• Nenhum resultado encontrado

Primeira tentativa institucional de divulgação do Design Industrial como mais

2. PRIMEIRA PARTE: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.6. O D ESIGN I NDUSTRIAL EM P ORTUGAL : 1900 – 2000

2.6.2. D OS ANOS 50 ATÉ AO FINAL DO SÉCULO XX:

2.6.2.2. Primeira tentativa institucional de divulgação do Design Industrial como mais

industriais portugueses

Em 30 de Dezembro de 1959, Portugal assina o acto de adesão à EFTA (Associação Económica de Comércio Livre).399 Face ao objectivo de modernização e crescimento

da economia, e sendo evidentes as insuficiências da indústria portuguesa que actuavam como uma contra força ao progresso, é na década de 60 que o design se vê “oficialmente reconhecido como disciplina e instrumento”400 essencial para o colmatar

do crescente fosso entre a economia nacional e a dos países mais desenvolvidos.

Para essa sensibilização terão contribuído decisivamente algumas das iniciativas assumidas pelo Núcleo de Design do Instituto Nacional de Investigação Industrial/INII (sob a direcção do engenheiro Magalhães Ramalho), no sentido de, através da pesquisa e fomentação específicas, divulgar o design junto dos industriais como sendo uma actividade de extrema importância. Dessas iniciativas, destacam-se, em 1965, a Exposição Internacional de Industrial Design integrada na 1ª Quinzena de Estética Industrial – evento em que estavam representadas as indústrias da Finlândia, França, Inglaterra e Portugal – e, em 1966, a realização no Laboratório Nacional de Engenharia Civil de um curso de design orientado por Sérgio Asti.

Em 1965, tem lugar o primeiro Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes, SNBA e em 1969, é fundado o Instituto de Arte e Decoração, IADE401.

[Manaças, 1997, 1-2].

Esboçava-se, então, um novo período para a progressiva sustentação da prática e do ensino especializado de um design industrial português. Paralelamente, agia um grupo de profissionais que, através de acções diversificadas, impulsionava a fabricação industrial de produtos cuidados, em que se inscreviam rigorosas preocupações interdisciplinares.

No início dos anos 60, Fernando Seixas (n. 1918) reorienta a produção da MIT/Metalúrgica da Longra passando do fabrico de mobiliário tubular destinado a hospitais para o fabrico de mobiliário tubular para escritório. Numa atitude inovadora, através de estudos previamente realizados em que eram identificadas, racionalmente, as principais necessidades do consumidor, Fernando Seixas implementa na empresa

399 “Em sucessivos Conselhos de Ministros a questão fora debatida, dividindo-se os membros do governo entre a opção de

aproximação à CEE (os ‘industrialistas’) e a integração na EFTA (os ‘conservadores’, liderados pelo próprio Oliveira Salazar).” (João Paulo Avelãs Nunes, 1994, 358).

400 Rui Afonso Santos, 2003, 50. 401 Ainda curso médio.

todo um novo processo de estudo de produto cujo objectivo é a criação de respostas adequadas que proporcionem um grau máximo de satisfação ao utilizador. Por seu intermédio, a indústria portuguesa passaria a desenvolver, de forma sistematizada, processos de design em que são equacionadas estratégias de “marketing” com vista a um relacionamento dinâmico entre produção, mercado e consumidor. A identificação da necessidade de contratar um designer que, integrado numa equipa, fizesse o acompanhamento das várias fases de fabrico do produto (desde a sua concepção ao seu lançamento) leva Fernando Seixas a convidar Frederico George que, por sua vez, recomenda Daciano Costa402 para a execução do projecto. Iniciar-se-ia assim a

visibilidade crescente daquele que seria mais tarde intitulado por muitos como o “primeiro designer industrial português”.

Daciano Costa que, ainda em 1959, abre o seu próprio atelier e inicia uma actuação múltipla em áreas tão distintas como as do design de interiores, de equipamento industrial e de exposições, cria, em 1962, o Gabinete de Estética Industrial403 da Longra.

A partir de então, sedimenta-se o reconhecimento do “design como disciplina autónoma e instrumento fundamental do processo industrial”404. Da primeira fase da sua

intervenção na Longra, destacam-se os móveis de assento Prestígio (1962) e a linha de mobiliário de trabalho Cortez (1963) (Figura 28).

A associação de Daciano Costa à Longra teve também como consequência o design de equipamentos de mobiliário para plateias de teatro e cinema, nomeadamente, o

Teatro Villaret (1964), o Cineteatro do Casino do Estoril (1967), os auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian (1969) e, já em 1972, o Cinema Castil.

Para além do seu extenso trabalho desenvolvido na Longra, o designer desenhou a título particular, no seu atelier (em conjunto com José Brandão, José Santa Bárbara e Cristóvão Macara), um conjunto de outro tipo de objectos que iam desde a cutelaria, a serviços de mesa e ao mobiliário em madeira. A maior parte deste último foi produzida por Móveis Sousa Braga e Olaio e reeditado pela Uniforma.

A vasta e reconhecida experiência de Daciano Costa ao nível da realidade prática e teórica do design valeu-lhe, ao longo dos anos, um estatuto que se viu repercutido

402 Tendo estudado na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1943-48), onde mais tarde foi professor (1951-58), trabalhado

no atelier de Frederico George (1947-59) e diplomado na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, Daciano Costa adquire uma experiência e valor profissional que permitiram, sobretudo a partir da década de 60, a sua afirmação como responsável por uma nova e decisiva visão projectual.

403 “ (…) o que permitiu a adopção de novos métodos de trabalho e a reestruturação dos sistemas comerciais [...] através da

especialização da produção em linhas de mobiliário de série” .” (Rui Afonso Santos, 2003, 50).

numa ampla carreira pedagógica405, iniciada entre 1962-1964, com a promoção de

um curso de “Design Básico” decorrido no seu próprio atelier [Afonso Santos, 2003, 52].

Figura 28 – Em cima: Secretária406 e cadeira de braços407 linha Prestígio, M. Longra (1962); Em baixo, da esquerda para a

direita408: Linha Cortez, M. Longra (1962), Cadeira e mesa linha quadrada, Laboratório de Engenharia Civil (1971-72),

Daciano da Costa.

Também Sena da Silva (n. 1926), para além da arquitectura, decoração, cenografia, pintura, ilustração, e fotografia, desenvolveu design de exposições, industrial, gráfico e de equipamento. A partir de 1964, e durante cerca de vinte anos, Sena da Silva entrega-se ao Projecto Módulo Escolar409, o qual “consistia num sistema de artefactos

simples e de recomendações ergonómicas para apoiar «situações de aprendizagem» em regiões de clima ameno”410. O objectivo inicial do projecto era o de fazer chegar

a escola a todos os pontos do país, sem custos excessivos de construção, utilizando materiais naturais e permitindo um funcionamento adequado e completo.411 Já nessa

405 “(…) desde 1998 que Daciano da Costa é professor catedrático convidado do Departamento de Arte e Design da

Faculdade de Arquitectura da UTL e, desde 1990-91, professor visitante no Mestrado em Design do Instituto de Design da Universidade do Porto/IDUP.” (Rui Afonso Santos, 2003, 56).

406 Fonte: AAVV. (direcção de Paulo Pereira), História da Arte Portuguesa, Volume III, Círculo de Leitores e Autores, 1995, 490. 407 Fonte: AAVV. (coordenação editorial de José Manuel das Neves), Cadeiras Portuguesas Contemporâneas, Porto, ASA

Editores S.A., 2003, 51.

408 Fonte: Idem, 50, 262.

409 O projecto seria desenvolvido em colaboração com Leonor Álves de Oliveira (n. 1930). 410 Leonor e António Sena da Silva, 1982, 82.

411 “Baseia-se em algumas reflexões muito simples acerca de necessidades elementares e disponibilidade de recursos, sugestões

ergonómicas e alguns projectos para a produção industrial de componentes de edificação muito leves, de montagem rápida e segura em iniciativas de auto-construção.” (Leonor e António Sena da Silva, 1982, 83).

altura, com o Projecto Módulo Escolar, Sena da Silva antecipa o que viriam a ser, mais tarde, alguns dos princípios inscritos no, tão actual, conceito de Design para a

Sustentabilidade.

O pintor Rogério Ribeiro412, para além da pintura, gravura, ilustração, tapeçaria, e

azulejaria e dedicou-se, também, ao estudo de interiores e de design. Alguns dos seus projectos de mobiliário viriam a ser produzidos, em 1969, pela empresa Protótipo. O seu nome destaca-se, ao nível do design, como sendo o de um dos grandes impulsionadores de iniciativas formadoras de enorme importância413. Nessa medida, é

de salientar Rogério Ribeiro como um dos fundadores do curso de Design de Equipamento da ESBAL, primeiro curso do país com licenciatura na área do design de equipamento/industrial.

Figura 29 – Da esquerda para a direita414: Cadeira empilhável para escolas (1964-72), Sena da Silva; Loja Valentim de

Carvalho (1969), Tomás Taveira.

A um outro nível, é fundamental responsabilizar-se Tomás Taveira (n.1938) pela introdução de novíssimas perspectivas no que respeita ao encarar das intervenções nacionais, ao nível da decoração e do design. Ligado à Pop e ao Pós-Modernismo, Taveira faz explodir no nosso país a abertura para uma nova cultura multifacetada, em que a liberdade da comunicação visual se alia à liberdade interpretativa da forma, enfatizando, para além do significado prático da obra, o seu papel simbólico. Em 1969, com a Loja Valentim de Carvalho em Cascais (trabalho desenvolvido no atelier Conceição Silva/Maurício de Vasconcelos) dá-se corpo a um trabalho pluridisciplinar

412 A razão pela qual neste trabalho não se inclui nenhuma imagem de projectos de Rogério Ribeiro prende-se com o facto da

autora não ter conseguido arranjar essas referências, considerando o âmbito específico da sua actividade enquanto designer e a época específica a que respeita o actual subcapítulo.

413 Para além de professor na Escola António Arroio desde 1961, e de co-fundador do curso de Design de Equipamento na

ESBAL (1974), Rogério Ribeiro seria igualmente Presidente da FBAUL e constituiria, posteriormente, parte do primeiro Concelho Cientifico da ESAD – Escola Superior de Artes e Design, de Matosinhos. Das suas últimas obras na área do projecto destacam- se a Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia (1985), o projecto museológico da Fortaleza de Peniche (1987) e o projecto de recuperação do Museu de Arte Contemporânea de Almada – Casa da Cerca (1993).

414 Fonte: AAVV. (coordenação editorial de José Manuel das Neves), Cadeiras Portuguesas Contemporâneas, Porto, ASA

em que o design de interiores e de exteriores se misturam afirmativamente com o design gráfico e o de equipamento. Da interface cultura erudita/popular sublinha-se um apelo à comunicação de massas, através de uma linguagem irreverente, lúdica, efémera e sensorial415 (Figura 29).

Não seria possível ultrapassar a abordagem do design português na década de 60 sem referir o importante contributo da Fundação Calouste Gulbenkian, através da atribuição de bolsas de estudo que ajudaram à formação superior de designers nacionais no estrangeiro416. Desses bolseiros, no âmbito do design industrial, destacam-

se Madalena Figueiredo (n.?)417 e Jorge Pacheco (n. 1942)418.

Documentos relacionados