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n «Como vais (e como voltas?)»: receios comuns, soluções diferentes

De um modo geral os pais entrevistados que foram confrontados com esse tipo de situações não se sentiram particularmente confortáveis com a ideia de que os seus filhos, adolescentes entre os 13 e os 16 anos, para concretizar as saídas à noite para conviver com os amigos, teriam de per- correr trajectos mais ou menos longos para aceder aos locais pretendidos. Um desconforto que se converte em estratégias diversas de superação, mais activas (intervindo, organizando, mobilizando) ou passivas (convi- vendo pior ou melhor com ele, mas deixando o filho encontrar, também de noite, os caminhos de volta a casa). É certo que o tempo passa, e as configurações dos sistemas mistos de gestão dos quotidianos, afinal sem- pre provisórias, evoluem no sentido de uma maior auto-regulação (neste caso gerindo a forma como se fazem os percursos). Nessa medida, quando questionados acerca deste assunto em particular, não raras vezes as res- postas começam com «agora já não, mas antes...» ou «agora já é diferente» ou ainda «isso era mais antigamente». No entanto, não deixa de ser inte- ressante analisar como, nessa fase inicial em que também se concentram as maiores tensões e divergências, se constroem os consensos e os com- promissos em relação à mobilidade entre territórios de vida à noite.

Para efeitos de clareza analítica, duas fases distintas, em que se desenham diferentes lógicas de acção, devem ser identificadas. Uma diz respeito ao período de tempo em que no grupo de pares não há quem tenha carta ou automóvel, o que obriga sempre a deslocações através de transportes pú- blicos ou através da boleia dos pais. Outra remete para o período em que todos ou só alguns já têm meios de mobilidade próprios, dispensando os transportes públicos e/ou os pais. Por agora, fixe-se a atenção na primeira. Nessa fase inicial, já de si tensa em virtude das múltiplas divergências que frequentemente estão em disputa, efectuar os percursos com total li- berdade implicaria em termos abstractos que os pais reconhecessem que os filhos já estavam na posse dos recursos (financeiros, nomeadamente) e das competências para poderem assegurar que os percursos se fariam sem incidentes, correndo o mínimo de riscos possíveis. Ou então, tal como durante o dia, que estes teriam de os fazer assim mesmo, para aprender a lidar com as várias situações de forma a desenvolver essas mes- mas competências (voltando portanto à ideia de um processo dialéctico em que liberdade se consegue com independência que se constrói com liberdade). Nessas idades, prévias à maioridade e ao acesso mais facilitado a meios de locomoção próprios (carro ou mota), só os transportes públi- cos constituíam uma alternativa à assunção por parte dos próprios pais

da responsabilidade por esses percursos. Se, durante o dia, a segunda ló- gica de acção foi claramente minoritária, à noite a situação inverte-se.

Ou seja, não se pode afirmar que se trata de um processo que decorra paralelamente durante o dia e durante a noite de forma sincrónica, mas antes que pode numa mesma família haver uma lógica de acção para o tempo diurno e outra para o período nocturno, embora tenda a haver alguma coerência na forma como se perspectiva o binómio protec - ção/emancipação nos vários tempos. Com efeito, ao contrário dos tem- pos e espaços diurnos, a noite não tende a constituir um território pro- batório por excelência na perspectiva dos pais, onde se testam e exercitam competências.

Como se pôde constatar, nas representações familiares os riscos não só são mais numerosos como as eventuais consequências são mais graves à noite. Parte da justificação subjacente a esta estratégia residirá na afir- mação de uma menor oferta de transportes públicos (ou quase ausência

no caso de outros locais que não as grandes cidades)15que se conjuga

com uma maior disponibilidade (mesmo se roubada às horas de sono) dos pais para assegurar esses percursos. Mas esta será, seguramente, uma razão menor. Na verdade, a motivação mais forte para aderir a esta lógica de acção (ainda assim em regime provisório) é o propósito de proteger dos riscos inerentes ao resto (o que sobra dos convívios em espaços exclu- sivos, como acima referia um pai), ou seja, aos percursos efectuados à noite onde simbolicamente se concentram todos os perigos. Não ques- tionando a legitimidade da pretensão «O que é que nós fazemos?», per- gunta-se Sofia (47 anos, professora do ensino secundário, capital), desde logo denunciando o carácter colectivo (da rede que os pais acabam por constituir) que assumem os compromissos negociais que se vão cons- truindo a este respeito, sob a forma de condições de usufruto da liberdade de acção (em claro sacrifício da liberdade de circulação):

Lá vai a mãe para a discoteca, mas depois fica cá fora no carro. Um ano ou dois anos mais tarde: «ó mãe, nós vamos sair, vamos para o Garage», «então, mas às duas e meia, saem, se faz favor». A mãe acorda, veste um robe e vai buscá-las. Não quero que elas apanhem táxis ou que venham com co- legas mais velhos.

15A localização geográfica influi, portanto, na estrutura de oportunidades que os jo-

vens têm efectivamente de fazer do lazer nocturno um hábito. A relação que os jovens da capital têm com os da periferia, estes últimos mais limitados pela oferta de transportes públicos, por exemplo, não deixa de ser semelhante à dos jovens que vivem na vila (e se deslocam basicamente a pé aos locais de encontro) e dos que moram nas aldeias circun- dantes (uma vez mais, muito mais limitados em termos da logística dos transportes).

O testemunho da filha, Matilde (19 anos), ainda é mais claro quanto ao carácter condicional da prática, ou seja, a inevitável sujeição à determi- nação parental de não confiar em ninguém que não a mãe (ou, ver-se-á, algum membro da rede de pais) para efectuar os percursos, o que justifica por seu turno (para além do argumento escolar) a divergência quanto a ritmos e horários. Na verdade, se a boleia tem de ser assegurada pela mãe em sacrifício do seu próprio descanso, a frequência das saídas terá enfren- tado algumas resistências, assim forçando ao ajustamento e o compromisso:

A gente queria sair muitas vezes com os nossos amigos para a noite. E a minha mãe estava sempre naquela, com quem é que a gente voltava e «depois eu tenho que vos ir buscar às quatro da manhã ou às cinco», porque a gente ainda não tinha carro e a minha mãe não queria que a gente viesse com os amigos. Há, como atestam as palavras desta mãe e desta filha, uma recusa de outros meios de transporte que não os assegurados por adultos, por um lado, e por adultos conhecidos, por outro, o que inviabiliza em alguns casos o recurso ao táxi e acaba por implicar, por razões de logística e con- forto dos próprios pais, que as dormidas se concentrem ocasionalmente em casa da família que assegura o transporte. Para além de sair à noite, dormir em casa de amigos é uma conquista que (também) decorre do desejo de reduzir os perigos (imaginados e reais) que poderiam correr se o filho(a) tivesse de voltar sozinho e/ou de transportes para casa. Por uma razão de conforto, alguns dos progenitores entrevistados acabam por par- tilhar a tarefa com outros pais, assim acedendo a este tipo de soluções de compromisso (que agradam tanto a pais como a filhos, que estendem o

convívio noite fora e dia seguinte).16Patrícia (18 anos, estudante do en-

sino superior, mãe secretária [falecida], pai professor do ensino secundá- rio, periferia), por exemplo, explica quais são as várias alternativas:

Ou então durmo em casa dos colegas que, às vezes, também é uma me- lhor hipótese, quando moram mais perto da discoteca ou isso, combinamos ou então vimos de transportes que também não é... Os transportes há até uma certa hora, nós vimos, ou às vezes pedimos ao pai para ir buscar. Vamos

16É forçoso salientar que não se trata, de modo algum, de uma prática generalizada,

havendo bastantes progenitores, sobretudo em famílias onde circulam menos recursos sociais e culturais donde resultam éticas mais conservadoras no que diz respeito ao género, que tendem até a recusar esta prática, sobretudo tratando-se de filhas. São indivíduos que já têm, muitas vezes, alguma dificuldade em aceitar a noite como um tempo convi- vial, pelo que permitir dormir fora é entendido como uma prática parental que revela descuido e falta de rigor (e que, pior ainda, pode ser assim interpretada pelos outros), numa perspectiva que entende que os filhos (e filhas, especialmente) devem ser resguar- dados, em casa, pelos respectivos pais.

sempre juntos, combinamos, vamos sair e depois uns vão dormir a casa de uns cá, outros de outros, combinamos.

A este propósito é importante lembrar que os pais que não vêem in- convenientes nestas noites passadas com amigos são unânimes na afir- mação de que, verificando-se essa situação, preferem ser eles os anfitriões, de modo a melhor poderem controlar o que se passa. Sofia (47 anos, pro- fessora do ensino secundário, capital) não hesita em dizer que de longe prefere que as filhas tragam pessoas para dormir lá em casa. Acrescenta depois que não tem nada a ver com o género, mas com um propósito de vigilância e protecção:

O Chico pode dormir as vezes todas que ele quiser cá em casa. Pode tudo dormir cá em casa. Dormir fora elas dormiram, mas com pessoas que eu conhecia.

Mas que perigos, afinal, têm em mente os pais nesta fase? São sobre- tudo os assaltos, os raptos e as agressões de carácter sexual perpetradas por estranhos-perigo. Não é por isso de estranhar que se verifique uma forte componente de género implícita na adesão a uma ou outra lógica de acção, que tende a atribuir especial vulnerabilidade às raparigas, face

a riscos e perigos, quando comparada com a dos rapazes.17O pai de

Cátia, Vítor (operário, 44 anos, vila), tem em mente os especiais riscos que a filha corre (pois, vivendo numa pequena vila, a maioria das suas deslocações são invariavelmente feitas a pé).

Então ela vem a pé e há aí muita malandragem. E isto é um sítio pe- queno... Assim uma rapariga sozinha. A gente nunca sabe!

No caso das famílias onde se trata da liberdade de circulação de filhos, após uma breve fase inicial em que as preocupações com os percursos ainda tiveram algum relevo (não significando ainda assim que se justifique levan- tarem-se de madrugada para os ir buscar aos locais de convívio), os progeni- tores sentem-se mais confortáveis com a ideia de que os filhos dividam táxis (também, claro, porque circulam recursos financeiros que permitem tais gas-

17Não deixa também de ser forçoso questionar se esta espécie de preconceito não

acaba por expor mais facilmente os rapazes a riscos e perigos que decorrem da fase de potencial fragilidade identitária, que podem resultar em situações concretas de risco acres- cido (e menos vigiado). Note-se que, segundo dados recolhidos e analisados n’A Condição Juvenil Portuguesa na Viragem do Milénio (Ferreira 2006, 129-139), os rapazes são as princi- pais vítimas da mortalidade juvenil, nomeadamente por via de uma maior incidência da sinistralidade rodoviária (64,4% das mortes entre jovens rapazes devem-se a acidentes contra 35,5% entre as raparigas).

tos), por exemplo, quando não vêm de transportes, ou que acabem por passar a noite todos em casa de um, para poupar recursos e garantir que as deslo- cações se façam sempre em grupo. Mais depressa do que os seus pares pais de raparigas, deixam de se preocupar tão intensamente com a forma como os filhos regressam a casa. Veja-se o caso da família de Susana (quadro supe- rior, 48 anos, capital) e Nuno (18 anos, estudante do ensino superior).

Susana e Nuno: «eu tinha de me amanhar!»

Analisando o discurso de Susana, fica a impressão de que nele se arti- culam uma boa dose de descontracção e outra de confiança. Algo que é, afinal, coerente com todo o discurso acerca de liberdade e independência que se observou acerca dos percursos diurnos de Nuno, o filho de 18 anos. Na verdade, hoje em dia já não se preocupa muito com o modo como o filho volta para casa, desde que volte e/ou avise que não vai dormir a casa. Não aconteceu sempre assim, e a descontracção agora exibida foi durante algum tempo conseguida porque «o pai de um» não se importava de o levar, juntamente com o respectivo filho e amigos mais próximos ao local do convívio. A ida estava, portanto, assegurada. Além disso há todo um contexto positivo que não leva a que se tenham preocupações de maior (companhias, locais frequentados, andar em grupo, etc.) O regresso fez-se desde sempre de táxi, dividido com os amigos que também são vizinhos. Diz Susana que «a vir, ou é isso [vem com o pai de um] ou ele tem um es- quema que eu acho óptimo que é virem em táxi e dividem entre eles. [...] Mas é isso, também não nos pôs o problema, porque eu acho que num ambiente em que a pessoa não confia, acha que..., ou pode estar com medo, com quem anda, quer dizer, a pessoa, isto tudo é em função do contexto... portanto o problema também não se nos pôs, percebe?».

Afirma no entanto que não deixam de perguntar (e se preocupar), mas optam por não cair nos exageros de considerar que tudo pode acontecer. Diz Susana que «nós perguntamos, ou pelo menos eu pergunto, também me faz um bocado de confusão... ‘então como é que vens?’ ‘ah, não te preocupes’. Como já se tem falado que eles vêm de táxi e dividem pronto, portanto... Quer dizer, acho que não há-de acontecer nada, não é...» Su- sana tem conhecimento de pais que se levantam de madrugada para ir buscar os filhos. Diz a este propósito: «portanto ir buscar, eu tenho ouvido é que quem tem raparigas, que prefere pronto, eu calo-me porque eu não prefiro, porque acordar às cinco da manhã para ir...»

No seu caso, portanto, as boleias reduzem-se àquelas que não colidem com os horários de repouso: «isso de levar ao cinema temos feito, mas discotecas não». Em virtude das circunstâncias (para o que contribui o facto de o filho ser rapaz, como aliás reconhece) também nunca se ofe- receu para o fazer e também nunca foi solicitada para isso. Já Nuno está

convicto de que se trata de mais uma faceta da estratégia educativa dos pais que consideram que ele deve aprender a fazer os seus próprios per- cursos, tomando decisões e fazendo escolhas (ou seja, exercitando a sua autonomia). Confirma que «nunca me disseram aquilo ‘está bem sais mas vou-te buscar à uma ou às duas’, até porque eles nunca me foram buscar a uma discoteca, acho eu, portanto, só quando eu pedia, aí sim, mas quando eu não gostava e saía mais cedo, ou assim uma coisa, isso tudo bem, mas quando era tarde, eu tinha que me amanhar, é mesmo assim. Quando vou sair à noite tenho que me amanhar para voltar para casa». É certo que o seu discurso se refere mais à modalidade actual (mais flexível do que a inicial), mas na sua visão de hoje, tal como quando era mais novo, «ninguém se vai levantar...» Tenta, com os amigos, arranjar a melhor solução para regressar a casa, «táxi, boleias de pais de amigos meus ou mesmo a pé... Já vim a pé do Chiado, cheguei a casa de manhã. Foi a festejar um jogo de Portugal, no Euro, azar, não havia boleia, não tí- nhamos dinheiro, tivemos que vir para casa, não íamos dormir na rua...». Nesse sentido, pode afirmar-se que à liberdade de acção (poder sair) se soma quase plena liberdade de circulação, criando condições para que se façam escolhas, se ponderem recursos e se tomem decisões que cor- respondem ao exercício (nesta dimensão da vida) da auto-regulação. Já os pais de raparigas tendem ou a não delegar em ninguém essa ta- refa ou a confiá-la apenas a outros pais, igualmente preocupados com a segurança das filhas. Também não deixa de ser interessante verificar que o núcleo duro do grupo de pares com quem se combinam as saídas é amiúde exclusivamente feminino ou masculino, assim facilitando a or- ganização destes circuitos de acordo com as preocupações partilhadas

dos pais.18Algumas famílias que têm filhos de ambos os sexos reconhe-

cem mesmo que há diferenças no tratamento que deram ou pensam vir a dar aos filhos e o que dão ou pensam vir a dar às filhas, a este propósito. Diz Isabel (técnica superior, 42 anos, periferia):

Nós pais também temos às vezes atitudes diferentes para [rapazes e rapa- rigas]...porque cá [em Portugal] são uns machistas não é, na atitude. Com

18Também acaba por ser útil esta questão quando se analisam as dormidas em casa

de amigos, que normalmente tendem a ser influenciadas pela empatia de género. Quando questionados acerca da disponibilidade para acolher pares de outro sexo para passar a noite, as respostas foram a maioria das vezes ambíguas. Na realidade, não foram muitas vezes solicitados para situações como essas e quando são tendem a manter a regra do quarto separado, assim indicando que há desconfortos relacionados com o género (e uma certa representação da moral sexual) que são difíceis de verbalizar e justificar. Com efeito, declaram não querer que os filhos recebam amigos do sexo oposto no quarto, mas não sabem explicar porquê.

ele sinto-me descansada mas já estou a imaginar que ela daqui a uns anos porque não vai ser uma miúda a sair aos 17/18 porque acho que a Sofia sairá aos 14/15, como muitas miúdas a sair não é? E o facto de ser menina é que eu acho que vou tentar acompanhá-la mais, ir lá buscá-la por exemplo. Para além dos riscos, influem também, recorde-se, as orientações nor- mativas que exigem das raparigas um recato adequado às expectativas so- ciais que remetem em última análise para um comportamento conforme uma moral sexual conservadora, como aliás já se pôde afirmar a propósito das divergências. Cristina (18 anos, empregada de balcão, 10.º ano, mãe empregada doméstica, pai empregado de balcão, periferia) é clara a este respeito: é o facto de ser rapariga que coloca entraves aos pais para ter acesso a determinadas liberdades (de acção, mas também de circulação). Eu sei perfeitamente que se fosse um rapaz os meus pais a maior parte das coisas não se opunham, não é, se fosse rapaz, a minha própria mãe mo diz, sou rapariga.

Por outro lado, o assegurar dos percursos, enquanto mecanismo de controlo, também é útil para vigiar o (ab)uso de substâncias como o ál- cool (que afinal até são relativamente toleradas, quando comparadas com outras transgressões), pois se há um pai ou mãe presente no momento em que finda o convívio, também há, supostamente pelo menos, um pro- cesso de verificação presencial do estado dos jovens (embora, obviamente também se desenhem estratégias para camuflar eventuais excessos).

Se se observarem os comportamentos parentais (e o grau de organi- zação e mobilização que implicam), verifica-se que se está perante uma aplicação generalizada ao tempo nocturno de uma forma de representa- ção da existência dos filhos como um arquipélago, caracterizada quando se analisou uma lógica de acção parental que, privilegiando a protecção acima dos propósitos de emancipação ou, mais simplesmente, do exer- cício de competências, opta por assumir a responsabilidade das ligações entre os vários territórios da existência. Com efeito um número signifi- cativo de testemunhos indica que as redes de pais ganham verdadeira consistência quando se mobilizam para assegurar (à vez, muitas vezes) os ditos percursos. Atente-se num testemunho que ilustra esta prática: Nós acabámos por nos revezar... ou era um pai que levava, ou era uma mãe que trazia [Sofia, 47 anos, professora do ensino secundário, capital]. Mais, mesmo no caso de pais aparentemente mais descontraídos a este respeito – como os de Francisca (18 anos, estudante do ensino superior, mãe técnica superior, pai professor universitário, capital) que perempto-

riamente declara «nunca foram de se levantar da cama para me ir buscar a lado

nenhum» –, constata-se, à semelhança de Susana, que a descontracção se

deve ao facto de haver outros pais ou outros adultos de confiança que se encarregavam de garantir os percursos, poupando-os ao incómodo.

Havia um senhor com quem ela costumava voltar, que era o senhor Fer- nando, tinha sido motorista lá do pai de um amigo dela [Alice, técnica su- perior, 54 anos, capital].

É certo que, durante um certo período de tempo pelo menos, a liber- dade assim concedida (sob o compromisso de os pais garantirem de al- guma forma os percursos) mais parece uma encenação promovida pelos