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CAPÍTULO 3 2005, O ANO EM QUE O GOVERNO QUASE CAIU

3.4 COMO VEJA TENTOU DERRUBAR O GOVERNO

A estratégia discursiva para consolidar o impeachment de Lula foi iniciada por Veja assim que o deputado Roberto Jefferson deu sua bombástica entrevista para a Folha de S. Paulo. Na edição seguinte, de 15 de junho de 2005, a revista aposta que a crise, “no

seu desdobramento mais dramático, pode afundar o governo junto”. O enunciador assume um suposto conhecimento dos meandros da legislação brasileira e mostra que o caminho para derrubar Lula do Planalto é provar que ele tinha conhecimento de todo o esquema denunciado. Eis uma antecipação do que o leitor encontraria nas próximas edições. Sem querer, nosso enunciador revela qual seria o trabalho de Veja a partir de agora. O importante era confirmar que Lula tinha conhecimento das denúncias de Jefferson, não se elas eram verdadeiras.

"A pergunta inevitável é se Lula sabia das traficâncias do tesoureiro do PT. Antes mesmo que se tenha uma resposta sem rodeios a essa pergunta, o simples fato de a dúvida existir já atinge o presidente. Lula começou seu governo sendo comparado ao americano Franklin Roosevelt, presidente que venceu a II Guerra Mundial e tirou seu país da depressão econômica. Terá sorte se sair dele com a avaliação de que, pelo menos, foi diferente de Fernando Collor” (Veja, 15/06/2005).

Com modalização discursiva de que Lula é igual a Collor, iniciada no caso Waldomiro Diniz, o enunciador ressalta que a crise não está apenas no PT. "O Palácio do Planalto ainda pode vir a ser atingido em cheio por ela. Em primeiro lugar, porque Delúbio Soares sempre foi um desenvolto freqüentador do Paládio do Planalto. Não era uma sombra oculta nos desvãos do poder, como seu antecessor PC Farias no governo de Fernando Collor”.

A revista defende a recém criada CPI dos Correios e diz que “felizmente, ao contrário do que muita gente quer fazer crer, as investigações feitas por CPIs produzem bons resultados práticos. Uma delas, fortemente calcada em reportagens de Veja, resultou até mesmo na destituição de um governo corrupto, comandado pelo então presidente Fernando Collor. Veja se une à sociedade brasileira na esperança de que a CPI dos Correios também seja lembrada como uma bem-sucedida faxina ética” (15/06/2005). Este enunciador, posicionado, acredita piamente que a CPI dos Correios pode terminar com o mandato de Lula.

Embora aparentemente seja um grande conhecedor dos bastidores de Brasília, o enunciador não tem qualquer prova contra o PT, além das declarações de Jefferson. Ao mesmo tempo em que fala das andanças de Delúbio no Planalto, não apresenta qualquer fato ou acusação direta que possa incriminar o tesoureiro do PT. Veja não ouve fontes, e,

quando o faz, resume as declarações em poucas frases, encaixadas no enquadre pré- construído da revista.

A reportagem principal de 15 de junho leva o título: “O PT assombra o Planalto”. Era a primeira semana da crise, mas Veja abre a matéria com a imagem da estrela do PT em ruínas fazendo sombra no Palácio do Planalto.

O semanário aposta que as acusações terão desdobramentos e, mesmo se a possibilidade de encurtar o mandato de Lula não der certo, há esperanças de que o governo do PT não dure muito tempo.

"Lula chegou a comentar, em conversas reservadas com interlocutores mais íntimos, que perdera o ânimo para disputar a reeleição e que seu objetivo, agora, teria passado a ser encerrar bem seu mandato e evitar um processo de impeachment. Sim, falou-se na palavra impeachment, uma possibilidade que passou a ser discutida não apenas nas rodas de oposição, mas também no principal gabinete do Palácio do Planalto. Tudo o que Lula dizia querer, na semana passada, era lutar para preservar sua biografia, marcada por uma honestidade de propósitos e pela defesa da ética”. (Veja, 15/06/2005).

Em 16 de junho, após forte pressão da oposição e da imprensa, o ministro José Dirceu, taxado por ambos sem qualquer prova como “mentor do mensalão”, deixa a Casa Civil. No dia 22, mais uma CPI é criada: o Supremo Tribunal Federal determina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que nomeie os senadores para compor a CPI dos Bingos, efetivamente ordenando sua instalação. No dia seguinte, Lula começa uma reforma ministerial. Apesar do furor das reportagens editorializadas de Veja, o

enunciador admite, na edição de 22 de junho, que “até agora, não apareceu uma prova da existência do mensalão”. Veja diz que “Lula mantém-se o homem das massas”, pontuando que os mais esclarecidos já o tinham abandonado. Segundo o enunciador, bem informado e sem citar ao menos a fontes das pesquisas, Lula “recebeu uma boa notícia”: “as primeiras pesquisas de opinião pública feitas depois dos escândalos não afetaram sua popularidade. Lula conserva, por enquanto, o respeito popular que conquistou. Mas o estrago na imagem imaculada está feito. Tem conserto?”, questiona.

Na edição seguinte, de 29 de junho, Veja retoma sua estratégia discursiva do aparelhamento e do estado soviético criado pelo PT no Brasil. O enunciador diz que Delúbio e Silvinho negociavam cargos no governo mesmo sem ter nenhuma função pública e dispara: “na visão petista de mundo, está claro que basta pertencer ao partido para ter direitos sobre o aparelho estatal brasileiro. Eis uma explicação possível para o fato de que, hoje, passados dois anos e meio, o governo petista esteja oscilando entre duas chagas: o aparelhismo, reservado aos próprios petistas, e a pilhagem, autorizada aos aliados, aqueles insaciáveis soldados do ‘exército mercenário’”.

O enunciador diz que Dirceu é o “homem forte do governo no preenchimento dos cargos e no arranjo da base parlamentar”, e que “tem sido acusado de ser mentor e chefe do esquema de compra e venda de deputados”. As suspeitas em torno de Dirceu, segundo a revista, “decorrem de sua participação na divisão de cargos e no recolhimento de apoio político, mas também de sua concepção leninista de poder, na qual o partido está acima do Estado. Lenin, o bolchevique russo, aplicou essa idéia com sucesso, mas isso foi contra uma ditadura de czares, num país feudal e no início do século passado. Há dados emblemáticos dessa concepção no governo petista”, diz, sem citar quais.

O enunciador de Veja parece decepcionado com a oposição que não debate o impeachment, que “no momento, é como sexo: todo mundo pensa a respeito, mas pouca gente fala” (29/06/2005). A publicação justifica sua defesa do impeachment, destacando uma frase de Jefferson: "A corrupção hoje é maior do que na era Collor, porque está concentrada nas mãos do PT". A edição resgata uma foto do jardim do Palácio da Alvorada, com a estrela do PT plantada com flores pela primeira-dama e que havia causado polêmica dois anos antes. O caso é trazido agora e lembra o escândalo do super jardim que Collor fez na residência oficial enquanto era presidente e que contribuiu para seu impeachment.

Aquela altura, o núcleo duro do governo já havia se desmanchado. A queda de Dirceu representava uma vitória não só para a oposição, mas também para os grandes veículos de comunicação, que defendiam a sua saída do governo, entre eles Veja, Folha de S. Paulo, O Globo. Na primeira semana de julho, são afastados da cúpula do partido José Genoíno, Delúbio, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno. No dia 12, Luiz Gushiken é “rebaixado”, já que Secretaria de Comunicações perde o status de ministério.

A edição de 6 de julho veicula uma foto de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de Collor, lembrando semelhanças com o caso atual. Afinal de contas, o enunciador diz que na história dos petistas "já aparecem cifras beirando os 2 bilhões de reais. É uma trajetória fulminante e devastadora, que credencia o atual escândalo a figurar entre os grandes rombos da história recente” (...) "Rivaliza até com o pai de todos os escândalos, aquele que derrubou Collor e enjaulou seu sócio PC Farias, estimado em 2,5 bilhões de reais, em valores de hoje” (13/07/2005). E já rendeu episódios que lembram os "piores momentos da era Collor” (20/07/2005).

A edição de 6 de julho também mostra os petistas desesperados atrás do apoio do PSDB e cita que um dos mais trabalhava para isso era Palocci, que "a essa altura, já dava como provável a vitória dos tucanos na eleição presidencial do próximo ano. E ponderou que, ao PSDB, não interessaria receber ‘um país com cenário de terra arrasada’”.

Apesar da falta de vontade da oposição pedir o impeachment, a revista continua investindo na tese de que, se o presidente tinha conhecimento do esquema, poderia ser derrubado. Como até então não havia prova nem da existência do "mensalão", Veja apela: “A maioria acha que ele sabia”, estampa a manchete de 13 de julho. O enunciador observa que “a crise começa a erodir a imagem do presidente" e que o simples fato do eleitor achar que Lula sabia podia ser motivo para derrubá-lo.

"Uma pesquisa da Ipsos-Opinion mostra que 55% dos brasileiros acreditam que Lula sabia da corrupção no governo” (...) "Se realmente foi informado de tudo e nada fez, o presidente Lula pode se tornar alvo de um processo de impeachment" (...) “É um clichê, mas certamente não maior do que o de políticos sendo corrompidos com malas de dinheiro: assim como se dizia a respeito da mulher de César, não basta a um presidente ser honesto. Ele precisa parecer honesto. E, infelizmente, na percepção da maioria dos brasileiros, Luiz Inácio Lula da Silva já

começa a não parecer tão honesto ou capaz de garantir a honestidade de seu governo. A lama da corrupção, na qual soçobrou o Partido dos Trabalhadores, sujou sua imagem” (Veja, 13/07/2005).

A essa altura, o impeachment de Lula já era discutido por toda a grande imprensa, de forma até mais incisiva que a própria oposição. Veja, entretanto, esteve na vanguarda desta discussão, apostando que uma pesquisa de opinião poderia derrubar o presidente. O enunciador previa que a crise pioraria “diante das denúncias que se avolumam, o que inclui bizarrices como petista sendo preso em aeroporto com dólares na cueca, só um otimista irrecuperável diria que é possível deter a erosão por que passa o governo Lula" (...) “o pior é que fica cada vez mais difícil acreditar que Lula não sabia de nada” (...) “se as CPIs em curso no Congresso comprovarem a existência do mensalão e se for provado que o presidente foi informado de tudo, Lula estará numa situação crítica. A omissão, aqui, pode ensejar a abertura de um processo de impeachment” (13/07/2005).

Incrível o pessimismo irrecuperável do enunciador em sua avaliação dos impactos da crise para o governo. Como se conversasse sobre política com um amigo num boteco, permite-se opinar sem qualquer receio, afastando-se por completo de qualquer objetividade jornalística. A autoconfiança em sua análise, entretanto, não é tão grande como parece, já que o enunciador não arrisca fazer qualquer comentário que não seja na condicional. A palavra impeachment, entretanto, aparece várias vezes nos textos e com destaque nos títulos e até nas legendas:

Evaristo Sá/AFP

ABRE O OLHO, PRESIDENTE

Se realmente foi informado de tudo e nada fez, o presidente Lula pode se tornar alvo de um processo de impeachment

Mais de um mês já havia se passado desde que Jefferson deu a famosa entrevista para a Folha. Sem qualquer prova de que Lula tinha conhecimento das denúncias, o que fundamentaria o pedido de impeachment, segundo Veja, o enunciador resigna-se com a possibilidade de se "articular uma saída honrosa para (o petista) desistir da reeleição. O caminho seria aprovar com o apoio dos tucanos uma emenda constitucional eliminando essa alternativa" (13/07/2005). Na mesma edição, a revista publica um quadro chamado “A Roda da Fortuna”, com uma foto de Marcos Valério e a estrela do PT ao fundo simbolizando a evolução patrimonial do empresário. O enunciador quer mostrar que Valério enriqueceu graças ao PT.

Durante a semana, a mídia explora o escândalo e novas denúncias aparecem a cada dia. Nenhuma que confirmasse a ligação de Lula ao suposto esquema do "mensalão". Neste entremeio, as apurações de Veja avançam e, na edição de 20 de julho, a revista dá todo o subsídio que acredita ser necessário para que a oposição finalmente entre com o pedido de impeachment. A reportagem estampada na capa daquela semana era, segundo o enunciador, "a mais completa e exaustiva tentativa jornalística feita até agora com o objetivo de desvendar quanto Lula sabia sobre desmandos éticos que ocorriam a sua volta. Saber de um crime e nada fazer para coibi-lo e punir os culpados é condição juridicamente suficiente para a abertura de um processo de impedimento de um

presidente". Em outras palavras, o enunciador diz: "minha parte está feita, agora é com vocês no Congresso".

A revista cita até como Lula pode ser enquadrado: "crime de responsabilidade, previsto nos artigos 84 e 85 da Constituição e, também, na Lei nº 1079, editada em 1950, conhecida como Lei do Impeachment. Pela lei, o presidente, se soube do mensalão, tinha de ter mandado apurar".

A reportagem deixa claro que não existem ainda provas irrefutáveis de que Lula sabia – apenas "fortes evidências". Embora ele também queira o impeachment do petista, o enunciador parece compreender que "um presidente só é submetido a processo de impeachment por falta total de apoio político" e que este "não é o caso de Lula". O problema, destaca, é que "os adversários conspiram para que o governo do PT se arraste até o fim experimentando não um desfecho catastrófico mas a morte lenta das árvores” (20/07/2005). Segundo o dicionário Aurélio, conspiração quer dizer golpe, trama. Quando o enunciador diz que os adversários conspiram para manter Lula na presidência, evidencia que, para ele, golpe é o PT continuar no Planalto. A imagem de abertura da reportagem resume como a revista descreve a importância que o presidente deu ao ser informado do “mensalão”:

Outra foto, na mesma edição, retrata a saída de Genoíno da presidência do PT. A imagem flagrada mostra como a revista tem mostrado os petistas na sua cobertura: um bando de ladrões, que deveriam estar atrás das grades.

Na edição de 20 de julho, Veja diz que "tucanos, antes como agora, preferem que Lula permaneça no cargo e conclua seu mandato de forma melancólica, cedendo a cadeira para algum tucano eleito nas urnas. Eles querem evitar um desfecho radical para a crise pois isso faria do presidente uma vítima, um mártir. Preferem vê-lo purgar nas urnas os pecados que deixou grassar em seu governo”.

Uma semana depois, o enunciador lamenta a falta de colaboração da oposição:

"Apesar da notável piora da situação geral na semana passada, a oposição não parece motivada para promover o impeachment de Lula" (....) "a crise, na semana passada, subiu definitivamente a rampa do Planalto" (...) e "em meio a pacotes de dinheiro e carrões de luxo, o PT vai produzindo seu crepúsculo moral" (27/07/2005)

Na matéria sob o título “Tempos sombrios”, o enunciador procura compreender o que falta para o impeachment de Lula, com o seguinte quadro, comparando o presidente a Collor e ao americano Richard Nixon, dois depostos:

Para o impeachment de Lula, Veja diz que ainda falta motivação jurídica, perda de apoio político e pressão popular para o impeachment. Mas o quadro alerta que essa situação “pode mudar se comprovada a existência do mensalão, os parlamentares envolvidos nas investigações no Congresso concluírem que Lula foi conivente com a prática ou que tinha conhecimento dela e nada fez para impedi-la” ou ainda “se comprovado que o presidente Lula se beneficiou pessoalmente do esquema”. Note que o enunciador fala no primeiro item em comprovar a existência do “mensalão”. Ou seja, dois meses de puro bombardeio e a revista admite que o cerne do escândalo ainda não foi comprovado. Mesmo assim, os tempos são “sombrios”,

segundo o título da matéria ilustrada com a foto ao lado.

Outra matéria, na mesma edição de 27 de julho, diz no título que “Está na cara”, e no olho o enunciador decreta: “Não é preciso nem mais ouvir o que dizem; basta olhar para concluir: mentirosos seriais submetem o país a um festival de indignidades”

DÁ PARA ACREDITAR? - Valério da testa franzida, Delúbio pisca-pisca e Silvio mão-na-boca: sinais exteriores de mentira são a manifestação não-verbal do que todo mundo já suspeitava

No dia 28 de julho, o presidente regional do PSDB de Minas Gerais, Narcio Rodrigues, admite a existência de um esquema "paralelo" de financiamento de

campanha na eleição estadual de 1998, em que Eduardo Azeredo, então presidente nacional do PSDB, e aliados foram beneficiados pelo valerioduto. Veja não dá destaque ao tema, apenas relata, ressaltando “que o comando do partido não participou do esquema”, conforme Narcio Rodrigues. Como se vê, o furor investigativo do enunciador e seu ódio por corruptos são apenas contra o PT. Talvez por preconceito de classe ou origem, conforme já demonstrou várias vezes, como na foto de Lula especialmente selecionada para a edição de 10 de agosto. Na matéria “As cores da crise”, em que defende o impeachment, a foto principal, em que Lula está com chapéu de cangaceiro e dando adeus, sinaliza o desejo da revista: volte para o seu lugar, Lula.

Na mesma edição, a reportagem “Dirceu, o ex-mestre dos disfarces” também tem uma foto reveladora, sobre como Veja vê o ex-ministro:

Ao final do mês de julho, o enunciador já concluíra que Lula era pior que Collor. Com esta tese provada em suas páginas, na semana de 10 de agosto de 2005, Veja estampa na capa a maior comparação entre Lula e Collor já feita pela revista:

O editorial de 10 de agosto pergunta: “afinal de contas, para que serve o presidente da República?”. Para o enunciador de Veja é para é “governar”, “contudo, não tem sido a principal preocupação do presidente Lula, desde que estouraram os escândalos de corrupção que destroçaram seu partido, enxovalharam seus colaboradores íntimos e mergulharam a nação em estupor jamais experimentado”. A reeleição é “aparentemente seu mais acalentado propósito, o governo vai entrando em paralisia”. O enunciador diz que “o ritmo da crise provocada pela exposição da mais espantosa e abrangente máquina de corrupção já montada no país é de tirar o fôlego".

Passaram-se mais de dois meses desde o início da modalização discursiva de Veja sobre o impeachment do presidente. Sua densa cobertura sobre o assunto, com cadernos especiais, capas e editoriais em todas as edições desde as denúncias de Jefferson, já fixara a idéia do impedimento de Lula em suas páginas internas. Restava agora dar o último passo e levar a estratégia para a capa. A revista aposta que o momento é com a edição de 17 de agosto:

Quem passasse aquela semana por uma banca de revista, de longe, só avistava a palavra impeachment em letras garrafais e destacadas em amarelo sobre a imagem de um presidente desanimado. Além da capa, a temida palavra é usada no editorial e em várias matérias, sempre com destaque.

Naquela semana, o marqueteiro do PT, Duda Mendonça, foi ao Congresso e admitiu ter recebido dinheiro de caixa 2 do partido em contas abertas em paraísos fiscais, na campanha que elegeu Lula em 2002. O depoimento espontâneo do publicitário à CPI dos Correios piorou consideravelmente a situação do Planalto e levou o governo federal ao auge da crise.

Com o fracasso na tese de que a simples comprovação do conhecimento do presidente sobre o "mensalão" resultaria no impeachment, o depoimento de Duda passa ser uma alternativa real para fundamentar a queda de Lula. Este é o caminho e o enunciador de Veja, que tem o saber, aponta com clareza para a oposição:

“O publicitário Duda Mendonça foi peça decisiva para eleger o presidente Lula e, desde quinta-feira passada, virou peça decisiva para torná-lo um ex-presidente” (...) “Depois do seu depoimento, os principais atores políticos da crise começaram a perder o pudor, pela primeira vez, de falar na palavra mais sensível do momento – impeachment, essa expressão criada na monarquia inglesa do século XIV e que há 200 anos se transformou no que é ainda hoje: o mais radical instrumento democrático para apurar a responsabilidade de um presidente e puni-lo” (...) "Depois do depoimento de Duda Mendonça, o cenário mudou. Lula ficou ainda menor. O impeachment cresceu" (17/08/2005).

O enunciador diz que a imagem de Lula “está gradualmente se dissolvendo – e, com ela, outros desmontes vão se sucedendo. O PT está em pleno processo de implosão e numa velocidade tamanha que desorienta até seus dirigentes mais bem-intencionados. O próprio governo do presidente Lula está se desmontando em praça pública, sendo carregado pela crise. Sua base aliada também está igualmente destroçada, depois das evidências irretorquíveis de que funcionava movida a mensalões”. (...) "Os apetites