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Condições de habitação na cidade No âmbito das operações censitárias realizadas, decenalmente, pelo Instituto nacional de Estatística 

4 Modelo de análise e opções metodológicas

5.1 Condições do quadro de vida de proximidade

5.1.1.2 Condições de habitação na cidade No âmbito das operações censitárias realizadas, decenalmente, pelo Instituto nacional de Estatística 

é recolhida informação abundante sobre as características do parque edificado, com base na qual é  possível traçar um retrato das condições habitacionais em que vivem os residentes no Porto77. Os  indicadores seleccionados para a breve caracterização que seguidamente é apresentada reportam‐ se ao subconjunto dos alojamentos familiares ocupados como residência habitual78, que, de acordo  com  os  censos  de  2001,  representavam  aproximadamente  77  %  dos  126  mil  fogos  existentes.  Na  mesma  altura,  o  total  de  edifícios  atingia  os  47  000,  dos  quais,  97%  detinham  exclusivamente  ou  principalmente uma função residencial. 

Dotação em infra-estruturas básicas

A  partir  da  informação  recolhida  através  dos  censos,  é  possível  avaliar  o  nível  de  dotação  dos  alojamentos  relativamente  a  um  conjunto  de  equipamentos  essenciais,  como  electricidade,  instalações  sanitárias,  água  canalizada,  banho  ou  duche.  No  caso  do  Porto,  a  expressão  dos  alojamentos  que  não  dispunham  de,  pelo  menos  uma  destas  infra‐estruturas,  atingia  os  7%,  percentagem ainda significativa se se atender ao facto de se estar a considerar um nível de dotação  básico.  Em  termos  comparativos,  este  valor  traduz,  contudo,  um  panorama  mais  favorável  ao  observado  ao  nível  do  Continente  mas  que  fica  aquém  do  nível  de  infra‐estruturação  que  se  verifica na cidade de Lisboa (Gráfico 5.1). A carência mais frequente ao nível do centro urbano do  Porto diz respeito às instalações de banho. 

À  data  deste  último  recenseamento  o  peso  dos  alojamentos  não  clássicos  (barracas,  estruturas  móveis,  alojamentos  improvisados,  etc.)  na  cidade  do  Porto  não  atingia  sequer  1%  dos  fogos  familiares, pelo que a interpretação destes valores numéricos não poderá ser encontrada neste tipo  de alojamentos precários. Mais importante para explicar o facto de se manter este nível de carência  infra‐estrutural  é  certamente  o  grau  de envelhecimento  do  próprio  parque,  o  qual  se  em  vindo  a  conjugar  com  níveis  de  investimento  na  recuperação  e  reabilitação  do  edificado  baixos  (CMP,  2006). Em 2001, quase 50% dos edifícios existentes no Porto tinham sido construídos antes de 1945  e, aproximadamente, 20% antes de 1919. 

 

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Lamentavelmente esta análise deixa de lado o fenómeno dos sem-abrigo que, naturalmente, interessaria dimensionar já que corresponde a uma realidade extrema de falta de condições no plano habitacional. A informação estatística sobre esta problemática permanece escassa, apesar de ser muito evidente a sua manifestação na cidade. Em 2000/2001 no âmbito de um levantamento conduzido pela Fundação Porto Social foi possível identificar cerca de 500 pessoas nesta situação, embora se admita que este possa não ter sido um levantamento exaustivo.

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Para este tipo de análise não foram considerados alojamentos de tipo colectivo, os alojamentos de uso sazonal e aqueles que se encontravam vagos, à data.

Gráfico 5.1 Proporção de alojamentos sem infra-estruturas básicas (2001) 7.4 5.0 9.1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Porto Lisboa Continente [%]

Nota: Foram consideradas as seguintes infra-estruturas básicas: electricidade, retrete, água canalizada no interior do alojamento e instalações de banho ou duche.

 

Fonte: INE, Censos 2001

Espaço disponível

O  espaço disponível ao  nível  do alojamento,  como  atrás  foi  já  referido, influencia  directamente  o  bem‐estar  das  pessoas.  Tal  como  se  pode  ler  num  relatório  recente  da  Organização  Mundial  de  Saúde,“(...)  a  dwelling  is  defined  as  a  holding  space,  a  physical  and  psychological  envelope  within  which  intimacy will appear and develop and where each and every individual will find an opportunity to be himself  or  herself”  (WHO,  2004c,  p.  3).  No  contexto  de  sociedades  mais  desenvolvidas,  como  a  europeia,  tende  a  considerar‐se  que  cada  indivíduo  deva  ter  o  seu  próprio  quarto  e  que  este  apresente  a  dimensão adequada, cerca de 20 m2 (Domanski et al., 2006). 

Os  dados  censitários,  apesar  de  não  fornecerem  elementos  quantificados  sobre  a  área  dos  fogos,  permitem,  contudo,  quantificar  a  relação  entre  o  número  de  pessoas  residentes  e  o  número  de  divisões79 das casas, dando assim uma ideia sobre o espaço privado que cada um dos membros do  agregado familiar poderá dispor. O resultado referente a esta relação no caso do Porto, na ordem  de 1,6 (Gráfico 5.2) é idêntico ao valor de referência nacional e ligeiramente inferior ao verificado  no caso de Lisboa, traduzindo uma situação razoável, em termos médios80. 

79 A divisão corresponde ao espaço num alojamento/fogo, delimitado por paredes tendo, pelo menos 4 m2 por 2 m de altura, na sua maior parte. Embora possam satisfazer as condições da definição, não são consideradas como tal os corredores, varandas, marquises, casas de banho, despensas, vestíbulos e as cozinha, se tiverem menos de 4m2 (Conceito INE).

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De acordo com dados constantes num relatório da Função Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e do Trabalho, Portugal ocupa, relativamente a este indicador, uma posição intermédia no contexto europeu, território onde os

Gráfico 5.2 Número médio de divisões por pessoa (2001) 1.6 1.7 1.6 0 1 2 Porto Lisboa Continente [nº/pessoa]    

Fonte: INE, Censos 2001

Condições de conforto

O  espaço  disponível,  detendo  uma  importância  óbvia,  tende  a  ser  mais  ou  menos  valorizado  consoante o nível de equipamento e as amenidades presentes na casa. Entre os equipamentos que  mais  directamente  condicionam  as  condições  de  conforto  habitacionais  contam‐se  os  sistema  de  aquecimento, que devendo ser adequados ao tipo de alojamento, podem garantir a manutenção de  temperaturas  interiores  consentâneas  com  a  saúde  e  o  bem‐estar  humano.  Existem  várias  referências na literatura sobre os efeitos da temperatura – em particular das baixas temperaturas –  na  saúde  humana  (WHO,  2004c).  Considera‐se  que  uma  temperatura  interior  no  alojamento  é  saudável quando se encontra próxima de 21°C e que os riscos para a saúde aumentam quando o  valor  baixa  para  19°C.  Para  temperaturas  inferiores  a  16°C,  estes  riscos  são  significativos,  particularmente  para  os  mais  idosos,  aumentando  as  probabilidades  de  ocorrência  de  problemas  respiratórios  e  cardiovasculares.  Abaixo  de  10°C  é  também  acentuado  o  risco  de  hipotermia  (DCLG, 2006b). 

Recorrendo  uma  vez  mais  aos  dados  do  último  recenseamento,  é  possivel  determinar  o  grau  de  generalização na cidade de sistemas de aquecimento doméstico. Entrando em linha de conta com  as diferentes soluções utilizadas – aquecimento central, lareira, aparelhos de aquecimento fixos ou  móveis  –,  verifica‐se  que  mais  1/4  dos  fogos  não  dispunham  de  qualquer  tipo  de  dispositivo  de  aquecimento  (Gráfico  5.3).  Atendendo  às  condições  climáticas  locais,  esta  proporção  indicia  que,  contrastes são significativos: As condições mais favoráveis verificam-se na Bélgica, com 2,7 divisões por pessoa e as mais desfavoráveis na Polónia, onde este indicador se fica pelos 0,9 (Domanski et al., 2006).

durante  uma  parte  do  ano,  uma  proporção  considerável  de  pessoas  vive  em  condições  habitacionais inadequadas, em termos de conforto térmico. 

Gráfico 5.3 Proporção de alojamentos sem sistema de aquecimento (2001)

26.7 26.3 19.5 0 10 20 30 Porto Lisboa Continente [%]  

Fonte: INE, Censos 2001

Comparativamente,  o  peso  dos  alojamentos  que  não  dispunham  de  sistemas  de  aquecimento  no  Porto,  sendo  idêntico  ao  verificado  no  caso  da  cidade  de  Lisboa,  era  sensivelmente  superior  ao  valor médio do Continente81

Conservação do edificado

No  que  diz  respeito  ao  grau  de  conservação  do  edificado,  as  estatísticas  censitárias  permitem  caracterizar o parque habitacional da cidade, fornecendo dados sobre os edifícios que se encontram  em  bom  estado  de  conservação,  aqueles  em  que  todas  ou  algumas  das  suas  componentes  (estrutura, cobertura, paredes e caixilharia exteriores) exigem imediata substituição ou reparação e  aqueles  que  se  encontram  muito  degradados.  Em  2001,  mais  de  metade  dos  edifícios  da  cidade  necessitava de obras de reparação e o peso relativo dos edifícios considerados muito degradados,  representava  8%,  valor  claramente  superior  ao  registado  ao  nível  do  Continente  e  mesmo  da  cidade de Lisboa (Gráfico 5.4). 

 

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Importa notar que o valor relativo ao Continente, sendo mais favorável, é explicado pela importância que assumem, a esta escala, as lareiras. Este sistema de aquecimento tradicional encontra-se presente na generalidade das habitações localizadas em meio rural sendo muito menos utilizado nos centros urbanos.

 

Gráfico 5.4 Proporção de edifícios muito degradados (2001)

7.8 5.3 2.9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Porto Lisboa Continente [%]  

Fonte: INE, Censos 2001

Importará ter presente na leitura deste indicador que, numa perspectiva de qualidade de vida, para  além do impacto negativo directo sobre as condições de bem‐estar das pessoas que neles possam  ainda  residir,  estes  edifícios  em  elevado  estado  de  degradação,  sobretudo  quando  concentrados  espacialmente,  contribuem,  como  atrás  foi  referido,  para  a  desqualificação  física  e  simbólica  dos  espaços residenciais onde se inserem. 

5.1.1.3 Disparidades intra-urbanas

Para a avaliação das disparidades intra‐urbanas em matéria de condições habitacionais, dado que o  Instituto  Nacional  de  Estatística  disponibiliza,  à  escala  da  secção  estatística,  vários  indicadores  referentes às dimensões tratadas no ponto anterior, optou‐se pelo cálculo de um índice compósito  de  modo  a  sintetizar  a  informação  recolhida  e  a  facilitar  a  identificação  de  eventuais  padrões  espaciais diferenciados no interior da cidade do Porto. Subjacente a esta opção está igualmente a  ideia de que uma medida desta natureza permitirá avaliar melhor um conceito multidimensional  como o das condições habitacionais, o qual dificilmente poderia ser apreendido através da análise  individual de cada um dos indicadores (Nardo et al., 2008). 

A  construção  de  um  índice  implica  necessariamente  que,  após  a  normalização  dos  dados,  se  combinem  os  indicadores  seleccionados,  atribuindo‐lhes  os  pesos  correspondentes  ao  seu  contributo individual para a medida compósita. Para o efeito, e na ausência de referências teóricas 

que  sustentassem  o  exercício  de  ponderação,  recorreu‐se  a  um  método  estatístico,  mais  concretamente à análise factorial82. 

Através  desta  técnica  analítica,  admitindo‐se  que  o  domínio  para  o  qual  se  pretende  calcular  o  índice  pode  ser  identificado  com  uma  variável  latente,  não  directamente  observável,  é  possível  identificar o factor subjacente e determinar pesos para os indicadores. Como premissa base deste  recurso a um modelo de um único factor comum está a aceitação de que este é avaliado de uma  forma imperfeita por cada um dos indicadores mas que aqueles que com ele estão mais fortemente  correlacionados  também  são  aqueles  que  estão  mais  fortemente correlacionados  com  os  restantes  indicadores. Neste contexto, a análise factorial não é aplicada, como acontece noutros casos, com o  objectivo de reduzir um elevado número de variáveis a um conjunto de factores significativos. Por  outras palavras, pretende‐se manter as variáveis de base seleccionadas, as quais foram justamente  escolhidas porque se admite que permitem avaliar o domínio que se pretende medir e, portanto, o  primeiro passo consiste em determinar se existe um único factor significativo. Caso surjam outros,  ter‐se‐á que optar por retirar variáveis ou considerar a hipótese de estabelecer um outro domínio  de  análise.  Para  se  verificar  se  existe  um  primeiro  factor  significativo  pode  recorrer‐se,  nomeadamente, à leitura dos valores próprios da matriz de variância total. 

No  caso  concreto  das  condições  habitacionais,  foram  então  recolhidos  dados,  desagregados  por  secção, referentes a quatro indicadores previamente seleccionados. Estes foram submetidos a uma  análise  factorial.  Como  método  de  extracção  foi  utilizado  a  análise  de  componentes  principais,  tendo sido gerado um primeiro factor significativo (explicativo de 58,3% do total da variância). Os  pesos obtidos através da análise factorial para os diferentes indicadores encontram‐se indicados no  Quadro 5.2. 

Quadro 5.2 Sistema de ponderação utilizado para o cálculo do índice de condições habitacionais

Indicador Peso Relativo

Nº de pessoas por divisão 0,29

Alojamentos com falta de infra-estruturas básicas (%) 0,27

Alojamentos sem sistema de aquecimento (%) 0,31

Edifícios muito degradados (%) 0,13

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Uma abordagem desta natureza foi aplicada, nomeadamente, para o desenvolvimento dos índices de privação múltipla de 2004 e 2007 do Reino Unido (DCLG, 2008; ODPM, 2004a).

O índice de condições habitacionais calculado através deste sistema de ponderação e de uma operação  aditiva  simples,  com  base  nas  variáveis  estandardizadas,  foi  determinado  para  cada  uma  das  secções estatísticas. Este índice pode ser formalmente expresso da seguinte forma: 

k k ki k k i

P

VI

P

ICH

.

 

VIki

 

– valor do indicadork para a secçãoi

 

Pk

 

– peso atribuído ao indicadork

Seguidamente  os  valores  obtidos  para  cada  uma  das  secções  estatísticas  foram  agrupados,  com  base  no  seu  afastamento  relativamente  ao  valor  médio  da  cidade,  nas  cinco  classes  definidas  no  âmbito  da  metodologia  estabelecida  para  o  desenvolvimento  da  2ª  parte  deste  trabalho,  apresentada mais detalhadamente no capítulo anterior. 

Resultados obtidos:

Analisando  a  repartição  das  unidades  espaciais  mais  desagregadas  utilizadas  no  âmbito  da  metodologia  adoptada  (secções  estatísticas)  e  da  população  residente,  pelas  cinco  classes  consideradas para avaliar a diferenciação das condições habitacionais na cidade, verifica‐se que a  situação  correspondente  às  condições  mais  favoráveis  é  aquela  que  regista  uma  frequência  mais  elevada, em ambos os casos (Gráfico 5.5). As classes seguintes com maior representatividade dizem  respeito  às  situações  intermédias  e  às  situações  mais  desfavoráveis.  De  resto,  a  soma  do  peso  percentual das duas categorias extremas é cerca do dobro das categorias mais próximas da classe  central  (favorável  e  desfavorável),  facto  que  é  revelador  da  existência  de  fortes  contrastes  no  interior da cidade. 

Em  termos  de  leitura  territorial,  as  disparidades  detectadas  ao  nível  das  condições  habitacionais  evidenciam‐se  claramente  e  sustentam,  antes  de  mais,  as  preocupações  actuais  com  o  acentuado  declínio  da  cidade  histórica  (Figura  5.1).  Todas  as  secções  localizadas  nas  quatro  freguesias  que  constituem o centro histórico do Porto apresentavam um índice desfavorável e, sobretudo, muito  desfavorável.  Áreas  extensas  de  condições  habitacionais  claramente  inferiores  à  média  da  cidade  eram  observadas,  igualmente,  na  área  adjacente  a  este  núcleo  central,  na  “Baixa”,  alargando  o  território  onde  se  colocam  os  principais  desafios  de  regeneração  urbana,  actualmente  objecto  de 

actuação  da  Sociedade  de  Regeneração  Urbana  (SRU)83.  Em  Campanhã,  é  também  um  quadro  desfavorável que  predomina,  particularmente,  na  parte  sul  da  freguesia, zona limite do  concelho  onde surge um padrão espacial de mancha contínua, coincidente, em larga medida, com um tecido  urbano com fortes permanências rurais nos vales dos rios Tinto e Torto, com a existência de vários  bairros de habitação social, mas também com uma significativa concentração de ilhas84

Gráfico 5.5 Distribuição relativa das secções estatísticas e da população residente por classes referentes ao Índice de condições habitacionais (ICH)

 

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A Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACRRU), definida para a cidade do Porto em legilslação específica, abrange toda esta área do centro histórico e do anel das freguesias envolventes. No “Estudo Estratégico para o Enquadramento de Intervenções de Reabilitação Urbana na Baixa do Porto”, desenvolvido pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (Breda-Vázquez et al., 2004) inclui-se um diagnóstico aprofundado do estado de degeneração urbana deste espaço central da cidade, caracterizando-se exaustivamente o estado do parque habitacional.

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As ilhas constituem uma forma de alojamento precária que se desenvolveu no Porto em consequência do forte crescimento demográfico associado ao processo de industrialização. Trata-se de construções erigidas nas traseiras dos edfícios da classe média compostas por fileiras de pequenas casas, com enormes défices em termos de condições de higiene, salubridade e conforto, que se distribuíram por toda a cidade, principalmente na adjacência de locais onde se implantaram estabelecimentos industriais. De acordo com um levantamento efectuado em 2000 (Pimenta et al., 2001) residiam ainda no Porto, em ilhas e outras situações de características idênticas, 20 000 pessoas, num total de 1191 núcleos habitacionais. Apesar de, no momento actual, já não existirem ilhas de propriedade municipal, existem ainda muitas ilhas privadas, um pouco dispersas por toda a cidade, onde continuam a viver muitas famílias sem as condições mínimas exigidas em matéria de higiene, salubridade e conforto, devido às suas exíguas dimensões, à falta de instalações sanitárias e de banho próprias e ao estado de degradação que, na esmagadora maioria dos casos, as caracteriza (CMP, 2008).

28% 17% 25% 8% 21% 27% 16% 24% 9% 22%

Secções Estatísticas População Residente

Situação muito favorável ICH <  -2/3  Situação favorável  -2/3 ≤ ICH <  -1/3  Situação intermédia

 -1/3 ≤ ICH <  + 1/3   + Situação desfavorável1/ 3 ≤ ICH <  + 2/3 

Situação muito desfavorável

ICH ≥ + 2/ 3 

Na  restante  área  da  cidade,  as  principais  bolsas  de  más  condições  habitacionais  apresentavam‐se  mais circunscritas e fortemente coincidentes com a existência de bairros de habitação social. Apesar  de a delimitação das secções estatísticas não facilitar, à partida, a identificação desta relação, uma  vez  que  a  área  que  abrangem  não  é  coincidente,  na  maior  parte  dos  casos,  com  a  configuração  espacial dos próprios bairros, são várias as situações em que esta associação entre a predominância  do alojamento social e condições habitacionais desfavoráveis pode ser detectada. No Porto, à data a  que se reportam os dados utilizados para o cálculo do índice de condições habitacionais, isto é 2001,  existiam  cerca  de  50  bairros  de  habitação  social,  a  grande  maioria  geridos  directamente  pelo  município, nos quais habitavam mais de 40 000 pessoas. Grande parte destes fogos foi construída  nas  décadas  de  60  e  70  não  dispondo,  muitos  deles,  das  infra‐estruturas  e  das  condições  de  conforto compatíveis com o nível de exigência que se coloca presentemente às novas construções.  Muitos  deles  encontram‐se  fortemente  degradados  (Marques  et  al.,  2006;  Matos,  2001;  Pimenta,  2001). Nos últimos anos a Câmara Municipal do Porto tem vindo a desenvolver um programa de  intervenção  nos  bairros  sociais  envolvendo  a  requalificação  exterior  de  edificado  –  renovação  de  coberturas,  reabilitação  das  fachadas  e  intervenção  nas  caixilharias  –  pelo  que  a  realidade  aqui  traçada  com  base  nos  resultados  censitários,  no  caso  da  componente  referente  à  conservação  do  edificado, terá já evoluído favoravelmente em certos bairros da cidade. 

Por seu lado, as condições habitacionais mais favoráveis localizavam‐se em toda a frente marítima  e área envolvente da Avenida e Rotunda da Boavista. Outros pólos que se destacam são: as secções  situadas no troço superior da Rua da Constituição, Antas e espaço envolvente da Avenida Fernão  Magalhães,  e  ainda,  o  corredor  da  Circunvalação,  entre  os  locais  do  Quartel  de  Infantaria  e  da  Areosa. 

5.1.2 Ambiente

5.1.2.1 Enquadramento

Não  obstante  diferenças  locais  que  possam  existir  quanto  à  intensidade  e  à  forma  como  se  combinam  os  problemas  ambientais,  a  verdade  é  que  na  actualidade  as  cidades  se  deparam  com  várias  tendências  comuns:  má  qualidade  do  ar  ambiente  devido  ao  grande  volume  de  circulação  automóvel,  valores  muito  elevados  de  ruído,  produção  de  grandes  quantidades  de  resíduos  e  de  efluentes  líquidos,  forte  impermeabilização  e  contaminação  dos  solos  e  emissões  muito  significativas de gases de efeito de estufa85 (EEA, 2010a). 

O  impacto  destes  factores  sobre  o  bem‐estar  humano  físico,  social  e  mental  justifica  que  ao  nível  das  Nações  Unidas  se  tenha,  desde  há  vários  anos,  vindo  a  impulsionar  uma  série  de  iniciativas  especialmente dirigidas para as áreas urbanas, espaços onde se concentra uma proporção crescente  da  população  mundial.  O  Programa  da  Agenda  21,  lançado  na  “2ª  Conferência  Mundial  sobre  o  Ambiente  e  o  Desenvolvimento”,  realizada  no  Rio  de  Janeiro  em  1992,  inclui  referências  particulares  aos  problemas  ambientais  enfrentados  pelas  cidades  e  apresenta  princípios  e  propostas  de  acção  concretas  para  os  enfrentar.  Também  o  Programa  HABITAT,  criado  em  1978  através  do  Centro  das  Nações  Unidas  para  os  Estabelecimentos  Humanos  (UNCHS)  e  que  visa  promover,  sobretudo  nos  países  em  desenvolvimento,  a  melhoria  das  condições  de  vida  nas  cidades,  tem  chamado  a  atenção  para  a  necessidade  vital  de  respeitar  a  capacidade  de  carga  dos  ecossistemas dos quais dependem estes aglomerados populacionais. 

Ao  nível  da  Organização  Mundial  de  Saúde,  o  Programa  da  Cidades  Saudáveis  tem  igualmente  ajudado a alargar o debate sobre a influência decisiva das condições ambientais urbanas no bem‐ estar  das  populações,  em  particular,  dos  grupos  sociais  mais  vulneráveis.  Neste  contexto,  a  importância ambiental não surge ligada apenas à preocupação com a preservação da natureza e do  planeta e ao desafio da sustentabilidade. O ambiente é visto como um recurso concreto que pode  ser  determinante  para  melhorar  as  condições  de  vida  e  o  bem‐estar  das  comunidades  humanas  (WHO, 2010a). 

No  panorama  europeu,  o  tema  do  ambiente  nas  cidades  começa  a  captar  uma  maior  atenção,  a  partir de 1990, ano em que se adoptou o Livro Verde sobre o Ambiente Urbano (CCE, 1990). No  ano  seguinte  foi  criado  o  Grupo  de  Peritos  sobre  o  Ambiente  Urbano  da  Comunidade  Europeia.  Em resultado desta importância crescente, foi apresentada, em 2006, uma Estratégia Temática sobre  o Ambiente Urbano com o propósito de “contribuir para uma melhor qualidade de vida através de