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SOCIOPOLÍTICAS E EDUCATIVAS

II. 2.2.2.2 A aposta na educação e ensino – entre os ganhos alcançados e necessidade da sua consolidação, e os constrangimentos

III.1 Condições socioeconómicas e percursos escolares

III.1.1 Condições socioeconómicas

Os alunos objecto do presente estudo vivenciam condições socioeconómicas e de realização da escolarização difíceis,236 estas últimas traduzidas nas dificuldades de acesso e permanência no sistema de educação e ensino ou mesmo nas representações pouco positivas que eles detêm das suas escolas e da relação escola/família.

Alguns elementos de identificação pessoal, profissional e familiar, definidores das condições de existência - incluindo a composição dos agregados familiares e estruturas patrimoniais, seja o capital económico, seja o capital cultural e escolar -,237 atestam a debilidade dessas condições socioeconómicas destes alunos. Os 25 alunos entrevistados, cujos testemunhos foram objecto de análises sistemáticas, frequentam os níveis de Ensino Médio/PUNIV (ou Secundário Técnico-Profissional/Geral) e Ensino Superior, e têm idades situadas entre os 14 e os 28 anos. Pouco mais de metade dos alunos que se encontram a frequentar o nível de Ensino Médio/PUNIV (ou Secundário Técnico-Profissional/Geral) têm idades compreendidas entre os 20 e os 25 anos, idades superiores às previstas para a frequência desse nível de ensino, que é de 12-18 anos; este é, aliás, um traço característico dos efectivos escolares angolanos que traduz, entre outros, entradas tardias de um elevado número de alunos no sistema de ensino e acumulação de reprovações.238 Todos os alunos entrevistados são solteiros e as raparigas constituem pouco mais de metade deles.239

236 Ao grupo de 137 alunos inquiridos através do inquérito por questionário juntam-se 25 inquiridos através

de entrevistas não-dirigidas (cf. as opções e estratégias metodológicas adoptadas, Anexo I).

237 Sobre as noções de capital e as suas diferentes utilizações, cf. Bourdieu (1981: 3 e 4).

238 As informações do inquérito por questionário aplicado à população escolar do Ensino de Base (ou

Primário) e Ensino Médio/PUNIV (ou Secundário Técnico-Profissional/Geral) - cujas idades devem situar-se, respectivamente, entre 6-11 e 12-18 anos -, confirmam essa característica da população escolar: dos 137 alunos que responderam ao questionário e que tinham idades compreendidas entre os 12 e os 40 anos, mais de um terço (37,4%) tinha idades entre os 19 e os 23 anos (quadro III.1.1).

239 Apenas 3% dos alunos inquiridos por questionário declaram ter o estado civil de casado (quadro III.1.2);

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Pouco menos de metade dos alunos é natural de Luanda e arredores, e os outros são oriundos de outras regiões do país (Kuanza-Sul, Kuanza-Norte, Malange ou Cabinda).240 Quanto à situação do exercício profissional, como seria de esperar, a maioria dos alunos não exerce qualquer actividade, dedicando-se exclusivamente aos estudos.241 Existem, no entanto, casos de alunos que se encontram sem qualquer ocupação, isto é, nem estudam nem trabalham; após a conclusão do Ensino Médio/PUNIV (ou Secundário Técnico-Profissional/Geral), estes alunos não puderam prosseguir os estudos ao nível do Ensino Superior, por não terem conseguido vagas no sistema de educação e ensino, e também não encontram qualquer lugar no mundo do trabalho. A maior parte dos alunos que exerce uma actividade profissional fá-lo a tempo parcial. Estes alunos trabalham por conta de outrem, quase sempre sem qualquer autonomia ou com limitada autonomia,242 nos sectores do comércio, comunicação social e ensino, neste último caso, sobretudo, na qualidade de professores no Ensino de Base (5ª-8ª classes), tanto nas instituições públicas como nas privadas.

A mãe é a figura de destaque nos agregados familiares dos alunos entrevistados. Mais do que o pai, a mãe integra os agregados familiares e assume o comando dos mesmos. O pai é referenciado frequentemente pelos filhos/alunos como estando ausente do lar, não fazendo parte do agregado familiar, pelas razões mais diversas, nomeadamente falecimento e «viver com outra família».243

Todos os alunos entrevistados têm irmãos, quase todos mais velhos. O elevado número de irmãos, de dois a sete, contribui para o tipo de agregado familiar de grandes dimensões.244 Muitos dos alunos entrevistados possuem irmãos que vivenciaram processos de escolarização semelhantes aos seus, nomeadamente a frequência e realização de níveis de escolaridades superiores aos dos pais ou a experiência de insucesso escolar, traduzido em reprovações e/ou não continuidade de estudos. Alguns têm irmãos que frequentaram ou encontram-se a frequentar o Ensino Superior, tanto no país como no estrangeiro. Todavia,

240 As informações produzidas a partir do inquérito por questionário apresentam, todavia, uma realidade

diferente: 70,1% dos alunos são naturais de Luanda (quadro III.1.4).

241 Cerca de dois terços dos alunos inquiridos através do inquérito por questionário (64,2%) não exercem

qualquer actividade profissional (quadro III.1.5).

242 Os alunos respondentes do inquérito por questionário que trabalham (incluindo trabalhador familiar «não

remunerado») fazem-no por conta de outrem e, sobretudo, no sector privado (43,3%) (quadros III.1.6, III.1.7 e III.1.8).

243 Para a psicóloga angolana, Pimenta (2012), a poligamia constitui uma preocupação social, surgindo-se

como um dos factores da desestruturação familiar no país.

244 As informações do inquérito por questionário confirmam a dimensão relativamente grande dos agregados

familiares dos alunos, que incluem, além de pais e filhos, outros elementos familiares, tais como padrastos, madrastas, avós, cunhados, tios ou primos (quadro III.1.9). O número de irmãos dos inquiridos varia entre um e sete (quadro III.1.10).

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estes casos são em menor número do que os de alunos que frequentam e concluem os níveis de ensino não-superior, o que ilustra o quanto percursos escolares que integram níveis de ensino mais elevados continuam a ser uma realidade fora do alcance da grande maioria dos jovens angolanos, em particular daqueles que são oriundos de famílias cujas condições socioeconómicas são mais desfavoráveis.245 Poucos são os irmãos dos alunos entrevistados que nunca experimentaram a situação de reprovação. De facto, os casos de vivência de reprovação, uma ou mais vezes, são muito mais frequentes. De igual modo, muitos irmãos dos alunos entrevistados não puderam prosseguir os seus estudos, pelas mais diversas razões, destacando-se, de entre elas, a assunção de compromissos familiares, na sequência de contracção de casamentos; o cumprimento do serviço militar; as dificuldades económico-financeiras que impossibilitaram, por exemplo, a concretização das práticas da «gasosa» («pequena» corrupção ou suborno, que consiste na «compra e venda» de favores - isto é, o acto de dar e receber uma certa quantia em dinheiro - com o propósito de alcançar determinados objectivos) que poderiam permitir obter uma vaga no sistema de ensino; a própria acumulação de múltiplas reprovações; ou, simplesmente, a não obtenção de vagas no sistema de ensino.246

É nos bairros da capital e arredores que a maioria dos agregados familiares dos alunos entrevistados reside (Maianga, Samba, Cazenga, Grafanil, Golfe, entre outros). Assim, os alunos que vivenciam a experiência de estudantes deslocados, isto é, que não residem nos mesmos locais de residência dos agregados familiares, são em número limitado (apenas três).

As casas em que estes alunos habitam são, em regra, propriedades dos respectivos agregados familiares, sendo que muitas delas foram construídas pelos próprios agregados. Algumas casas - poucas - são, no entanto, propriedade do Estado. Em termos de tipologias, predominam as casas de quatro a sete divisões, incluindo quintais, cozinhas e outros anexos; estas são as habitações que dispõem de áreas de utilização mais espaçosas, constituindo as habitações tipo «moradia abarracada».247 Muitas das habitações não dispõem de electricidade e água canalizada, tanto mais que, em muitos dos bairros onde se localizam essas habitações, o saneamento básico é deficitário ou inexistente. As famílias e

245 Sobre as relações existentes entre o ensino, em particular o Ensino de Base (ou Primário), e as condições

ou situações de pobreza, cf. Ramphele (2004), Andrade (2004) e PNUD/Angola (2005).

246 Os irmãos dos alunos que responderam ao inquérito por questionário têm idades compreendidas entre os 2

e os 48 anos; também concluíram ou frequentaram todos os subsistemas e níveis de ensino; alguns nunca experimentaram a reprovação, mas outros há que viveram essas experiências mais do que uma vez, sendo o número de reprovações mais elevado seis (quadro III.1.11).

247 A grande maioria dos agregados familiares dos alunos inquiridos (75,2%) é proprietária da casa que habita

(quadro III.1.12). A maioria das habitações (57%) é constituída por moradias ou casas abarracadas, sendo os apartamentos em prédios o segundo tipo de habitação mais comum (41%) (quadro III.1.13).

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populações em geral recorrem à compra de água junto dos vizinhos que, dispondo de reservatórios/tanques nas habitações, procedem à compra e venda de água. O acesso à electricidade obtém-se, frequentemente, através do recurso às «puxadas», uma prática que consiste na «compra e venda» ilegal de electricidade junto dos vizinhos que dispõem desse bem adquirido junto de empresas fornecedoras.

Alguns agregados familiares dos alunos entrevistados não têm acesso a outros tipos de bens e equipamentos, como aparelhos televisores, rádios transístores, videogravadores, telemóveis, computadores e arcas frigoríficas, e são muito poucas (quatro apenas) as famílias detentoras de carros próprios, antenas parabólicas - que permitem ter acesso aos canais de televisão pagos - ou outros bens, como terrenos, seja enquanto investimentos, seja, apenas, enquanto espaços para realizar as lavras familiares.248 Não obstante as reservas dos alunos em abordar as questões relativas aos rendimentos mensais auferidos pelo agregado familiar,249 as escassas informações fornecidas sobre este assunto de foro privado, pessoal e familiar permitem constatar que o grosso dos rendimentos dos agregados familiares provém dos «cabeças» das famílias, sejam estes pais, mães, padrastos, tios ou, mesmo, irmãos mais velhos. Num contexto em que predomina o tipo de agregados familiares alargados, a existência de uma única fonte de rendimentos - e baixos, na maioria dos casos, não ultrapassando os 300-400 USD mensais - revela bem o elevado grau de dificuldades económico-financeiras com que a grande maioria dos agregados familiares dos alunos entrevistados vive no seu quotidiano.250 Muitos desses agregados familiares procuram atenuar estas dificuldades através de estratégias diversas, mormente a obtenção de fontes complementares de rendimentos, de que são exemplos as vendas nos mercados informais, a realização de «biscates» diversos ou o recurso a trabalhos remunerados dos próprios filhos/alunos.

Apenas um reduzido número de pais dos alunos entrevistados vive na mesma habitação, seja devido à separação, incluindo nesta categoria os casos dos pais/maridos que residem noutros locais ou vivem junto de uma «outra família», seja devido ao falecimento

248 A maioria dos agregados familiares dos alunos respondentes do inquérito por questionário possui aparelho

de televisor (80,2% de referências) ou telefone/telemóveis (72,3% de referências) (quadro III.1.14). Porém, não é menos verdade que a maioria dos agregados familiares não possui outro tipo de património económico, como uma segunda habitação (53,6%) (quadro III.1.15) ou terrenos (70,8%) (quadro III.1.16), que indicia a sua pertença a grupos ou classes socioeconómicos mais favorecidos. Para uma análise de grupos/classes sociais em Angola, cf. Hodges (2003), Pestana (2004, 2005) e Carvalho (2011).

249 A recusa dos alunos inquiridos por questionário em abordar este assunto é ainda mais forte. Apenas quatro

forneceram respostas à questão relativa ao rendimento mensal líquido do agregado familiar.

250 Dois alunos inquiridos por questionário indicaram 400 USD, um respondeu 150 USD e outro declarou

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de um deles (sobretudo os pais/maridos).251 Esta situação favorece a composição de agregados familiares por outros membros que não pai, mãe e filhos e sobrinhos e, bem assim, a organização da estrutura familiar assente no apoio e solidariedade dos membros que procuram assegurar, através de uma forte inter-relação e apoio mútuo, a sua sobrevivência e continuidade contra as adversidades, mormente dificuldades económico-financeiras e rupturas de laços e coesão familiares.

Os pais (homens) dos alunos entrevistados são naturais de várias partes de Angola, com destaque para a capital, Luanda.252 Trabalham (ou trabalhavam quando eram vivos ou

antes de se reformarem), sobretudo, por conta de outrem e no sector público, mormente educação e ensino, agricultura, energia, segurança e defesa, órgãos de poder central (Governo/Estado) e administrativo (Províncias e Comunas).253 Alguns deles tinham trabalhado noutros sectores de actividade. Outros, depois de deixarem o sector público do Estado, dedicaram-se a uma actividade profissional no sector privado, por conta própria. Casos há, igualmente, de pais que nunca deixaram de exercer uma «segunda» profissão (por exemplo, alfaiate, comerciante), sobretudo como forma de complementar os seus rendimentos. A maioria destes pais dos alunos desempenha funções que conferem pouca ou nenhuma autonomia. As excepções são os casos daqueles que exercem cargos de comandante geral da polícia ou de administrador comunal (todos detentores de formação escolar de nível superior).254 Os níveis de escolaridade frequentados ou completados por

251 Ao contrário dos alunos entrevistados, apenas 5% dos alunos que responderam ao inquérito por

questionário indicam que o pai e/ou a mãe não vivem juntos, porque um deles emigrou ou estava noutra província (quadro III.1.17).

252 As informações obtidas através do inquérito por questionário confirmam a capital enquanto local de

nascimento da maioria dos pais (homens) dos alunos (21,9%) (quadro III.1.18). A grande capacidade de Luanda de atrair populações de outras regiões fica a dever-se ao seu estatuto de capital e à sua capacidade de fornecer - no passado e no presente - melhores condições de vida (ou condições de vida menos más) em termos de oportunidades económicas, sociais ou de segurança, esta última particularmente importante nos períodos em que decorriam os conflitos armados.

253 A grande maioria dos pais (homens) dos alunos inquiridos por questionário trabalha (68,7%) (quadro

III.1.19), desenvolvendo as suas actividades nos mais diversos ramos ou tipos de empresas, abrangendo os sectores primário, secundário e terciário (quadro III.1.20); a razão principal por que a grande proporção destes alunos não responde às questões relativas ao ramo de actividade (ou tipo de empresa) em que o pai trabalha (82%) pode estar associada à pouca abertura ou predisposição para se pronunciarem sobre as suas condições socioeconómicas quando as respostas não «(sobre)valorizam» essas condições; é necessário, por conseguinte, relativizar essas informações. É como trabalhador por conta de outrem e, sobretudo, no sector público (35,9%) - no sector privado trabalham por conta de outrem 26,9% - que uma grande parte desses pais exerce a actividade profissional (quadros III.1.19, III.1.20, III.1.21 e III.1.22).

254 Cerca de três quartos dos pais (homens) dos alunos inquiridos por questionário exercem cargos que

exigem, se não a posse de conhecimentos especializados e altamente qualificados (25,5%), pelo menos a capacidade de chefia/gestão e supervisão (46,8%) (quadro III.1.23). Os restantes 28% dos pais exercem cargos sem posição de chefia (23,4%) ou com posição de relativa autonomia (4,3%). Estas informações reforçam as considerações anteriores relativas à possibilidade de os inquiridos menosprezarem ou não responderem ao tipo de questões que desvalorizam ou, pelo menos, não valorizam as suas posições e condições socioeconómicas (quadro III.1.24), e, inversamente, ressaltarem o tipo de respostas que sobrevalorizam as suas posições ou condições socioeconómicas.

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esses pais são baixos, sobretudo o Ensino de Base (II Nível, 4ª Classe) e o Ensino Médio; poucos (dois) são os pais detentores de diplomas do Ensino Superior.255

Originárias, tal como os pais, das diversas regiões do país,256 é no espaço doméstico que as mães dos alunos entrevistados desenvolvem as suas actividades. A maioria delas ocupa-se na realização de trabalhos domésticos, nas suas casas, enquanto algumas poucas prestam os mesmos serviços a terceiros; outras ocupam-se na venda de produtos em casa, o que lhes permite dedicar-se, simultaneamente, às suas tarefas domésticas; o número de mães que trabalham por conta de outrem, nos sectores públicos ou privados, é residual (apenas uma).257 O tipo de ocupação profissional da maioria dessas mães reflecte, de

alguma maneira, o nível de escolaridade baixo frequentado ou concluído (4ª, 5ª e 6ª classes) ou, mesmo, situações de analfabetismo; apenas uma mãe frequenta o Ensino Superior, retomando os estudos após muitos anos de interrupção.258

Apesar de escassas, as informações disponíveis sobre os avós permitem constatar a diversidade dos locais de origem destes ascendentes dos alunos entrevistados, como Luanda, Kuando-Kubango e Malange, entre outros.259 Quanto às actividades profissionais,

255 Utilizando uma escala que integre três níveis - Escolaridade Elevada (Ensino Médio/PUNIV, Ensino

Superior), Escolaridade Média (II e III Níveis do Ensino de Base) e Escolaridade Baixa (I Nível do Ensino de Base, Creche/Jardim Infantil/Iniciação) -, verifica-se que pouco mais de metade dos pais dos alunos inquiridos por questionário detém um nível de escolaridade elevada (quadro III.1.25). Os pais com níveis de escolaridade médio e baixo representam 25% e 22% do total, respectivamente. Direito e Economia são os dois cursos mais assinalados por estes alunos enquanto formações de nível superior realizadas pelos respectivos pais (quadro III.1.26). Dos 27 alunos cujos pais frequentaram ou concluíram os cursos superiores, 10 deles não indicaram, no entanto, os cursos realizados. A pouca verosimilhança destes números, associada à «sobrevalorização» ou à «não valorização» das respostas por parte dos alunos consoante as mesmas sirvam mais ou menos os seus interesses e representações (quadro III.1.27), impõe o mesmo tipo de precauções colocadas pelas questões relativas à ocupação profissional, situações do exercício profissional, incluindo desempenho de cargos e funções dos pais dos inquiridos, ou seja, a necessidade de relativização dessas respostas.

256 As informações do inquérito por questionário confirmam a diversidade de naturalidades das mães (quadro

III.1.28).

257 As informações produzidas a partir do inquérito por questionário demonstram que a maioria das mães

(55,6%) tem uma ocupação profissional (quadro III.1.29). Tal como no caso dos pais, uma proporção elevada dos alunos inquiridos por questionário não responde à questão relativa ao ramo de actividade (ou tipo de empresas) em que as mães trabalham (quadro III.1.30). A maioria das que trabalham fá-lo por conta de outrem, fora do sector público, atingindo os 55,0% se se incluir os 1,7% de trabalho familiar não remunerado (quadros III.31 e III.1.32; cf. quadro III.1.33 sobre os cargos e funções desempenhados na última profissão pelas mães desempregadas, reformadas ou falecidas). É entre as mães, mais do que entre os pais, que se verifica uma concentração maior de situações de desemprego, 25% superior à dos pais (quadro III.1.34).

258 As informações relativas aos níveis de escolaridade atingidos pelas mães dos alunos inquiridos que

responderam ao inquérito por questionário revelam uma polarização da concentração dos níveis de escolaridade elevado e baixo em proporções que alcançam 43,0% e 41,9%, respectivamente, contra o nível médio, que não ultrapassa os 15% (quadro III.1.35). À semelhança dos pais destes alunos, mais de metade das mães atinge escolaridade de nível médio (15,1%) ou elevado (43,0%). Esses valores representam 25,3% e 53,3% entre os pais desses alunos, respectivamente (quadro III.1.36). As mães experimentam uma situação desfavorável quando comparada com a dos pais relativamente aos níveis de escolaridade atingidos.

259 O facto de os alunos entrevistados residirem em Luanda e muitos dos pais e avós serem oriundos de outros

locais pode ajudar a explicar a falta de memória ou desconhecimento de informações relativas a esses ascendentes, sobretudo quando se tem em consideração que a presença de alguns desses alunos em Luanda

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era, sobretudo, na agricultura que se ocupavam os avós desses alunos, trabalhando nas suas propriedades ou, mesmo, por conta de outrem, como empregados. O caso de um avô com formação jurídica, que chegou a desempenhar altas funções num órgão de soberania do Estado, constitui uma excepção ao tipo de ocupação profissional no contexto em análise. As avós dos alunos entrevistados, por sua vez, dedicavam-se, sobretudo, ao trabalho doméstico e à prática da agricultura. A excepção, uma vez mais, refere-se a uma avó que possuía formação de nível superior e que, antes de se reformar, exercera actividade docente no Ensino Médio/PUNIV.260 A esmagadora maioria dos avós dos alunos entrevistados

detém ou detinha baixos níveis de escolaridade, encontrando-se entre eles analfabetos ou pessoas que detinham conhecimentos rudimentares de escrita e leitura («sabe ler e escrever»). Os referidos casos de um avô e uma avó que detinham diplomas ao nível de licenciatura constituíam excepções e integravam o mesmo agregado ou grupo familiar de um aluno entrevistado.261

Em alguns agregados familiares, os papéis e funções dos pais são desempenhados e assumidos, como se viu, por outros membros, como padrastos/madrastas, tios/tias ou mesmo irmãos/irmãs mais velhos(as). A adopção e o desempenho desses papéis e funções implicam, entre outros, o assumir de obrigações diversas, como apoio económico-financeiro aos membros do agregado familiar ou apoio no processo de escolarização dos alunos.262 Um elevado número de alunos entrevistados, devido às suas

surge na sequência de abandonos forçados dos antigos locais de residência, de onde são originários, devido às guerras que iam assolando o país, principalmente nas zonas do interior. De facto, a fuga dos locais de conflitos provocara a separação de muitas famílias. Se as pessoas mais velhas, sobretudo os avós, tendiam a permanecer nas suas terras, as pessoas mais novas optavam por fugir, abandonando-as. Sobre as «limitações da memória» (dos inquiridos), seja de curto prazo, seja de longo prazo, cf. Foddy (1996: 101-113).

260 As informações obtidas através do inquérito ressaltam a forte ligação dos avós dos alunos inquiridos

(paternos e maternos) ao trabalho agrícola, pequena indústria e serviços (públicos). «Agricultor», «Funcionário público» e «Comerciante» destacam-se de entre as profissões mais exercidas pelos avôs (pai do pai e pai da mãe) (quadros III.1.37 e III.1.38). Quanto às avós (mãe do pai e mãe da mãe), as profissões mais