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Parte I ALGUMAS REFERÊNCIAS TEÓRICAS DE PARTIDA

I. 1.1.2.2 Competição política

I.1.2 Construção de Estado

A indispensabilidade do Estado no processo de desenvolvimento em África fora justificada, fundamentalmente, por três razões: o Estado constituir-se o agente principal ao nível dos investimentos; o Estado desempenhar um papel primordial no desenvolvimento das forças produtivas; e o Estado nacional proteger a sociedade, integrando-se no sistema dos Estados (Lopes, 1982).

A importância do Estado como agente principal de desenvolvimento traduz, por um lado, a ausência de uma classe privilegiada que detenha inequivocamente os meios e o controlo da produção e, por outro, o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas. Na ausência de uma burguesia nacional que controle economicamente o país, é a burguesia burocrática que domina o aparelho de Estado em África; é o Estado que planifica e executa os grandes volumes de investimentos necessários ao desenvolvimento dos sectores considerados vitais para a economia do país.

30 A propósito dos cinismos relativamente ao processo de democratização em África, isto é, a viragem da

ideologia que dá grande atenção à democracia em África, que antes considerava ser um luxo a democracia neste continente, mas depois afirma ser esta uma condição sine quo non, cf., igualmente, Mkandawire (1992).

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Na sua função integradora, o Estado age em vários domínios: no domínio económico, investe, planifica e escolhe as prioridades para o desenvolvimento; no domínio político, procura concretizar uma integração de todas as camadas sociais; no domínio social, realiza a assistência social (saúde, educação, etc.); no domínio administrativo, tenta implantar um processo de descentralização, criando estruturas regionais e locais; e no domínio cultural, ensaia uma integração através dos meios de comunicação de massas e, sobretudo, da educação. Nota-se, no entanto, que o papel aglutinador dos centros urbanos não favorece essa integração, porquanto desenvolveu-se, nesses centros, uma consciência e um modo de vida muito diferentes dos do campo. Nos seus esforços para reduzir o fosso ou os desequilíbrios socioeconómicos entre esses centros urbanos e o resto do país, os governos procuram praticar uma política de planificação descentralizada fundada, sobretudo, nos trabalhos de infra-estruturas, mas os resultados têm sido pouco positivos.31

Na sua função protectora, o Estado surge enquanto espaço através do qual uma formação social se exprime ao nível internacional e faz ouvir as suas posições; é ao nível do Estado que se processa a integração regional, na perspectiva de um desenvolvimento autocentrado das regiões geográficas do «Sul» (a collective self-reliance).

Esta proeminência do Estado como agente privilegiado do desenvolvimento está intimamente ligada às perspectivas das Teorias da Modernização (Correia, 2007b). Estas teorias apreendem o desenvolvimento em termos de «evolução social», no quadro de uma hierarquia de progresso, considerando que o desenvolvimento das sociedades subdesenvolvidas, ou do «Terceiro-Mundo», passa pela adopção do nível de vida material e civilizacional europeu. Neste quadro, o Estado é entendido como a driving force no processo de modernização em África. Subjacente a esta perspectiva está o princípio de autonomia relativa do Estado, que encara o Estado como estrutura acima dos interesses dos indivíduos, dos grupos e das classes sociais e cujo objectivo é conduzir o processo de investimento e de acumulação para o bem da comunidade. A experiência africana revela, no entanto, que a viabilidade do Estado-Nação como agente director de desenvolvimento tem sido comprometida,32 tendo contribuído para tanto, entre outras razões, a sua fraqueza

31 Incluem-se aqui iniciativas associadas às políticas de integração dos Governos na óptica do

desenvolvimento regional, como são exemplos transportes e comunicações, abastecimento de bens de consumo, fornecimento de água, saúde e educação. Uma síntese das tentativas de implementação de políticas de desenvolvimento regional em Cabo Verde, nos anos 80/90, encontra-se em Correia (2007b).

32 O Estado, em África, tende a assumir o modelo de Estado-Nação europeu, unificador e respeitador das

reivindicações das minorias e da autonomia administrativa e cultural. Subjacente a este tipo de Estado está a ideia de um Estado forte, tanto no desempenho da sua tarefa de resistir ao imperialismo externo como no esforço da condução do desenvolvimento económico do país. A Tanzânia é um dos raros países que tentaram institucionalizar a participação das populações no desenvolvimento. Procurou fazê-lo com base na antiga posição de Ujamaa, isto é, a ideia de solidariedade, da consciência de uma pertença comum, da

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externa, traduzida na pouca relevância dos Estados africanos pós-coloniais face ao movimento do capital transnacional e na sua quase total dependência das instituições internacionais como o FMI e o BM.

Esta debilidade dos Estados africanos no quadro do capitalismo transnacional remete para o problema das classes sociais. Os grupos envolvidos no processo de desenvolvimento de África, quer externos (africanistas profissionais, entidades como o FMI e o BM, grupos religiosos e diferentes agências de assistência), quer internos (governos, homens do Estado, sociedade civil, intelectuais), não actuam de forma totalmente desinteressada; as suas articulações individuais e colectivas, bem como as suas práticas do desenvolvimento, estão matizadas por factores de classe e interesses nacionais e internacionais que servem. Nestas condições, torna-se improvável que as transformações socioeconómicas necessárias em África se verifiquem face a esse neocolonialismo temporário; ou seja, a desconexão, de que fala Amin (1986), torna-se complexa e problemática ou mesmo impossível, com as classes médias de pequenos produtores e proprietários, isto é, pequeno-burgueses, a dominar o Estado. As razões por que os Estados africanos, isto é, a classe-Estado, têm comprometido o processo de desenvolvimento no qual estão envolvidos têm muito que ver, por conseguinte, com a sua natureza autoritária e o seu modo de funcionamento clientelar e patrimonialista.

Um esboço, ainda que breve, das grandes linhas apropriadas à abordagem da problemática do Estado em África, e, em particular, o seu carácter de classe, permite revelar as realidades socioeconómicas e políticas experimentadas pelos africanos nos Estados pós-coloniais que em muito enformam as suas vivências. Na base das discussões sobre a natureza dos Estados africanos pós-coloniais está o controverso princípio marxista, segundo o qual o Estado constitui uma categoria de classe e o seu poder tem sempre um carácter de classe, não sendo, por isso, mais do que um órgão (poder político) utilizado por uma classe contra outras. As várias correntes teóricas sobre o Estado em África não são, no entanto, unânimes sobre esta questão.33 Para umas, o carácter de classe do Estado em África não é burguês nem proletário, uma vez que o Estado desempenha um papel especial de transformação social. Para outras, a classe pequeno-burguesa, ou classe política, constitui uma classe informal e incompleta, em que algumas das suas facções podem usar o poder do Estado para instaurar o «socialismo», restando saber, no entanto, se é ou não possível o Estado pós-colonial surgir como instrumento revolucionário. Para outras ainda,

responsabilidade social. Todavia, a experiência não foi inteiramente bem-sucedida, devido não só ao centralismo e à burocracia, como também a uma certa inércia dos camponeses (Lê Thanh Khôi, 1990).

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o carácter de classe do poder do Estado não se coloca, na medida em que este poder se encontra nas mãos de uma oligarquia financeira mundial, sendo que os membros nacionais se limitam a ocupar os postos do aparelho de Estado ao serviço dessa oligarquia - embora haja, entre estes membros nacionais, indivíduos reaccionários e fiéis aos imperialismos, assim como pessoas «inocentes» que ficam do lado do povo.34

Na linha desta última corrente, distinguir-se-ia, em África, a classe dominante ou dirigente da classe governante, esta última composta pelo pessoal que se encontrava no topo da hierarquia do Estado, isto é, os funcionários e os representantes do Estado. Criticando esta tese da existência de uma classe dominante mundial, Shivji (1980) argumenta que, por um lado, para ser verdadeira, seria preciso demonstrar a existência de um sistema de produção social ao nível mundial, o que não se fez, e, por outro lado, tendo em consideração que, em África, a referida «classe governante» consegue, na prática, o sucesso da «classe dominante», é contraditória a distinção teórica entre aquelas duas classes (Shivji, 1980: 791). Para o presente trabalho, o interesse desta discussão reside no facto de ela remeter para a necessidade de uma conjugação de posições teóricas abstractas com posições práticas provenientes de análises concretas. Ou seja, a caracterização de uma classe-Estado deve, acima de tudo, partir de análises das formações sociais concretas, sem deixar de tomar em consideração que a natureza e as características do Estado pós-colonial se ligam ao Estado colonial e à independência política, mormente a natureza antidemocrática do imperialismo; que a independência política cria um Estado nacional separado, mas não o fim da dominação económica; que, no Estado pós-colonial, o poder é detido pelas classes dominantes, que possuem interesses próprios mas coincidentes, a longo prazo, com os interesses do imperialismo no seu conjunto; e que as rivalidades entre os imperialismos têm lugar na base das alianças que estes fazem com as diferentes classes ou facções de poder do Estado (Shivji, 1980).

Uma perspectiva que interpreta os conflitos e as contradições estruturais das formações sociais africanas é a teoria das classes sociais, que se ocupa da análise das finalidades, das acções e das condutas dos agentes sociais, enquanto produtos de uma estrutura e práticas institucionalizadas duradoiramente reproduzidas35. De acordo com Marx, é o modo de produção da vida material que domina o desenvolvimento da vida

34 Esta oligarquia financeira seria uma das componentes de uma classe dominante, da qual faziam parte,

ainda, organismos internacionais, tais como o BM e o FMI, organismos nacionais dos países nórdicos e outros países europeus, diversas sociedades multinacionais e burguesia metropolitana, entre outros. Seria, precisamente, esta classe dominante que detinha o poder dos Estados nacionais africanos.

35 Para uma revisão crítica das teorias de classes sociais, cf., entre outros, Wright (1993), Almeida (1999) e

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social, política e intelectual de uma formação social (Marx, 1975). Foi este autor que levou mais longe as análises das relações sociais contidas na actividade produtiva. A sua descrição das propriedades gerais da estrutura do funcionamento das sociedades capitalistas remete, essencialmente, para o antagonismo irredutível existente entre a burguesia e a classe trabalhadora; antagonismo este que tende, directa ou indirectamente, a influenciar as relações sociais que impliquem outras classes. Marx analisa o capitalismo enquanto um modo de produção que designa um conjunto de relações sociais, no qual os homens interagem e produzem os bens e serviços necessários à sua existência.

A análise das posições de classes não se restringe, no entanto, às relações contidas na actividade produtiva, em sentido estrito, mas abrange o conjunto da divisão social do trabalho, incluindo as actividades em sectores não produtivos, como muitas daquelas que dependem dos aparelhos do Estado ou do sector da circulação. Ou seja, a definição da situação de classe a partir das posições na divisão social de trabalho refere-se não só à esfera económica, mas também às relações e funções diferenciadas a outros níveis, mormente às relações de dominação/subordinação política e ideológica. Daí que as posições de classes prolonguem os seus efeitos a outros campos da prática social, nomeadamente as clivagens em termos ideológicos, de poder e autoridade ou de modo de vida. A posição defendida por Poulantzas (1974) enquadra-se nesta perspectiva. Este autor argumenta que as clivagens se alargam, entre outros, aos domínios escolares, culturais, simbólicos, modos de vida, prestígio, respeitabilidade, gestão e tipos de consumo.

Impõe-se, com efeito, a necessidade de ultrapassar a polarização simples de classes fundamentais. Debruçando-se sobre esta questão, Wright defende que as posições não ambíguas de classes não esgotam as situações estruturais que é necessário ter em conta, sendo que a não coincidência entre as dimensões das relações sociais de produção conduz a «posições contraditórias de classes» (Wright, 1993: 60).36 O autor distingue três posições

contraditórias que estão no centro dos debates sobre as classes médias: os directores (managers) e os supervisores, entre a burguesia e o proletariado; os pequenos empresários, entre a burguesia e a pequena burguesia; e os empregados semiautónomos, entre a pequena burguesia e o proletariado. Enumera, por outro lado, um conjunto de categorias, incluindo estudantes, reformados e pensionistas, desempregados, funcionários nos aparelhos políticos e ideológicos (padres, polícias, professores) e donas de casa, cujos critérios de qualificação teriam que ser específicos (ou, em situação extrema, recusar-se a qualquer

36 Esta noção dá conta de situações que se reproduzem duravelmente no quadro de transformações ocorridas

nas formações sociais contemporâneas e que escapam às classificações tradicionais, contribuindo para uma melhor centralização da complexidade estrutural que delimita o campo das práticas das classes.

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qualificação). Estas categorias referem-se a situações determinadas não directamente ao nível das relações de produção, pelo que Wright (1993) recorre às trajectórias de classe e às ligações familiares para qualificá-las. Os casos dos estudantes e das donas de casa ressaltam a importância da referência familiar na qualificação da respectiva pertença de classe; a família, e não o indivíduo, constitui, pois, a unidade básica da análise de classes.37

Wright tenta, deste modo, introduzir um certo tipo de complexidade na estrutura de classes. Sem abandonar a centralidade das relações de produção na especificação da estrutura de classes, o autor procura mudar o vínculo simples existente entre indivíduos-no-emprego e classes, introduzindo os conceitos de «posições múltiplas de classes», «posições mediatas de classes» e «posições temporais de classes» (Wright, 1993: 39). As primeiras permitem ultrapassar as discussões sobre a defesa de posições únicas na estrutura de classes; as pessoas podem ocupar mais que um emprego, do mesmo modo que podem ser detentoras de propriedade capitalista e, simultaneamente, ter algum trabalho. As segundas, isto é, as posições mediatas de classes, referem-se às diversas formas em que os interesses de classes estão condicionados pelas relações sociais além da sua relação directa com o processo de produção, como são exemplos as redes de parentesco e as estruturas familiares ou a relação com o Estado; donde se segue que a estrutura de classes ao nível concreto impõe que se tome em consideração tanto as relações directas como as relações mediatas. E, finalmente, as posições temporais de classes permitem ultrapassar as críticas que se dirigem à análise estrutural de classes, como seja o seu excessivo estatismo.

Este é o quadro no qual a problemática do Estado em África deve ser analisada, pois a realidade africana revela que mais do que o desenvolvimento das forças produtivas - condições do surgimento das classes sociais conforme a perspectiva marxista -, as classes sociais estão intimamente ligadas às questões da sobredeterminação da dominação política, pondo em causa qualquer análise baseada estritamente sobre o económico.38 Uma análise

das classes sociais em África deve, por conseguinte, fundar-se sobre os seus próprios antagonismos, por um lado, e centrar-se sobre a questão do poder, designadamente as contradições que se verificam entre o conjunto dos trabalhadores (rurais e urbanos) e as burguesias locais, por outro. Estas contradições ajudam a esclarecer o processo de

37 Como refere Almeida (1999: 76), o conceito de família situa-se «não no terreno das acções individuais e

finalizadas e da interacção, mas no das práticas colectivas produtoras do social, no das relações sociais».

38 O marxismo dá prioridade às forças de produção, explicando as estruturas do conjunto das sociedades pela

determinação das relações de produção. Assim, a partir do momento em que uma sociedade humana atinge um certo estádio de desenvolvimento das forças produtivas, estas dividem-se em classes sociais antagónicas. De acordo com Magubane (1985), a análise de classes em África não coloca qualquer tipo de problema, mesmo na perspectiva marxista, na medida em que o nível do desenvolvimento das forças produtivas é, por todo o continente, suficientemente evoluído para que as classes sociais possam fazer a sua aparição.

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exploração destes trabalhadores pelas burguesias locais, assim como da periferia pelo centro. Se é verdade que, nas relações entre o centro e a periferia, ocorrem transferências de valor desta para aquele, dando, assim, lugar a acumulação primitiva, não é menos verdade que, nesta relação mundial de produção, o elemento fundamental de articulação é o aparelho de Estado. E é sobre as suas formas repressivas, administrativas e ideológicas, enquanto agente activo e dominante, que é garantida a perpetuação da exploração económica em proveito do sistema mundial. Assim, «se à escala mundial é preciso isolar ao máximo o imperialismo dominante ou subimperialismo sectoriais, ao nível nacional, ou seja, no interior de uma formação social dada, é a burguesia local que aparece como o inimigo principal das massas; o essencial do seu lucro reverte a favor dos imperialismos dos quais depende» (Olivier de Sardan, 1975a: 1523).39

Em África, a classe dirigente tende a controlar o aparelho de Estado e todo o aparato político, o que lhe permite deter um poder sobre os meios e as relações de produção, sobre as forças produtivas, tornando possível transformar «a sua hegemonia ideológica, o seu domínio político e a sua qualificação educativa numa estrutura de poder monopolista sob regimes políticos militares, uni-partidários ou poliárquicos» (Dias, 1990: 293).40 O processo de exploração em África tem lugar, fundamentalmente, no domínio da circulação e não no da produção. As burguesias de Estado e a burguesia comerciante constituem o primeiro estágio da pirâmide, que priva os camponeses africanos do seu trabalho, desempenhando, deste modo, um papel executivo no sistema capitalista mundial face às massas africanas. Se a burguesia comerciante edifica as suas bases económicas sobre o monopólio do sector do comércio import-export (comércio grosso ou meio grosso), as burguesias de Estado encontram no aparelho do Estado a sua fonte de recursos e de poder, que lhes foi transmitida directamente com a independência. As burguesias de Estado desempenham, além da repressão e do enquadramento político, uma função económica, mormente nas áreas dos impostos, da troca desigual e da acumulação local alargada, associada ao capital estrangeiro ou em ligação com ele. Ao operar por intermédio do aparelho de Estado, e enquanto classe, os seus membros não deixam de utilizar, a título

39 Ao abordar a problemática das classes sociais em África, Olivier de Sardan (1975a) acusa Samir Amin de

não se preocupar com o campesinato e o proletariado africanos e a exploração a que esses grupos populacionais estão sujeitos, interessando-se, apenas, pela burguesia local e suas possibilidades de acumulação, isto é, as possibilidades de se estabelecer por conta própria. Como o próprio afirma, o que ele critica em Samir Amin é a «neutralidade mais que equívoca face às burguesias de Estado», o que faz com que a questão da luta de classes fique de fora nas análises deste autor (Olivier de Sardan, 1975a: 1509).

40 É com base na tomada em consideração dessa estratégia da classe dirigente em África que Dias (1990)

defende que os esforços para alterar o sistema educativo tendem sempre a fracassar, visto que nem a base capitalista nem a natureza de classe-Estado são mudadas, do mesmo modo que a força «revolucionária» da educação escolar, enquanto meio de libertação individual e colectiva, instrumento de igualdade e mobilidade social e principal força de desenvolvimento, não passa de um mito (Dias, 1990: 293).

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individual, as suas posições para enriquecerem e se colocarem no quadro do capitalismo privado. As burguesias de Estado têm, por conseguinte, uma estratégia própria que visa reforçar constantemente as suas posições relativas. Como afirmava Olivier de Sardan, «a burguesia de Estado não é nem independente, nem sacrificada. Ela prospera, apesar de e graças à sua subordinação. Numa palavra, ela está integrada no sistema capitalista mundial» (Olivier de Sardan, 1975b: 1761). Tudo se conjuga, portanto, para que não mais se possa divorciar a luta de classes em África da análise das relações internacionais.

É neste quadro que se coloca, também, a questão da (in)capacidade dos Estados pós-coloniais ou das pseudoburguesias nacionais em África enquanto agentes de desenvolvimento. A este propósito, Magubane (1984: 349) nota que esta camada da população, por mais nacionalista que possa ser, não poderá dirigir «livremente» o