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Lógicas de acção parental e filial: diferentes perfis de interacção

Voltando ainda ao percurso casa-escola é importante sublinhar que se, por vezes, se trata de atribuições (previamente calendarizadas) dos pais, outras vezes trata-se de concessões que implicam um certo grau de cedência às reivindicações dos filhos que exigem poder ser responsáveis por esse percurso, revelando os pais, não raramente, algumas resistências a este respeito. Observe-se o discurso de Filipa (18 anos, estudante do en- sino superior, mãe profissional liberal, pai quadro superior) que se ques- tiona hoje do porquê de não se ter revoltado, exigindo aos pais que lhe concedessem a liberdade de voltar para casa a pé da escola, antes espe- rando que os pais tomassem essa iniciativa (mais precisamente no 7.º ano, como relatou acima). De certa forma refere que a prática (ser con- duzida a casa pelo pai ou pela mãe) não correspondia à percepção que tinha de si (ou que hoje tem de si naquela altura) como perfeitamente capaz de o fazer sozinha.

O seu testemunho evoca, justamente, o carácter de jogo (negocial) entre os actores que medeia o ajustamento recíproco dos calendários de concessão com os calendários de reivindicação, desta feita reportando- -se ao aspecto concreto do trajecto entre a escola e a casa (que não será, ainda assim, o que levanta mais problemas). Pode afirmar-se desde já que é um jogo que implica a aceitação pelos actores das regras que o estrutu- ram (a existência de uma certa dose de competição e risco serão algumas delas), bem como o reconhecimento das posições relativas dos jogadores entre si, a par dos ganhos que dele podem advir. O jogo define-se preci- samente, aliás, pela presença destes elementos, lembra Caillois (1991 [1967], 7-17). Mesmo havendo um certo grau de desacordo, na maioria dos casos, a autoridade dos pais não é questionada, talvez porque se con- sidere que, lá está, neste caso em particular seja mais uma questão de

quando (se poderá aceder a determinadas liberdades, ou, noutra perspec-

tiva, ser digno de certas responsabilidades) do que uma questão de se (al- guma vez se poderá aceder a essas liberdades). Importante, por agora, é salientar o facto de que quanto mais relevo tiver na cultura familiar a norma da protecção em detrimento da importância da norma da eman- cipação (sendo que pode ainda assim haver algum desacordo entre os membros do casal como salienta Filipa) mais resistência haverá, em prin-

cípio, em ceder às reivindicações dos filhos. O que não foi, ainda assim, o caso de Filipa, que só a posteriori lamenta não ter sido mais pró-activa. Mas deixe-se que as suas palavras falem por si:

Eu não sei porquê, mas até ao ensino básico, até ao 6.º ano, os meus pais iam-me sempre buscar, aliás eu morava ali mesmo ao pé e chegava a ficar duas horas à espera do meu pai e não ia a pé para casa. Não sabia o que se passava comigo. [...] Eu podia-me ter revoltado sei lá...Vou a pé ou tomar a iniciativa. Estou a falar do 6.º ano, já tinha idade para ter juízo... e não me revoltei, ficava ali horas à espera. [Mas porquê, os teus pais atrasavam-se?] Não, esqueciam-se de mim. [Risos.] É lógico que não se esqueciam de mim, eles trabalham, todos os dias, eu saía e não tinha sempre o mesmo horário, eles não tinham obrigação de me ir buscar... eu tinha era de pegar na mala e ir a pé. [Mas eram eles que não queriam que viesses a pé?] Quer dizer, ainda hoje o meu pai quando eu saio de casa... atravessa na passadeira, cuidado com as perseguições. O meu pai é um pai-galinha. Acho que ele sempre vai ser um pai-galinha. A minha mãe é mais aberta.

Já Susana (quadro superior, 48 anos, capital) lembra que foi o filho (Nuno, 18 anos, estudante do ensino superior) que começou a pedir para fazer o percurso entre a casa e a escola a pé. Não era estritamente neces- sário, pois Susana contava com o apoio da mãe que assegurava em casa destes o período em que a filha e o genro estavam a trabalhar. Por ser pa- radigmática a forma como ilustra o modo como funciona a interacção entre perfis de reivindicação e concessão de liberdade, neste caso combi- nando uma lógica de acção parental que insiste na necessidade de per- mitir ao filho exercitar as competências que lhe permitem ser mais inde- pendente com um perfil de reivindicação pró-activo, vale a pena olhar com mais pormenor para este caso. Os ajustamentos, nesta família, não terão sido muito difíceis pois havia uma sintonia de base – segundo a mãe, o filho desejava algo que os pais entendiam dever conceder, muito embora tenham tido de resolver as sempre presentes ambivalências normativas. Veja-se também o que Nuno tem a dizer a respeito e o modo como li- berdades e independências se articulam num discurso sobre o sacrifício da responsabilidade (um corolário, afinal, do exercício da autonomia).

Susana e Nuno: ser responsável pelos próprios percursos nem sempre é fácil

Susana reconhece um perfil reivindicativo no filho desde sempre, o que atribui a características da sua personalidade. «Sabe, daqueles miúdos que não queriam dar a mão na rua, é um pesadelo...», diz a certa altura

procurando reforçar a ideia de que se trata, sobretudo, de traços de ca- rácter. Um perfil que apesar de tudo, viu-se acima quando Susana se re- feriu à importância de se fazer os próprios percursos, acabou por vir ao encontro de uma perspectiva da educação que assume a liberdade como condição para a autonomia. Resta saber se identificar no filho um tal per- fil não resulta já de uma predisposição normativa para o reconhecer e es- timular. Também não deixa de ser interessante o facto de posturas como a de Susana não deixarem de ser uma outra forma de perspectivar o dever de protecção em que, ao invés de se optar por uma estratégia de substi- tuição dos filhos nos seus percursos – garantindo a sua presença durante os mesmos –, se entende que quanto mais familiarizados estejam os filhos com os tais percursos, mais preparados estarão para enfrentar os riscos potenciais que possam correr com independência (ou seja, dotados de recursos materiais, simbólicos e identitários).

A este propósito conta como foi «[...] ele [que] de pequeno começou, queria ir para a escola sozinho e a escola era ali... mas pronto, mas ainda era pequeno e eu lembro-me que nós íamos de carro atrás, fazia-nos uma impressão, mas também, eu acho que há aqui, a pessoa nunca sabe muito bem, eu acho que são as personalidades deles». Acrescenta ainda que «o Nuno teve muito essas coisas. De querer a chave... e de ficar com a chave e pronto».

Pelos olhos de Susana, Nuno teve aquilo que quis e pelo que se bateu. Não enfrentou grande resistência, pois, por convicção, os pais achavam que era de facto esse o caminho (não sem dúvidas e hesitações, ainda assim). Rapidamente o percurso entre a casa e a escola se estendeu a ou- tros percursos, como os que o conduziam à prática desportiva, por exem- plo. Já Nuno, que decerto não se recorda de recusar a mão à mãe quando era pequeno, reconhece que o facto de poder andar sozinho resulta da confiança que os pais depositam em si («eles sempre confiaram em mim e nunca foram muito restritos»), o que o engrandece enquanto indivíduo na família. Também agradece aos pais o facto de o terem posto numa es- cola pública («nós achámos que ele se safava» diz a mãe referindo-se a essa escolha), onde pôde aprender a lidar com os vários riscos e perigos (reais, porque foi efectivamente assaltado umas quantas vezes), ganhando competências que o fazem hoje um indivíduo mais independente. Diz que afinal «a vida é assim e eu agradeço muito porque, por exemplo, aquela escola ali, para além disso até é uma escola mais complicada, por- que é ali dos bairros sociais mais ao pé e eu passei por coisas complicadas comecei a ser assaltado e tudo isso, mas isso é normal, acabei a conviver com isso, a saber lidar com isso e a não ficar assustado sempre que me aparecia alguém à frente. Agradeço muito essa escolha».

No entanto, às vezes a responsabilidade pesa, pelo que é justamente ao facto de poder e fazer a sós os percursos que se deve um dos maiores

conflitos de que se lembra. Tinha por volta dos 14, 15 anos. Afinal o conforto da boleia sabia (e sabe) bem e nem sempre apetece usufruir dessa liberdade que vista assim, como responsabilidade, mais parece cas- tigo. Diz a este propósito: «Eu acho que a discussão mais complicada que eu tive com os meus pais, ao longo destes anos todos, foi há uma data de anos quando eu andava, quando eu fazia desporto ali perto e tinha sempre que ir e voltar a pé. E isto chateava-me porque todos os meus amigos nesta zona, toda a gente, os pais iam buscar e os pais ou iam levar ou iam buscar, pá, chateava-me isso porque eu não podia, tinha que ir sempre a pé, voltar a pé, mesmo sendo perto. [...] Porque é que os outros têm e eu não tenho? Ou porque que é que vão levar o meu irmão e não me vão levar a mim?» Aparentemente não recorda com a mesma clareza que a mãe o facto de ter sido ele próprio a reivindicar essa liber- dade (terá de facto?). Mas fazendo-o certamente percebeu que ser inde- pendente dos pais, neste aspecto em particular, implicou aprender que na perspectiva da construção da sua autonomia a acção tem uma conse- quência, pela qual é responsável para o bem e para o mal. Ou seja, nesta família não se pode ser independente só às vezes, ou querer ser livre só de vez em quando. Só dessa forma se exercitam a sério as competências que farão de Nuno, acreditam os pais, um indivíduo autónomo e inde- pendente. Da sua parte, concederam esta liberdade (e outras, ver-se-á), não sem exigir que do outro lado se exibisse responsabilidade e coerência. A orientação normativa subjacente a esta lógica de acção representa o crescer e o amadurecer como um percurso que se faz vivendo um duplo processo, profundamente interligado: aprender a ser independente tendo liberdade e ter liberdade para agir e circular na medida em que se mostra ser independente.

Ainda assim, Susana confessa a impressão que lhe fez vê-lo tão pe- queno a caminhar sozinho. O facto de ter tido de a ultrapassar, por con- vicção, remete ainda assim para os perigos e os riscos que se querem evitar e contornar. Afinal proteger os filhos dessa forma é a interpretação mais comum desta orientação normativa, o que reforça as ambivalências da acção parental. Nem todos os pais, no entanto, ultrapassam facilmente essa impressão, preferindo protelar o mais possível o momento em que concedem aos filhos essa liberdade (ou atribuem essa responsabilidade), esperando pela sua reivindicação. Terá sido assim no caso de João (18 anos, estudante do ensino superior, mãe empregada doméstica, pai pequeno patrão, periferia) que a partir de certa altura sentiu que fazia mais sentido voltar para casa a pé com os colegas, ao invés de esperar pela boleia da mãe (dever-se-á esse pedido a uma certa reprovação dos pares, que tomariam essa prática como um sinal de não-crescimento e

amadurecimento?).6Segundo esta (Conceição, empregada doméstica, en-

sino primário, 47 anos, periferia),

quando era mais pequeno ele também gostava [que o levasse e trouxesse]. Porque eu ia sempre levá-lo e buscá-lo à escola mas depois ele disse: «Não, trazer sim, mas buscar não», «tudo bem», também não há problema... Neste caso há um equilíbrio entre o conforto e a responsabilidade, que torna o retorno a casa a sós uma verdadeira opção. Mantendo o con- forto da boleia de ida, João abdicou da boleia de retorno (ganhando ou- tras coisas como um tempo extra de convívio entre os pares) e a mãe res- peitou a decisão, talvez pelo facto de a boleia se prender mais com o hábito e a rotina do que propriamente com modelos de acção parental que privilegiam na prática a protecção acima de qualquer outro objectivo normativo, o que justamente remete para a dissonância entre as repre- sentações acerca da relação educativa ideal e a sua materialização con- creta. Como no caso de Sofia (47 anos, professora do ensino secundário, capital), que contrasta em absoluto com a postura de Susana.

Sofia e Matilde: idealmente emancipar, proteger na prática

Sofia reconhece que o que pesou na acção educativa que desenvolveu sempre foi mais o desejo de proporcionar conforto às filhas, protegendo- -as e simultaneamente poupando-as do aborrecimento e do desconforto de ter de se deslocar a pé ou em transportes para casa, da escola e vice- -versa. Mais do que isso, o uso de transportes públicos foi mesmo até certa altura proibido, embora Sofia saiba que esta proibição foi ocasio- nalmente transgredida quando já lhes era permitido passar tardes sozi- nhas em casa ou em saídas com amigos. Mais uma vez o tema da con- fiança e da crença emerge como elemento importante na análise das interacções, uma vez que na verdade há evidências do desenvolvimento de estratégias por parte dos filhos para contornar as fronteiras impostas, nomeadamente, mentindo e/ou omitindo. Nem sempre de uma forma grave, indiciando que nesta família, como noutras, as transgressões se re- vestem de diferentes graus de gravidade e portanto são diferencialmente

6Alice (técnica superior, licenciatura, 54 anos, capital) não tem dúvidas de que era

essa a principal causa por detrás de certos comportamentos da filha, Inês, quando os pais lhe davam boleia para as primeiras idas ao café para estar com as amigas: «Foi aí aos tais 13 anos que ela começou a querer andar por cafés. Eu lembro-me que a gente gozava com isso. Ai, fazia uma coisa que era por exemplo, ia levá-la a um café, mas não podíamos deixá-la mesmo em cima do café, mas isso eu também percebi que é da idade. Essas agora da mesma idade que ela fazem exactamente a mesma coisa. Tem de se deixar para aí a 500 metros, fazer de conta que ela vai aparecer sozinha no café.»

toleradas. Diz que «as coisas quando não são graves eu não registo muito, mas agora estava-me a lembrar que Matilde houve uma altura em que gostava de um miudito que morava ali na Avenida da República então apanhava o autocarro e não me dizia. Porque já sabia que eu não ia deixá- -la andar de autocarro e não sei mais quê... [...], ela houve uma altura em que fazia e só depois mais tarde é que eu soube».

Também refere que, pelo menos actualmente, já têm liberdade para fazer esse tipo de combinações (cinemas, tardes com amigos, idas a casa daqueles ou idas daqueles a sua casa). A filha Matilde confirma, aliás, que «não há problema nenhum» – o que se pode interpretar como total ausência de constrangimentos a esse nível e que pode levar lá a casa quem quiser e sair para ir ao cinema com os amigos, embora reconheça não ter muito tempo para o fazer (dadas as várias actividades extra-curriculares.) Mas sempre sob o regime de notificação sobre paradeiro e companhia. Como diz Sofia: «Desde que eu conheça quem são. A partir do momento em que ‘ai, é não sei quem’. Mas quem é não sei quem? Eu preciso de saber, fico um bocadinho preocupada.» O controlo e a vigilância sempre foram apertados.

Só começaram, portanto, a fazer ocasionalmente o percurso entre a escola e casa sozinhas no ensino secundário, e mesmo assim mantive- ram-se os hábitos, segundo diz, de dependência da mãe para assegurar os percursos variados que tinham e têm de percorrer ao longo do dia. Entre a escola e a casa há, com efeito, um intenso movimento entre ac- tividades extracurriculares. Sofia reconhece que tudo fez para as proteger e poupar: «O facto de terem andado no colégio. O facto de andarem sempre... eu vou buscá-las, vou pô-las, não vai apanhar o autocarro por- que depois é escuro, é de noite. Elas andaram na ginástica, na música, então foi a mãe que foi à escola, vai à música, vai à ginástica. Eu chegava a determinada altura em que só me via a entrar e a sair da garagem. An- dava sempre com o objectivo de as proteger, de não as sacrificar a andar de autocarro, estar à espera de autocarro, ou ter que andar a pé, sempre essa situação. Aí, acho que me enganei redondamente porque ainda agora é assim. Ainda agora é um bocado assim. ‘Ó mãe, vens-me buscar aqui’, ‘ó mãe, não sei quê’, ‘ó mãe, mas a que horas é que tu estás porque eu esqueci-me do compasso, vem à escola trazer-me o compasso’.»

Nunca, ao contrário de Nuno por exemplo, as filhas de Sofia reivin- dicaram esse espaço de liberdade, pelo que não foi à custa de grandes con- flitos que este sistema de gestão do quotidiano se manteve (salvo as tais excepções que mais se prendem com episódios ocasionais do que com o regime do dia-a-dia). Recorde-se que a questão do conforto também pesa na forma como alguns jovens perspectivam a (in)dependência dos pais nos vários percursos (e noutras esferas da vida). Ainda assim, a manuten- ção de um tal regime tem sido apenas possível porque a ocupação profis- sional de Sofia, professora do ensino secundário, tem alguma flexibilidade

nos horários, pois de outro modo seria impraticável. Com efeito, consi- dera que, embora sempre tivesse desejado criar filhas autónomas e inde- pendentes, falhou nos seus propósitos, em virtude de ter adoptado uma estratégia de protecção intensiva (explicada em virtude da sua própria ex- periência filial). Reconhece hoje, no entanto, que, privando-as de um es- paço de liberdade como é o da mobilidade nos espaços transversais que medeiam a escola e a casa, por exemplo mas não só, impediu as filhas de exercitarem competências que hoje, no limiar da maioridade, sente que lhes fazem falta nesse e noutros territórios. No caso das candidaturas à universidade, por exemplo: «Depois andávamos com o papel, fomos fazer a candidatura... Fui com ela. Cá está, o meu erro. Mas eu assumo-o. Ela devia ter ido sozinha. ‘Ó mãe, então e agora, o que é que eu faço com o papel?’, ‘ó Matilde desenrasca--te, lê’. Uma miúda já com 18 anos, ‘ó mãe, o que é que eu faço?’.»

Como acima se dizia, parece que há certas competências que só se aprendem (mais ou menos devagar) através da experiência – «tens de sofrer na pele» dirá Filipa (18 anos, estudante do ensino superior, mãe profissio- nal liberal, pai quadro superior) a certa altura –, não sendo suficiente trans- mitir discursivamente a ideia de que essas competências são importantes. Pelo exposto se percebe que, embora o dia ainda não tenha chegado ao fim, já se puderam entrever diferentes lógicas de acção parental e filial no que diz respeito ao duplo processo de conquista de liberdade e desen- volvimento de competências que permitem ao sujeito ser independente num conjunto de acções e tarefas. Com efeito, se uns parecem agir mais orientados para o futuro, mesmo que o presente signifique uma certa dose de sacrifício por parte dos filhos, outros (como Sofia, claramente) agem mais orientados para o presente, sacrificando de certa forma, e não sem um profundo sentimento de ambivalência, a preparação do futuro. No sen- tido, claro está, do desenvolvimento de competências que precisamente dispensem o apoio parental nas respostas que os filhos são, e serão, cons- tantemente desafiados a dar às múltiplas exigências institucionais, cujo grau

de complexidade será, inevitavelmente, crescente.7Ou seja, o que está

7 Os casos que aqui se relatam reportam-se a famílias com um volume de capitais ma-

teriais e culturais ainda assim consideráveis, o que implica que se relativize a lógica de concessão de liberdade por convicção e com uma ausência de um controlo rígido dis- cursivamente afirmada. Caso o exercício de competências que promovem falhe, estarão sempre dispostos (e serão capazes) de intervir, ao passo que a outros faltarão competências para aferir se falhou ou não. Tome-se o exemplo, já referido, do território escolar, em que a concessão de liberdade por omissão e delegação por parte de pais que se sentem in- competentes para apoiar no concreto (o que não quer dizer que o apoio genérico não seja entusiástico) também obriga muitos jovens a desenvencilharem-se sozinhos pelos mean-

dros do sistema, o que pode representar um risco superior de insucesso, dada a falta de um suporte familiar de retaguarda capaz de intervir estrategicamente em certas situações específicas, seguindo uma lógica escolar.

também em causa é o modo como as lógicas de acção parental, que ba- lançam constantemente entre o binómio protecção/emancipação e as condições objectivas da sua existência, pode ou não, mais ou menos cons- cientemente, promover o desenvolvimento de competências (criando as oportunidades para tal) que sirvam de suporte durante o percurso de aber- tura ao mundo e construção de si, dubitativo e hesitante, feito de, como