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Variação de Gasto Social

DESNUTRIÇÃO INFANTIL

Compreendida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos maiores problemas de saúde enfrentados em diversos países, a desnutrição infantil contribui para déficits de crescimento na infância associado a altas taxas de mortalidade, doenças infecciosas e menor capacidade produtiva na idade adulta257.

Apesar de o direito inalienável de todo ser humano de não padecer de fome e desnutrição ter sido reafirmado sucessivamente em conferências dos países membros das Nações Unidas em 1948 (Declaração Universal dos Direitos Humanos), em 1974 (Conferência Mundial de Alimentação das Nações Unidas), em 1978 (Pacto Internacional de Direitos Econômicos) e Declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre “Saúde para todos no ano 2000”, em 1989 (Convenção sobre os Direitos da Criança), e mais recentemente promovida pela OMS como sendo um direito humano, a desnutrição infantil continua a ser um dos problemas mais importantes de saúde pública do mundo atual, devido a sua magnitude e consequências desastrosas para o crescimento, desenvolvimento e sobrevivência das crianças. (MONTE, 2000, p. S286).

255 Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/METRO/metro_ds.php?p_id=56 256 Disponível em: http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/taxas-de-mortalidade-infantil

257 “Globally, in 2011 about 101 million children under 5 years of age were underweight and 165 million

stunted. At the same time, about 43 million children under 5 were overweight or obese. About 90% of stunted children live in only 36 countries, and children under 2 years of age are most affected by undernutrition.1 Nearly 20 million children under 5 suffer from severe acute malnutrition, a life-threatening condition requiring urgent treatment.

In 2011, 6.9 million children under 5 died, mostly from preventable causes such as pneumonia, diarrhoea, malaria and neonatal conditions; about 90% of these deaths occurred in 42 countries, with half the worldwide deaths occurring in only 6 countries. Undernutrition is associated with more than one third of those deaths.” (WHO, 2013, p. 2).

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De tal maneira, “[...] a pobreza parece estar vinculada à falta de alimentos, consequentemente, ao comprometimento da ingestão energética e à existência de carências nutricionais que podem causar a desnutrição.” (ALVES et al, 2011, p. 748). Segundo os autores, a desnutrição pode causar prejuízos ao crescimento normal e atraso no desenvolvimento global de crianças. Dessa forma, a desnutrição é identificada como uma das principais causas de morbidade e mortalidade de crianças de todo o mundo. Segundo a OMS, as taxas de óbito infantil por desnutrição grave devam ser inferiores a 5% (ALVES et al, 2011).

Para compreendermos como ocorre a mensuração da desnutrição infantil, cabe destacar os dois primeiros Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) estabelecidos pela ONU: 1) erradicar a extrema pobreza e 2) a fome no mundo; ambos estão associados a medidas de baixo peso de crianças menores de 5 anos e a curvas de crescimento infantil. Assim, os índices de medição da desnutrição infantil brasileira compõem-se de indicadores de baixo peso258 e de baixa estatura259. Outra abordagem na medição da desnutrição infantil brasileira é feita pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) combinando estratégias epidemiológicas, inquéritos e pesquisas populacionais, análises de dados nacionais da saúde e a produção científica sobre o tema (NILSON e SILVA, 2009).

Segundo estudo realizado por Nilson e Silva (2009) tomando a desnutrição infantil a partir dos dados sobre os déficits de peso e altura para idade, os autores identificaram considerável redução da desnutrição em crianças menores de 5 anos desde a década de 1970 até 2006, no Brasil. Tais resultados estão em conformidade com os estudos de MONTEIRO (2009) 260 no Brasil compreendendo o período 1996-2007, o qual identificou

258 “O peso para idade reflete o estado nutricional recente e, consequentemente, o aporte calórico consumido

no período próximo à realização da medida. Apesar de poder atuar como um resumo do estado nutricional, em alguns casos, o peso pode indicar uma ideia errônea do real estado nutricional: por exemplo, se uma população em questão apresentar altos índices de déficit de altura, resultando em diagnóstico incorreto de adequação do estado nutricional.” (NILSON e SILVA, 2009, p. 345).

259 “A estatura para idade indica o crescimento linear da criança. É o resumo da situação pregressa, desde o

nascimento até a mensuração. Crianças com déficit de altura atual correspondem a crianças que apresentaram déficit de peso anteriormente e cuja situação de desnutrição pode ser considerada crônica. A altura não pode ser recuperada em momentos posteriores, de modo que esse déficit é levado para toda a vida. O déficit nutricional está associado a uma maior morbidade e mortalidade na infância, menor desempenho educacional e, inclusive, menor produtividade na idade adulta.” (NILSON e SILVA, 2009, pp. 345-346).

260 Essas informações foram utilizadas na apresentação dos resultados do capítulo de MAGALHÃES JR,

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redução dos índices de desnutrição em 50%, levando em consideração quatro determinantes potenciais do estado nutricional: aumento da escolaridade materna (25,7%); crescimento do poder aquisitivo das famílias beneficiadas (21,7%); expansão da assistência à saúde (11,6%); e, melhoria das condições de saneamento (4,3%)261.

Considerando-se o déficit de altura para idade, observam-se três grandes fases na redução da desnutrição infantil: 1974-1989, 1989-1996 e 1996-2006, cujas respectivas taxas médias de redução anual foram de 5,0%, 5,7% e 6,3%. Essa aceleração mais recente na queda da desnutrição infantil indica que a meta de reduzir o indicador à metade dos valores de 1990, além de já ter sido alcançada, será amplamente ultrapassada até 2015.

Para cada uma dessas fases, há diferentes fatores que contribuíram com maior peso para a taxa de redução, segundo Monteiro et al. (2009). No período 1974-1989, aparece, primeiramente, a expansão da cobertura dos serviços públicos de educação, saúde e saneamento e, em menor escala, o moderado aumento da renda familiar. Entre 1989 e 1996, as políticas são fortemente influenciadas pela Constituição Federal de 1988, que, entre outras conquistas, reforçou os direitos sociais básicos e trouxe as bases para a criação do Sistema Único de Saúde, de modo que os fatores mais relevantes para a redução da desnutrição no período compreendem aumento da escolaridade materna (em grande parte, consequência da expansão do acesso à educação nas décadas anteriores), maior acesso a serviços básicos de saúde e expansão dos serviços públicos de abastecimento de água.

Por fim, entre 1996 e 2006, perto de dois terços da redução do déficit de altura em crianças podem ser atribuídos a quatro fatores: i. aumento da escolaridade materna (25,7%); ii. melhoria do poder aquisitivo das famílias (21,7%); iii. melhoria da atenção à saúde (11,6%), principalmente para mulheres e crianças, coincidente com a grande expansão da Estratégia Saúde da Família – ESF – em todo o País; e iv. aumento da cobertura de saneamento básico, como acesso a água encanada e a rede de esgotamento sanitário (4,3%). Outros fatores, como paridade materna, número de irmãos vivos, ordem de nascimento, escolaridade materna, vacinação da criança, além de fatores não identificáveis, são responsáveis por 36,7% dessa queda. (NILSON e SILVA, 2009, p.347).

Outra análise sobre os índices de desnutrição infantil foi elaborada pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) a Avaliação de Impacto do Programa Bolsa Família – 2a rodada (AIBF II) em 2009 (acompanhando o período de 2005 a 2009), o estudo identificou uma redução da desnutrição crônica de 15% para 10%, além de identificar

Causas do declínio da desnutrição infantil no Brasil, 1996-2007, abarcando o período de 1996 e 2006/7 em amostras probabilísticas de cerca de 4 mil crianças menores de cinco anos.

261 “As dificuldades técnicas em se medir de forma confiável a ingestão alimentar habitual dos indivíduos e

suas correspondentes necessidades energéticas tornam difícil a mensuração direta da extensão da fome ou da deficiência energética crônica em uma população. De modo mais prático, essa aferição é feita a partir da avaliação das reservas energéticas dos indivíduos, mais especificamente avaliando-se a relação entre peso e altura, admitindo-se que o percentual de indivíduos com insuficiente relação peso/altura, portanto emagrecidos, expresse razoavelmente bem a magnitude da deficiência energética crônica na população. Uma vez que a deficiência energética crônica pode apresentar um componente sazonal importante e variar intensamente de ano para ano, em função de variações no clima e na produção e disponibilidade de alimentos, recomenda-se que, em áreas de risco, a avaliação das reservas energéticas dos indivíduos seja feita de modo contínuo, sob a forma de sistemas de monitoramento.” (MONTEIRO, 2003, p.9).

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resultados positivos em relação à desnutrição aguda e ao índice de massa corporal de crianças (MAGALHÃES JR, JAIME e LIMA, 2013).