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O termo “responsabilidade”.

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

5.1. Terminologia de Responsabilidade.

5.1.1. O termo “responsabilidade”.

A palavra responsabilidade não á unívoca111.

111

Como ressalta PATRÍCIA ALMEIDA ASHLEY, a

“responsabilidade social significa algo, mas nem sempre a mesma coisa para todos. Para alguns, ela representa a idéia de responsabilidade ou obrigação legal; para outros, significa um comportamento responsável no sentido ético; para outros, ainda, o significado transmitido é o de ‘responsável por’, num modo causal. Muitos, simplesmente, equiparam-na a uma contribuição caridosa; outros tomam-na pelo sentido de socialmente consciente.”112

Numa primeira conotação – a filosófica – o comportamento humano responsável, pressupõe a “possibilidade de prever

os efeitos do próprio comportamento e de corrigi-lo com base em tal previsão”.

Responsabilidade, sob esse prisma, é diferente de imputabilidade, “que

significa a atribuição de uma ação a um agente, considerado seu causador”113.

A par dessa distinção – responsabilidade e imputabilidade, que exploraremos a seguir, mister se faz a transcrição de grande parte do conteúdo filosófico de responsabilidade, chamando-se a atenção para a “noção de escolha”:

“O primeiro significado do termo foi político, em expressões como “governo responsável” ou “R. do governo”, indicativas do caráter do governo constitucional que age sob controle dos cidadãos e em função desse controle. Em filosofia, o termo foi usado nas controvérsias sobre a liberdade e acabou sendo útil principalmente aos empiristas ingleses, que quiseram mostrar a incompatibilidade do juízo moral com a liberdade e a necessidade absolutas (cf. Hume, Inq. Conc. Underst.,

112

Responsabilidade social e ética nos negócios, p. 7.

113

VIII; Stuart Mill, nota a Analysis of the Phenomena of the

Human Mind de J. Mill, 1869, II, p. 325). Na verdade, a

noção de R. baseia-se na de escolha, e a noção de escolha é essencial ao conceito de liberdade ilimitada (v. Liberdade). Está claro que, no caso da necessidade, a previsão dos efeitos não poderia influir na ação, e que tal previsão não poderia influir na ação no caso da liberdade absoluta, que tornaria o sujeito indiferente à previsão. Portanto, o conceito de R. inscreve-se em determinado conceito de liberdade, e mesmo na linguagem comum chama-se alguém de ”responsável” ou elogia-se seu “senso de R.” quando se pretende dizer que a pessoa em questão inclui nos motivos de seu comportamento a previsão de possíveis efeitos dele decorrentes.”

A noção de escolha contida no conceito filosófica de responsabilidade encontra respaldo no Direito, na autonomia de vontade que se sujeita a atividade empresarial, representando o espaço de liberdade do empresário que se faz necessário.

Assim, no contexto filosófico, pode-se, então concluir que

responsabilidade social se consubstancia na inclusão pelo empresário,

dentre os seus critérios de escolha no exercício da atividade empresarial – expressados pela autonomia de vontade – , dos efeitos que tais escolhas podem gerar para a coletividade. Consciência prévia do seu comportamento tendo em vista o social114.

Dentro desse conceito se encaixa a definição de RACHEL

SZTAJN em que a responsabilidade social “consiste na tomada de decisões

114

Social. Que pertence à sociedade ou tem em vista suas estruturas ou condições. Neste sentido,

fala-se em “ação S.”, “movimento S.”, “questão S.”, etc. Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, p.

administrativas que levem em conta valores éticos, o respeito às pessoas, à comunidade, o cumprimento das normas legais, o cuidado com o meio ambiente. Quer dizer, responsabilidade social implica em administrar a sociedade de forma a atender ou superar os anseios éticos, jurídicos e negociais do público, tendo em vista as atividades exercidas.”115

5.1.2. “Responsabilidade” Civil

Por tratar-se de palavra equívoca e em razão da sua utilização no Direito estar ligada a idéia de imputabilidade – civil e penal – e, sobretudo que sobre o mesmo fato – ação social v.g. – pode implicar

responsabilidade social e responsabilidade civil, trataremos do termo e do

instituto “responsabilidade” para o Direito.

Derivado do latim respondere (responder), afirma-se que a noção de responsabilidade é nata a qualquer ser humano, tendo-se em vista os juízos de justo e injusto, certo e errado.

Com respeito ao juízo de justo e a responsabilidade civil, o famoso princípio da Lei de Talião, da retribuição do mal pelo mal – “olho por olho” –, já conota uma forma de reparação do dano. Todavia, sob tal princípio, o dano permanecia irreparado, haja vista que ao invés de reparar danos ocorridos, novos eram perpetrados.

115

Bem por isso, o lesado passou a perceber que mais interessante do que a represália é a composição com o lesador, através de uma compensação econômica.

Cumpre ressaltar que essa reparação, fixada arbitrariamente pelo próprio lesado, acarretou abusos, caracterizando verdadeiros locupletamentos indevidos, também condenáveis pelo Direito. Por tal razão, a composição para a reparação do dano passou a ser fracionada (tarifada) entre o poder público e o lesado, mas ainda executada pelo lesado (Lei das XII Tábuas – séc. V a.C.).

Percebendo que alguns atos lesivos - embora pertencentes à seara particular, perturbavam diretamente a ordem social pretendida pelo Império Romano, a justiça até então punitiva, passa a ser

distributiva, distinguindo-se, assim os delitos públicos: nos quais o poder

público intervém para manter a ordem social; dos delitos particulares: nos quais o poder público somente funcionava para fixar a composição e evitar conflitos e abusos.

Com a Lex Aquilia, surge a moderna concepção de responsabilidade extracontratual, bem como o conceito de culpa punível, traduzida pela imprudência, negligência ou imperícia, ou pelo dolo.

A Escola do Direito Natural (a partir do século XVII) ampliou o conceito da Lei Aquilia, tendo os juristas equacionado o fundamento da responsabilidade civil, situando-o na quebra do equilíbrio patrimonial provocado pelo dano. Assim, explica SÍLVIO DE SALVO VENOSA que

“transferiu-se o enfoque da culpa, como fenômeno centralizador da indenização, para a noção de dano”.116

Fora no direito francês que os princípios românicos de responsabilidade civil ganharam contorno moderno, abandonando-se a enumeração de casos sujeitos à composição, esculpindo-se o princípio geral

da responsabilidade civil, fundado na culpa (teoria da responsabilidade subjetiva), para depois, se verificar uma retomada do objetivismo, em virtude

da complexidade das relações sociais modernas.

A teoria da responsabilidade objetiva, por sua vez, atravessou duas fases: doutrina do risco: responsabilidade sem culpa de todos os utentes de coisas perigosas; e socialização do risco ou do dano: buscando assegurar ao lesado indenização, ainda que desconhecido o autor da lesão, ou que embora conhecido, careça de meios necessários para assegurar a reparação do dano.

Responsabilidade civil é indenizar ou reparar dano com vertente patrimonial, ainda que o bem atingido pela ação não tenha expressão patrimonial (dano à dignidade da pessoa, v.g.). Implica em obrigação legal de ressarcimento de um dano causado a outrem.

Já aqui o primeiro motivo para a inadequação da expressão responsabilidade, vez que se pressupõe um dever imposto pela lei ou pelo contrato, como consagrado na responsabilidade civil, enquanto que na responsabilidade social deve preponderar a voluntariedade e não a imposição legal, sob pena, como já dissemos de descaracterizar a solidariedade que a fundamenta.

116

Indenizar é substituir o bem lesado por pecúnia, quando impossível a sua substituição por outro bem. Quando possível a substituição ou reparação do bem, fala-se em reparação.

Mas a responsabilidade ai – civil de indenizar ou reparar, além do nexo de causalidade, exige dano, que, por sua vez, é a diferença entre situação patrimonial antes e depois da ocorrência do ato lesivo.

O que justifica a responsabilidade civil é um determinado comportamento humano contrário à ordem jurídica117 – ato

ilícito. A atividade empresarial não é contrária à ordem jurídica ou ilícita. Ao contrário, assim como uma ação social, um projeto social, espera-se que sempre resulte em saldo positivo entre a situação - não necessariamente patrimonial - anterior do indivíduo e a pós comportamento do empresário. Não havendo que se falar em indenização ou reparação.

De outro prisma, também uma atividade econômica lícita e legal, por si só, não implica em decréscimo da situação patrimonial ou social do individuo que demande a reparação ou indenização.

Aliás, em regra, toda a atividade econômica deve ser vista como positiva para a sociedade, seja por criar empregos, desenvolver produtos que facilitem a vida, promover o desenvolvimento econômico, etc..

Ao denominarmos a postura empresarial voltada para o bem comum de “responsabilidade”, para o mundo jurídico, a conotação mais

117

Ao discorrer sobre os pressupostos essenciais da responsabilidade civil, Henrique Felipe Ferreira, elenca o ato lesivo, destacando que “o elemento primitivo de todo ato ilícito é uma conduta humana e

voluntária do mundo exterior, não havendo responsabilidade civil sem determinado comportamento humano contrário à ordem jurídica.” Fundamentos da responsabilidade civil. Dano injusto e ato ilícito,

forte implicaria na demonstração de prejuízo por aquela atividade econômica para exigir-lhe uma compensação.

Vale lembrar que, muitos atores da responsabilidade

social partem desse pressuposto para discuti-la, ou seja, vêem a ação social

do empresário como uma forma de compensar o “prejuízo” ou o “mal” que aquela atividade econômica provocou para a coletividade.

Se assim o for, estaremos limitando o comportamento voltado para o bem-estar da sociedade àqueles empresários que de fato, em razão de sua atividade, provocam dano – que muito já se vislumbrou com respeito ao meio ambiente.

Desse modo, uma grande indústria de reciclagem de papel, por exemplo, por, ao contrário, buscar minimizar qualquer eventual dano, não seria demandada para atender ao interesse coletivo.

A responsabilidade social não pressupõe compensação ou indenização, mas sim uma divisão de encargos com o ente público para a construção de uma sociedade justa.

A responsabilidade civil constitui-se, ainda, num elemento de punição118 ou de exemplaridade, com efeito repressivo e até

pedagógico. Na responsabilidade social, ao contrário, visa-se um efeito estimular a atividade econômica a tomar posturas cada vez mais ativas e no mesmo sentido.

118

A recomposição do dano sofrido, através da indenização, segundo APARECIDA AMARANTE, chamando a atenção para assertivas de ROBERTO BREBBIA, desempenha os seguintes papéis: (a)

compensação: quando o dano pode ser avaliado de forma aproximadamente exata; (b)satisfação:

quando a valoração do dano não é possível; e (c) punição: quando não se busca compensar o prejudicado e sim impor penalidade pelo infração da norma legal. Responsabilidade Civil por dano à