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Normalização 190 da Responsabilidade Social Empresarial.

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

5.9. Regulamentação da Responsabilidade Social Empresarial.

5.8.2. Normalização 190 da Responsabilidade Social Empresarial.

BITELLI sugere, até como forma de substituir a ação

intervencionista estatal, que uma das formas de regular o atingimento da função social seja a disciplina das relações de mercado entre os agentes econômicos e consumidores, dentro dos princípios da livre concorrência e da livre iniciativa, buscando simultaneamente a eficiência econômica e o bem- estar material da coletividade.191

Acresça-se a isso, o fato de que o Código de Defesa do Consumidor contempla as normas técnicas como forma de regulação do mercado.

Segundo THOMAZ MARCELLO D´AVILA as normas técnicas

originam-se da “necessidade do homem registrar seu aprendizado, de modo a

poder repetir e reproduzir suas ações, conseguindo os mesmos resultados,

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VOZES do Supremo: A Constituição brasileira é pouquíssimo amada. Consultor Jurídico. São Paulo, 23-3-2006, http://conjur.estadao.com.br/static/text/42904?display_mode=print.

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Aqui usou-se a expressão “normalização” com o intuito de acompanhar a denominação utilizada pelos autores citados nessa seção, bem como, o termo aplicado pelos órgãos responsáveis pela efetividade das normas técnicas, como por exemplo, INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.

Conforme Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 1986, “normalizar” é submeter à norma ou normas (como faz o INMETRO em testes de conformidade) e “normatizar” é estabelecer normas. p. 1199. De fato, nessa seção nos ocupamos das duas tarefas: estabelecer as normas técnicas e submeter os interessados a ela.

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assim como também da natural ‘lei do menor esforço’, que nos leva a otimizar nossas forças físicas e mentais.” 192

Algumas normas técnicas são meramente facultativas, quando são obrigatórias sujeitam o produto ou serviço, sob pena de configurar práticas abusivas (art. 39, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor.

Características importantes das normas técnicas são destacadas por ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS E BENJAMIN, a saber:

“O mercado, pelo prisma da qualidade, é controlado por duas técnicas principais: a regulamentação e a normalização. Se os objetivos dos dois fenômenos são idênticos, não implica dizer que também são idênticos os seus conceitos, modos de operação e fundamentos.

De fato, estamos diante de noções distintas, apesar de ambas terem a mesma ratio. A regulamentação é produzida diretamente pelo Estado, provém de um “ato de autoridade”, enquanto que a normalização advém de um trabalho misto, cooperado, entre o Estado e entidades privadas.

Além disso, ao contrário do que sucede com a normalização, a regulamentação se impõe de pleno direito, com um caráter de obrigatoriedade absoluta, a todos os agentes econômicos. Diversamente, muitas das normas permitem uma adesão voluntária, em particular quando emanadas de organismos totalmente privados.”. 193

Nesse campo das normas técnicas, com relação à responsabilidade social, já se dedicaram não somente órgãos especializados

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A normalização técnica e o direito, p. 306. 193

em normalização (ABNT, INMETRO), como também organizações não governamentais voltadas para a defesa do consumidor, meio ambiente, cidadania e importantes instituições e referências financeiras.

Todos esses entes fazem uso de índices obtidos a partir de critérios sobre o conteúdo da responsabilidade social empresarial ora estipulados em normas técnicas, ora apenas componentes de regras de mercado.

Em breve parêntese e sem adentrar a análise do Terceiro Setor, ressaltamos que as empresas que adotam comportamento socialmente responsável podem constituir fundações e institutos, que são “braços sociais”194 e funcionam como instrumentos para otimizar e evitar a

pulverização dos recursos, inclusive financeiros, voltados para as ações e projetos sociais da empresa.

Além da presença cada vez maior e mais profissionalizada, existem outras organizações que guiam essas entidades, como o GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas que tem por objetivo contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável do Brasil, através do fortalecimento político institucional e do apoio a atuação estratégica de institutos e fundações de origem empresarial e de outras entidades privadas que realizam investimento social voluntário e sistemático, voltado para o interesse público (art. 3º do seu Estatuto Social).

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Esses braços podem ser constituídos nas formas de associação ou fundação. Um marco legal que abre espaço para a profissionalização dessas organizações é a Lei nº 9.790/99 que criou as OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público.

Outras entidades representativas da sociedade exercem, ainda, o papel de fiscalizar e regular atividade empresarial socialmente responsável pela atribuição de valor pautada na moral.

Assim, surgiram nos últimos tempos, diversas organizações legitimadas, revestidas de autoridade social para definir e criar mecanismos de aferição de responsabilidade social, pautados no moralismo, como as tratadas na seção em que se abordou a normalização.

Essas organizações dedicam grande parte de seus recursos para criar mecanismos objetivos de aferição da responsabilidade social.

Tais certificações constituem elemento importante para que a empresa concorra no mercado globalizado.

Passamos a mencionar algumas entidades e critérios técnicos e de mercado, limitando-nos a dar uma breve idéia do seu modus

operandi.

a) IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada.

Realizou pesquisa em 2004 (a anterior foi em 1999), intitulada “Ação Social das Empresas”, na qual considerou ação social qualquer atividade de caráter voluntário nas áreas de assistência social, alimentação, saúde e educação para o atendimento de comunidades carentes. Na metodologia adotada, as empresas foram contatadas por telefone e responderam questionário sobre quais eram as ações realizadas e a quem elas beneficiavam, bem como, a dimensão do gasto e a participação dos funcionários. Constatou-se que a ação social passou a ser desenvolvida por até 75% das empresas de alguns setores, como a construção civil.

b) Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, fundado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Instituiu o Selo Ibase/Betinho, que certifica as ações de responsabilidade social das

empresas, atestando boas práticas e padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente. O Ibase coleta informações das empresas, na forma de balanço social e submete à análise de organizações da sociedade civil das áreas de direitos trabalhistas, meio ambiente, defesa do consumidor, diversidade de gênero e movimento negro.

c) SA8000. É uma norma internacional (Social Accountability International) que especifica requisitos de Responsabilidade

Social a serem observados pela empresa. Ela visa aprimorar o bem-estar e as boas condições de trabalho, bem como o desenvolvimento de um sistema de verificação que garanta a contínua conformidade com os padrões estabelecidos pela norma. Traz como requisitos de responsabilidade social, o trabalho infantil, o trabalho forçado, a saúde e a segurança, a discriminação, horário de trabalho, a remuneração, entre outros. Tem por objeto primordialmente o público alvo, trabalhadores.

d) GRI – Global Reporting Iniciative. Modelo de relatório

anual de sustentabilidade Econômica, Social e Ambiental, utilizado como referência mundial, que garante transparência na divulgação das informações comparativas sobre investimentos e atividades sociais das empresas.

e) Red Puentes.195 Nasceu em 2001 como um esforço de Organizações da Sociedade Civil da Argentina, Brasil, Chile, Holanda e México, com o fim de contribuir para o fomento e o fortalecimento da cultura, práticas e ferramentas de Responsabilidade Social Empresarial nos países da América Latina. É importante suporte para e fonte de informações sobre a responsabilidade social empresarial na América Latina, bem como as ações desenvolvidas pelas empresas em cada país.

No Brasil é composta por quatro organizações Ceris, Ibase, Idec e Observatório Social. Para Red Puentes, a Responsabilidade Social Eempresarial é um modo de gestão validado ética, social e legalmente, através do qual as empresas assumem que, entre elas e seus grupos de interesse, como trabalhadores, fornecedores, distribuidores e consumidores, existe uma relação permanente de interdependência, em benefício tanto das empresas como destes grupos. Portanto, as empresas devem equilibrar e harmonizar as dimensões de rentabilidade econômica, direitos humanos, direitos laborais e de organizações sindicais, bem-estar social e proteção ambiental na sua atividade, desempenhando um papel fundamental junto à sociedade civil e ao Estado, no processo destinado à obtenção de uma sociedade mais eqüitativa, justa e sustentável. Pontuam que não é função das empresas que empregam a Responsabilidade Social Empresarial substituir a função redistributiva do Estado, e sim assumir uma tarefa conjunta com este e com a sociedade civil na resolução dos problemas sociais e ambientais.

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f) Escala Akatu de responsabilidade social empresarial. Instituto Akatu pelo consumo consciente e Insituto Ethos. Objetiva apoiar o

consumidor no conhecimento e valorização da responsabilidade social das empresas. Inclui nos seus temas e referências ações que já devem ser atendidas por força da disciplinada legal correspondente. Pretende servir de instrumento de organização e comparação das práticas de Responsabilidade Social Empresarial das empresas.

g) BAWB – Business as an Agent of World Benefit

(Negócios como agentes para um mundo melhor). Tem por objetivo principal disseminar experiências inovadoras, desenvolvidas por empresas lucrativas, que promovem o desenvolvimento sustentável e trazem benefícios para a sociedade. Em 2005, realizou a 3ª Conferência Internacional BAWB Brasil em Curitiba onde foram apresentadas cinqüenta e três experiências de empresas, associações e cooperativas.

h) ISO 26000. A ISO – International Organization for

Standardization está sediada em Genebra e presente em 153 países, representada por órgãos de normalização nacionais. Foi criada em 1946 para promover e desenvolver normas e atividades que facilitem o comércio internacional e que desenvolvam cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e econômica. No Brasil é representada pela ABNT.

Através de processo participativo, com amplo envolvimento dos países em desenvolvimento, está elaborando futura norma internacional de Responsabilidade Social que apresentará diretrizes e não terá propósito de certificação. Foram propostos seis grupos tarefa. Os três primeiros definitivos (TG 1 – Capacitação de Recursos/Fundos e

Engajamento de Stakeholders, TG 2 – Comunicação e TG 3 – Procedimentos operacionais) e os demais interinos para a primeira reunião.

i) ABNT NBR 16001. A norma da ABNT pretende

introduzir metodologia séria para apurar e verificar a eficiência dos atos de responsabilidade social, ou seja, tem como finalidade constatar se a empresa possui um sistema de gestão de responsabilidade social sério e quais os resultados que vem obtendo frente à comunidade.

Tal iniciativa se afigura válida, pois tem como objetivo monitorar o sistema de responsabilidade social da empresa e torná-lo eficaz através de procedimentos que conduzam a uma gestão organizada, tudo visando otimizar os resultados obtidos nessa área social.

A ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, após circular em Consulta Nacional para análise e emissão de sugestões, através do Grupo Tarefa de Responsabilidade Social, elaborou a NBR 16001, que tem por objetivo estabelecer requisitos mínimos relativos a um sistema da gestão da responsabilidade social, permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e os compromissos éticos com a promoção da cidadania, a promoção do desenvolvimento sustentável196 e a transparência de suas atividades.

Entende por responsabilidade social, a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da organização com todos os públicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais

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Desenvolvimento sustentável: Desenvolvimento que supre as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de geração futura de suprir suas necessidades.

e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

j) INMETRO – Comissão Técnica de Responsabilidade Social (CTRS) tem por missão desenvolver um programa de avaliação da

conformidade, de acordo com a NBR 16001 (acreditação de organismos de certificação). Fazem parte da Comissão empresas e entidades representativas, o próprio INMETRO, a Confederação Nacional do Comércio, o Dieese, o IDEC, o Ipea, o Instituto Nacional de Tecnologia, universidades federais e estaduais (UFF e UERJ), a ABNT, o Sebrae, Furnas, Eletrobrás, CNI, MDS, OIT, além da Natura, Unilever, Petrobrás e Multibras.

k) Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) Bovespa.

Lançado em 1º de dezembro de 2005, com o apoio da International Finance Corporation (IFC) – braço empresarial do Banco Mundial. Na metodologia adotada, as empresas respondem a questionário, que foi submetido à consulta pública e teve por base o conceito do triple bottom line, desenvolvido pela consultoria inglesa SustainAbility e foi desenvolvida pelo Centro de Estudos da Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces).

O ISE é uma carteira formada por 34 ações de 28 empresas de diferentes setores que atendem a critérios de saúde financeira, responsabilidade social, ambiental e governança corporativa.

Segundo o seu coordenador, Mazon, “o Conselho do ISE decidiu não excluir nenhum setor da produção, como o de fumo e bebidas, por exemplo, para ‘dar chances de todas as empresas provarem se são ou não sustentáveis’”.

Os itens analisados têm pontuação diferente que não são divulgadas. As empresas são informadas apenas da nota geral. A revisão do ISE será anual.

São criticados, entre outros, por razões já tratadas, a inclusão no questionário de perguntas sobre a natureza do produto.

l) “Guia de Responsabilidade Social para o Consumidor” - IDEC. Apesar de ter por fim a conscientização do consumidor sobre

responsabilidade social, frisa que é preciso um longo diálogo sobre o significado de responsabilidade social, antecipando quatro diferentes visões sobre responsabilidade social empresarial.

“A primeira está relacionada à idéia de que os objetivos primordiais de uma empresa resumem-se em gerar lucro a seus investidores, pagar imposto e cumprir legislação. A segunda visão incorpora a esses objetivos ações filantrópicas, como ajuda financeira a creches, orfanatos e programas sociais.

Outro modo de ver a RSE é como uma estratégia de negócios, na qual as ações de responsabilidade são um instrumento para conferir um diferencial para seus produtos e serviços. Assim, a empresa conseguiria atrair e manter melhores empregados, além de acrescentar valor à sua imagem.

Por fim, na quarta visão a RSE é vista como parte da cultura organizacional, de forma a produzir riquezas e desenvolvimento que beneficiem a todos os envolvidos em suas atividades – trabalhadores, consumidores, meio ambiente e comunidade. Essa visão inclui a promoção, pela empresa, dos seus valores éticos e responsáveis na

sua cadeia de fornecedores e nos mercados onde atua.”197

O IDEC elege essa última.

m) Resolução CFC n° 1003/04. Estabelece procedimentos

para a apresentação dos dados referentes à participação e responsabilidade social da empresa.

Abrange os aspectos de (a) interação com o meio ambiente; (b) interação com o ambiente externo; (c) recursos humanos; e (d) geração e distribuição de Riqueza.

n) Pacto Global ou The Global Compact. É uma iniciativa

do Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, propondo à comunidade empresarial global o desafio de apoiar mundialmente a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção. Essa iniciativa é baseada em rede. No centro desta rede está o escritório Global Compact, seu conselho e 5 agências da ONU (Office of the United Nations High Commissioner For Human Rights – Alto Comissariado para Direitos Humanos; UNEP United Nations Environment Programme – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; ILO International Labour Organization – Organização Internacional do Trabalho; UNIDO United Nations Industrial Development Organization – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial; e UNDP United Nations Development Programme – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). A mesma rede envolve todos os atores relevantes: governos, empresas, trabalhadores, sociedade civil e as

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Nações Unidas. O Pacto tem mais de 1500 empresas como signatárias e mais de 50 redes locais em países e regiões.

A ONU quer que as empresas signatárias do Pacto Global prestem contas sobre o andamento de seus projetos – destacando que a prática de ações sociais é definida como obrigatória no termo de adesão ao pacto – tendo recentemente indicado quatro modelos de apresentação dos resultados obtidos, dentre os quais está um desenvolvido no Brasil, pelo Grupo Pão de Açúcar.

Os objetivos definidos para o Comitê Brasileiro do Pacto Global são: massificação dos seus princípios no país; ampliação da adesão de empresas e organizações brasileiras; apoio às empresas brasileiras para a implantação dos princípios; promoção de troca de experiências e aprendizado dos princípios do Pacto Global; exercício das funções de articulador internacional com as demais redes do Pacto Global e com o escritório em Nova Iorque; assessoramento do Presidente do Comitê Brasileiro do Pacto Global; e, promoção do vínculo entre os princípios do Pacto Global e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio198.