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CAPÍTULO 4 MAIS ESCÂNDALOS EM 2006, É O ANO DA REELEIÇÃO

4.4 LULA, O CHEFE DA QUADRILHA

Na edição da semana seguinte, de 19 de abril, Lula vai para a capa de Veja, acusado pela própria revista de comandar os quarenta ladrões envolvidos no caso do “mensalão”. A matéria é baseada pela ação movida pelo Ministério Público Federal sobre o escândalo. Embora o nome de Lula não seja citado uma única vez na denúncia, o enunciador de Veja acompanhou de perto todos os passos do “mensalão” e, por isso, pode dizer que Lula é o “sujeito oculto” por trás do esquema. Nem as apurações do

Ministério Público chegaram a essa conclusão, mas o enunciador do semanário parece conhecer mais o caso que a própria Justiça para fazer suas afirmações, baseadas exclusivamente em sua opinião.

No próprio olho da matéria, Veja reconhece que “o nome de Lula não aparece no texto da devastadora denúncia do procurador-geral, mas as peças do esquema, juntas, formam a imagem do maior beneficiário de tudo: o presidente”. Na legenda da foto principal, o enunciador diz que “Lula pode escolher que figurino quer vestir: o de presidente inepto ou o de patrono da quadrilha”.

“Antes a questão era: sabia e é conivente ou não sabia e é um presidente apalermado, vagando em um palácio em que seus íntimos planejam as mais criativas formas de assalto ao dinheiro do povo. Depois da arrasadora denúncia da quadrilha petista feita por Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República, Luiz Inácio Lula da Silva ficou na incômoda situação de explicar como se pôde armar ao seu redor uma quadrilha tão numerosa e organizada. É devastador para um presidente que não pode subir em um tijolo sem proclamar que seu governo é autor de alguma façanha sem igual na história da humanidade. Ora é ‘o maior programa social do mundo’, ora é ‘a melhor política externa que o Brasil já teve’ (...) Bem, se pode reclamar um recorde, o governo Lula talvez devesse ler com cuidado o texto da denúncia oferecida por Antonio Fernando de Souza. Ali estão descritos em detalhes e com precisão jurídica os mecanismos de funcionamento do que talvez seja – com exceção da nomenklatura soviética – a maior quadrilha jamais montada com o objetivo de garantir a continuidade no poder de um mesmo grupo político, o PT de Lula. A hierarquia da quadrilha descrita pelo promotor tem como chefe José Dirceu, deputado cassado por corrupção que foi ministro-chefe da Casa Civil de Lula. Abaixo dele estão quase todos os ‘companheiros de luta’ de Lula, gente com quem ele conviveu intimamente por quase três décadas (...) O procurador-geral deixou vago no organograma da quadrilha o posto logo acima de José Dirceu. Mas o quebra-cabeça não é de difícil solução. Basta montar as peças e aparece o mais provável ocupante daquele posto. É isso que aponta a lógica mais comezinha. É isso que aponta o bom senso. Basta tentar montar com as peças do quebra-cabeça uma outra imagem que não a de Lula. Não encaixa” (Veja, 19/04/2006).

Se Veja tivesse um jornalismo investigativo de qualidade, o enunciador não precisaria apelar para o “bom senso” ou a “lógica mais comezinha” para apontar Lula como culpado. Jornalismo não é feito de lógica, mas sim de fatos. Lógicas são canhestras e podem provar qualquer coisa.

Mas o enunciador de Veja não tem dúvidas. Não há meio termo, assim como não há um petista que se salve. Outra matéria na mesma edição chama-se “Todos os homens do presidente”, em que aponta os quarenta envolvidos na denúncia do Ministério Público. O título da matéria é o mesmo de um famoso filme que mostra como os jornalistas conseguiram derrubar o presidente americano, Richard Nixon, novamente explorando a estratégia de mostrar as semelhanças de um caso atual com o Watergate. O olho da matéria diz que “são 40 os ladrões de dinheiro público encastelados no governo do PT e denunciados pelo procurador-geral. Isso deixa Lula em uma situação pior que a de Collor”. Outro presidente deposto. É esse o objetivo de Veja, dar a Lula o mesmo fim de Nixon e Collor.

“Em seus dezoito anos de história, o Ministério Público Federal jamais produzira um libelo tão demolidor quanto o divulgado na semana passada. São 136 páginas devastadoras para o Partido dos Trabalhadores e para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com uma linguagem clara e direta, o documento acusa a cúpula do PT de formar uma ‘sofisticada organização criminosa’, que se especializou em ‘desviar dinheiro público e comprar apoio político’, com o objetivo de ‘garantir a continuidade do projeto de poder’ do PT – e denuncia quarenta pessoas, num número que não é mais simbólico” (Veja, 19/04/2006).

O simbolismo que a revista quer fazer alusão é aos 40 ladrões que acompanhavam o lendário Ali Babá. O enunciador faz um simulacro de retomada da história ao afirmar ser o maior libelo do Ministério Público. Parece que ele conhece todas as ações promovidas pelo órgão em seus dezoito anos de história. O enunciador também se deliciou com a frase do procurador, que chamou os envolvidos de “sofisticada organização criminosa”. A partir de agora, 19 de abril, até as eleições de outubro, o enunciador vai repetir esta expressão em todas as edições. Nesta primeira, ele reconhece que “é cedo para avaliar o impacto que uma denúncia desse porte poderá ter, e sobretudo seus desdobramentos na esfera jurídica e na política, mas já está claro que, pela primeira vez na história do país, um órgão de investigação independente flagrou um esquema de corrupção de proporções amazônicas encastelado no coração do Estado – um cenário aterrador diante do qual as traficâncias de Fernando Collor e seu tesoureiro PC Farias parecem trapalhadas de principiantes”. Para Veja, agora, Lula nem se compara a Collor, um ladrãozinho pé de chinelo perto da máfia petista.

O enunciador diz que o partido já morreu e o documento do MP “serve como uma necropsia do PT, mas também é arrasador para o presidente Lula, ainda que seu nome não seja mencionado no texto”.

“Em primeiro lugar, porque derruba a alegação de que todas as acusações não passam de jogo eleitoral e intriga da oposição – ou, segundo os devaneios mais lisérgicos, de complô da mídia e conspiração das elites (...) Em segundo lugar, e mais importante, porque a peça do MP afirma que a ‘organização criminosa’ funcionava com o objetivo de sustentar o projeto de poder do PT – e é evidente que o beneficiário era o presidente. O novo quadro desmonta a principal defesa de Lula, que sempre disse desconhecer todas as ações ilegais e clandestinas em torno do mensalão. A tese de que não sabia de nada é juridicamente boa porque livra o presidente da acusação de impeachment, mas agora ela se tornou politicamente devastadora e logicamente insustentável. Compromete a própria capacidade de Lula de governar. Compromete sua autoridade, nem digamos moral, que essa já se exauriu, mas sua autoridade administrativa” (Veja, 19/04/2006).

Como se vê, o enunciador de Veja deixa claro que Lula não tem a menor condição de ficar no cargo. Diz que “diante do efeito demolidor da denúncia sobre Lula, a oposição voltou a falar em impeachment, mas a tendência é que tudo não passe de fogo de palha”. Afinal de contas, por pior crise que o governo passe, a oposição não pede o impeachment e isso já está tirando a paciência do enunciador.

“No Congresso Nacional, casa em que se materializam as tensões políticas do país, percebe-se que a oposição quer levantar a discussão sobre o impeachment, mas não tem intenção de colocá-lo em prática. Os líderes oposicionistas preferem que Lula fique no cargo, embora sangrando e desmoralizado, a promover um delicado processo de impeachment contra um presidente que, apesar de tudo, reúne sólido apoio popular – mais de 40%, conforme as últimas pesquisas eleitorais. Mas, se existe leniência da oposição, que submete os interesses da nação às suas conveniências políticas, o escândalo do mensalão mostrou um dado a comemorar: existem instituições em pé no país – e, nesse cenário, o Ministério Público Federal ocupa lugar de destaque. Como a denúncia é demolidora e o caso é imenso, envolvendo dezenas de acusados apenas neste primeiro momento, talvez o Supremo Tribunal Federal possa tomar algumas providências banais para evitar que mais um caso de corrupção seja tragado pela morosidade da Justiça. O caso do mensalão já passou pelo teste do Congresso, com a CPI produzindo um belo resultado. Passou pelo Ministério Público, com uma denúncia exemplar. Chegou a vez da Justiça” (Veja, 19/04/2006).

Novamente, na mesma edição, o enunciador de Veja continua na estratégia de desqualificação moral de Márcio Thomaz Basto, com a matéria “O ministro-advogado”. Outra matéria diz no título que “é impossível que o presidente não soubesse”. A chamada foi retirada de uma frase do jurista Miguel Reale Júnior, que em entrevista à Veja “diz que Lula foi o grande beneficiário do mensalão e que reelegê-lo significa chancelar a onipotência e a impunidade”. Não por acaso, a fonte foi especialmente escolhida para dar tal entrevista, já que Reale foi ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso. Talvez, se Veja ouvisse um ministro do governo Lula, obtivesse declaração parecida a respeito dos tucanos. O enunciador entrevista Reale no formato ping-pong, com perguntas e respostas. De cara, Veja questiona: “O que impede que se peça o impeachment?”. Para Reale, não basta que se tenha o elemento jurídico. “É necessário que a proposta tenha viabilidade no Congresso e encontre receptividade junto à sociedade. Hoje, não se tem nenhum desses elementos”.

Na edição seguinte, de 26 de abril, Veja veicula a matéria “Líder no fio da navalha”, em que diz no olho que “Lula volta a lidar com a ameaça de um impeachment, mas é só farol da oposição”. O enunciador não entende como essa oposição pode deixar que Lula permaneça no cargo.

“Depois que a devastadora denúncia do Ministério Público Federal apontou a existência de uma ‘organização criminosa que tinha como objetivo garantir a continuidade do projeto de poder do PT’, as fileiras da oposição voltaram a falar em impeachment do presidente Lula – mas o tom é tão irresoluto e a estratégia é tão mambembe que tudo parece mais teatro que realidade. Ao contrário de Fernando Collor, que tinha apenas 9% de apoio popular no auge do escândalo que lhe ceifou o cargo, Lula mantém-se com bom índice de popularidade. Seu pior momento ocorreu em dezembro do ano passado, quando ela caiu para 28%. Na última pesquisa do instituto Datafolha, ele já se mostrava recuperado, com 37% de apoio. Lula está blindado por sua boa popularidade, mas o improviso da oposição também tem ajudado o presidente (...) O improviso da oposição tem sido evidente até no tratamento da candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin, que tem 20% das intenções de voto, a metade de Lula (...) Recentemente, um dirigente tucano conversou longamente com Alckmin e deu orientações objetivas. Disse que ele precisa anunciar que não mexerá nos programas sociais do governo federal, principal alavanca de apoio de Lula. O dirigente mostrou ao candidato uma pesquisa do instituto Ipsos na qual sete programas de cunho social de Lula têm mais de 50% de aprovação. Até o Fome Zero, que é apenas uma marca, é considerado bom ou ótimo por 51% dos entrevistados” (Veja, 29/04/2006)

Na edição da semana seguinte, 3 de maio, Veja aposta que a saída para tirar Lula do poder é pelo STF, embora a tramitação de processos como esse na Justiça seja lenta. A sugestão do enunciador para acabar com a morosidade histórica do judiciário brasileiro é simplista, quase infantil, e foi resumida no título da reportagem: “É a copiadora, ministros!”. No olho, nosso engenhoso enunciador diz que “Uma trivialíssima máquina pode reduzir à metade o tempo de tramitação do caso do bando dos 40 no STF”. Segundo a publicação, antes de receber ou rejeitar a denúncia, o tribunal precisa ouvir a defesa prévia dos acusados. Nessa etapa, cada um dos 40 denunciados tem o direito de pedir vistas do inquérito criminal, por até quinze dias, para preparar sua defesa.

“Somente aí, portanto, serão consumidos 600 dias – ou um ano e sete meses. Com alguma boa vontade, e sem nenhum prejuízo à defesa dos acusados, essa fase poderia ser reduzida para cerca de três semanas. Bastaria usar uma simples máquina fotocopiadora. Em vez de esperar que cada denunciado passe quinze dias com o inquérito, o STF poderia mandar fazer 40 cópias autenticadas do documento, que possui 5.000 páginas. Seriam, portanto, 200.000 folhas. Como uma máquina de ponta é capaz de copiar até 100 páginas por minuto, um contínuo levaria 33 horas para fazer o trabalho. Com a papelada pronta, e devidamente autenticada, bastaria distribuir uma cópia para cada um dos 40 denunciados. Assim, apenas com essa medida simplória, o prazo de tramitação do processo seria reduzido à metade” (Veja, 03/05/2006).

Em outra matéria, na mesma edição de 3 de maio, Veja procura mostrar que o PT vai repetir a mesma estratégia eleitoral para vencer o pleito de 2006 e que, por isso, o “mensalão” vai se repetir. A matéria leva o título de “A tecla replay do mensalão”. No olho, o enunciador diz que na corrida reeleitoral, “o PT aprova a mesma política de alianças que levou à criação do valerioduto” e pergunta: “Ser petista é crer no dom infinito de enganar?”. Como Lula continuava bem avaliado pelas pesquisas e com grandes chances de se reeleger, o enunciador deixa claro sua posição de que o petista não passa de um enganador. E aposta que essa enganação um dia irá acabar.

Na reportagem, Veja trata do 13º encontro nacional do Partido dos Trabalhadores, que, segundo o enunciador, terminou com “duas medidas constrangedoras”. A primeira é que os participantes decidiram que o partido não investigaria naquele ano eleitoral o escândalo do “mensalão”. Natural para quem vai disputar uma eleição com praticamente toda a grande imprensa noticiando os piores aspectos do PT. Mas, para o enunciador de Veja, a decisão não passa de um “exemplo eloqüente de que o desmanche ético da legenda está subordinado às conveniências do calendário eleitoral”. A segunda decisão

“de estarrecer” refere-se à política de alianças do PT para a eleição presidencial. A convenção decidiu autorizar o partido a fazer alianças com todas as outras legendas que não fossem os adversários PSDB e PFL. Para o enunciador, “isso significa que o PT está disposto a aliar-se com as mesmas legendas do mensalão (...) E, como esse pessoal não é de fazer alianças com base em idéias ou programas, pode-se desconfiar que uma reprise do famigerado mensalão esteja discretamente em gestação”.

Abandonando as regras do jornalismo, o enunciador sugere, sem qualquer base, que o partido de Lula estaria criando um novo “mensalão” para se reeleger. Na verdade, a convenção do PT decidiu fazer alianças com qualquer partido que esteja disposto a conversar, exceto PSDB e PFL, que são oponentes históricos da legenda e os únicos que, juntos, poderiam ganhar de Lula nas eleições presidenciais. Da forma como o enunciador escreve, parece que apenas os tucanos e os pefelistas têm condições morais de governar o país, já que com qualquer outro partido a aliança seria espúria.

“Com uma política de alianças que prestigia os mensaleiros e uma militância que se recusa a fazer investigações sérias sobre o mensalão, o PT deixa cair sua última máscara ética – a primeira foi a máscara que sugeria interesse na ‘refundação’ da legenda. Com as decisões do encontro nacional, fica evidente que o PT não tem intenção de purgar os pecados do mensalão nem pretende restabelecer nenhum critério que não o eleitoral para as alianças partidárias. O motor dessa atitude, que mistura eleitorarismo com degeneração ética, é obviamente o projeto de poder – e, nisso, as pesquisas eleitorais são o trunfo petista do momento. Lula segue muito à frente de seu adversário mais próximo, o ex-governador Geraldo Alckmin, em quase todo o país. Na semana passada, uma pesquisa realizada pelo Ibope mostrou que, até no estado de São Paulo, a vantagem de Alckmin sobre Lula, que era de 18 pontos há um mês, agora está reduzida a 9 pontos porcentuais. Julgando que a vitória já está assegurada, o PT entende que não deve satisfações de nada – e, nesse contexto, dá a entender que um mensalão a mais ou a menos não faz lá grande diferença” (Veja, 03/05/2006).

Naquele período, a Câmara dos Deputados ainda julgava os últimos parlamentares acusados de envolvimento no esquema do “mensalão”. Um a um era absolvido e Veja criticava com veemência o que considerava “o primado absoluto da impunidade” (10/05/2006). A cobertura de Veja também tenta mostrar que os desmandos éticos do PT são generalizados e veicula denuncias contra petistas que disputam as eleições para os governos estaduais. Um deles, Marcelo Déda, candidato à reeleição no Sergipe, foi tema de uma matéria chamada “a micareta picareta”, em que o enunciador conta que ele

“desviou dinheiro público para animar sua campanha a governador”. A maioria das capitais brasileiras havia instituído um carnaval temporão, chamado de micareta. Para Veja, “Aracaju é um caso à parte”, pois teve duas micaretas no ano, “ambas financiadas com recursos públicos”. O carnaval sergipano fora de época é conhecido como Pré- Caju, que o enunciador ironiza chamando de “PTcaju”.

“A prefeitura não deixa dúvida sobre as intenções eleitorais do PT: Déda promoveu os espetáculos para divulgar explicitamente suas obras antes de deixar o cargo. A micareta eleitoral consumiu 700.000 reais da prefeitura. A contabilidade do município registra que esses recursos foram gastos com o pagamento do cachê dos artistas. Há sinais, no entanto, de que parte do dinheiro pode ter sido desviada. As suspeitas se fundam no fato de que os artistas receberam muito menos do que mostram os registros financeiros da prefeitura” (Veja, 10/05/2006)

Questionado pelo Tribunal de Contas, Marcelo Déda explicou que a diferença entre os valores pagos aos artistas e os registrados na contabilidade oficial pode ser explicada por outros custos dos shows, como palco, som e iluminação. Para Veja, embora o caso estivesse sendo investigado ainda, Déda já era culpado, mesmo sem qualquer prova além do material investigado pela Justiça.

“Com essas estripulias, Marcelo Déda consolidou seu favoritismo para o governo do estado. Ele é líder isolado nas pesquisas eleitorais. Se o pleito fosse hoje, o petista ganharia já no primeiro turno. A legislação eleitoral ajuda Déda a se livrar de problemas mesmo que o Tribunal de Contas confirme suas suspeitas. Ele só se torna inelegível se o tribunal rejeitar suas contas, mas essa análise só será feita em 2007. Também é difícil que Déda seja punido pela lei eleitoral, porque, oficialmente, ainda não é candidato a nada. Só agora começa a fazer sentido o slogan da gestão petista na capital sergipana: ‘Aracaju: deu certo para todos’. No caso, para todos os companheiros de Deda” (Veja, 10/05/2006).

Embora o próprio enunciador tenha reconhecido se tratar apenas de suspeitas, a matéria e, principalmente o título e olho, já julgaram o petista como culpado. O enunciador está tão cansado com os desmandos do PT, que agora ele passa a ser irônico em todas as matérias. E desrespeitoso, como a capa da edição de 10 de maio, em que veicula o presidente Lula com a marca de um pé no traseiro, por conta da nacionalização do gás boliviano. Na matéria principal, “Os líderes e o liderado”, o enunciador destaca no olho que a “nacionalização do gás boliviano mostra que Chávez é o líder da América Latina. E Lula? Ele não conseguiu entender sequer quais são os interesses brasileiros no caso”. Para o enunciador, Lula, que sempre auto-elogiou sua

política externa, não passa de um subalterno e não tem condições intelectuais nem para entender o que o interessa ao Brasil.

“O Brasil levou um chute no traseiro dado por Hugo Chávez e seu fantoche boliviano, Evo Morales. Antes, foram ambos a Cuba pedir a bênção do patriarca Fidel Castro para o que planejavam fazer. Nenhum desses companheiros se deu à delicadeza de avisar o ocupante do Palácio do Planalto, que se julgava um líder regional com estofo até para ser líder mundial. Pobre Lula. Foi o último a saber que o presidente Morales iria se apossar de propriedades brasileiras na Bolívia e colocar em risco o abastecimento nacional de gás natural. A reação do presidente Lula foi ainda mais constrangedora: engoliu o desaforo e ainda se solidarizou com o agressor, a Bolívia” (Veja, 10/05/2006)

O enunciador maquia a realidade, pois Lula reagiu diplomaticamente da forma como podia. Além disso, a única opção seria invadir a Bolívia e retaliá-la à bala por ter