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CAPÍTULO III Prevenção e Intervenção nos Conflitos Sociais e Escolares

3. Modelo do Estudo Empírico

Na Figura 1 apresenta-se um esquema que preside aos objetivos e hipóteses da investigação. Deste modo construi-se um modelo do estudo empírico, tendo em conta a socialização escolar, em quatro temas principais: aprendizagem, insucesso, indisciplina e violência (bullying). Neste modelo considera-se a socialização escolar como um dos aspetos centrais do estudo, na medida em que é através das relações e interações, principalmente entre os alunos e os professores que se desenvolve o processo pedagógico. Neste âmbito, a aquisição de saberes e competências nas várias áreas disciplinares e os comportamentos dos alunos são os principais domínios da socialização escolar. O processo de aprendizagem decorre num contexto formal que entre outros aspetos pressupõe um currículo oficial.

Uma conceção do sistema de ensino, segundo vários níveis de escolaridade, nomeadamente o nível básico, secundário e superior constitui uma das formas de capacitação e qualificação dos indivíduos (jovens), para que possam estar aptos a desempenharem as funções sociais, através das profissões que exercem. Neste âmbito, a escola tem uma função seletiva dos indivíduos, através das suas competências e qualificações. Os alunos são os destinatários do ensino e os

professores são os agentes que desenvolvem um conjunto de ações, estratégias, métodos e relações no processo de aprendizagem escolar. No entanto, cada escola tem uma cultura específica, tendo em conta vários parâmetros. A satisfação dos alunos com o ambiente escolar, os professores, os colegas e outros agentes educativos é um dos aspetos a considerar, também nos vários processos. O enquadramento teórico do estudo, no que respeita à aprendizagem baseia-se numa abordagem pedagógica da organização escolar, nomeadamente das características dos alunos e do professores, das estratégias que os professores desenvolvem, da sua liderança e autoridade e da satisfação na relação com os alunos.

No entanto, nem todos os alunos respondem da mesma forma ao ensino que lhes é ministrado, bem como as escolas têm uma organização específica, sendo o processo de socialização diferenciado. Muitos alunos têm dificuldades nas disciplinas e não conseguem obter resultados positivos, pelo que têm insucesso escolar. O enquadramento teórico do estuto no tema do insucesso escolar baseia-se numa análise funcional. Neste âmbito considera-se o insucesso escolar como uma função da escola, de seleção dos alunos através das suas competências e conhecimentos. Neste sentido, numerosos estudos mostram que o sucesso escolar resulta, muitas vezes de privilégios culturais, sociais e económicos de algumas famílias, enquanto outras mais desfavorecidas, não têm uma igual oportunidade no sucesso escolar dos filhos. Algumas teorias consideram que o ensino é uma máquina de reprodução das desigualdades sociais. No entanto, outras teorias insistem no carácter dinâmico do ensino onde os atores sociais têm uma margem de liberdade, questionamento, experiências, solidariedade, conflito, respeito, desrespeito, entre outros aspetos.

Os comportamentos dos alunos, nomeadamente de indisciplina e bullying são um dos aspetos essenciais no âmbito da socialização escolar que pressupõe uma relação de autoridade dos professores. A gestão das relações sociais, pelos professores, na sala de aula é uma tarefa que envolve alguma complexidade. Salienta-se, a este respeito, as características de natureza pessoal e social dos alunos e dos professores, estarem sujeitos a um constrangimento formal das regras num contexto organizacional, um elevado número de alunos por turma e os ritmos de aprendizagem dos alunos serem diferenciados. Os objetivos e hipóteses do estudo têm um enfoque na socialização escolar.

As organizações escolares fazem parte do sistema educativo, tendo em vista o cumprimento de objetivos (metas) delineadas hierarquicamente, pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC). No plano conceptual, teórico considera-se que os comportamentos anti-sociais dos alunos se relacionam com os vários processos, em contexto escolar, nomeadamente individuais, relacionais e sociais inerentes ao processo pedagógico das escolas e ao sistema de ensino. Os comportamentos de indisciplina e de violência, nomeadamente de bullying são diferenciados, tanto no que respeita à sua conceptualização, como à relação entre os sujeitos envolvidos. No que respeita à indisciplina, são essencialmente comportamentos dos alunos que pressupõem um desafio da autoridade dos professores, enquanto os comportamentos de violência podem ser direcionados aos professores e/ou aos colegas (bullying). Neste âmbito, no enquadramento teórico acerca dos comportamentos anti-sociais dos alunos recorre-se a várias teorias, nomeadamente pedagógicas, do insucesso escolar, da autoridade do professor, psicológicas, psicossociológicas e do sistema de ensino.

As famílias, nomeadamente os pais têm alguma influência no desempenho escolar dos alunos (filhos) e nos comportamentos que adotam em contexto escolar, na medida em que são os protagonistas de uma socialização de referência para as crianças e os jovens. Neste âmbito, algumas variáveis familiares, nomeadamente socioculturais, socioeconómicas e da parentalidade são consideradas na análise empírica. No entanto, sendo o estudo empírico desenvolvido em contexto escolar, os objetivos do estudo têm um enfoque nos processos vivenciados nas escolas.

Os objetivos do estudo, num total de oito contemplam fatores individuais, relacionais e sociais, nomeadamente da socialização escolar e familiar.

Na análise das perceções dos alunos salientam-se algumas variáveis, tais como: individuais, nomeadamente as características mentais na aprendizagem, idade, sexo; e variáveis sociais, nomeadamente os fatores relacionais da satisfação com a escola. Nas perceções dos professores salientam-se as seguintes variáveis: individuais, características psicológicas; funcionais, nomeadamente as estratégias pedagógicas; fatores sociais, nomeadamente as relações sociais e satisfação com a escola.

Formularam-se três hipóteses do estudo. A primeira tem um carácter mais geral, analisando-se as perceções dos alunos e dos professores, no sentido de verificar se são diferentes.

Na segunda hipótese relaciona-se a motivação dos alunos (variável individual) com a sua satisfação (fatores relacionais e objetivo 1), e relacionam-se estas variáveis com os comportamentos de indisciplina e bullying (fatores individuais e sociais) (objetivo 6). Esta hipótese pretende averiguar se os alunos que estão motivados pela escola e satisfeitos com os seus professores têm comportamentos de indisciplina e bullying.

Na terceira hipótese relaciona-se a variável repetência dos alunos (fatores individuais e sociais) com as variáveis da indisciplina e do bullying (fatores individuais e sociais). Nesta hipótese pretende-se verificar se os alunos que têm insucesso escolar têm comportamentos de indisciplina e bullying.

Neste âmbito, no modelo do estudo empírico (Figura 1) representam-se, na parte exterior, os quatro principais temas estruturantes do estudo empírico (aprendizagem, insucesso, indisciplina e bullying). Em cada um destes temas incluem-se os objetivos e as hipóteses do estudo que lhes estão associados. No interior representam-se os principais intervenientes do processo educativo (professores, alunos, pais) com os objetivos e hipóteses que estão associados. Na parte superior representa-se uma seta com a variável do estudo satisfação dos alunos e respetivos objetivos.

Modelo do Estudo Empírico

Figura 1- Esquema do estudo empírico com os temas do estudo, objetivos da investigação, hipóteses e os principais agentes envolvidos na educação dos jovens

Legenda: Objetivos - OBJ 1 - Estudar as perceções dos alunos sobre a satisfação com a escola, os seus

professores, a indisciplina e a violência escolar; OBJ 2 - Estudar a perceção dos professores sobre os seus alunos, a escola, a indisciplina e a violência escolar; OBJ 3 - Identificar fatores sociais e culturais da educação escolar, relativamente à aprendizagem, satisfação dos alunos com a escola, indisciplina e violência escolar; OBJ 4 - Analisar os aspetos envolvidos na aprendizagem dos alunos que contribuem para o desagrado que têm nas disciplinas, nomeadamente a forma como a disciplina é lecionada e a mensagem é compreendida; OBJ 5 - Identificar as relações entre as dificuldades dos alunos na aprendizagem e o insucesso escolar; OBJ 6 - Analisar as relações entre o insucesso escolar dos alunos e os comportamentos de indisciplina e de violência (bullying); OBJ 7 - Analisar as variáveis de caracterização sociodemográfica dos alunos e dos pais; OBJ 8 - Caracterização e comparação das escolas do estudo quanto às variáveis sociodemográficas, insucesso escolar, indisciplina e violência. Hipóteses - HIP1 - A perceção que os alunos têm sobre a indisciplina e violência escolar é diferente da perceção dos professores; HIP2 – Os alunos que se sentem motivados pela escola e gostam dos professores não têm comportamentos indisciplinados e violentos; HIP3 – Os alunos que têm insucesso escolar têm comportamentos de indisciplina e de bullying.

Os objetivos do estudo e as hipóteses delineados são o fio condutor de toda a investigação empírica. No que respeita aos objetivos orientam a escolha das análises empíricas. Quanto às hipóteses, também se articulam com os principais objetivos e questões da investigação, sendo uma forma de se testarem os seus pressupostos.

As relações entre as variáveis incluídas nos vários temas, tendo em conta os objetivos e as hipóteses da investigação serão desenvolvidas no Capítulo V (Análise de Resultados).

No final apresenta-se um modelo dos principais resultados do estudo empírico com a respetiva análise, em relação aos objetivos e hipóteses da investigação.

Nas conclusões do estudo far-se-á uma retrospetiva do estudo, de acordo com os objetivos, hipóteses do estudo e respetiva conceptualização teórica.