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Conteúdo da Responsabilidade Social Empresarial.

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

5.3. Conteúdo da Responsabilidade Social Empresarial.

Qual o conteúdo, o objeto da responsabilidade social empresarial, sob o ponto de vista do Direito?

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Em revistas da ACDE de 1973 já se encontravam artigos sobre o tema. Roberto Gonzalez - Assessor para assuntos de responsabilidade social da presidência da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) e diretor de estratégia social da CorpGroup - lembra de uma discussão sobre o tema ocorrida em 1977: “Foi uma discussão teológica

porque os movimentos da responsabilidade social empresarial, da ética empresarial, dos fundos de investimentos socialmente responsáveis, todos nasceram de uma vertente teológica, não só no Brasil. O dirigente da empresa se questionava sobre esses princípios e os levava para dentro das organizações.” –– Revista do Consumidor Moderno, p. 46.

Se o que se busca com o comportamento socialmente responsável é garantir um padrão mínimo de qualidade de vida ao cidadão, no ordenamento jurídico esse patamar mínimo vem delineado no artigo 6º da Constituição Federal que contempla os direitos sociais, in verbis:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

O rol dos direitos sociais não é taxativo, o elenco do artigo 6º é numeros aberto, até porque estes direitos se desdobram em outros. O direito à saúde, por exemplo, engloba o direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225, CF). O direito à educação envolve o direito à cultura. E os dispositivos se replicam no mesmo e nos demais capítulos da Carta Magna.

Ainda que paire dúvidas quanto ao ponto de partida, os direitos sociais representam, o mínimo que o Direito compreende como ponto de chegada de uma postura socialmente responsável.

JOSÉ REINALDO DE LIMA LOPES divide os direitos sociais

em: (a) direitos à seguridade (saúde 6º, 196 a 200, CF, previdência social 6º, 201 e 202, CF assistência social) e (b) outros direitos (cultura, educação e desporto 6º, 205 a 212, CF, ciência e tecnologia, comunicação social, meio ambiente 225, CF família, criança 6º e 226 a 231, 7º, CF adolescente e idoso e índios 6º e 194, CF). Em seguida faz distinção entre os direitos fundamentais (5º, CF) e os direitos sociais (6º, CF), destacando os caracteres

diversos. Os do artigo 5º representam mais “imunidade, não impedimento,

permissão para fazer algo ou não fazer” ou “limites constitucionais ao poder do Estado (como Administração, Legislador ou Juiz) no que diz respeito à vida privada dos cidadãos”123. Os do artigo 6º não tratam na sua maioria de conservar uma situação de fato, mas sim de “situações que precisam ser

criadas.”124

Tais direitos sociais, contrariamente, ao que alguns autores possam supor125, gozam de interdependência dos direitos

humanos126, devendo como aqueles beneficiar-se de aplicação imediata. Ou

seja, não se pode esperar que os direitos sociais sejam realizados progressivamente, sem se exigir do Estado a sua concretização.

RUI GERALDO CAMARGO VIANA chama a atenção para essa

imediata cogência dos direitos sociais, ao invocar a realização do direito de moradia, mencionando para tanto, vários autores, dentre eles, no tocante aos Tratados Internacionais, cita Flávia Piovesan:

“Ora, se as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais demandam aplicação imediata e, se por sua vez, os tratados internacionais de direitos humanos têm por objeto justamente a definição de direitos e

123 Pág. 126. 124 Pág. 127. 125

Se nos restringíssemos apenas à redação do artigo 2º -1 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais poderíamos encarar os direitos sociais como norma programática a ser implementada progressivamente.

“Art. 2º. – 1- Cada Estado-parte no presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio quanto pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos campos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.”

126

Sobre a interdependência dos direitos sociais e direitos humanos, veja Carlos Weis, O Pacto

garantias, conclui-se que estas normas merecem aplicação imediata.”127

Lembremos, ainda, que o artigo 5º, § 2º, da Constituição Federal, previu a integração de normas do Direito Internacional dos Direitos Humanos à legislação interna, permitindo que a lei reiterando os direitos constitucionalmente assegurados, gere novos direitos.

Como vimos, o texto constitucional contemplou expressamente os direitos socais (art. 6º, da CF), cabendo então a análise da eficácia e aplicabilidade não mais restrita ao tratado internacional, mas com respeito a norma constitucional.

Reforçando a conclusão da cogência imediata trazida por RUI GERALDO CAMARGO VIANA, ensina JOSÉ AFONSO DA SILVA que “cada norma

constitucional é sempre executável por si mesma até onde possa, até onde seja suscetível de execução.”128

Até aqui falamos de um dever estatal de atender à padrões mínimos de existência do cidadão. Certo é que ações positivas são fundamentais para a concreção dos ditames da Constituição Federal, mas como já vimos, ao particular não se concebe a cogência na forma ativa.

O particular quando divide a tarefa de prover o ebm comum com o Estado, age em atenção a uma obrigação natural: quem cumpre uma obrigação natural faz bem, quem não cumpre não sofre sanção (art. 882 NCC e 970 do CC de 1916). Em conseqüência inexiste o direito de

127

Flávia Piovesan apud Rui Geraldo Camargo Viana, O Direito à Moradia, p. 11.

128

ação (conforme expressamente previsto no art. 75 do CC de 1916129, sem

dispositivo correspondente no CC de 2002). Daí a problemática de que os direitos sociais, diferentemente dos direitos individuais, “não gozam,

aparentemente, da especificidade de proteção proposta no artigo 75 do Código Civil: qual a ação, quem o seu titular, quem o devedor obrigado?”130

Os direitos sociais, conforme lembra JOSÉ REINALDO DE

LIMA LOPES têm característica especial, na medida em que “não são fruíveis,

ou exeqüíveis individualmente. Não quer isto dizer que juridicamente não possam, em determinadas circunstâncias, ser exigidos como se exigem judicialmente outros direitos subjetivos. Mas, de regra, dependem para sua eficácia, de atuação do Executivo e do Legislativo por terem caráter de generalidade e publicidade.”131

Bem por isso, alguns conteúdos mínimos dos direitos sociais estão contemplados em lei que geram deveres não só entre o Estado e o cidadão, mas também entre os cidadãos, como por exemplo, as leis ambientais.