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A cultura de colaboração “é uma atitude, um modo de estar, um compromisso que precisa de ser cultivado, acarinhado, incentivado, apreciado”

(Alarcão, 2010, p.8) Acentuada a dimensão colaborativa nas tendências atuais quando se pretende clarificar o conceito de supervisão é oportuno analisar o próprio conceito de colaboração em toda a sua plenitude. Assim, segundo Alarcão e Canha a

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colaboração está ao serviço do desenvolvimento dos professores, das escolas envolvidas em projetos colaborativos, tendo “um efeito de contágio positivo em outros atores e planos no cenário educativo”, sendo factor de desenvolvimento dos próprios alunos (2013, p.45). Colaboração implica também um processo de realização em que diversas pessoas intervêm, assumindo neste campo as responsabilidades de forma partilhada, independentemente dos papéis que assumem. No entanto, colaborar exige uma atitude de abertura perante o outro, acreditando que com ele é possível ir mais longe, confiando e valorizando os seus saberes e experiências.

O trabalho colaborativo estrutura-se como um processo de trabalho articulado e pensado em conjunto (Roldão, 2007), contribuindo para alcançar melhores resultados com base no contributo dado por todos que nele participam, através da interação dinâmica de saberes. Revela-se, por isso, como uma estratégia promotora do desenvolvimento dos professores enquanto pessoas e enquanto profissionais, com repercussões claras na qualidade das aprendizagens dos alunos (Boavida & Ponte, 2002; Day, 2001; Fullan & Hargreaves, 2001; Hargreaves, 1998; Roldão, 2007). É assim fundamental a criação de espaços de colaboração, os quais geram comunidades de aprendizagem e de desenvolvimento profissional (Alarcão, 2010), onde os sujeitos agem com confiança e se apoiam mutuamente, refletem em conjunto, co-constroem conhecimento e se tornam mais autónomos transformando-se a si próprios e aos outros, bem como aos próprios contextos.

O trabalho colaborativo promove interações sistemáticas e discussão de ideias com a finalidade de se encontrarem em conjunto soluções para os problemas. Carateriza-se, desta forma, como um processo dinâmico que envolve o pensamento e promove o aumento da motivação e nível de implicação dos participantes. Privilegia o respeito mútuo entre colegas, as relações de parceria e o estabelecimento de objetivos e metas comuns, sendo encarado como uma estratégia fundamental promotora do desenvolvimento profissional dos professores. A colaboração entre os professores surge, assim, com um enfoque particular, considerando os benefícios que advêm do contacto entre pares, pelo

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desafio constante das ideias acerca dos alunos, das suas práticas, do currículo e da gestão da sala de aula, contribuindo para o seu desenvolvimento profissional e crescimento intelectual (Cohen, 1981). Com efeito, Vygotsky (1978) já postulava sobre a necessidade de interação entre pares nos processos de aprendizagem, acreditando nas potencialidades das interações sociais. O autor considera que as atividades desenvolvidas de forma conjunta contribuem para a formação dos sujeitos, bem como para a sua aprendizagem e processos de pensamento, os quais ocorrem mediados pela interação com as outras pessoas. Desta forma, produzem modelos referenciais que contribuem para os comportamentos e formas de raciocínio dos sujeitos, bem como para os significados que eles atribuem às pessoas e às situações. Vygotsky considera que o trabalho colaborativo oferece grandes vantagens, as quais não se verificam na aprendizagem individual.

Lima (2002) vem reforçar a importância do trabalho colaborativo entre professores, seja em díades simétricas ou assimétricas dado que se verifica um crescimento intelectual contínuo, resultante do contacto estimulante com pares que desafiam frequentemente as ideias sobre as crianças, o currículo, a gestão da sala de aula e diferentes problemas decorrentes da relação da escola com a comunidade. A colaboração é muito mais do que uma mera cooperação entre professores, uma vez que existe um empreendimento comum, onde cada interveniente participa com a sua parte, existindo uma responsabilidade partilhada pelo processo e a tomada de decisões em conjunto. A colaboração envolve a tomada de decisões conjunta, a negociação entre os participantes, considerados como aprendentes, a confiança entre si e uma comunicação efetiva entre as partes, procurando uma melhoria do diálogo profissional (Day, 2001).

Ainscow (1997) sublinha também a necessidade dos professores se implicarem em experiências de trabalho em equipa que tenham como objetivo a reflexão sobre as práticas num clima de inter-ajuda, estimulando novas possibilidades de ação. Por sua vez Day (2001), perspetivando o desenvolvimento profissional dos professores, considera que os projetos a desenvolver na escola, devem ser colaborativos e promotores de mudança e de

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dinâmicas que acabem com o isolamento dos professores. Sobre o mesmo assunto Porter (1997, p.43), considera que “a colaboração deve substituir a competição e o isolamento” e o ambiente escolar deve enriquecer os professores e ajudá-los a verem-se a si próprios e aos colegas como “solucionadores de problemas”. Esta ideia é reforçada por Miranda (2008, p. 36) que considera que “a colaboração é um processo interactivo, através do qual intervenientes com diferentes experiências, encontram soluções criativas para os problemas mútuos”.

Rosenholtz (1989), referido por Fullan e Hargreaves (2001) considera que nas escolas eficazes a colaboração surge associada a oportunidades de aperfeiçoamento contínuo e de aprendizagem dos professores ao longo de toda a sua carreira. Neste contexto a melhoria do ensino é um empreendimento coletivo, assumindo particular relevância o trabalho de análise, avaliação, experimentação e concertação entre os professores, condições fundamentais para o seu aperfeiçoamento e desenvolvimento. Nestas organizações o pessoal docente confia e valoriza a partilha do saber especializado, bem como o aconselhamento e a ajuda, quer dentro da própria escola, quer recorrendo a ajudas externas, tendo, assim, melhores probabilidades de ensinarem melhor.

Investigações neste âmbito vêm enfatizar que o trabalho colaborativo tem condições para ser mais produtivo, sendo disso exemplo o projeto de investigação citado por Roldão (2007) - Fostering a community of teachers as learners, sobre práticas de professores em diferentes disciplinas curriculares, centradas no conceito de “comunidade de professores enquanto aprendentes”, desenvolvido por Lee e Judith Shulman (2004) na Califórnia. Aqui as dimensões da colaboração surgem claramente associadas à melhoria do conhecimento profissional produzido e a uma maior eficácia do desempenho dos professores. Face à complexa natureza que caracteriza as escolas e a diversidade das conceções e das práticas dos professores, com especial referência para as caraterísticas predominantemente individualistas do trabalho docente, Aubusson, Steele, Dinham e Brady (2007) dão a conhecer um estudo ocorrido em 82 escolas do Estado Australiano, a partir do desenvolvimento de projetos específicos que visaram a melhoria do ensino e da aprendizagem. Neste âmbito dão a conhecer

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os fatores que reforçaram ou inibiram a construção das comunidades profissionais, promotoras do desenvolvimento e da aprendizagem, num quadro de realização de trabalho colaborativo. Assim, sublinham que numa grande parte das situações se verificou o aumento da comunicação e da colaboração entre professores, bem como do valor da partilha e do diálogo. Por outro lado, a ação decorrente dos projectos trouxe a união dos professores e o suporte para a construção de uma comunidade de aprendizagem.

As práticas colaborativas apresentam, assim, grandes potencialidades “já que nascem da interação entre pessoas, da partilha de conhecimentos e de saber experiencial, da equidade na assunção de responsabilidades sobre percursos de ação, proporcionando nesse processo a reconstrução do conhecimento e, espera- se, a mudança das práticas e o desenvolvimento” (Alarcão & Canha, 2013, p. 51). Atendendo à realidade do contexto sociocultural atual no que diz respeito às exigências de eficácia e qualidade, bem como pela constatação da complexidade que carateriza as situações, resulta numa consciencialização de que a supervisão deve ser repensada no sentido de uma dimensão mais colaborativa. Percebemos desta forma uma forte relação entre os conceitos de supervisão e de colaboração, os quais se conjugam com o propósito de promover o desenvolvimento, podendo a supervisão assumir-se como uma prática colaborativa.