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Qualidade de vida quotidiana: as preocupações e a orientação da abordagem

4 Modelo de análise e opções metodológicas

4.1 Qualidade de vida quotidiana: as preocupações e a orientação da abordagem

Tal como foi visto na primeira parte deste trabalho, não existe, actualmente, um consenso em torno  de uma formulação única daquilo que se pode entender por qualidade de vida. Neste contexto, e  de  modo  a  que  possam  ser  desenvolvidos  exercícios  aplicados  de  avaliação  e  monitorização  das  condições de vida e de bem‐estar das populações, é cada vez mais admitida a possibilidade de se  estabelecerem definições operacionais adaptadas a objectivos e contextos concretos. 

Muita  da  análise  empírica  conduzida  nos  últimos  tempos,  neste  campo,  tem  sido  inspirada  na  perspectiva  teórica  proposta  por  (Sen,  1993),  e  trabalhada  por  muitos  outros  autores,  de  que  a  qualidade  de  vida  está  relacionada  com  múltiplas  condições  e  circunstâncias  em  que  as  pessoas 

vivem  mas  também  com  as  oportunidades  que  se  lhes  abrem  para  fazerem  as  suas  escolhas  e  conseguirem  realizar  os  seus  projectos  de  vida,  no  respeito  pelos  direitos  e  as  necessidades  dos  outros. Apesar deste referencial comum, verifica‐se, uma grande variabilidade quanto aos aspectos  do  bem‐estar  humano  tidos  em  consideração.  A  qualidade  de  vida  é,  afinal,  uma  noção  inegavelmente relativa, indissociável dos quadros de valores e dos contextos culturais. 

Como  já  anteriormente  foi  referido,  do  ponto  de  vista  prático,  são  múltiplos  os  critérios  que  têm  vindo a ser usados para seleccionar domínios da qualidade de vida (ver subcapítulo 1.2.2). 

No contexto da presente investigação, em que a perspectiva conceptual de qualidade de vida que é  adoptada  pretende  atender  às  condições  de  vida  mas  também  às  oportunidades  de  escolha,  os  domínios  que  integram  o  modelo  de  análise  foram  estabelecidos  através  de  um  processo  de  selecção que envolveu diferentes etapas e uma combinação de vários critérios. 

A revisão de esquemas conceptuais anteriormente propostos, em circunstâncias e face a propósitos  muito  diversos,  constituiu  o  ponto  de  partida  para  a  construção  da  matriz  de  análise.  Neste  contexto,  o  esforço  de  sistematização  e  análise  comparada  desenvolvido  pela  Fundação  Europeia  para  a  Melhoria  das  Condições  de  Vida  e  de  Trabalho  (Eurofound)  integrado  no  relatório  “Monitoring  Quality  of  Life  in  Europe”  (Fahey,  Nolan  e  Whelan,  2003)  representou  um  primeiro  referencial  de  grande  utilidade  (Quadro  4.1).  Analisando  o  conjunto  de  propostas  referenciadas  aquilo  que  sobressai  é  que,  não  obstante  cada  experiência  apresentar  o  seu  próprio  conjunto  de  domínios,  estes  convergem  numa  lista  muito  similar  de  aspectos,  em  que  se  destacam  como  domínios mais presentes a saúde, o emprego, o rendimento, a educação, e a segurança. 

Uma revisão de um conjunto vasto de documentos relativos a projectos de avaliação da qualidade  de vida à escala local permitiu alargar o anterior elenco de domínios, e sobretudo, ter uma melhor  noção das opções assumidas face a objectivos de análise mais próximos do assumido no âmbito da  presente investigação: medir variações da qualidade de vida à escala intra‐urbana (Quadro 4.2).  Além  disso,  esta  última  revisão,  ao  envolver  um  grande  número  de  experiências  concebidas  e  desenhadas  no  ambiente  das  próprias  autoridades  locais,  alargou  a  reflexão,  introduzindo,  de  alguma  maneira,  uma  perspectiva  mais  programática  que  interessa  ter  em  conta  já  que,  como  referem Berger‐Schmitt e Noll (2000, p. 28): “Values and goals of societal development are not only dealt  with  on  a  conceptual  level  by  societal  scientists,  but  they  are  also  part  of  political  programmes  and  measures”. 

Swedish

welfare t radit ion soc ial ac c ount sGerman soc ial t rendsUK New Zealand soc ial report

EuReport ing projec t 's European syst em of soc ial

indic at ors

Eurofound monit oring qualit y of life in Europe report Saúde e Acesso a cuidados de

saúde Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde e C uidados de saúde

Emprego e C ondições de trabalho Mercado laboral e C ondições de

trabalho Mercado laboral Trabalho remunerado

Mercado laboral e C ondições de

trabalho Emprego e C ondições de trabalho

Recursos económicos e Protecção dos consumidores

Rendimento, Distribuição do

rendimento Rendimento e Riqueza Nível de vida económico

Rendimento, Nível de vida,

Padrões de consumo Recursos económicos

C onhecimento e Acesso à

educação Educação Educação e Formação C onhecimento e C ompetências Educação e Formação

C onhecimento, Educação e Formação

Relações familiares e sociais,

Integração Agregados domésticos e Famílias Agregados domésticos e Família Famílias e Agregados domésticos

Habitação e Amenidades locais Habitação Habitação Habitação Habitação

Segurança da vida e da

propriedade Seguraça pública e C riminalidade C riminalidade e Justiça Segurança

Segurança pública e C riminalidade

Segurança pública e C riminalidade

Lazer e C ultura Lazer e C onsumos de media Lazer, Media e Cultura Recreio e Actividades de lazer

Recursos políticos

Ambiente Ambiente Ambiente Ambiente Ambiente local e Amenidades

Transportes Transportes Transportes Transportes

C onsumo e Oferta Despesas

Participação Estilos de vida e Participação Relações sociais Participação política e social,

Integração

Vida comunitária e Participação social

Estatuto socio-económico

População População

Direitos Humanos

C ultura e Identidade C ultura e Identidade, Recursos

políticos e Direitos humanos Segurança social

Quadro 4.2 Domínios individualizados em projectos de monitorização da qualidade de vida à escala local Projecto Megliomilano (Itália) Índice de Qualidade de Vida Urbana de Belo Horizonte (Brasil)

Toronto Vital Signs (Canadá)

City of Winnipeg Quality of Life

Indicators (Canadá)

Pierce County Quality of Life Benchmarks (EUA) Neighborhoods at the tipping point - Jacksonville (EUA)

The Glendale Quality of Life Project (EUA) What matters in Greater Phoenix (EUA) Abastecimento Comércio

Serviços e Assistência Assistência social Apoio e Integração social

Cultura e Lazer Cultura Artes, Cultura e Lazer Cultura e Lazer Artes e Cultura, Recreio e Lazer Artes, Cultura e Recreio

Instrução Educação Aprendizagens Educação Educação Escolas Educação Educação

Desporto Desportos

Habitação Habitação Habitação Habitação Habitação Habitação

Infra-estruturas Infra-estruturas

Ambiente Meio ambiente Ambiente

Ambiente urbano: Ambiente natural, Gestão do uso do solo, Infra- estruturas e Serviços, Consumo e Conservação

Ambiente Factores ambientais, Parques Ambiente físico Ambiente

Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde, Abuso de álcool e drogas Saúde, Cuidados de saúde

Eficiência dos serviços

públicos Serviços públicos

Segurança Segurança urbana Segurança Segurança Segurança para pessoas e propriedade Segurança Segurança da comunidade Segurança pública e Criminalidade

Emprego, Bem-estar económico, Serviços terciários

Gap entre ricos e pobres, Trabalho

Economia urbana: Emprego, Finanças municipais e Vitalidade económica

Economia Economia e emprego Economia

Mobilidade Mobilidade Transportes regionais Transportes Transportes e Mobilidade

Distribuição do solo Crescimento urbano

Famílias e Juventude Pertença e Liderança Liderança da comunidade e Orgulho: Liderança e Governância, Imagem e Identidade, Cidadania Envolvimento cívico,

Capacidade organizativa Recursos da comunidade Comunidade

Privações Equidade e Riqueza

Outros domínios: Recursos da comunidade: Habitação, Cultura, Artes e Entretenimento, Recreio e Lazer, Serviços públicos, Educação, Pessoas, Bairros

Outros domínios: Imagem

Quadro 4.2 Domínios individualizados em projectos de monitorização da qualidade de vida à escala local (cont.ão) Projecto Megliomilano (Itália) Índice de Qualidade de Vida Urbana de Belo Horizonte (Brasil)

Toronto Vital Signs (Canadá)

City of Winnipeg Quality of Life

Indicators (Canadá)

Pierce County Quality of Life Benchmarks (EUA) Neighborhoods at the tipping point - Jacksonville (EUA)

The Glendale Quality of Life Project (EUA) What matters in Greater Phoenix (EUA) Abastecimento Comércio

Serviços e Assistência Assistência social Apoio e Integração social

Cultura e Lazer Cultura Artes, Cultura e Lazer Cultura e Lazer Artes e Cultura, Recreio e Lazer Artes, Cultura e Recreio

Instrução Educação Aprendizagens Educação Educação Escolas Educação Educação

Desporto Desportos

Habitação Habitação Habitação Habitação Habitação Habitação

Infra-estruturas Infra-estruturas

Ambiente Meio ambiente Ambiente

Ambiente urbano: Ambiente natural, Gestão do uso do solo, Infra- estruturas e Serviços, Consumo e Conservação

Ambiente Factores ambientais, Parques Ambiente físico Ambiente

Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde, Abuso de álcool e

drogas Saúde, Cuidados de saúde

Eficiência dos serviços

públicos Serviços públicos

Segurança Segurança urbana Segurança Segurança Segurança para pessoas e propriedade Segurança Segurança da comunidade Segurança pública e Criminalidade

Emprego, Bem-estar económico, Serviços terciários

Gap entre ricos e pobres, Trabalho

Economia urbana: Emprego, Finanças municipais e Vitalidade económica

Economia Economia e emprego Economia

Mobilidade Mobilidade Transportes regionais Transportes Transportes e Mobilidade

Distribuição do solo Crescimento urbano

Famílias e Juventude Pertença e Liderança Liderança da comunidade e Orgulho: Liderança e Governância, Imagem e Identidade, Cidadania Envolvimento cívico,

Capacidade organizativa Recursos da comunidade Comunidade

Privações Equidade e Riqueza

Outros domínios: Recursos da comunidade: Habitação, Cultura, Artes e Entretenimento, Recreio e Lazer, Serviços públicos, Educação, Pessoas, Bairros

Outros domínios: Imagem

  Fonte: Elaboração própria

A partir daqui foram adoptados vários outros critérios de selecção. Por um lado, assumiu‐se que a  opção não seria a de garantir uma grande abrangência do modelo mas a de escolher domínios que  pudessem  constituir  o  seu  “núcleo  duro”,  sobre  os  quais  não  restassem  dúvidas  quanto  à  sua  influência  directa  para  a  qualidade  de  vida  e  em  que  fosse  viável  estabelecer  medidas  que  permitissem operacionalizar o exercício. Por outro lado, e dado o propósito de que os resultados a  obter  pudessem  constituir  um  suporte  para  a  gestão  e  o  planeamento  locais,  foi  claramente  assumida  a  perspectiva  de  que  interessariam  áreas  identificadas  com  o  bem  comum,  que  configurassem sectores de actuação prioritária de políticas públicas. 

Como  se  procurou  enfatizar  claramente  no  decurso  da  primeira  parte  da  presente  dissertação,  qualquer  avaliação  da  qualidade  de  vida  não  deve  deixar  de  entrar  em  linha  de  conta  com  o  contexto local e, concretamente, com aquilo que as pessoas sentem que é fundamental para o seu  bem‐estar.  Nesta  perspectiva,  confirmou‐se  que  todos  os  domínios  seleccionados  constituíam  aspectos localmente valorizados, mais concretamente, domínios que uma maioria dos portuenses  considerava muito importantes para a sua qualidade de vida. Para esta filtragem foram utilizados  os resultados de um inquérito realizado em 2003 aos residentes na cidade do Porto com mais de 15  anos,  no  âmbito  do  qual  se  questionou  a  população  sobre  preferências  e  valores  em  matéria  de  qualidade de vida. Esta recolha de dados, realizado no âmbito do projecto do Município do Porto  “Sistema  de  Monitorização  da  Qualidade  de  Vida Urbana” foi  realizada  através  de  um  inquérito  domiciliário que envolveu uma amostra de 2400 indivíduos72

A Figura 4.1 sistematiza os domínios privilegiados no âmbito do quadro conceptual adoptado. A  qualidade  de  vida  quotidiana  dos  habitantes  é  função  de  um  conjunto  de  factores,  em  parte,  respeitantes ao território de residência, e noutra, que são inerentes aos próprios indivíduos que, no  seu conjunto, devem permitir a realização pessoal, profissional e familiar e uma participação plena  na sociedade. 

Se os rendimentos, o emprego, a educação, a saúde, ou o ambiente familiar de que cada um dispõe,  constituem factores decisivos para o bem‐estar pessoal, a verdade é que a experiência de vida de  cada  indivíduo  se  desenvolve  num  lugar,  um  determinado  contexto  espacial  –  mais  ou  menos  alargado  –  que  influencia  também,  no  dia‐a‐dia,  a  sua  qualidade  de  vida.  Uma  parcela  fundamental  deste  contexto  espacial  diz  respeito  ao  local  da  residência  e  território  envolvente,  o  qual é marcado por uma dada oferta de condições e de amenidades urbanas. Relativamente a esta  segunda  componente  associada  ao  suporte  territorial,  foram  considerados  domínios  relacionados  com  a  habitação,  a  qualidade  do  ambiente  urbano  (níveis  de  poluição)  e  espaços  verdes,  equipamentos  e  serviços  básicos,  mobilidade  e  segurança  urbana.  Não  obstante  estas  últimas  configurarem  preocupações  que  habitualmente  estão  presentes  na  tradição  de  estudos  sobre  a  “qualidade dos lugares” (Massam, 2002) esta, como se viu, não é a matriz conceptual da presente  investigação,  já  que  esta  preocupação  com  as  condições  do  contexto  territorial  não  é  isolada  da 

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avaliação  dos  recursos  e  condições  disponíveis  a  nível  individual.  Esta  questão  revela‐se  central  para  a  leitura  e  interpretação  dos  resultados  da  aplicação  do  modelo.  Com  efeito,  apesar  de  se  assumir  que  os  efeitos  produzidos  na  qualidade  de  vida  das  pessoas  associados  a  todos  estes  domínios se fazem sentir através de um mecanismo cumulativo, reconhece‐se que este está longe  de ser simples e, sobretudo, isento de interdependências.  

Figura 4.1 Domínios considerados para a avaliação da qualidade de vida de proximidade na cidade do Porto

As relações que existem entre os vários aspectos considerados na esfera das condições individuais  –  como  é  o  caso  das  interdependências  entre  rendimento  e  saúde  ou  educação  e  rendimento,  só  para  referir  dois  exemplos  que  têm  vindo  a  ser  alvo  de  uma  particular  atenção  –  são  provavelmente aquelas que se encontram mais e melhor estudadas. 

Do  ponto  de  vista  do  suporte  à  concepção  das  políticas  de  intervenção,  é  fundamental  alargar  a  análise  deste  tipo  de  efeitos  cruzados  e  atender  cada  vez  mais  ao  modo  como  estas  condições  individuais interferem na forma como as condições do quadro de vida de proximidade influenciam  os níveis de bem‐estar. 

Alguns  exemplos  ajudam  a  expressar  mais  claramente  esta  interacção:  a  privação  de  certos  equipamentos  básicos  ou  de  unidades  de  comércio  num  raio  relativamente  próximo  do  local  de  residência  tende  a  penalizar  mais  os  residentes  que,  por  motivos  relacionados  com  a  falta  de  recursos  financeiros,  problemas  de  literacia  ou  limitações  de  saúde,  apresentam  uma  capacidade  reduzida para obter os bens ou serviços pretendidos num outro espaço (físico ou virtual); de igual 

modo, elevados níveis de criminalidade ameaçam, com maior probabilidade, o bem‐estar daqueles  que, perante esta situação, se encontram socialmente isolados ou que não dispõem dos meios que  lhes permitam suportar encargos com sistemas de vigilância ou de protecção.   Mas, inversamente, as condições do território de habitação podem também condicionar condições  e oportunidades de vida, no plano individual. Por exemplo, problemas de acessibilidade territorial  podem constituir uma barreira no acesso ao mercado de trabalho, quando as ofertas de emprego se  encontram  muito  afastadas  do  local  da  residência  ou,  numa  outra  perspectiva,  podem  reduzir  o  tempo  disponível  para  a  convivência  familiar  pelo  facto  de  imporem  deslocações  casa‐ trabalho/estudo complexas e demoradas aos diferentes elementos do agregado. Ainda, no mesmo  sentido,  podem  ser  invocados  os  muito  debatidos  e  documentados  impactos  na  educação  e  mobilidade social das crianças produzidos pelos contextos sócio‐habitacionais e de vizinhança em  que estas vivem. 

Em  síntese,  e  recorrendo  às  palavras  de  Edward  Soja,  “Taking  the  socio‐spatial  dialectic  seriously  means  that  we  recognize  that  the  geographies  in  which  we  live  can  have  negative  as  well  as  positive  consequences on practically everything we do” (Soja, 2009, p. 33). 

A  abordagem  desenvolvida  valoriza  a  questão  da  relação  entre  as  várias  dimensões  –  não  considerada  em  muitos  projectos  aplicados  de  avaliação  da  qualidade  de  vida  –  procurando  determinar  e  interpretar  as  combinações  que  entre  elas  se  estabelecem  já  que  daqui  resultam  experiências  de  qualidade  de  vida  muito  diferentes.  Mais  adiante  esta  questão  será  retomada  e  desenvolvida  aquando  da  explicitação  do  modo  como  se  optou  por  fazer  a  leitura  síntese  da  qualidade  de  vida  urbana.  Nesta  altura  importa,  sobretudo,  sublinhar  a  atenção  que  nesta  investigação se procura dar a este tipo de mecanismos e de processos interactivos e à importância  que se lhes reconhece para o desenvolvimento de políticas que promovam uma maior coesão social  e territorial. 

4.2 O referencial geográfico

A qualidade de vida, tal como aqui é conceptualizada, prende‐se com dia‐a‐dia das pessoas e não  representa uma propriedade dos próprios lugares. Estes apresentam melhores ou piores atributos e  garantem  ou  não  determinadas  possibilidades  que,  em  conjugação  com  outras  variáveis,  individuais, marcam as experiências de vida quotidianas. Para efeitos da sua avaliação colectiva, as  medidas  usadas  surgem,  contudo,  muito  frequentemente  referenciadas  a  áreas  geográficas,  estando  aqui  subjacente  o  pressuposto  de  que  os  resultados  da  avaliação  traduzam  a  realidade  vivida  pela  população  que  nelas  reside  (pelo  menos  de  uma  proporção  que  se  considere  significativa).  Esta  é,  na  verdade,  a  assumpção  base  para  que  se  possa  estudar  a  geografia  das  condições  de  vida  e  do  bem‐estar  e,  numa  etapa  subsequente,  para  que  se  possam  estabelecer  territórios  alvo  de  políticas  integradas  que  possam  transformar  os  espaços  e  as  oportunidades  abertas às pessoas que neles vivem.  

Perante  o  objectivo  de  analisar  disparidades  intra‐urbanas  no  Porto,  a  questão  central  que  se  colocou  foi  a  de  encontrar  uma  unidade  espacial  adequada  à  natureza  do  exercício  que  se  pretendia desenvolver mas que, simultaneamente, garantisse a possibilidade de recolha de dados  empíricos. 

Em primeiro lugar importa notar que a ideia de considerar como unidade base o território do dia‐ a‐dia,  o  espaço  de  proximidade,  reconhecido  pelos  cidadãos  como  o  “local  onde  se  mora”,  não  encontrou, à partida, um referencial geográfico óbvio. O caso do Porto não é, porém, singular. Ao  inverso, o problema da definição das fronteiras destas áreas, concebidas como espaços identitários  tanto física como socialmente – habitualmente designadas na língua inglesa neighbourhoods ou local  communities e que, em português poderemos apelidar de “bairros” ou áreas de vizinhança – tende a  ser  recorrente.  Aliás,  salvaguardando  o  caso  de  centros  urbanos  que  ao  longo  dos  anos  consolidaram  não  só  representações  simbólicas  mas  também  limites  físicos  destes  “bairros”,  a  maior  parte  das  cidades  não  dispõe  de  uma  delimitação  desta  natureza  (Kingsley,  1998).  Frequentemente aquilo que, na realidade, se verifica é que, de acordo com as finalidades – gestão  territorial,  distribuição  de  serviços,  gestão  de  infra‐estruturas,  etc.  –  são  definidas  delimitações  “temáticas”, mas ou menos finas, sem qualquer tipo de sobreposição ou coerência entre si e que,  em  qualquer  dos  casos,  não  inspiram  quaisquer  sentimentos  de  identificação  e  de  pertença  à  generalidade dos cidadãos. 

Na  ausência  deste  tipo  de  referencial  identitário  e,  por  outro  lado,  dada  a  lógica  eminentemente  sectorial de muitas das divisões que existem na cidade – áreas postais, unidades de planeamento  urbanístico,  territórios  de  influência  de  equipamentos  (educativos,  de  saúde,  e  outros),  zonas  de  serviço de transportes públicos, etc. – foi adoptada uma malha de unidades estatísticas. Esta é, de  resto  uma  alternativa  que  tem  sido  seguida  em  vários  outros  estudos  realizados  à  escala  intra‐ urbana como é o caso do cálculo dos Índices de Privação Múltipla do Reino Unido (DCLG, 2008),  do estudo “Poverty by postal code – The Geography of Neighbourhood Poverty 1981–2001” (MacDonnell  et al., 2004) realizado para a cidade canadiana de Toronto, e ainda, do estudo “Analise dynamique des  quartiers en difficulté das les regions urbaines belges” (Vandermotten et al., 2007). 

Neste tipo de decisão o critério da acessibilidade à informação é, em regra, o que mais pesa. Se é  verdade  que  com  o  desenvolvimento  dos  Sistemas  de  Informação  Geográfica,  surgiram  novas  facilidades  de  georreferenciar  muita  informação,  nomeadamente,  sobre  a  dotação  de  equipamentos,  redes  de  infra‐estruturas,  localização  de  serviços,  etc.,  a  verdade  é  que  os  censos  populacionais  continuam  a  constituir,  sem  margem  para  dúvidas,  a  fonte  de  dados  mais  rica  e  harmonizada  sobre  a  habitação  e  as  condições  socioeconómicas  dos  indivíduos,  a  micro  escalas.  Nos  censos  que  o  INE  decenalmente  realiza,  as  unidades  territoriais  infra‐concelhias  são  a  freguesia (divisão de tipo administrativo) e a secção e subsecção estatísticas. Tendo, à partida, sido  considerada  desadequada  a  utilização  das  freguesias  como  referencial  para  a  leitura  das  disparidades intra‐urbanas (cidade dividida apenas em 15 áreas, muito distintas do ponto de vista  da  sua  extensão  territorial  e  muito  heterogéneas  internamente),  foram  equacionadas  as  duas  restantes possibilidades, de modo a que a base de dados censitária pudesse constituir um recurso  informacional a explorar. 

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