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Organização do processo de ensino e aprendizagem – aprendizagem colaborativa

3. A supervisão numa perspetiva colaborativa

3.3 Organização do processo de ensino e aprendizagem – aprendizagem colaborativa

As modalidades de organização e gestão da sala de aula, tendo em vista a inclusão de todos os alunos, são entendidas como o conjunto de condições que definem o contexto em que se desenvolve o ensino e a aprendizagem. Entre estas condições consideram-se as atividades que se desenvolvem e a sua estruturação, os materiais, as regras de interação, a constituição dos grupos de alunos e a sua distribuição no espaço de sala de aula, as rotinas, as estratégias, bem como os princípios que orientam a ação docente.

De entre as várias opções sobre o tipo de atividades a desenvolver, a utilização exclusiva de atividades de cariz individualista pode conduzir à competição, levando posteriormente a situações de exclusão (Johnson & Johnson, 1998). No entanto, considerando a diversidade que carateriza o contexto atual das salas de aula, poder-se-á tirar partido das diferenças através de processos de colaboração. Tal facto implica introduzir “uma organização de aprendizagem colaborativa, em detrimento de uma organização individualista e competitiva” (Pujolàs, 2011, p.46). A aprendizagem colaborativa será uma forma de organizar as atividades a desenvolver no âmbito das várias áreas do currículo, proporcionando a interação entre os participantes. A opção sobre a organização da atividade será determinante para o nível de inclusão dos alunos numa determinada aula, conjuntamente com os critérios que presidiram à organização dos grupos, bem como de aspectos relacionados com a natureza do próprio currículo.

Na maioria das situações, os grupos constituídos caraterizam-se de grande heterogeneidade, contudo numa dinâmica de aprendizagem colaborativa os alunos têm oportunidade de se ajudarem mutuamente durante a realização das tarefas e das atividades de aprendizagem. Concretamente, os que apresentam dificuldades na aprendizagem terão “oportunidade de obterem respostas mais adequadas, às suas dificuldades, numa turma organizada de forma colaborativa” (Pujolàs, 2011, p.53).

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Enquadrando esta perspetiva na teoria socioconstrutivista de Vygotsky, (1978) podemos considerar que a aprendizagem colaborativa encontra os seus fundamentos na teoria de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), já referida. Ou seja, a colaboração funciona como um mecanismo de mediação pedagógica no âmbito das tarefas de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, sobressaindo todo o potencial educativo que resulta da interação entre pares.

As atividades de aprendizagem colaborativa implicam mudanças organizacionais que necessitam de tempo e esforço para serem implementadas. Na realidade, passar de uma organização individualista e competitiva para uma organização colaborativa exige mudanças profundas. Contudo, este facto não significa que estamos a encarar algo de novo, mas sim atividades de aprendizagem cuja prática remonta há já algum tempo. Neste âmbito Robert Slavin (1994), desenvolveu vários métodos de trabalho promotores de atividades de aprendizagem em grupo. Estas tendo por base pressupostos comuns, criam uma interdependência e responsabilidade individual e de grupo, no que diz respeito ao sucesso na aprendizagem. Destaca-se neste âmbito o modelo “Grupos de apoio à melhoria das aprendizagens individuais”, inspirados nos métodos de Student Teams Achievement Division e Team Accelerated Instruction. A aprendizagem através deste modelo baseia-se no princípio de que o sucesso do grupo depende do contributo de cada um dos seus elementos.

Rogere e David Johnson (1997) criaram o modelo “Aprender Juntos” que considera como elementos fundamentais de uma equipa de aprendizagem colaborativa a interdependência positiva e a responsabilidade individual. O modelo preconiza que a avaliação dos trabalhos realizados é feita a partir do produto elaborado pelo grupo e não como uma soma dos resultados individuais.

Spencer Kagan (1999) responsável pelo modelo “Organizações Colaborativas” valoriza os princípios que denomina como participação equitativa e interação simultânea uma vez que, para o autor, não basta que os alunos desenvolvam as atividades em conjunto. O modelo garante a participação equitativa dos membros do grupo até certa medida, o que implica que a atividade seja organizada pelo professor, não deixando nas mãos dos alunos a possibilidade de todos

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participarem de igual forma. Garante também a interação simultânea, para isso defende equipas constituídas por um número par de elementos, sendo desta forma mais provável que todos interajam.

A aprendizagem colaborativa é um método e simultaneamente um recurso que permite aos alunos aprenderem mais e melhor. Desta forma estamos a referir-nos à qualidade que emerge do trabalho em equipa, ou seja, da eficácia do trabalho desenvolvido. Assim, estamos a considerar a aprendizagem com sucesso ao nível dos conteúdos escolares, mas também estamos a considerar o aprender a colaborar. Desta forma, e reforçando a ideia apresentada por Pujolàs (2011), a aprendizagem colaborativa é também um conteúdo curricular.

A organização colaborativa no processo de ensino e aprendizagem traduz-se em vantagens para os alunos, possibilitando-lhes a ajuda mútua, ao mesmo tempo que promove a sua autonomia na aprendizagem. Por outro lado traz vantagens também para o professor, uma vez que, o facto dos alunos se tornarem mais autónomos deixa-o mais liberto para poder atender os alunos que mais necessitam. Desta forma, o docente pode individualizar o ensino indo ao encontro da especificidade de cada um, dando uma resposta adequada às suas dificuldades. É oportuno, contudo, referir que, no contexto português, estão previstas no âmbito do Decreto-Lei nº3/2008, de 7 de Janeiro, medidas educativas para os alunos que apresentam “necessidades educativas de caráter permanente” ao nível da adequação do currículo, concretamente “adequações curriculares individuais” e “currículo específico Individual”. A aplicação destas medidas salvaguarda, à partida, a resposta às especificidades dos alunos, no entanto, não existem garantias que a dinâmica implementada na maioria das salas de aula permite uma resposta que inclua estes e todos os outros alunos. Apesar das vantagens reconhecidas às escolas que têm uma orientação e prática inclusivas baseadas na colaboração, conseguindo uma educação de qualidade para todos, por vezes parece-nos que as palavras passaram a fazer parte da retórica de alguns professores e dirigentes, uma vez que as verdadeiras mudanças não se operaram. Desta forma, continua-se a assistir, em algumas situações, a dinâmicas de sala de aula centradas na aprendizagem individual e competitiva,

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com uma interdependência das finalidades claramente negativa, esperando-se que o aluno aprenda sozinho e que aprenda mais que os outros.

Mais uma vez assume aqui particular importância a necessidade dos professores refletirem sobre as suas práticas e realidade da sala de aula, para que de forma colaborativa consigam desenvolver conceções e práticas que promovam a igualdade de oportunidades e a qualidade na aprendizagem de todos os alunos.

3.4 A urgência da reflexão sobre as práticas no contexto de uma