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RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

5.5. O papel do empresário.

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Responsabilidade “social”. Diário do Comércio. São Paulo, 3-1-2006, Caderno Opinião, p. 7.

A busca incessante do lucro, por si só, não mais atende às necessidades da sociedade. Na economia global, a empresa passa a ser uma espécie de parceira do Estado na realização do bem comum.

“Indubitavelmente o principal dever da empresa, em face da solidariedade social, é permanecer viva e operativa, ou seja, manter-se econômica e financeiramente estável. Para tanto, empenhar-se-á para gerar o maior superávit possível, ao menos contábil, que de forma genérica se denominaria como lucro justo ou justificável.”136

No mesmo sentido, mas indicando um “círculo vicioso”, assevera NILSON LAUTENSCHLEGER JÚNIOR que “(...) os movimentos de

responsabilidade social têm sido colocados ainda sob a premissa da maximização de lucros, pois que com a postura socialmente responsável o que se procura, em realidade, também é uma promoção da empresa entre os consumidores, em uma espécie de legitimação econômica, que determine um aumento da lucratividade.”137

Ocorre que, a força e o poder da empresa, aliados à ineficiência do Estado enquanto realizador do bem comum, têm levado alguns empresários a redefinir e repensar seu papel e missão na sociedade.

As “responsabilidades” das empresas vão além do lucro para os seus acionistas e das obrigações legais que lhes são impostas, inclui- se, agora, a promoção do bem-estar da comunidade e agregar valor a todos os seus parceiros.

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Eduardo Teixeira Farah, A reconstrução do direito privado, p. 689.

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Assim, a empresa não pode mais se considerada mera produtora ou transformadora de bens. É antes de tudo um poder em expansão na sociedade moderna. Dela depende a subsistência da maior parte da população ativa do país, tendo em vista sua capacidade de gerar empregos. É dela que o Estado obtém a maior parte de suas receitas fiscais. Somente por isso, sem que a empresa dê concreção aos direitos sociais voluntariamente, vê-se a importância desta para o bem comum.

Então o que leva a empresa a ir além do deveres legais para agir positivamente perante a comunidade? Ao nosso ver, o principal móvel são as regras de mercado.

ANTÔNIO CARLOS MARTINELLI, diretor-presidente do

Instituto C&A de Desenvolvimento Social, lembra as regras de mercado geradoras de lucro e responsável pela sobrevivência das companhias, indicando que “a receita para a empresa se distinguir na renhida batalha do

mercado globalizado continua a conter os ingredientes clássicos: qualidade total, reengenharia, relação custo-benefício, compromisso com o cliente, etc. Entretanto, será mais ‘palatável’ a empresa que incorporar uma boa dose de cumplicidade com seu entorno, evidenciada num programa de atuação comunitária.”138

O mencionado diretor-presidente reconhece que:

“De uns tempos para cá, tem-se notado em ritmo promissor uma crescente consciência de que a empresa pode e deve assumir dentro da sociedade um papel mais amplo, transcendente ao de sua vocação básica de geradora de riquezas.”

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E mais adiante faz a elucidativa classificação das empresas segundo as suas práticas voltadas para o interesse comum em três estágios: (a) empresa somente como negócio; (b) empresa como organização social; e, (c) empresa-cidadã139 – esse último mais elevado, dinâmico e que “acaba por criar uma cadeia de eficácia, e o lucro nada mais é do que o prêmio da eficácia.”140

Na empresa somente como negócio, busca-se “o lucro a qualquer custo”. Clientes, funcionários, fornecedores são “usados” como meio de aumentar os lucros. Tem uma atitude predatória, é exploradora do bem comum. Na empresa como organização social busca-se a satisfação total dos grupos de interesse – clientes, funcionários, governo, sociedade, acionistas – cuidando para que todos participem do sucesso da operação e tomando decisões que beneficiem a todos os grupos. A empresa assume um papel de instrumento do desenvolvimento social. Tem posição de neutralidade – recolhe impostos e remete ao governo a responsabilidade pela eliminação das mazelas sociais.

Na empresa-cidadã, na concepção de MARTINELLI, o

empresário opcionalmente pode agir através da criação de uma fundação ou instituto, contribuindo para a elevação do meio social em que se insere. Assume compromisso e define políticas em relação a cada um de seus parceiros. Cultiva e pratica livremente um conjunto de valores. Implica na

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“Neste estágio, a empresa passa a adquirir uma característica inédita. Opcionalmente pode agir

através da criação de uma fundação ou instituto, contribuindo de maneira transformadora para a elevação do meio social em que se insere. Assume compromisso e define políticas em relação a cada um de seus parceiros. Cultiva e pratica livremente um conjunto de valores, muitas vezes explicitados num código de ética, que formata consensualmente a cultura interna, funcionando como referências de ação para todos os seus dirigentes nas relações com os parceiros.” Idem, p. 83.

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adoção da concepção estratégica e compromisso ético que redunda na satisfação das expectativas e respeito aos direitos dos parceiros. Não se atem só a resultados financeiros, mas avalia sua contribuição à sociedade através do balanço social. Adota posição pro-ativa de querer contribuir para encaminhar soluções para os problemas sociais.

Obviamente as macroempresas – especialmente as multinacionais – assumem mais facilmente essa postura, atendendo melhor às expectativas da sociedade, haja vista estarem melhor organizadas e serem demandadas também pela globalização – a criação de um mercado único mundial e a menor durabilidade dos produtos requer do empresário atitudes que representem um diferencial na concorrência pelo mercado.

Reitere-se, ainda aqui, que esse novo papel desempenhado pela empresa de prover o bem-estar social, é subsidiário ao dever estatal.

Bem por isso, vale ratificar que, o artigo 3º ao trazer o rumo para chegar-se ao Estado Democrático e Social não exime o Estado de suas atribuições, como lembra COMPARATO ao ensinar que “quando a

Constituição define como objetivo fundamental de nossa República ‘construir uma sociedade livre, justa e solidária’ (art. 3º, I), quando ela declara que a ordem social tem por objetivo a realização do bem-estar e da justiça social (art. 193), ela não está certamente autorizando uma demissão do Estado, como órgão encarregado de guiar e dirigir a nação em busca de tais finalidades.”141