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CAPÍTULO III Prevenção e Intervenção nos Conflitos Sociais e Escolares

4. Desenho da Investigação – Estudo de Caso

A Grande Lisboa é uma sub-região estatística portuguesa (NUTS III) que faz parte da região de Lisboa (Antiga Região de Lisboa e Vale do Tejo) e do distrito de Lisboa. Tem como limites territoriais, a norte a sub-região do Oeste, a este a Lezíria do Tejo, a sul as margens do rio Tejo e a Oeste o Oceano Atlântico, onde vai desaguar o rio Tejo. A sub-região em análise é constituída pelos concelhos de Lisboa, Cascais, Amadora, Loures, Oeiras, Sintra, Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira. Os nove concelhos têm uma área total de 1 376,70 Km2 euma população total de 2.042.47750.

50INE/Estimativas Anuais da População Censos 2011. Disponível em:

Figura 2 – Mapa de Portugal, região de Lisboa e da Grande Lisboa51

A região de Lisboa tem uma maior incidência de comportamentos de indisciplina e violência em meios urbanos, conforme referem várias estatísticas, nomeadamente do Ministério da Educação e Ciência, Ministério da Administração Interna, Programa Escola Segura, Conselho Nacional da Educação e Observatório Sobre a Violência Escolar.

No estudo adotou-se um desenho de investigação de “estudo de caso”, tendo em consideração que o estudo empírico foi realizado em duas escolas públicas da sub-região da Grande Lisboa, nomeadamente dos concelhos de Amadora e Loures. Uma escola tem indicadores de violência e a outra escola não tem indicadores de violência, designadamente escola A e escola B (em virtude de se manter o anonimato). As escolas têm características diferenciadas, sendo uma escola A secundária, com um programa de intervenção denominado Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) e a escola B, do ensino básico, não intervencionada.

Utilizaram-se alguns procedimentos com um carácter seletivo, na medida em que se considerou como objetivo do estudo analisar dois casos diferenciados. No entanto, o estudo de caso não pressupõe uma amostragem aleatória, em virtude de não existir um mecanismo de seleção rigorosa das unidades da amostra escolhidas.

Pese embora esta metodologia de estudo de caso ter especificidades, em relação a outros tipos de estudos, nomeadamente experimentais, adotaram-se alguns procedimentos de seleção das escolas do estudo. No país selecionou-se, em primeiro lugar o distrito de Lisboa e a sub- região da Grande Lisboa (NUT III) constituída por nove concelhos, tendo-se privilegiado contactar os concelhos periféricos de Lisboa, com uma população socioeconómica e sociocultural de nível baixo e médio. Seguidamente consultou-se uma lista das escolas básicas e secundárias em cada concelho, nomeadamente tendo em conta aspetos culturais, os Regulamentos Internos e notícias da comunicação social sobre os comportamentos de indisciplina e violência. Deste modo selecionaram-se quatro escolas para se estabelecerem os contactos, tendo em conta o maior número de turmas do 9º ano de escolaridade. Depois de se estabelecerem os contactos de diversas maneiras, nomeadamente telefónicos, por e-mail e pessoalmente, conseguiu-se a aceitação de duas escolas dentro da tipologia escola TEIP e escola Não – TEIP. As escolas foram, ainda selecionadas, tendo em conta que uma delas (TEIP) tem características acentuadas de multiculturalidade e a outra não. Foram inquiridos 150 alunos que pertencem a um total de 11 turmas, sendo 7 da escola secundária (TEIP) (4 turmas de cursos CEF52 e 3 turmas de ensino regular) e 4 turmas do ensino regular na escola básica. Realizaram-se, ainda doze entrevistas aos respetivos professores, Diretores de Turma. O trabalho de campo nas escolas decorreu nos meses de Maio e Junho de 2013.

Para se realizar o trabalho de campo nas escolas fez-se um pedido formal, à Direção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DRELVT) através de uma carta, solicitando autorização para se realizarem os inquéritos aos alunos e as entrevistas aos professores, em duas escolas da sub-região da Grande Lisboa. Posteriomente contactaram-se os Diretores das escolas do estudo que após uma análise dos instrumentos do estudo (inquérito por questionário e guião de entrevista) autorizaram a realização da recolha dos dados. Estes, por sua vez delegaram a coordenação do trabalho de campo a duas professoras coordenadoras, uma em cada escola. Este trabalho de coordenação teve como principal objetivo combinar os dias e horas em que os Diretores de Turma poderiam realizar os inquéritos e as entrevistas. A investigadora reuniu-se, inicialmente com as professoras coordenadoras, em cada escola para explicar os objetivos da investigação, os instrumentos de análise, nomeadamente o inquérito

52 Os Cursos de Educação e Formação (CEF) do nível básico são cursos de dupla certificação, destinados

preferencialmente a alunos em risco de abandono escolar. Estes cursos têm dois objetivos principais: por um lado, a qualificação escolar dos jovens e por outro, permitem um ensino profissional como forma de transição para a vida ativa (Diário da República, 1ª série – Nº 129 – 5 de Julho de 2012. Disponível em:

por questionário aos alunos e o guião de entrevista aos professores e posteriormente entregar o material (fotocópias dos inquéritos e da carta de autorização aos encarregados de educação, para os filhos menores de idade preencherem os inquéritos). Na carta de autorização dos encarregados de educação descrevem-se os principais objetivos do estudo, a importância da colaboração dos pais, o anonimato dos inquiridos e o carácter voluntário no preenchimento dos inquéritos. Nesta primeira reunião, a investigadora transmitiu, ainda às professoras coordenadoras os principais procedimentos a adotar pelos professores (Diretores de Turma) na aplicação dos inquéritos aos alunos, na sala de aula.

Uma das professoras coordenadoras da escola básica tinha sido responsável por um projeto de

mediação escolar, conforme se mencionou no estudo teórico. Este projeto tem como

principais objetivos: sensibilizar os alunos e os professores para a problemática da indisciplina e violência escolar; prevenir os conflitos; procurar soluções para os conflitos existentes, entre pares e entre os alunos e os professores. Neste âmbito foi possível, nessa reunião abordar o tema da indisciplina e violência escolar, bem como o projeto de mediação

escolar. Estas reuniões, no âmbito de um primeiro contacto com os principais atores

privilegiados, no âmbito da pesquisa empírica são de grande importância para o desenvolvimento do trabalho de campo nas escolas.

Numa fase seguinte, as professoras coordenadoras tiveram uma reunião com todos os Diretores de Turma do 9º ano e transmitiram-lhes as indicações acerca dos principais aspetos de realização do trabalho de campo nas escolas. Depois dos professores terem as autorizações dos pais dos alunos menores de idade, os inquéritos foram preenchidos pelos alunos numa aula, com a supervisão dos Diretores de Turma, num tempo estimado, de cerca de trinta minutos cada. Neste âmbito, não houve um contacto direto da investigadora com os alunos, tendo-se apenas recolhido os inquéritos preenchidos pelos alunos que foram guardados pelas professoras coordenadoras, em cada escola. Estes procedimentos metodológicos têm, como fundamento, os seguintes aspetos: haver uma maior liberdade dos alunos no preenchimento dos inquéritos, num ambiente normal, habitual, sem intervenção de uma pessoa externa; garantir a confidencialidade dos inquiridos; não permitir uma influência visual ou de outra natureza nas respostas dos inquiridos, de forma a se obter a maior objetividade possível nas respostas.

As entrevistas aos professores foram realizadas pessoalmente, tendo uma duração média, entre trinta e quarenta e cinco minutos. Antes das entrevistas solicitou-se autorização aos professores para serem gravadas, sendo que apenas um dos entrevistados teve preferência de ser manuscrita, no momento. Solicitou-se, ainda às escolas, alguns dados estatísticos sobre as ocorrências disciplinares, dos alunos do 2º e 3º ciclo do ensino básico, no ano letivo de 2012/2013.

O estudo de caso pode ter algumas limitações, no que diz respeito a uma significância e representatividade da amostra, na medida em que não é generalizável. No entanto, utilizaram- se duas abordagens metodológicas diferenciadas: qualitativa e quantitativa ou método

integrado, multimodal ou misto (Sampieri et al. 2006). Procurou-se, desta forma enriquecer o

estudo, com um procedimento metodológico alternativo à representatividade da amostra (Almeida & Freire 1997) sempre difícil, tanto no que respeita aos meios, como aos objetivos da presente investigação.

O uso mais comum do termo “caso” associa o “estudo de caso” como uma análise intensiva sobre apenas um caso (single-case study), normalmente de grande complexidade e com características de tipicidade. Pode ter várias formas: individual (casos clínicos); um grupo; uma classe de pessoas; uma família; uma organização; uma comunidade; um evento que represente algo em particular (Titscher et al. 2000). Neste âmbito utilizou-se um tipo de análise dentro do “estudo de caso” comparative design, que necessita de pelo menos dois casos, de forma a obter um contraste dos casos ou situações (Titscher et al. 2000: 45; Bryman 2012:72). Apesar dos investigadores estarem mais interessados, em generalizações teóricas, do que estatísticas, o “estudo de caso” procura a regularidade como uma lei social ao testar uma hipótese. Segundo Bryman (2012) a predição é possível nos estudos de caso único. A reabilidade, replicabilidade e validade dos “estudos de caso”, dependem do ponto de vista de cada autor. O estudo de caso não pode ser generalizado para outros casos da população, no entanto o mais importante é a maneira como o investigador gere a teoria e os resultados. No estudo de caso ou no multiple-case study tem havido um crescente consenso de que pode ter um papel crucial na compreensão da causalidade, na medida em que o investigador tem a oportunidade de analisar um mecanismo causal que advem do contraste de contextos semelhantes. Os estudos segundo o comparative design, com dois ou mais casos (multiple-

questão é diferente da representatividade que pressupõe uma amostra randomizada, como forma de se testar uma hipótese. Neste âmbito salienta-se a teoria da refutabilidade de Karl Popper (1989) onde se refere que um só caso é possível para testar a validade de uma teoria.

Num estudo de caso em geral e, em particular neste desenho de investigação é apropriado utilizar os dois métodos, quantitativo e qualitativo, em vez de se utilizar apenas um deles (Bryman op. cit: 68). Neste âmbito, em virtude de se ter dois métodos de análise, dois instrumentos de observação, nomeadamente um inquérito por questionário e um inquérito por entrevista e duas populações alvo diferenciadas, os alunos e os professores, a análise dos resultados tem alguma complexidade, no que respeita à comparação de todas as variáveis. Neste sentido, nalgumas variáveis fez-se uma comparação das escolas, enquanto noutras analisam-se os dados no geral.