• Nenhum resultado encontrado

2. Projeto de Formação

2.2 Desenvolvimento do programa de Formação

Antes da implementação da oficina de formação impôs-se dar a conhecer os seus fundamentos e objetivos gerais a todo o corpo docente, com o fim de incentivar professores dos vários níveis de ensino a participar. Antes deste procedimento, ocorreram diferentes diligências, de acordo com o Quadro 5, que apresentamos a seguir:

a) Divulgação

Numa fase preparatória, foi solicitada uma reunião com o Diretor da escola2 com o fim de o sensibilizar para a necessidade de realização da formação. Desta

2

144

forma, foi agendada uma reunião para o dia 23 de Julho de 2010, na qual foram discutidos os seguintes aspectos:

1. Necessidade identificada face às dificuldades enfrentadas pelos professores na resolução de problemas emergentes da prática na resposta à diversidade;

2. Importância de uma cultura de trabalho colaborativo onde os professores pudessem trabalhar em conjunto, encontrando soluções para os problemas;

3. Necessidade de investigar e de refletir sobre a prática;

4. A relevância do desenvolvimento profissional dos professores e o seu contributo para o desenvolvimento da escola;

5. O contributo do professor da educação especial como recurso da escola.

O Diretor mostrou-se muito recetivo, valorizando a necessidade de mudança e de inovação no seio da escola, disponibilizando-se para colaborar.

De acordo com o estabelecido na reunião realizada com o Diretor, teve lugar nova reunião no dia 12 de Janeiro de 2011, para análise da proposta de formação, sua subconsequente apresentação ao Conselho Pedagógico da escola e posterior submissão ao CCFCP, para acreditação, através da área de formação da Instituição onde se integra a escola. Após a sua análise, face ao interesse que reconheceu na formação para os professores, os alunos e a escola, o Diretor propôs que a mesma fosse alargada aos professores de todos os ciclos de ensino e não ficasse circunscrita apenas ao 1º CEB, como inicialmente tinha sido proposto. Na reunião foi ainda elaborada a calendarização prévia das sessões de formação, bem como a reunião para divulgação junto do corpo docente.

No dia 12 de Abril de 2011, após breve introdução sobre o interesse da oficina de formação proposta, feita pelo Diretor, teve lugar a apresentação dos fundamentos e objetivos gerais da mesma pela formadora, tendo em vista a sensibilização do corpo docente e incentivo á sua participação.

145

Os professores demonstraram grande receptividade, increvendo-se cerca de 60% dos presentes.

Quadro 5: Procedimentos prévios de preparação da Oficina de Formação

Calendarização Objetivos Participantes

23-07-2010 Sensibilizar para a necessidade de realização da

oficina de formação

Diretor da escola e Formadora/Investigadora

12-01-2011 Analisar a proposta de formação a apresentar ao

CCFCP

Diretor da escola e Formadora/Investigadora

13-01-2011 Apresentar a proposta de formação na área da

formação da Instituição

Responsável pela área da formação e

Formadora/Investigadora

07-02-2011 Apresentar a proposta de formação Conselho Pedagógico

12-04- 2011

Divulgar a proposta de formação, tendo em vista

a sensibilização do corpo docente Corpo docente da escola

02-05-2011 Apresentar o esboço do programa de formação

Orientadoras do projeto de investigação, formadora e formandos

Após o terminus da oficina de formação foi feita uma apresentação do trabalho desenvolvido à direção da escola e a todo o corpo docente, com a colaboração dos formandos que desenvolveram os projetos de intervenção em sala de aula. Esta sessão teve o suporte de um poster ilustrativo (Anexo1) e de um registo em vídeo com os momentos mais significativos da formação.

b) O contexto

O estudo decorreu numa escola de ensino particular e cooperativo, com paralelismo pedagógico, situada na zona centro litoral do país.

A escola localiza-se fora do centro urbano, numa zona aprazível rodeada de espaços verdes e integra-se na estrutura orgânica e hierárquica de uma Instituição de utilidade pública, estatutariamente direcionada para a prestação de serviços nas áreas social, cultural e de educação. Dispõe de espaço físico constituído por quatro edifícios que incluem as salas de aula, laboratórios,

146

biblioteca, sala de informática, espaços desportivos, piscina, bar e refeitórios. O seu projeto educativo pretende responder à heterogeneidade do público que atende e às exigências das famílias, ao nível do 1º, 2º e 3º ciclos e cursos profissionais, através de uma oferta curricular diversificada. Face a esta realidade, inclui no seu projeto educativo o propósito de se perspetivar “enquanto escola para todos” (PEE, p.9), oferecendo uma educação de qualidade encarada como um projeto social e de cidadania, baseado em processos de colaboração que envolvem a família e outros contextos mais amplos.

Nos princípios gerais que regem o projeto educativo destacamos o que se refere à aceitação e respeito pela diferença, bem como aos valores que preconiza quando menciona que elege “a diferença como fator de enriquecimento, respeitando a diversidade e a convivência em igualdade, valoriza fortemente o desenvolvimento da autonomia, da responsabilidade e a dimensão ética e crítica do pensamento dos alunos” (PEE, p.6). Sublinha ainda o compromisso assumido não apenas “com o ensino e metas de aprendizagem, mas com uma missão mais ampla e exigente de Educar para os Valores fundamentais à formação cívica, integral e plural do indivíduo”. No domínio relativo à formação do pessoal docente, reconhece e valoriza a importância da atualização permanente de conhecimentos, sublinhando a relevância da formação contínua e outras iniciativas de cariz científico e pedagógico, de forma a promover o desenvolvimento profissional dos professores. O projeto educativo coloca ainda um particular enfoque na “dinamização e implementação do trabalho colaborativo” na escola (PEE, p.17), visando a consecução de um trabalho rigoroso e devidamente planeado, com objetivos comuns.

Trata-se de um projeto com dez anos de existência, constituído por um corpo docente estável, maioritariamente jovem, do qual um grupo significativo iniciou o seu percurso profissional neste estabelecimento de educação e ensino. Possui uma equipa constituída por sete professores do 1º ciclo do ensino Básico (1º CEB) e trinta do 2º e 3º ciclos e cursos profissionais; todos são detentores de licenciatura, sendo que nove possuem também mestrado. Acresce ainda referir que existem seis formadores que respondem às especificidades de cada curso

147

profissional. A equipa integra também uma professora de educação especial e uma psicóloga.

Os docentes encontram-se organizados por departamentos: 1ºCEB, Matemática e Ciências Experimentais, Línguas e Ciências Sociais e Humanas e Expressões. No entanto, a dinâmica existente permite a colaboração interdepartamental, com especial referência para o grupo do 1º CEB que articula com os restantes departamentos devido à existência de monodocência coadjuvada.

O grupo de pessoal dos serviços de administração escolar é constituído por um chefe de serviço e três assistentes administrativos, e o grupo de pessoal auxiliar é constituído por cinco auxiliares de ação educativa e um motorista.

A população discente no 1º CEB é constituída por 142 alunos, no 2º ciclo por 72, no 3º ciclo por 62; os cursos profissionais são, igualmente frequentados por 62 alunos. Na sua maior parte, os alunos residem em diferentes zonas da cidade, deslocando-se na companhia dos pais em transporte próprio. Contudo, existe um número menos significativo de alunos de concelhos limítrofes.

Os pais desempenham atividades profissionais diversas e possuem habilitações académicas variadas; contudo, a maior parte habilitada com uma licenciatura.

c) Os formandos

Após a divulgação da formação, verificou-se a inscrição de dezoito professores dos diferentes ciclos. Contudo, na fase inicial duas docentes desistiram, uma do 1º CEB por ter iniciado um período de gravidez, facto que a iria impedir de concluir a ação, e uma do 2º e 3º CEB por compromissos profissionais previamente assumidos. Assim, o grupo de formandos foi constituído por dezasseis formandos, seis do 1º CEB e dez do 2º e 3º ciclos, dos diferentes departamentos existentes. No entanto, veio a verificar-se que três elementos do 2º e 3º ciclos não concluíram a ação.

148

O grupo revelou-se muito homogéneo no que diz respeito às idades, situando- se maioritariamente entre os 28 e os 34 anos, bem como a nível do tempo de serviço, que varia entre um e seis anos. Relativamente a formação complementar, verifica-se que três têm mestrado na área da educação, e outros três pós- graduação na área das necessidades educativas especiais. De referir ainda que oito formandos apresentam formação em necessidades educativas especiais, adquirida em contexto de formação contínua.

Neste âmbito, parece-nos pertinente uma caraterização mais pormenorizada dos quatro participantes que desenvolveram projetos de intervenção em sala de aula, todos do 1º CEB, aos quais atribuiremos nomes fictícios:

- Rui, com 29 anos de idade e quatro anos de serviço, tem licenciatura em 1º CEB e uma pós-graduação em educação especial; integra a equipa da escola há três anos;

- Carolina, com 28 anos de idade e cinco anos de serviço, tem licenciatura em 1º CEB e mestrado em Psicologia, área de especialização em Psicologia Pedagógica e formação na área das necessidades educativas especiais em contexto de formação contínua; integra a equipa da escola há 5 anos;

- Mariana, com 33 anos de idade e 7 anos de serviço, tem licenciatura em 1º CEB e uma pós-graduação em educação especial; integra a equipa da escola há 7 anos;

- Joana, com 29 anos de idade e 7 anos de serviço, tem licenciatura em 1º CEB, uma pós graduação em formação pessoal e social e mestrado em educação especial, integra a equipa da escola há 7 anos.

d) A formadora

A formadora iniciou funções nesta escola em 2004, que coincidiu com o segundo ano do seu funcionamento. Aqui exerceu funções de direção durante os três anos seguintes, tendo oportunidade de colaborar na elaboração do primeiro projeto educativo, bem como na escolha dos primeiros elementos que constituem a equipa.

149

No período que se seguiu, exerceu funções como professora de educação especial; nessa qualidade, integrou o Conselho Pedagógico da escola.

No papel de investigadora, reconhecendo a responsabilidade que cabe ao professor de educação especial na criação de dinâmicas de trabalho colaborativo, tendo em vista a procura conjunta de soluções para os problemas que emergiam da prática face à diversidade da população a atender, propusemos desenvolver o programa de formação. Optámos por uma estratégia formativa que se identificasse com uma constante integração entre a teoria e a prática, implicando um processo de reflexão coletiva e produzindo efeitos sobre a própria prática (Alarcão, 1996). Desta forma, o processo formativo constituiu-se como um estudo sistemático que permitiu aos formandos uma avaliação da sua prática pedagógica, implicando o questionamento e a reflexão, de forma a desenvolverem-se respostas adequadas face aos desafios que se lhes colocavam.

Desta forma, criámos expetativas em relação ao trabalho a desenvolver, esperando poder contribuir para o desenvolvimento de dinâmicas colaborativas e de uma prática reflexiva, promotoras de desenvolvimento profissional dos professores envolvidos na formação, contribuindo para a melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos.

e) Outros participantes e recursos

Após a referência aos dezasseis formandos que frequentaram a formação, bem como à própria formadora, é oportuno mencionar que o processo contou com outros participantes, conforme já referimos anteriormente (Quadro 3), nos quais se incluem: as consultoras científico-pedagógicas, uma professora cooperante e duas mestrandas da Universidade de Aveiro, que se encontravam a realizar os seus projetos de investigação-ação no contexto da componente de formação de Prática Pedagógica Supervisonada.

150

As duas consultoras, além do suporte científico-pedagógico assegurado na preparação e no desenvolvimento do programa de formação, colaboraram na sua apresentação na 1ª sessão, bem como na 5ª sessão que deu início à 2ª etapa. Nesta, fizeram-se acompanhar pela professora cooperante e mestrandas com o fim de darem o seu contributo teórico e prático no âmbito da temática da sessão.

Ao longo do processo formativo foram ainda disponibilizados pelas consultoras diferentes materiais e suporte bibliográfico.

Conclusão

Neste capítulo apresentámos a configuração do projeto de investigação, o qual se desenvolveu em quatro ciclos: procedimentos prévios, desenvolvimento do processo de investigação, tratamento, análise e interpretação dos dados e redação da tese.

Tendo em vista a resposta às questões de investigação formuladas, concebemos um programa de formação organizado em duas etapas, com início no ano letivo de 2011/2012 e finalizado no ano letivo seguinte. A fundamentação deste programa teve por base diferentes eixos temáticos definidos em função dos interesses e necessidades dos formandos e do próprio contexto, bem como dos fundamentos teóricos do estudo: estratégia “portfolio reflexivo” na formação contínua de professores; trabalho colaborativo; educação Inclusiva numa

perspetiva de escola para todos; organização e gestão do processo de ensino- aprendizagem em contexto de sala de aula.

A formação decorreu no contexto de trabalho dos formandos e da formadora e caracterizou-se por uma forte componente de dinâmicas colaborativas e de reflexividade, pretendendo promover a democratização das relações interpessoais e dos processos de construção do conhecimento. Considerou-se o professor como um profissional crítico, face às suas práticas e ao contexto, e procurou-se favorecer o seu desenvolvimento profissional e a construção de uma atitude docente mais autónoma, esperando-se poder contribuir para o desenvolvimento da escola enquanto organização reflexiva que aprende.

151

Para a avaliação dos formandos foi organizado um portfolio reflexivo individualizado, que incluiu evidências e narrativas de acordo com as finalidades da oficina de formação, bem como dos interesses e motivações dos formandos. Assim, no início da oficina de formação teve lugar uma negociação e discussão sobre as evidências e narrativas a incluir no portfolio a partir de várias hipóteses apresentadas, tendo ficado, contudo, salvaguardada a singularidade de cada formando, bem como do percurso de formação por si realizado.

153

CAPÍTULO DOIS: CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

Introdução

Neste capítulo vamos caraterizar e justificar as opções metodológicas do estudo. Vamos também referir-nos à sua tipologia, bem como identificar e caraterizar as principais estratégias, instrumentos e processos utilizados na recolha de dados, descrevendo também os respetivos processos de validação.

Posteriormente, iremos referir-nos ao processo de tratamento dos dados recolhidos, bem como à metodologia de análise.

Terminamos com uma referência à construção e composição do corpus de análise e com a apresentação das macrocategorias de análise que orientaram a investigação.