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CAPÍTULO 3 – A TUTELA COLETIVA NO BRASIL

3.4. A disciplina da coisa julgada

3.4.1. Da coisa julgada no processo individual

Nos termos do princípio da correlação, o “autor fixa os limites da lide e da causa de pedir na petição inicial (artigo 141 do Código de Processo Civil), cabendo ao

juiz decidir de acordo com esse limite”.182 Vale dizer: o Estado-Juiz não pode prolatar

sentença ultra petita, extra petita ou citra petita. Na síntese de José Carlos Barbosa Moreira: “ O juiz deve julgar todo o pedido e só o pedido, e não deve dizer absolutamente

nada sobre o que não esteja contido nesse círculo.”183

São elementos essenciais da sentença, nos termos do artigo 489, I, II e III, do Código de Processo Civil: o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; e o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem.

Para efeitos de coisa julgada, importa investigar a conclusão, ou seja, o dispositivo, bem como as questões prejudiciais decididas expressas e incidentalmente,

tudo conforme o disposto nos artigos 503, e 504, do Código de Processo Civil.184

fundamento no princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional sustenta, diante da situação concreta, a possibilidade de os entes legitimados defenderem a classe, no lugar dos seus membros; b) a legitimidade passiva dos sindicatos em matéria trabalhista; c) a ação coletiva passiva incidental ou derivada, como, por exemplo, a ação declaratória incidental; e d) ação coletiva passiva contra grupos organizados ou sem personalidade jurídica.

182 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.

Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1163.

183 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Correlação entre o pedido e a sentença. Revista de Processo nº 83.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1996, p. 211.

184 Sobre a questão prejudicial de mérito, dada a inovação da lei processual, transcreve-se a lição de Nelson

Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery: “O sistema legal dos limites objetivos da coisa julgada foi consideravelmente alterado pela nova regulação trazida pelo texto ora comentado. No regime anterior era prevista a ação declaratória incidental como mecanismo para fazer com que a questão prejudicial de mérito, decidida como fundamento da ação principal, fosse também acobertada pela coisa julgada material. [...]. O texto ora analisado é expresso em permitir que haja formação de coisa julgada material sobre a questão prejudicial de mérito decidida incidentemente no processo, desde que estejam presentes alguns requisitos: a) que a questão prejudicial tenha sido agitada pelas partes; b) que a decisão de mérito dependa da resolução da questão prejudicial; c) que tenha havido efetivo contraditório sobre a prejudicial (v. CPC 10); d) o juiz seja competente em razão da matéria ou da pessoa (competência absoluta); e) que a questão prejudicial seja de mérito; f) que a prejudicial possa ser objeto de ação autônoma; g) que não tenha havido restrições

A coisa julgada se constitui na manifestação do princípio do estado democrático de direito relativamente às atividades desempenhadas pelo Poder

Judiciário.185 Possui status e proteção constitucional, conforme o artigo 5º, XXXVI, da

Constituição Federal: a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Trata-se, ainda, de cláusula pétrea, consoante o disposto no artigo na 60, § 4º, IV, da Constituição Federal.

Em termos infraconstitucionais, o tema relativo à coisa julgada é tratado no artigo 6º, § 3º, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, que define coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Ao tempo em que esse diploma era denominado de Lei de Introdução ao Código Civil, José Carlos Barbosa Moreira, haja vista a simplificação de instituto tão importante para o direito, já tecia críticas a esse dispositivo, na medida em que chamar de coisa julgada “a própria sentença, desde que inatacável através de recurso, será, na melhor hipótese, empregar

linguagem figurada para indicar o momento em que a coisa julgada se forma”.186

Ainda em termos infraconstitucionais, a coisa julgada também tem sua delimitação legal prevista no artigo 502 do Código de Processo Civil que define coisa julgada material como sendo a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.187

probatórias para o deslinde da questão prejudicial (CPC 503, § 2º).” In Comentários ao Código de Processo

Civil. Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1221.

185 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal e

administrativo. 9ª edição revista, ampliada e atualizada com as novas Súmulas do STF (simples e

vinculantes) e com análise sobre a relativização da coisa julgada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 51.

186 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Ainda e sempre a coisa julgada. Doutrinas essenciais de Processo

Civil. Volume 6. Edição eletrônica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

187 A noção acerca de qual momento ocorre o trânsito em julgado depende da lei. Assim, por exemplo, em

Portugal, o trânsito em julgado ocorre de forma menos ampla. Enquanto no Brasil exige-se o esgotamento dos recursos, naquele país necessário apenas o esgotamento dos recursos ordinários. Código de Processo Civil português: CAPÍTULO VI – Dos recursos – SECÇÃO I – Disposições gerais: ARTIGO 676.º Espécies de recursos: 1 - As decisões judiciais podem ser impugnadas por meio de recursos. 2 - Os recursos são ordinários ou extraordinários, sendo ordinários os recursos de apelação e de revista e extraordinários o recurso para uniformização de jurisprudência e a revisão. ARTIGO 677.º Noção de trânsito em julgado. A decisão considera-se transitada em julgado logo que não seja suscetível de recurso ordinário ou de reclamação, nos termos dos artigos 668.º e 669.º.

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, ao comentarem esse artigo, sustentam que a modificação legislativa havida relativamente à substituição da

expressão eficácia (conteúdo da lei revogada188) por autoridade é tecnicamente mais

adequada, pois, na lição desses autores, “coisa julgada material (auctoritas rei iudicate) é a qualidade que torna imutável e indiscutível o comando que emerge da parte dispositiva da decisão de mérito (interlocutória ou sentença) não mais sujeita a recurso ordinário ou

extraordinário (CPC 502, LINDB 6º, § 3º), nem à remessa necessária do CPC 496.”189

No ponto, esclarece Eduardo arruda Alvim que “a coisa julgada não é efeito, mas um status de que passa a gozar determinada sentença (rectius, parte dispositiva da sentença), e que decorre do fato de não ser mais possível, no caso em concreto, a revisão do julgado, seja em decorrência da impossibilidade de interposição de recurso ou

do não cabimento de reexame necessário”.190 Acrescenta, ainda: “O atributo de não poder

ser mais modificada nem discutida (eficácia, segundo o art. 467 [atual artigo 502]) não é propriamente da sentença, como sugere o texto legal, mas do conteúdo desta, ou seja, do

comando, ou, por assim dizer, da norma jurídica concreta que emerge da decisão”.191

Essa afirmação possui amparo na lição de José Carlos Barbosa Moreira o qual afirma que a “imutabilidade consequente ao trânsito em julgado reveste, em suma, o

conteúdo da sentença, não os seus efeitos”.192 Para ele, entretanto, a coisa julgada que

nasce da determinação da sentença não se confunde com a autoridade de coisa julgada. Esta é uma qualidade de imutabilidade que se incorpora ao comando da sentença:

A coisa julgada não se identifica nem com a sentença transita em julgado, nem com o particular atributo (imutabilidade) de que ela se reveste, mas com a situação jurídica em que passa a existir após o trânsito em julgado. Ingressando em tal situação, a sentença adquire uma autoridade que – esta, sim – se traduz na resistência a

188 O artigo 467 da lei revogada possuía a seguinte redação: Denomina-se coisa julgada material a eficácia,

que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.

189 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.

Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1192.

190 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. 2ª edição reformada, atualizada e ampliada. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 614/615.

191 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. 2ª edição reformada, atualizada e ampliada. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 615.

192 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada. Doutrinas

subsequentes tentativas de modificação do seu conteúdo. A expressão “auctoritas rei iudicate” e não “res indicata”, portanto, é a que corresponde ao conceito de

imutabilidade.193

Portanto, para José Carlos Barbosa Moreira, “a coisa julgada é uma situação jurídica: precisamente a situação que se forma no momento em que a sentença se converte de instável em estável. É a essa estabilidade, característica da nova situação jurídica, que a linguagem jurídica se refere, segundo pensamos, quando se fala da

‘autoridade da coisa julgada’”.194

Além da coisa julgada material, fala-se também em coisa julgada formal. Assim, na síntese de Patrícia Miranda Pizzol, quando “essa estabilidade repercute dentro do processo somente, trata-se de coisa julgada formal; quando a repercussão ultrapassa

os limites do processo em que foi proferida a sentença, a coisa julgada é material.” 195

Quanto à coisa julgada formal, esclarece Eduardo Arruda Alvim: “É cediço que o processo se desenvolve por um sistema de preclusões. Àquilo que mais apropriadamente se poderia denominar de ‘preclusão máxima’, isto é, o esgotamento de todos os recursos cabíveis, denomina-se, com alguma impropriedade, de coisa julgada

formal”.196 Acrescenta: “No que diz com o nosso estudo, temos que o legislador – de

forma não apropriada – serviu-se de uma única expressão – coisa julgada – para designar

duas realidades ou dois institutos absolutamente distintos”197, pois havendo “resolução de

mérito, uma e outra, coisa julgada formal e coisa julgada material, formam-se no mesmo instante. A primeira, todavia, quer significar, apenas, a estabilidade da relação jurídica processual. Já a última projeta seus efeitos para fora do processo, impedindo a rediscussão

daquele litígio, naquele ou noutros processos”.198

193 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Ainda e sempre a coisa julgada. Doutrinas essenciais de Processo

Civil. Volume 6. Edição eletrônica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

194 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada. Doutrinas

essenciais de Processo Civil. Volume 6. Edição eletrônica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

195 PIZZOL, Patrícia Miranda. Tutela coletiva: processo coletivo e técnicas de padronização das decisões.

Tese (Livre docência em direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2018 p. 359.

196 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. 2ª edição reformada, atualizada e ampliada. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 615.

197 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. 2ª edição reformada, atualizada e ampliada. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 616.

198 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. 2ª edição reformada, atualizada e ampliada. São

Patrícia Miranda Pizzol partilha desse entendimento ao afirmar que a “coisa julgada formal pode ser definida como a “preclusão máxima” do processo, uma vez que, depois de ela se formar, não podem as partes exercer qualquer faculdade

processual. A coisa julgada se opera dentro do processo [...]”.199

Quanto à coisa julgada material, anota Patrícia Miranda Pizzol: “A coisa julgada material, por sua vez, se opera para fora do processo no qual foi proferida a sentença, produzindo efeitos extraprocessualmente, impedindo, portanto, a propositura

de uma outra ação que tenha por objeto a lide discutida e decidida no processo findo”.200

Na vigência do Código de Processo Civil revogado, discutia-se acerca da possibilidade de se repropor a ação caso ela tenha sido extinta sem julgamento do mérito. Patrícia Miranda Pizzol sustentava que era possível a repropositura, inclusive sem a necessidade de correção do vício, haja vista a regra vigente à época não fazer essa exigência na medida em que não havia no sistema processual revogado “qualquer empecilho à propositura de nova ação idêntica caso a primeira tivesse resultado em sentença terminativa ou processual. O único requisito exigido pelo art. 268 do CPC/73 era o pagamento de custas e honorários advocatícios eventualmente pendentes do primeiro processo”.

A jurisprudência formada à época, entretanto, definiu-se pela necessidade

da correção. Nesse sentido, o Recurso Especial no 897.739, Relator Ministro Massami

Uyeda: “extinção do processo, sem julgamento de mérito, por ilegitimidade ativa ad causam, faz coisa julgada formal, impedindo a discussão da questão no mesmo processo, mas não em outro feito, desde que a parte autora promova o saneamento da condição que

ensejou a extinção da demanda anterior. Inexistência, na espécie, de correção”.201

Atualmente, porém, a questão parece superada, pois o artigo 486, § 1º, do Código de Processo Civil, é expresso: O pronunciamento judicial que não resolve o

199 PIZZOL, Patrícia Miranda. Coisa julgada nas ações coletivas. Disponível em:

<http://www.pucsp.br/tutelacoletiva/download/artigo_patricia.pdf>. Acesso em: 05.12.2018.

200 PIZZOL, Patrícia Miranda. Coisa julgada nas ações coletivas. Disponível em:

<http://www.pucsp.br/tutelacoletiva/download/artigo_patricia.pdf>. Acesso em: 05.12.2018.

mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação. No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485 , a propositura da nova ação depende da correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito.

A coisa julgada possui limites, objetivos e subjetivos. Objetivamente, o Código de Processo Civil estabelece os seus limites no artigo 504: Não fazem coisa julgada: os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; e a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Portanto, apenas o dispositivo, a norma concreta, enunciada na decisão judicial,

reveste-se de autoridade de coisa julgada.202 Acrescente-se, em razão do disposto no

artigo 503 do Código de Processo Civil e, conforme já exposto anteriormente, as questões prejudiciais podem se tornar imutáveis por força da coisa julgada

Subjetivamente, consoante o disposto no artigo 506 do Código de Processo Civil, a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Trata-se de regra com índole política decorrente do princípio do

contraditório.203 Portanto, a “regra geral é a de que a sentença somente obriga as pessoas

entre as quais foi dada, não prejudicando nem beneficiando terceiros.”204

Na redação do Código de Processo Civil revogado, a redação era mais

abrangente no sentido de não beneficiar e nem prejudicar terceiros.205 Em razão disso,

alguns, como Cássio Scarpinella Bueno, passaram a defender uma hipótese de transporte in utilibus da coisa julgada à semelhança dos processos coletivos:

Trata-se de proposta que consagra, mesmo nos “processos individuais”, a possibilidade de transporte in utilibus da coisa julgada. Como o terceiro, que o é porque não formulou pedido e nem em face dele foi formulado, beneficiar-se-á da decisão (não podendo ser prejudicado),

202 ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 31ª edição revista e ampliada. São Paulo: Malheiros Editores, 2015, p. 346.

203 ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 31ª edição revista e ampliada. São Paulo: Malheiros Editores, 2015, p. 349.

204 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.

Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1238.

205 Artigo 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem

prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

não há por questionar a opção feita pelo CDC de 2015 na

perspectiva constitucional.206

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, contudo, são taxativos quanto a essa impossibilidade:

O CPC 506 excluiu a referência à proibição de a sentença fazer coisa julgada em benefício de terceiros. Mas esse fato não altera a interpretação que deva ser dada a esse dispositivo, visto que, se alguém pretender aproveitar-se da

sentença proferida em determinada ação, estará

prejudicando outrem, em contrapartida – o que ainda é vedado. Além disso, o dispositivo ainda é bastante claro no sentido de que a sentença faz coisa julgada apenas entre as partes entre as quais é dada. Não faria o menor sentido pretender-se, portanto, que este dispositivo estaria a admitir hipóteses de relativização da coisa julgada ou de extensão

subjetiva de seus efeitos.207

Finalmente, registre-se que a coisa julgada é “instituto de função essencialmente prática, que existe para assegurar estabilidade à tutela jurisdicional

dispensada pelo Estado”.208 Ou nas palavras de Nelson Nery Junior:

Há determinados institutos no direito, de natureza material (v.g., decadência, prescrição) ou processual (v.g., preclusão), criados para propiciar segurança nas relações sociais e jurídicas. A coisa julgada é um desses institutos e tem natureza constitucional, pois é, como vimos no comentário anterior, elemento que forma a própria existência do estado democrático de direito (CF 1º, caput).209

A coisa julgada, portanto, existe, para evitar a eternização dos conflitos. Nesse sentido, é que não se admite a sua desconsideração, salvo nas hipóteses expressamente reguladas, como a ação rescisória expressamente prevista no artigo 966

206 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 366. 207 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.

Novo CPC. Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1238.

208 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Ainda e sempre a coisa julgada. Doutrinas essenciais de Processo

Civil. Volume 6. Edição eletrônica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

209 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal e

administrativo. 9ª edição revista, ampliada e atualizada com as novas Súmulas do STF (simples e

vinculantes) e com análise sobre a relativização da coisa julgada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 65.

do Código de Processo Civil. Fora das hipóteses legais, não se admite a sua

desconsideração, mesmo que o resultada gerado por ela seja injusto.210