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4 Modelo de análise e opções metodológicas

5.1 Condições do quadro de vida de proximidade

5.1.3 Espaços verdes 1 Enquadramento

5.1.3.2 Os espaços verdes do Porto

Como  se  procurou  evidenciar  no  ponto  anterior,  a  extensão  de  espaços  verdes  que  as  cidades  oferecem aos seus habitantes – e, de um modo mais abrangente, ao conjunto dos seus utilizadores –  assume uma grande relevância e condiciona fortemente a sustentabilidade ambiental dos processos  de desenvolvimento locais. Quando a perspectiva de análise é o contributo que este tipo de recurso  pode  ter  para  a  qualidade  de  vida  urbana,  esta  dimensão  quantitativa  não  pode  deixar  de  ser  avaliada, simultaneamente,  com  a dimensão qualitativa  associada a  esta  oferta e  com  a  maior  ou  menor  facilidade  de  acesso  das  populações  a  este  tipo  de  espaços  (Comber,  Brunsdon  e  Green,  2008). 

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As opções disponíveis eram: Existência de espaços verdes; Bons arranjos urbanísticos; Boas infra-estruturas básicas; Ambiente não poluído; Clima ameno; Transportes públicos eficientes; Boa rede de equipamentos; Ensino de qualidade; Oferta de actividades culturais; Oferta de actividades desportivas; Prestação de cuidados sociais e de saúde; Comércio e serviços de apoio à população; Habitação acessível e com boas condições; Oferta de emprego; Segurança e tranquilidade urbanas; Coesão social; Forte participação cívica.

Quer  no  contexto  da  elaboração  de  instrumentos  de  planeamento  territorial,  quer  no  âmbito  de  projectos de investigação da comunidade académica, os espaços verdes do Porto têm vindo a ser  objecto  de  várias  análises.  Existem  igualmente  disponíveis  dados  recentes  obtidos  através  de  levantamentos de terreno realizados pelo município. No seu conjunto, esta informação forneceu a  base para a caracterização da situação actual da cidade. 

A extensão de espaços verdes

A  área  ocupada  por  parques  e  áreas  verdes  varia  muito  de  cidade  para  cidade  (EEA,  2010a).  A  situação  que  em  cada  caso  é  registada  não  pode  ser  vista  de  forma  desligada  do  respectivo  processo geral de desenvolvimento urbano, isto é, da forma como, ao longo dos tempos, o centro  urbano foi planeado e se expandiu. Esta circunstância leva, de resto, a que seja difícil fixar o que  possam ser standards em termos de valores de verde desejáveis. Os exercícios de comparação entre  cidades quanto a níveis de capitação ou de área verde, são, por isso, em regra pouco conclusivos,  para  além  de  serem  muito  difíceis  de  realizar  uma  vez  que  se  verifica  uma  grande  variedade  de  conceitos e dos critérios usados para delimitar este tipo de espaços. De qualquer modo, no contexto  europeu  –  e  de  acordo  com  o  inquérito  à  percepção  dos  cidadãos  realizado  recentemente  em  75  cidades  no  âmbito  do  projecto  “Urban  Audit”‐,  a  maioria  dos  inquiridos  manifestou‐se  satisfeita  com a quantidade de espaços verdes disponíveis (EC, 2010). 

No que diz respeito à dotação actual da cidade do Porto em termos de área verde, de acordo com  levantamentos de terreno realizados pelos serviços municipais no ano de 2007, a sua extensão total  era de 4,1 km2, dos quais 2,8 km2 correspondiam a espaços verdes de utilização colectiva, (7% do  total do território do concelho)114. Em termos de capitação, esta atingia 12,5 m2 de espaço verde (de  utilização  colectiva)  por  habitante,  valor  que  ultrapassava  já  a  meta  fixada  (12  m2/habitante)  aquando  da  revisão  do  Plano  Director  Municipal  (CMP,  2005).  Relativamente  ao  verde  linear  –  comprimento dos segmentos de ruas arborizadas – atingia 107 m, valor correspondente a cerca de  20% do total dos arruamentos urbanos. 

Características da estrutura verde urbana

Como  atrás  se  referiu,  a  influência  dos  espaços  verdes  no  bem‐estar  das  pessoas  depende  não  apenas  da  quantidade  deste  tipo  de  espaços,  mas  também  das  suas  características  e  do  tipo  de  acesso  permitido.  No  decorrer  dos  trabalhos  de  revisão  do  Plano  Director  Municipal,  e  mais  concretamente  no  âmbito  da  análise  efectuada  ao “Sistema  de  Espaços  Colectivos”,  foi  elaborada  uma  delimitação  de  diferentes  categorias  de  espaço  urbano.  Esta  grelha  de  leitura  permite  uma  sistematização das principais componentes da estrutura verde actual. 

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Dados do Projecto “Caracterização e hierarquização dos Espaços Verdes da Cidade” desenvolvido pela Direcção Municipal do Ambiente e Serviços Urbanos.

Uma primeira categoria existente corresponde ao único grande parque urbano do Porto – o Parque  da  cidade115.  Com  uma  área  de  influência  metropolitana,  este  equipamento,  que  actualmente  se  estende por mais de 80 hectares, representa uma unidade singular não só pela sua dimensão, mas  sobretudo  pelo  seu  modelo  paisagístico  e  funcional  que  cria  condições  para  a  fruição  de  um  ambiente natural rico que permite acolher, igualmente, formas muito variadas de recreio activo.  Os  “jardins  âncora”  constituem  uma  outra  categoria  individualizada.  Trata‐se  de  espaços  de  alguma  dimensão  em  termos  da  cobertura  vegetal  e  permeável  que,  pelo  seu  elevado  valor  paisagístico  e  patrimonial,  contribuem  fortemente  para  a  identidade  colectiva  e  imprimem  uma  forte marca na imagem da cidade. Incluem‐se neste conjunto, entre outros, o Jardim do Palácio de  Cristal e de Serralves e parques públicos de média dimensão como o da Pasteleira, de S. Roque ou  do Covelo. Ainda que sejam acentuadas as diferenças entre si, estas unidades permitem, em geral,  um  corte  visual  e  sensorial  com  o  meio  urbano  envolvente  e  acolhem  actividades  de  lazer  diversificadas. 

Quanto aos “jardins de enquadramento”, são na maioria dos casos espaços públicos ajardinados,  perfeitamente  integrados  na  malha  urbana  e  de  dimensões  bastante  variáveis.  Alguns  destes  jardins foram construídos ainda no século XIX, e representam importantes referências históricas e  patrimoniais  da  cidade.  Foram,  em  regra,  concebidos  para  permitir  a  fruição  estética  e  o  lazer  passivo,  embora  em  vários  deles  tenham  sido  muito  recentemente  introduzidos  alguns  equipamentos e realizadas intervenções que criam novas oportunidades para o lazer e o desporto  informal116. Alguns exemplares que se inscrevem nesta categoria, para além dos já citados, são os  Jardins da Cordoaria, de S. Lázaro, da Praça da República e da Arca d’Água. 

No  que  diz  respeito  a  categorias  de  espaços  colectivos  directamente  relacionadas  com  o  verde  urbano,  devem  ainda  ser  mencionadas  as  “áreas  de  encosta,  vales  e  linhas  de  água”  (encosta  do  Douro,  nomeadamente)  pelo  valor  da  paisagem  e  pelo  papel  que  desempenham  em  termos  de  estrutura ecológica municipal, e as “áreas verdes associadas a equipamentos”. Neste último caso,  tratam‐se  normalmente  de  jardins  murados  com  reconhecida  qualidade  paisagística  e  ambiental,  cujo  acesso  é  condicionado  pelo  funcionamento  de  um  equipamento  ao  qual  estes  estão  ligados.  Finalmente,  importa  ainda  mencionar  que  na  cidade  existem  bolsas  de  “áreas  verdes  remanescentes”  –  espaços  que  actualmente  não  se  encontram  enquadrados  do  ponto  de  vista  formal  e  funcional,  mas  que  interessa  relevar  sobretudo  pelo  seu  potencial  aproveitamento  e  integração futuros na estrutura verde urbana – e o “verde privado”. Nesta última categoria surgem  incluídos, quer jardins cuja qualidade paisagística é reconhecida e que contribuem (ou poderão vir  a  contribuir)  para  a  rede  de  espaços  colectivos,  quer  espaços  agrícolas  privados  –  grande  parte 

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Actualmente encontra-se em curso a construção do Parque Oriental que virá a constituir uma segunda unidade dentro desta categoria.

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A colocação de tabelas de basquetebol em vários jardins da cidade representa um exemplo deste tipo de alterações recentes. Um outro exemplo é o da delimitação de ciclovias adjacentes a estes espaços como acontece no caso do caso do Jardim da Avenida de Montevideu.

deles não explorados – e os interiores de quarteirão, cuja importância para a qualificação ambiental  é hoje muito valorizada. Justamente sobre a situação no Porto deste verde residual que se encontra  presente  nos  interiores  de  quarteirão,  Madureira  (2001‐2002,  p.  197)  afirma  que,  “embora  sujeito  a  contínuos  processos  de  especulação  que  provocaram  uma  progressiva  diminuição  do  seu  peso  na  cidade  é  ainda  hoje  visível  a  sua  importância  na  estrutura  verde  do  Porto,  e  muito  particularmente,  na  cidade  tradicional, onde além de dominar o modelo de edificação que «desenha» interiores de quarteirão, a densidade  da estrutura urbana implica que, a par dos jardins públicos, estes sejam os únicos espaços de descompressão  ambiental e formal do tecido construído”. 

Relativamente  à  estrutura  verde  da  cidade,  apesar  de  todas  as  componentes  atrás  mencionadas  desempenharem  o  seu  papel  e  produzirem  vantagens  para  o  equilíbrio  do  ambiente  urbano,  as  categorias de verde que mais directamente influenciam as experiências quotidianas das pessoas e a  sua  qualidade  de  vida  são  inquestionavelmente  aquelas  cujo  acesso  público  se  encontra  assegurado,  e  que  oferecem  condições  de  recreio  e  lazer,  ou  seja,  a  rede  de  parques  e  de  jardins  urbanos. 

5.1.3.3 Disparidades intra-urbanas

Para  avaliar  até  que  ponto  a  cidade  do  Porto  oferece  oportunidades  equitativas  em  termos  da  oferta  de  espaços  verdes  que  possam  ser  acolhedores  de  práticas  quotidianas  ligadas  ao  lazer  e  descanso,  optou‐se  por  valorizar  a  proximidade  geográfica.  Considerou‐se,  assim,  que  a  possibilidade de usufruir de uma área verde à escala da unidade residencial representa uma mais‐ valia  para  o bem‐estar da  comunidade  quando se  consideram  os  grupos  com menor  mobilidade,  como  é  o  caso  concreto  dos  idosos  (Takano,  Nakamura  e  Watanabe,  2002).  Várias  investigações  recentes têm vindo, contudo, a acumular provas de que os benefícios são mais generalizados. Por  exemplo,  o  facto  de  se  estar  próximo  de  espaços  verdes  encoraja  a  sua  utilização  e  promove  a  prática de actividades que favorecem a saúde física e mental (Gidlöf‐Gunnarsson e Öhrström, 2007;  GS, 2007; HCN, 2004). Por seu lado, Rogers et al. (2010) destacam a importância mais abrangente do  walkable  neighbouhood  para  a  qualidade  de  vida,  invocando  ganhos  de  saúde,  mas  também  de  capital social para todos os grupos da população.  

Com  o  objectivo  de  operacionalizar  a  avaliação  deste  conceito  de  proximidade  geográfica  relativamente  a  espaços  verdes,  optou‐se  por  calcular  um  indicador  de  acessibilidade.  De  acordo  com  Gregory  (1986)  citado  por  Nicholls  (2001,  p.  202),  a  acessibilidade  traduz  justamente  a  facilidade com que uma determinada localização ou serviço pode ser atingido ou obtido, pelo que  se  pode  considerar  que  ela  mede  a  oportunidade  relativa  de  interacção  ou  contacto  com  essa  mesma localização ou serviço. 

Antes de referir as opções metodológicas assumidas para determinar o indicador usado, importa  fazer notar que nos últimos anos tem vindo a ser publicada uma extensa literatura onde se expõem  e  debatem  vantagens  e  limitações  de  métodos  alternativos  para  medir  a  acessibilidade  das  populações  a  diferentes  tipos  de  equipamentos  e  serviços  com  o  objectivo  de  melhor  apoiar  as  decisões  relacionadas  com  novas  localizações.  Estas  investigações  foram  suportadas  pela  grande 

evolução  verificada  ao  nível  dos  sistemas  de  informação  geográfica,  mais  concretamente,  pelas  suas  capacidades  de  processamento  de  grandes  volumes  de  dados  e  das  suas  funções  analíticas  que  estabeleceram  novas  condições  para  a  experimentação  de  diferentes  metodologias  neste  campo.  Entre  os  principais  trabalhos  que  ajudaram  a  orientar  a  abordagem  que  seguidamente  se  apresenta  para  o  caso  do  Porto  contam‐se  o  já  citado  artigo  de  Nicholls  (2001)  e  os  de  Talen  e  Anselin (1998), Talen (2003), Apparicio e Séguin (2006), Kaphle (2006) e Comber, Brunsdon e Green  (2008). 

Sendo  uma  questão  relevante,  a  proximidade  geográfica,  foi,  no  entanto,  no  quadro  da  metodologia  desenvolvida,  assumida  conjuntamente  com  outras  preocupações  debatidas  anteriormente, associadas, quer às características e funções dos espaços verdes, quer ao regime de  acesso  e  de  utilização.  Assim,  com  o  objectivo  de  calcular,  ao  nível  da  secção  estatística,  valores  para  um  indicador  de  acessibilidade  ao  espaço  verde  mais  próximo,  começou  por  se  aplicar  à  cartografia base dos espaços verdes da cidade uma filtragem das unidades espaciais subordinada a  diferentes  critérios.  Um  primeiro  filtro adoptado  prende‐se  com  o  próprio  conceito  de  verde  que  foi  considerado  tendo‐se,  neste  caso,  privilegiado  as  áreas  construídas  destinadas  ao  convívio,  recreio e lazer117 em que, adicionalmente, se encontra assegurado o acesso legítimo por parte das  populações118. Foram, seleccionados polígonos integradas nas categorias “Parque urbano”, “Jardins  âncora”, “Jardins de enquadramento” e “Áreas verdes associadas a equipamentos” anteriormente  referidas. 

A  cada  um  dos  polígonos  representados  nesta  representação  cartográfica  derivada,  armazenada  em  formato  shapefile119,  foram  atribuídos  centróides  correspondentes  aos  respectivos  centros  gravitacionais. Apenas nos casos do Parque da Cidade e do Jardim de Serralves, dada a sua grande  extensão,  se  considerou  preferível  fazer  corresponder  os  centróides  às  entradas  principais  nestes  espaços. 

O passo seguinte consistiu no cálculo da distância métrica120 entre o centróide de cada subsecção  estatística (como uma representação da localização residencial) e o centróide do espaço verde mais 

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Apesar de serem muito diferentes as condições e oportunidades oferecidas, por exemplo, pelo parque da cidade e o Jardim da Rotunda da Boavista, não se atendeu às acessibilidades aos diferentes tipos de áreas para efeitos de avaliação intra-urbana da dotação em espaços verdes de proximidade. A perspectiva adoptada foi, antes, a de fixar uma espécie de um standard mínimo em termos das funções e da qualidade da estadia oferecida pelos espaços: área mínima de 5000 m2, existência de coberto vegetal (ajardinado ou relvado) e de caminhos pedonais, presença arbórea, dotação em algum tipo de mobiliário urbano (iluminação, bancos, papeleiras, etc.)

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Admitiu-se no entanto que este acesso poderia ser condicionado. Tal acontece, por exemplo, no caso do Jardim de Serralves em que o acesso livre a todo o público só se verifica aos domingos das 10 às 14 horas. Nos restantes dias apenas os indivíduos com menos de 18 anos podem usufruir do jardim sem terem que suportar o custo de entrada. 119

A partir deste ponto do documento será frequentemente utilizada a designação shapefile a qual corresponde ao tipo de ficheiro digital que contém a representação geográfica de um qualquer tema ou nível de informação sobre o qual opera o software ArcGis.

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Relativamente à questão de como medir a acessibilidade, a opção feita vai de encontro à posição de Talen (2003), quando afirma que, à escala do bairro, a acessibilidade deve ser avaliada com base na distância, a pé, relativamente a

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Poder‐se‐ia  ter  optado  por  calcular  directamente  a  distância  entre  o  centróide  da  secção  e  os  dos  espaços  verdes,  mas  atendendo  a  que  as  secções  são  unidades  com  alguma  dimensão,  optou‐se  pelo  cálculo  prévio  das  distâncias  a  partir  dos  centróides  das  subsecções.  Atendendo  a  que,  em  média,  cada  secção  estatística  é  constituída  por  5  subsecções,  considera‐se  que  se  melhorou  significativamente o rigor do indicador final ao não reduzir a acessibilidade da secção à distância a  partir do seu centro gravitacional, mas considerando todos os centros das subsecções. 

Para  se  calcularem  valores  à  escala  da  secção  estatística  foram  posteriormente  determinadas  médias ponderadas a partir dos valores de base referentes às subsecções e usando como sistema de  pesos a distribuição relativa da população residente em 2001, de acordo com os dados censitários.  Em  síntese,  formalmente,  a  acessibilidade  a  espaços  verdes  (através  da  rede  viária)  de  uma  secção  estatística i (AEVi ) pode ser expressa do seguinte modo: 

 

n j j n j j j i

P

d

P

AEV

1 1

.

dj 

– distância entre o centróide da subsecção

j, da secção i

,

 

e o centróide do espaço verde mais próximo

Pj 

– população residente na subsecção

j, da secção i

– número de subsecções da secção

i

 

No  Quadro  5.4  apresenta‐se  alguma  informação  estatística  descritiva  da  série  de  valores  gerados  para o indicador acessibilidade a espaços verdes, calculado através deste método. 

Verificou‐se que, em média, a distância até um espaço verde de proximidade na cidade do Porto é  de  852,6  m.  À  escala  nacional  não  se  encontra  estabelecida  nenhuma  recomendação  ou  norma  sobre o limiar máximo desejável em termos de percurso a pé até um equipamento desta natureza.  No entanto, em estudos de caso internacionais, é possível recolher alguns valores numéricos que  ajudam  a  estabelecer  uma  dada  ordem  de  grandeza  e,  consequentemente,  a  interpretar  os  resultados  obtidos  para  o  caso  concreto  do  Porto.  Neste  sentido,  uma  referência  que  poderá  ser  dada  são  os  800  m  de  distância  máxima  a  percorrer  a  pé  para  um  espaço  verde  de  proximidade  assumida  por  Nicholls  no  seu  estudo  sobre  níveis  de  acessibilidade  e  equidade  dos  parques  públicos na cidade de Bryan, no Texas (Nicholls, 2001). A mesma autora menciona no seu estudo  outros  limiares  que  têm  vindo  a  ser  utilizados  para  cidades  do  Reino  Unido,  como  Dundee  e  Londres,  em  que  se  considera  1,2  km  como  o  afastamento  máximo  desejado  relativamente  a  parques  de  proximidade.  Em  termos  comparativos,  a  distância  de  850  m  apurada  para  o  Porto,  encontra‐se  muito  próximo  do  primeiro  valor  e  é  significativamente  inferior  ao  das  cidades  inglesas.  Atendendo,  no  entanto,  a  que  este  se  trata  de  um  valor  médio,  conclusões  mais  sólidas 

sobre as condições reais de acessibilidade aos parques e jardins de acesso ao público, exigem uma  análise mais aprofundada à escala intra‐urbana. 

Quadro 5.4 Acessibilidade a espaços verdes, por secção estatística – Caracterização da série

Parâmetros estatísticos Valor

N 30

Média 852,6

Desvio padrão 549,2

Valor mínimo 134,5

Valor máximo 2855,0

N = número de parques e jardins considerados

Resultados obtidos:

Analisando  a  repartição  das  secções  estatísticas  pelas  cinco  classes  qualitativas  pré‐definidas,  verifica‐se que a classe que reúne um maior número de secções é a que diz respeito às condições  muito favoráveis (29%), onde se concentra 27 % da população residente na cidade, muito embora a  classe  referente  à  situação  intermédia  apresente  valores  muito  próximos,  respectivamente  26%  e  27% (Gráfico 5.11). As condições de acessibilidade a espaços verdes muito desfavoráveis assumem,  igualmente,  uma  expressão  significativa,  correspondendo  à  terceira  situação  mais  frequente  na  cidade (com 19% das secções e 21% dos habitantes). 

Expressas  cartograficamente,  as  classes  definidas  desenham  um  padrão  de  fácil  leitura  em  que  emergem  claramente,  como  territórios  dotados  de  uma  maior  acessibilidade  a  espaços  verdes  de  proximidade, a área central da cidade e a zona ocidental (Figura 5.4). 

Na  baixa  tradicional  e  no  centro  histórico,  a  oportunidade  de  usufruir  de  áreas  verdes  surge  garantida  sobretudo  pela  presença  de  jardins  de  enquadramento.  Importa  notar  que  esta  é  uma  categoria  que  encerra  espaços  com  dimensões  e  características  muito  distintas  em  termos  de  património  ecológico  e  paisagístico,  bem  como  em  termos  da  qualidade  da  estadia  que  proporcionam.  Vários  destes  jardins  constituem  os  exemplares  mais  emblemáticos  em  termos  da  evolução  histórica  e  urbanística  do  Porto,  mas,  tal  como  se  refere  no  próprio  Plano  Director  Municipal,  estão  hoje  desadaptados  face  às  solicitações  que  lhe  são  colocadas,  sendo  necessário  desenvolver  estratégias  de  intervenção  capazes  de  lhes  conferir  um  novo  protagonismo  urbano  (CMP,  2005,  p.  84).  Os  únicos  equipamentos  correspondentes  a  outras  categorias  de  verde,  no  interior deste espaço, são os Jardins do Palácio de Cristal e os Jardins de Barão de Nova Sintra.