que realizarem com treinamento e assistência social; celebração de

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Parecer pela aprovação com emendas, na Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público. Na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, recebeu parecer pela rejeição – Dep. Júlio Redecker. Plenário apreciará o projeto por ter recebido pareceres divergentes nas comissões de mérito.

contratos de trabalho avulso com entidades sindicais para a execução de serviços e atividades descontínuas; redução proporcional e progressiva da contribuição para a seguridade social à medida que melhorarem os índices de Desenvolvimento Humano – IDH no Município e a microrregião homogênea correspondente.

No parecer pela rejeição, a Comissão de aponta como conseqüências negativas: (a) obter os certificados mencionados, implica, necessariamente, no pagamento de royalties às instituições responsáveis pela definição dos critérios; (b) se englobarmos o requisito de cumpridor da legislação para premiar ou beneficiar as empresas. “Ora, cumprir a lei é

obrigação; a existência de empresas que não o fazem, assim como o reconhecimento desta realidade, em princípio não deve levar o legislador a fazer uma nova lei para beneficiar aqueles que cumprem a norma em vigor.” –

Art. 2º, V – cumprimento das leis de proteção e defesa do meio ambiente e do consumidor, inclusive mediante convenções coletivas de consumo;

f) Projeto de Lei nº 873/2003 – Dep. Armando Monteiro201 Institui o Programa Nacional de Incentivo a Atividades Educacionais, Sociais e de Combate à Pobreza – PAES, cuja implementação depende da arrecadação de fundos do Orçamento Geral da União e contribuições de empresas privadas, que terão benefícios fiscais. Às empresas privadas que fizerem contribuição ao Paes será fornecido o Certificado Nacional de Empresa-Cidadã, sendo-lhes reservado o direito de divulgação do fato em suas propagandas institucionais.

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Acaba por engajar a iniciativa privada nos programas e atividades de apoio ao ensino, desenvolvimento cientifico e tecnológico, saúde, ações de combate à pobreza, programas sociais e preservação do meio ambiente. A contribuição no programa, na forma facultativa estabelecida na proposta, não representa um ônus adicional do ponto de vista fiscal para o contribuinte, já muito sacrificado pela pesada carga tributária em vigor. Ademais, mobiliza recursos da sociedade de modo mais coordenado e produtivo, constituindo-se em esforço financeiro para o suporte das ações públicas direcionadas a finalidades inquestionavelmente meritórias, sob o ângulo social.

g) Projeto de Lei n° 32, de 1999202 - Dep. Paulo Rocha Cria o balanço social para as empresas que menciona e dá outras providências. Obriga as empresas que, tendo auferido receita total bruta superior a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais), busquem participar de licitações e contratos públicos ou beneficiar-se de incentivos fiscais e programas de crédito. Elenca indicadores de desempenho social.

Define balanço social como o documento pelo qual a empresa apresenta dados que permitam identificar o perfil da sua atuação social, a qualidade de suas relações com os empregados, a participação destes nos resultados econômicos da empresa e as possibilidades de seu desenvolvimento pessoal, o cumprimento das cláusulas sociais e a interação da empresa com a comunidade e sua relação com o meio ambiente.

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Parecer da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Social pela aprovação.

Parecer da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio pela aprovação com substitutivo.

Segundo o Conselho Temático Permanente de Responsabilidade Social – CORES da Confederação Nacional da Indústria – CNI, o caráter impositivo do projeto desfigura a finalidade e o alcance do balanço social. A complexidade das informações exigidas acrescenta um custo burocrático à atividade empresarial, com prejuízo à produtividade e à competitividade. Ademais, condicionar a concessão de benefícios fiscais e financeiros e a participação em licitações e contratos públicos à apresentação, pelas empresas, do Balanço Social subverte a própria função desse instrumento, qual seja a de estimular naturalmente a responsabilidade social das empresas sem a interferência do Estado.

Essa prática desvirtuaria ainda o sentido da aplicação de benefícios fiscais e a finalidade da legislação sobre licitações, que é a de assegurar a probidade administrativa e a igualdade de todos no acesso aos contratos com o Poder Público.