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Design italiano e o sucesso do conceito “da colher à cidade”

2. PRIMEIRA PARTE: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. O D ESIGN I NDUSTRIAL E A SUA H ISTÓRIA

2.2.2. D OS ANOS 50 AO FIM DO SÉCULO XX:

2.2.2.2. Design italiano e o sucesso do conceito “da colher à cidade”

Na segunda metade dos anos quarenta, a Itália era um país ainda desprovido de didácticas formadoras orientadas, especificamente, para o design industrial138. Seria,

contudo, nessa altura que se delimitaria a triangulação de factores – económicos, industriais e culturais – que, mais tarde, se revelariam determinantes para a gradual afirmação de novos conceitos e estilos linguísticos, alternativos aos propostos pela escola de Ulm; os quais seriam amplamente apoiados pela indústria italiana.

Com o decorrer da segunda Guerra Mundial, e à imagem do que aconteceu noutros países da Europa, não só a situação económica da Itália se tornara desoladora, como muitas das suas cidades haviam sido gravemente afectadas. A necessidade de

137 “ (…) a escola de Ulm tende a desenvolver particularmente não só o aspecto técmico-científico do design e as suas

aplicações práticas, como também as bases teóricas do mesmo e a investigação no campo das comunicações visual e escrita, integrando o estudo do design no sector mais vasto das disciplinas sociais, estatísticas e linguísticas, que cada vez vão adquirindo maior peso na nossa civilização” (Gillo Dorfles, 1991, 116).

138 O “primeiro voo do design italiano foi detido, acima de tudo, pelos acontecimentos políticos. Depois da sua marcha sobre

Roma em 1922, Benito Mussulini instituiu um regime totalitário em 1926. Se a princípio sentiu uma certa inclinação para a modernidade e o funcionalismo, em breve sentiu-se atraído pelo neo-classicismo pomposo” (Nina Böensen-Hotlemann, 1995, 17). Essa situação manter-se-ia até ao final da II Grande Guerra.

recuperação da prosperidade material e espiritual da nação torna-se então uma prioridade nacional. Nessa medida, também os arquitectos italianos assumem, de forma determinada, essa missão. É nesse contexto que a frase proferida pelo arquitecto Ernesto Nathan Rogers (1909-1969) se torna, em 1946, na palavra de ordem da sua classe profissional: “da colher à cidade”.

Tal como é sugerido por Rogers, o trabalho de reedificação do país passaria, ao nível projectual, não só pela sua reconstrução arquitectónica, como também pela dinamização da indústria mediante o desenvolvimento de novos produtos. Assim, e apesar da palavra “design” ser já na altura conhecida dos italianos, a inexistência de profissionais com uma formação específica (dada a ausência de cursos superiores de design industrial) levaria os arquitectos italianos a assumir ambas as funções, a da arquitectura e a do design. Nesse contexto, e para uma maior compreensão do trabalho por si desenvolvido, também é importante não ignorar que a educação cultural italiana havia sido, desde o tempo do Renascimento, determinada por uma grande sensibilidade estética, assumida como centralidade da identidade do país. A acentuar esse facto, e sob a perspectiva de uma formação profissionalizante, os cursos de arquitectura eram leccionados com uma estreita ligação às Belas Artes, sendo que, a componente artística detinha um protagonismo marcado nos seus projectos. Por outro lado, por essa altura, também a Itália havia já sido amplamente influenciada pelo racionalismo modernista, nomeadamente através da difusão do conceito de Gute Form/Good Design.

A fusão destes dois factores, herança cultural estética e racionalismo modernista, determinariam em grande parte o sucesso e a singularidade das propostas dos arquitectos/designers italianos da altura.

Fundamental para esse sucesso foi a enorme receptividade manifestada por alguns industriais que, motivados também por uma elevada predisposição cultural para a aceitação de novas estéticas e pela necessidade de conquista de um reposicionamento comercial, apostaram na produção e comercialização das novas propostas. Por outro lado, graças ao plano Marshall (1947)139, durante os anos

139 “The Marshall Plan, known officially following its enactment as the European Recovery Program (ERP), was the main plan of

the United States for the reconstruction of Europe following World War II. The initiative was named for United States Secretary of State George Marshall and was largely the creation of State Department officials, especially William L. Clayton and George F. Kennan. The reconstruction plan was developed at a meeting of the participating European states in July 1947. The Soviet Union and the states of Eastern Europe were invited, but Stalin saw the plan as a threat and did not allow the participation of any countries under Soviet control. The plan was in operation for four fiscal years beginning in July 1947. During that period some $13 billion of economic and technical assistance - equivalent to around $130 billion in 2006, when adjusted for inflation - was given to help the recovery of the European countries which had joined in the Organization for European Economic Cooperation. By the time the plan ended, the economy of every participant state, except for Germany, had grown well past prewar levels. Over the next two decades Western Europe as a whole would enjoy unprecedented growth and prosperity. The Marshall Plan has also long been seen as one of the first elements of European integration, as it erased tariff trade barriers and set up institutions to coordinate the economy on a continental level. An

cinquenta, a Itália gozaria de uma situação económica próspera. Nessa década, a indústria italiana desenvolveu, não apenas, a sua capacidade tecnológica e produtiva, como também, novas possibilidades de aplicação de materiais. A inovação em técnicas de fundição e moldagem do alumínio e de conformação dos plásticos, abriu portas a novas concepções formais, a partir de então, crescentemente exploradas pelos designers.

Figura 12 – Da esquerda para a direita: sofá-cama140 (1955), Marco Zanuso; máquina de custura Mirella141 (1957), Marcello

Nizzoli; candeeiro Luminator142 (1955), irmãos Castiglione; espremedor de limões143 (1959), Gino Colombini.

Desde os automóveis e motorizadas, até aos produtos técnicos, utilitários, de iluminação e mobiliário, a nova Itália ia sendo, neste contexto, totalmente redesenhada144 (Figura 12). Desse período, segunda metade dos anos quarenta e

década de cinquenta, destaca-se o contributo de: Corradino D’Ascanio (1891-1981), com o design da icónica Vespa, da Piaggio, 1946; Battista Pininfarina (1893-1966), com o automóvel Giulietta Spider, produzido pela Alfa Romeo, 1954; Marco Zanuso (1916- 2001), com Sofá-cama, produzido por Arflex, 1955; irmãos Castiglioni, com candeeiro

Luminator, produzido por Flos, também de 1955; Marcello Nizzoli (1887-1969), com a

máquina de escrever Lettera 22 desenhada, em 1950, para a Olivetti e com a máquina de costura Mirella, produzida pela Necchi145, 1957; e Gino Colombini (n. 1917)

com Espremedor de limões, produzido por Kartell, em 1959. Mas estes são apenas

intended consequence was the systematic adoption of American managerial techniques. In recent years historians have questioned both the motivation and the effectiveness of the Marshall Plan, but most still see it as a positive and highly successful operation.” http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Marshall

140 Fonte: Böensen-Hotlemann, Nina, Italian Design, Milan,Taschen, 1995, 58.

141 Fonte: Parra, Paulo, Ícones do Design. Colecção Paulo Parra, Casa da Cerca, Almada, 2003, 115. 142 Fonte: Böensen-Hotlemann, Nina, Italian Design, Milan,Taschen, 1995, 17.

143 Fonte: Idem, 65.

144 A Milão dos anos trinta havia sido o centro nevrálgico da indústria e das finanças do país e, nessa altura, sob influência do

exemplo produtivo norte-americano, um fenómeno semelhante tinha já acontecido, nomeadamente através do trabalho de arquitectos/designers como: Giò Ponti (1891-1970), Marcello Nizzoli, Franco Albini (1905-1977), Achille Castiglioni (1918-2002), Pier Giacomo Castiglioni (1913-1968), Lívio Castiglioni (1911-1979) e Marco Zanuso. Alguns deles teriam continuado o seu trabalho, mesmo durante o período da guerra.

145 “Desenhada por Marcello Nizzoli em 1957, a Mirella é um dos electrodomésticos mais bem desenhados. Trata-se de um

alguns exemplos das empresas de sectores diversificados que, ajudadas pela actuação dos designers, iam florescendo.

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