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Quem são os responsáveis?

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

5.4. Quem são os responsáveis?

Importante problemática está centrada no sujeito ativo para a realização do bem-estar e da justiça social. O que se espera é que o Estado assuma a política social. A empresa tem por tarefa primária produzir

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Art. 75. A todo o direito corresponde uma ação, que o assegura. 130

José Reinaldo de Lima Lopes, Direitos Humanos, Direitos Sociais e Justiça, p. 129.

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e distribuir bens ou prestar serviços com máxima eficiência lucrativa, mas, subsidiariamente, tem buscado suprir carências sociais.

Compete ao Estado, por si mesmo, ou através de delegações ou mediante autorização, a realização e a consecução dos direitos sociais.

Vale aqui destacar que, as ações de responsabilidade social têm seu ponto de início delineado no artigo 6º, da Constituição Federal, que descreve os direitos sociais, todavia, o rol não é taxativo.

Com efeito, o Estado, ou quem legitimamente o represente, através das receitas que aufere mediante tributação que impõe aos cidadãos, recolhe recursos necessários para prover e implementar os denominados direitos sociais.

Nos países menos desenvolvidos, como o Brasil, muitas pessoas e, em especial, empresas, acabam colaborando com a concretização de tais direitos, já que o Estado não consegue realizá-los de forma satisfatória.

A força e o poder da empresa, aliados à ineficiência do Estado enquanto realizador do bem comum, têm levado alguns empresários a redefinir e repensar seu papel e missão na sociedade, reconhecendo-se a necessidade de ampliar suas responsabilidades sociais, substituindo um Estado ineficiente e desorganizado que não consegue desempenhar o papel que lhe foi designado na sociedade.

O primeiro responsável pela efetivação dos direitos sociais é o Estado. Que deveria atendê-los através de políticas públicas adequadas. Sendo a comunidade credora de sistemas de saúde, previdência

social, geração de empregos, segurança pública, lazer, educação, assistência aos desamparados, meio ambiente adequado, pode exigi-los a qualquer momento.

Entretanto, a efetivação de políticas públicas passa sobre a questão das finanças públicas. Além das legislações disciplinadoras das atividades econômicas, cada vez mais freqüentes, o Estado deve lembrar-se de que deve manejar adequadamente os gastos públicos, que devem reverter-se para o bem estar social132, através de programas de

duração continuada (art. 165, § 1º, da CF).

BERCOVICI aponta outra questão a ser observada ainda,

para que o Estado venha a atender adequadamente aos direitos sociais, qual seja, a falta de vontade política para implementar o planejamento estatal previsto no artigo 174, caput, da CF, e assim afirma:

“Esta falta de vontade política em planejar é patente no descumprimento da determinação constitucional de estabelecimento de uma legislação sistemática do planejamento, conforme o art. 174, § 1º, que, até hoje, não foi elaborada. Ou seja, desde 1979, com a revogação dos atos institucionais e complementares, o Brasil não possui nenhuma lei que regule o planejamento nacional.”

E complementa:

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José Reinaldo de Lima Lopes, ensina que para compreender as finanças públicas “elas precisam

estar inseridas no direito que o Estado recebeu de planejar não apenas suas contas mas de planejar o desenvolvimento nacional, que inclui e exige a efetivação de condições de exercício dos direitos sociais pelos cidadãos brasileiros.” Direitos Humanos, direitos sociais e Justiça, p. 133.

“Aliados a essa falta de vontade política, poderíamos, ainda, elencar três obstáculos estruturais ao planejamento na atual conjuntura histórica: a estrutura administrativa brasileira, a redução do planejamento ao orçamento e a reforma administrativa neoliberal.”133134

O Estado perdeu sua credibilidade mostrando-se inapto para realizar suas funções, em especial a de promover o bem-estar social, incapaz de criar políticas que garantam o pleno emprego e a seguridade social.

O poder das empresas cresce, elas ganham popularidade, passando a assumir o papel do Estado.

Mas não se pode perder de vista que a sociedade age de forma supletiva para contribuir para melhorar a qualidade de vida da população brasileira. Até porque o Estado Democrático de Direito, ao comando estatal, não se restringe à condição de assegurador das regras vigentes no mercado das relações sociais, econômicas e políticas, mas estende-se à condição de garantidor de políticas públicas concretizadoras dos princípios constitucionais.

Paralelamente, surgem Organizações não Governamentais chamando para si essa responsabilidade. Essas “misturas

feitas nas costas de palavras desgastadas como ‘responsabilidade social’”

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Constituição Econômica e Desenvolvimento – uma leitura a partir da Constituição de 1988, p. 77.

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Nesse último obstáculo estrutural – reforma administrativa neoliberal, Bercovici chama a atenção para a separação de funções da administração pública com relação a formulação e planejamento de políticas públicas e a regulação e fiscalização dos serviços públicos, entendendo que não pode haver separação de políticas públicas e serviço público, sob pena de anular a concretização de tais políticas. Constituição Econômica e Desenvolvimento – uma leitura a partir da Constituição de 1988, p. 84.

são criticadas pelo jornalista PAULO SAAB135, Presidente do Instituto Brasileiro

de Desenvolvimento da Cidadania, que aponta as formas como a sociedade vem sendo explorada e o temor de que o Estado regulamente as ações sociais

“para transformar isso tudo em novo braço auxiliar do Estado, com todos os vícios”. Esse último temor debateremos adiante.

Quanto a ser explorada, o jornalista ressalta que além do pagamento dos impostos que deveriam reverter em favor do desenvolvimento humano da população brasileira, a sociedade também está sendo explorada pela privatização dessa obrigação constitucional do Estado, tudo auxiliado pela proliferação de ONGs com finalidades desvirtuadas.

Assim explica o jornalista:

“Inventaram, também, uma forma de o Estado transferir a responsabilidade de suas ações para a sociedade, sem abrir mão dos impostos arrecadados para tal. Pior, transferindo as responsabilidades sem a necessidade de licitação pública, numa forma clara de explorar duplamente essa mesma sociedade e burlar a legislação a respeito da contratação e/ou execução de serviços próprios do Estado.

Estão privatizando a obrigação constitucional do Estado na forma de concessão sem regras concorrenciais, para entidades criadas para tal fim, onde não há fiscalização dos órgãos como Tribunal de Contas e Receita, além de manter a arrecadação fiscal.”