• Nenhum resultado encontrado

S IGNIFICADOS E APLICAÇÕES DO CONCEITO NO ÂMBITO DO D ESIGN I NDUSTRIAL

2. PRIMEIRA PARTE: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.3. D ESIGN I NDUSTRIAL E B IÓNICA

2.3.2. S IGNIFICADOS E APLICAÇÕES DO CONCEITO NO ÂMBITO DO D ESIGN I NDUSTRIAL

No caso particular da aplicação do conceito a processos de Design, o termo “Biónica” – e apesar de ter sido posteriormente complementado pela denominação “Biodesign” –, manter-se-ia até aos nossos dias259. Assim, por Design Biónico, ou Biónica,

entende-se: “a utilização de protótipos biológicos para o design de sistemas feitos pelo homem”260. É por estas palavras que, em 1971, Victor Papanek propõe que a Biónica

passe a constituir uma das áreas fundamentais de especialização do Design Industrial. Nessa proposta desejava-se que o designer, durante a sua formação, adquirisse conhecimentos de biologia, ecologia, engenharia ou etnologia, de forma a facilitar a

communication interface between the biological materials and electronic components. Bioelectronics will affect a range of industries. In particular, it will affect the biomedical industry through the development of advanced biosensors, biochips, artificial organs, and prosthetics; the environmental and defense areas through the development of more sophisticated and robust chemical-biological detection technologies; and the electronics and computing industries through the development of biomaterial-based electronic circuitry.” http://www.sric-bi.com/Explorer/NGT-BE.shtml

257 “Ciência interdisciplinar que visa desenvolver sistemas electrónicos sobre o modelo de sistemas resultantes da evolução

biológica.” (Dicionário Geral das Ciências Humanas, 1984, 124).

258 “A discipline in which biotechnology and electronics are joined in at least three areas of research and development: biosensors, molecular

electronics, and neuronal interfaces” http://www.answers.com/topic/bioelectronics-1

259 As diferenças aplicativas de ambas as noções serão enunciadas no capítulo seguinte.

sua posterior integração em equipas multidisciplinares de investigação de soluções biónicas261.

Figura 17 – Implante de ouvido artificial desenvolido por: The Otology Group of Vanderbilt e The Vanderbilt Bill Wilkerson Center262.

Hoje, o Design Biónico, para além de aplicado a produtos do uso quotidiano, contempla, sobretudo, o desenvolvimento do design de sistemas artificiais ao nível da medicina (Figura 17) e da engenharia molecular.

Nesse sentido, pode subdividir-se o campo de actuação do Design Biónico em duas categorias de produção distintas: a produção industrial de grandes séries de produtos (normalmente direccionados para o consumidor comum) e a produção industrial de pequenas séries de produtos (associados ao suprimento de necessidades específicas

261 Esse princípio de formação defendido por Papanek no início da década de setenta é, hoje, contemplado em alguns cursos

de Design Industrial: “The designs for bionic products presented here were developed by students (Hochschule der Künste in Berlin, Department of Design, Prof. Barbara Ehring) participating in an interdisciplinary project on bionic designing in cooperation with the University of Saarland (Department of Zoology, Technical Biology and Bionics, Dr. Antonia Kesel). The aim was to develop new types of industrial products with new, improved functional qualities using biological and bionic analogies. Biological forms, colouring, structures, constructions, functionality and general aesthetic appearances found in the natural world (botanical as well as zoological Organisms or parts of them) served as models for very promising applications in creating useful designs.

To begin with, during the research and observation phase, botanical material, photos, sketches of plant structures, animal surfaces and scientific literature were collected for analogous biological and bionic conversion. After describing and analysing the botanical examples, they were classified according to their functional criteria. Ideas of possible products founded on free associations were then sketched. The next stage was to make drawings and models of nature´s constructions - the abstraction phase - i. e. the conversion into formal, functional and structural bionic analogies. By progressive dissociation from nature´s models, technical and design applications were developed. The resulting ideas were valued according to their innovational content, semantic expression, utility, recycling possibilities, material expenditure and light-weight construction and then converted into prototypes of products ready for use”

http://www.uni-saarland.de/fak8/bi13wn/projekte/biomechanik/projects/design/design.htm

de grupos previamente identificados ou a investigações avançadas em fase primária de desenvolvimento)263.

Na primeira categoria, temos o imenso grupo de artefactos, cuja influência biónica mais comum é a da abordagem biomórfica, sendo que a maior parte destes produtos apesar de inspirados na organicidade formal da natureza ainda não descendem directamente de estudos micro-estruturais e sistémicos rigorosos de organismos biológicos. Contudo, existem também alguns exemplos de produtos de grande tiragem industrial que contrariam a limitação projectual referida; nomeadamente no que respeita ao equipamento desportivo (barbatanas, fatos de banho, asa delta, etc.)264. E nesse caso, apesar de a investigação ser primeiramente direccionada para

artigos de competição (que pressupõem grupos limitados de utilizadores) os sistemas desenvolvidos são, quase sempre, posteriormente adaptados a produtos de grande consumo, o que implica processos de produção em massa.

Ainda neste grupo, é de destacar a aplicação do Design Biónico ao campo dos transportes. Mas quer numa, quer noutra área, a integração com sucesso de designers industriais em processos de investigação biónica tem, na sua origem, não só o carácter comercial dos produtos em causa, como também, e sobretudo, o benefício histórico de uma experiência profissional há muito reconhecida em ambos os sectores. A segunda categoria, produção de pequenas séries, compreende a produção de componentes e de sistemas artificiais de função específica, maioritariamente relacionados com a investigação nos domínios da medicina (aparelhos médicos, próteses265, tecidos e implantes artificiais, etc.) 266, da cibernética e da electrónica

(nomeadamente no desenvolvimento de inteligência artificial), da aeronáutica e da náutica. Nestes casos, a denominação “Design Biónico” não se circunscreve à disciplina de Design como tradicionalmente a conhecemos, designando antes uma área especializada em processos de desenho/concepção de inúmeros outros sistemas artificiais, alheios ao domínio dos conhecimentos comummente adquiridos pelos

263 “Efectivamente é licito afirmar que o objecto industrial já existe no próprio momento em que foi projectado, desde o

momento em que é ultimado o desenho executivo que dará lugar à realização do modelo-protótipo a partir do qual se iniciará a série perfeitamente igual e idêntica de todas as peças que se seguirão à primeira. […] Assim, poderá haver uma pequena série e até mínima (locomotivas, navios, submarinos, gigantescas calculadoras electrónicas, electro- encefalógrafos), em que se produzem poucas dezenas de unidades e, não obstante, permaneça idêntico o carácter de «em série» que está na base da sua produção” (Gillo Dorfles, 1991, 13-23).

264 Paulo Parra, 2007, 236-246.

265 A esse propósito, no panorama nacional, destaca-se o trabalho desenvolvido pelo Professor Doutor José António de

Oliveira Simões: “Fissuras e deslocamentos de fadiga em próteses de ancas cimentadas: Estudo In Vitro” http://www- ext.lnec.pt/APAET/pdf/Rev_12_A10.pdf

designers industriais durante a sua formação. Um desses exemplos pode ser ilustrado, no contexto de estudos moleculares, pelo desenvolvimento de tecidos e de materiais artificiais altamente sofisticados que já não só se revelam compatíveis com os seus semelhantes biológicos, como se revelam, inclusivamente, a eles idênticos ou superiores em termos de prestações.

Mas um dos factores decisivos para a viabilização de soluções desenvolvidas por qualquer um dos grupos mencionados (os das grandes e os das pequenas séries de produtos) é, mais uma vez, a evolução da investigação tecnológica e de materiais. Nesse domínio, o papel do designer industrial tem-se revelado determinante não só pelo seu crescente envolvimento em projectos multidisciplinares de investigação biónica (caso dos equipamentos desportivos), mas, sobretudo, por se revelar muitas vezes como motor na colocação de novos desafios projectuais em que materiais e tecnologias, são crescentemente questionados e explorados de forma a permitirem cumprir novas prestações físicas e comportamentais; no passado, comummente interpretadas como ficção.

Mas actualmente, a abrangência do conceito “Biónica”, em coerência – como veremos mais adiante – com o que foi sugerido por Papanek há trinta e cinco anos atrás, é alargada também à implementação de sistemas artificiais de organização e, mais concretamente, à delimitação de processos metodológicos de inovação e produtividade267 aplicáveis a um individuo, ou a vários, nomeadamente em grupos de

trabalho.

Em suma, Biónica (ramificação de Biotécnica) é actualmente um conceito de aplicação generalizada, através do qual o homem busca aproximar os sistemas materiais e organizacionais por si criados ao modelo exemplar das “criações” da natureza.

267 “The latest research by Phil Richardson at the Centre for Biomimetics at the University of Bath has shown that Biomimetic models can be

used to create analogies in business. The analogies can be applied to provide inspiration as a precursor to innovation. This approach can then be hybridised with traditional programme governance models to create an integrated inspiration to implementation method. Examples include the application of natural systems to solving complex data problems.”http://en.wikipedia.org/wiki/Bionics_%28medical%29 A este propósito recomenda-se a pesquisa do site pessoal do Dr. Phil Richardson: http://faculty.ed.umuc.edu/~prichard/phils_place.html

Documentos relacionados