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3. Construção do conhecimento e aprendizagem

3.3 Competências emocionais dos professores

A ação do professor é condicionada por vários factores, dos quais destacamos as suas crenças, valores pessoais, as condições de trabalho na escola e na sala de aula, o tipo e número de alunos, entre outros. Desta forma, a sua capacidade para exercer o pensamento crítico, tendo em atenção todos estes factores, é um dos aspectos fundamentais da sua ação enquanto profissional. A capacidade para exercer este pensamento depende, segundo Day (2001), do seu “tacto pedagógico” e “inteligência emocional”. No que se refere ao tacto pedagógico, este implica perspicácia, visão e intuição, permitindo ao professor agir sob o ponto de vista didático e pedagógico, usando a improvisação para responder de imediato aos seus alunos durante o processo de ensino- aprendizagem. Contudo, a qualidade do “tacto pedagógico” dos professores não depende unicamente “da sua experiência e saber-profissional ou das condições em que trabalham, mas também da sua inteligência emocional” (Day, 2001, p. 63).

Para Goleman (1997, p.101) inteligência emocional é “uma aptidão-mestra” que afeta profundamente todas as outras capacidades. Assim a inteligência emocional é vista como uma metacapacidade que condiciona o grau de eficácia com que os indivíduos utilizam as suas aptidões mentais, conseguindo pensar, planear e resolver problemas. O autor, reforçando o papel central da inteligência

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emocional, refere os cinco domínios apresentados por Salovey, a partir da redefinição das inteligências pessoais de Gardner (Goleman, 1997, p. 63-64):

- Conhecer as próprias emoções, ou seja, reconhecer um sentimento no momento em que ele acontece o que é identificado como autoconsciência, a “pedra base” da inteligência emocional. Neste âmbito, as pessoas que têm uma certeza sobre os seus sentimentos, agem com maior segurança sobre as decisões que têm que tomar. - Gerir as emoções, também neste campo o autoconhecimento ocupa

um papel fundamental, uma vez que é dele que nasce o saber lidar com as sensações de forma apropriada. Assim, o sujeito controla as suas emoções conseguindo tranquilizar-se ao afastar outros sentimentos perturbadores, como seja a angústia, a tristeza e a ansiedade.

- Mobilizar as emoções, diz respeito ao autocontrolo emocional tendo em vista um objetivo determinado e está na base de toda e qualquer realização. Este domínio surge como fundamental para a concentração da atenção, para a automotivação, para a criatividade e para a competência permitindo desempenhos de grande qualidade e eficácia. - Reconhecer as emoções dos outros, envolve a empatia, uma

capacidade que também nasce do autoconsciência, considerada uma aptidão pessoal fundamental que permite fazer a leitura de sinais que indicam as necessidades dos outros. As pessoas empáticas caraterizam-se de um maior sensibilidade o que lhes permite exercer a sua profissão com eficácia, particularmente se estivermos a falar de professores ou outras profissões que envolvam a prestação de cuidados, a interação com clientes e/ou gestão de recursos humanos. - Gerir relacionamentos, implica destrezas que permitem o

relacionamento e é, particularmente, uma aptidão que permite gerir as emoções dos outros. As capacidades envolvidas neste domínio estão na base da popularidade do sujeito, da sua eficácia ao nível das relações e da liderança. As pessoas dotadas nesta área são bem sucedidas na interação com terceiros e bem aceites socialmente.

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É o próprio Daniel Goleman que afirma que não se sabe ao certo até que ponto o conceito de inteligência emocional é responsável pelo curso de vida das pessoas, face à variabilidade que se verifica entre elas. Não deixa, no entanto, de concluir, perante dados existentes, que a inteligência emocional “pode ser uma influência tão poderosa e, por vezes, ainda mais poderosa que o QI” (1997, p.54). O autor identifica um conjunto de caraterísticas que contribuem para que a inteligência emocional concorra para um desempenho bem sucedido: “a capacidade de a pessoa se motivar a si mesma e persistir a despeito das frustrações; de controlar os impulsos e adiar a recompensa; de regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo subjugue a faculdade de pensar; de sentir empatia e de ter esperança”.

A empatia é referida pelo autor como a capacidade de estar em consonância com os sentimentos do outro, conseguindo ler os indicadores não verbais que permitem compreender os seus pensamentos e intenções. É apresentado o conceito de inteligência social como capacidade de compreender os outros e de agir com sensatez no relacionamento com eles, considerando-a como um dos aspectos da inteligência emocional. Goleman considera que a inteligência social garante a eficácia das interações sociais e reside na capacidade do sujeito reconhecer os sentimentos de outra pessoa e agir, conseguindo influenciá-los. Desta forma, a dificuldade na arte do relacionamento consiste em conseguir gerir as emoções dos outros, o que requer autocontrolo e empatia, competências sociais fundamentais para o sucesso na relação com terceiros. Na situação de interação entre duas pessoas, entre as quais existe uma transferência de estado de espírito, assiste-se a uma ligação emocional que vai para além da empatia. Existe um grau de conexão que se traduz num sincronismo emocional que permite às pessoas sintonizar-se com o estado de espírito dos outros ou influenciá-los com o seu.

Em síntese, as caraterísticas de inteligência emocional, referidas anteriormente, assumem particular importância para o professor, na interação com todos os elementos da comunidade educativa, com particular destaque para a interação com os seus alunos nas situações de sala de aula, onde a sua

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competência social lhe deverá permitir detetar pistas que o ajudem a interpretar os indicadores emocionais. Conseguirá compreender os sentimentos e pensamentos, bem como as intenções do outro, estando apto a antecipar e resolver situações que mais tarde se poderão revelar mais complexas e de difícil resolução. O professor estará assim em condições de responder de forma adequada, fazendo uso da sensibilidade e flexibilidade necessárias.

Concordamos com Day (2001, p.64) quando refere que:

Ignorar o papel da emoção na reflexão, sobre e acerca do ensino e da aprendizagem significa não conseguir avaliar o seu potencial para afectar positivamente ou negativamente a qualidade das experiências dos professores e dos alunos na sala de aula.

Segundo os quatro pilares fundamentais da educação que constam no Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenado por Jacques Delors (1999),“aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”, exigem que o professor vá mais além da sua ação tradicional, devendo fazer uso de competências emocionais para que se sinta apto para falar naturalmente sobre os sentimentos. Impõe-se, pois, uma formação específica dos professores de forma que consigam orientar os seus alunos na descoberta da sua vida emocional, o que implica que sejam capazes de se orientar a si próprios, tendo consciência das suas próprias emoções, ou seja, “as suas responsabilidades docentes exigem o domínio de competências emocionais consonantes com aquelas que pretendem desenvolver nos alunos” (Estrela, 2010, p.43).

Acontece também que, por vezes, as atividades de formação contínua oferecidas aos professores ao longo da sua carreira se centram ainda numa conceção tradicional de experiências de sala de aula, onde os professores são vistos como meros “agentes executores” (Day, 2001, p.207). Numa perspetiva diferente defendemos a criação de oportunidades de aprendizagem diversificadas que satisfaçam as reais necessidades de desenvolvimento profissional dos professores, de forma que consigam manter viva a sua motivação e reforço do

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nível de empenho, enquanto fica garantido o relacionamento social adequado com os seus alunos.