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1.3 REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA (DÉCADAS DE 1970 E 1980)

Em linhas gerais, as décadas de 1970 e 1980 são caracterizadas pelo amplo crescimento econômico do mundo capitalista desenvolvido. Ainda que a riqueza gerada no período “[...] jamais chegasse à vista da maioria da população do mundo [...]” (HOBSBAWM, 2006, p. 255). Nesse processo, o grande crescimento populacional registrado25 possibilitou a ampliação da fome endêmica, em especial nos países do Terceiro

24 Para a elaboração desse quadro utilizamos diversas fontes tais como: FLEURY (1994); PEREIRA JR.

(2005); FILGUEIRAS (1996); consultas a sites como: http://www.historianet.com.br/home/; http://www.histedbr.fae.unicamp.br/ , entre outros.

25 Segundo o IBGE, “[...] a taxa de crescimento da população mundial, no início dos anos 70, atingia 2,01%,

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Mundo26 e por consequência, ampliando as disparidades entre as diferentes partes do

mundo27. “Havia uma substancial reestruturação e reforma do capitalismo e um avanço

bastante espetacular na globalização e internacionalização da economia.” (HOBSBAWM, 2006, p. 264).

A partir do processo de intensificação de internacionalização das economias capitalistas, iniciado nos anos de 1970 (década marcada por transformações do capitalismo relacionadas com a crise do fordismo, provocaram o esgotamento daquele modelo de sociedade e inauguraram um período de reestruturação econômica e de reajustamento político e social em diversos países) e 1980, a discussão sobre pobreza ganhou maior destaque (questões como a falta de acesso a bens e serviços, a falta de perspectiva decorrente do desemprego, empregos ruins e instáveis gerando renda insuficiente para garantir um padrão de vida mínimo)28.

A crise do petróleo em 197329 apresenta sinais do esgotamento do modelo de economia mista keynesiana. Assim novas ideias econômicas entram em debate, em especial

26 “O reaparecimento de miseráveis sem teto era parte do impressionante aumento da desigualdade social e

econômica na nova era. Pelos padrões mundiais, as ricas “economias de mercado desenvolvidas” não eram – ou ainda não eram – particularmente injustas na distribuição de sua renda. [...] Como os países capitalistas ricos estavam muito mais ricos do que nunca e seu povo, em geral, estava agora protegido pelos generosos sistemas de previdência social do que se poderia esperar, embora as finanças do governo se vissem mais espremidas entre enormes pagamentos de benefícios sociais, que subiram mais depressa que as rendas do Estado em economias cujo crescimento era mais lento do que antes de 1973.” (HOBSBAWM, 2006, pp. 396- 397).

27 O processo de globalização vai gerar uma polarização internacional, aumentando o distanciamento entre os

países que se encontram no centro da economia capitalista e os países periféricos, os quais não apresentam nenhum interesse, seja do ponto de vista econômico ou estratégico, para os países centrais. Os países da periferia não são mais destinados ao desenvolvimento ou progresso, mas sim à pobreza e a miséria (CHESNAIS, 1996).

28 “Um aumento do número de pessoas sem moradia marcou um estado geral de deslocamento social

caracterizado por confrontos (muitos deles com laivos racistas ou étnicos). Os doentes mentais foram devolvidos aos cuidados de suas comunidades, consistindo esse cuidado, em larga medida, em rejeição e violência, a ponta do iceberg de negligência que deixou quase 40 milhões de cidadãos de uma das mais ricas nações do mundo sem nenhuma cobertura médica.” (HARVEY, 2000, p. 296).

29 “Desde 1945, os EUA tentam dominar o Oriente Médio, pois e ai que jorra a torneira do petróleo mundial.

Quem controla a torneira do petróleo global controla o mundo. Seu objetivo foi impedir a formação de uma forca politica poderosa independente na região e proteger a existência de um mercado mundial de petróleo único, em dólares. Isso reforça a hegemonia global do dólar e concede aos Estados Unidos o poder de senhoriagem, a capacidade de imprimir dinheiro em nível global, quando em perigo. Os EUA já lutaram duas guerras do Golfo e estenderam seu alcance ao Afeganistão e ao Paquistão. Ameaçam perpetuamente o Irã, o único país que se recusou a aceitar a hegemonia estadunidense e que tem procurado manter sua posição como uma potencia política independente, apesar da longa guerra apoiada pelos EUA com o Iraque de Saddam Hussein em 1980. A extensão do controle dos EUA para fora dos Estados produtores de petróleo centrais, como o Afeganistão e até mesmo o coração da Ásia central, tem todas as marcas da preempção geopolítica contra as aspirações russas e chinesas.” (HARVEY, 2011, pp. 170-171).

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as ideias de Friedrich von Hayek (1974) e de Milton Friedman (1974), ambos economistas defensores do livre mercado e de um modelo político ultraliberal, o que conhecemos como neoliberalismo, que influenciou grandemente as políticas adotadas a partir dos anos 198030.

O pensamento neoliberal implantou ideias31 que vieram a afetar grandemente as políticas sociais, segundo Draibe (1993, p. 92)

[...] desestabilização dos pilares do Welfare State, reduzindo a universalidade e os graus de cobertura de muitos programas sociais, “assistencializando” – isto é, retirando do campo dos direitos sociais – muitos dos benefícios e, quando puderam, privatizando a produção, a distribuição ou ambas as formas públicas de provisão dos serviços sociais. Na base de tal “redirecionamento” estava a vontade de quebrar a espinha dorsal dos sindicatos e dos movimentos organizados da sociedade.

Dessa forma, convencionou-se dizer que a economia dos anos de 1970 a 1980 corresponde ao período de reestruturação econômica e de reajustamento social e político. Nesse momento coincidem uma grande mudança na economia mundial e a crise social:

A acumulação flexível, como vou chama-la, é marcada por um confronto direto da rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas [...]. Ela também envolve um grande movimento que chamarei de “compressão do espaço-tempo” [...] no mundo capitalista – os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitam, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitam cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado. (grifos do autor, HARVEY, 2000, p.140).

30 “Era uma guerra ideológica incompatível. Os dois lados apresentavam argumentos econômicos. Os

keynesianos afirmavam que altos salários, pleno emprego e o Estado de Bem-estar haviam criado a demanda de consumo que alimentara a expansão, e que bombear mais demanda na economia era a melhor maneira de lidar com depressões econômicas. Os neoliberais afirmavam que a economia e a política da Era de Ouro impediam o controle da inflação e o corte de custos tanto no governo quanto nas empresas privadas, assim permitindo que os lucros, verdadeiro motor do crescimento econômico numa economia capitalista, aumentassem.” (HOBSBAWM, 2006, p.399).

31 “Desde logo, está a referência a ideias e não a interesses: afirmando recusar a tese liberal da política

pluralista ou conduzida pelo jogo de interesses através de seus advogados e lobbies, mas também pretendendo superar mecanismos políticos típicos da vida democrática, o tecnocratismo neoliberal declara-se atuar movido por ideias e valores distantes e acima dos particularismos, corporativismos e populismos de toda ordem, forma de redução do interesse geral a algumas concepções do que seja “moderno”, “flexível” e “eficiente”.” (DRAIBE, 1993, p.88).

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Outra característica desse período é o reconhecimento do meio acadêmico e das instituições de financiamento do desenvolvimento (em especial a ONU e o Banco Mundial) das questões relacionadas à pobreza e as desigualdades sociais que não estavam sendo equacionadas como frutos do crescimento econômico, tanto nos países ricos como nos pobres. Ao contrário, as pesquisas realizadas davam conta de que o modelo de crescimento econômico era um dos fatores geradores de desigualdades sociais. A preocupação com a pobreza ganhou, a partir de então, centralidade nas pautas de governos nacionais e nos debates acadêmicos e sociais (ROCHA, 2006).

As questões próprias da organização e da divisão do trabalho neste período passaram por mudanças importantes. Do esgotamento do modelo de produção fordista surgem novos modelos, tal como o toyotismo (modelo de organização da produção japonês caracterizado pelo just-in-time, ou seja, a flexibilização na produção conforme a demanda, sem excedentes, sem estoques).

Foi então, durante a década de 1980, que ocorreram os primeiros impulsos do nosso processo de reestruturação produtiva, levando as empresas a adotar, no início de modo restrito, novos padrões organizacionais e tecnológicos, novas formas de organização social do trabalho. Iniciou-se a utilização da informatização produtiva e do sistema just-

in-time; germinou a produção baseada em team-work, alicerçada nos programas de

qualidade total, ampliando também o processo de difusão da microeletrônica (ANTUNES, 2006, 17).

Dois pontos importantes na política internacional marcam o período: o governo de Ronald Reagan (1981-1989)32 como presidente dos EUA e Margaret Thatcher (1979- 1990)33 como primeira ministra da Grã-Bretanha. As bases políticas dos dois governos pautavam-se, em linhas gerais, na diminuição do papel do Estado no provimento de

32 “[...] Reagan também reduziu os impostos em favor dos ricos, elevou as taxas de juros e aplastou a única

greve séria de sua gestão. Mas, decididamente, não respeitou a disciplina orçamentária; ao contrário, lançou- se numa corrida armamentista sem precedentes, envolvendo gastos militares enormes, que criaram um déficit público muito maior do que qualquer outro presidente da história norte-americana. Mas esse recurso a um keynesianismo militar disfarçado, decisivo para uma recuperação das economias capitalistas da Europa ocidental e da América do Norte, não foi imitado. Somente os Estados Unidos, por causa de seu peso na economia mundial, podiam dar-se ao luxo do déficit massivo na balança de pagamentos que resultou de tal política.” (ANDRESON, 1995, p.10).

33 “Os governos Thatcher contraíram a emissão monetária, elevaram as taxas de juros, baixaram drasticamente

os impostos sobre os rendimentos altos, aboliram controles sobre os fluxos financeiros, criaram níveis de desemprego massivos, aplastaram greves, impuseram uma nova legislação anti-sindical e cortaram gastos sociais. E, finalmente – esta foi uma medida surpreendentemente tardia –, se lançaram num amplo programa de privatização, começando por habitação pública e passando em seguida a indústrias básicas como o aço, a eletricidade, o petróleo, o gás e a água. Esse pacote de medidas é o mais sistemático e ambicioso de todas as experiências neoliberais em países de capitalismo avançado.” (ANDRESON, 1995, p.10).

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benefícios sociais via privatização de serviços públicos relegados ao mercado e/ou voluntariado. As políticas implantadas durante seus governos podem ser caracterizadas pelo

laissez-faire, ou seja, a liberdade do mercado em relação ao Estado, o mercado livre34.

O segundo ponto de alteração da política econômica internacional ocorre, nos anos 1980 com a “emergência” de economias de países do Pacífico, caracterizado por altos índices de crescimento econômico e de rápida industrialização, os assim chamados Tigres Asiáticos – seguidos pelo Japão e a China, nesse período destacaram-se Hong Kong, Coréia do Sul, Singapura e Taiwan -, de grande influência na economia mundial. Com a economia baseada na exportação, baratearam a mão-de-obra pelo fortalecimento de seus sistemas educacionais e reformas agrárias.

Assim, segundo o pensamento de Chesnais (1996), se a acumulação fordista garantiu: a) a existência do trabalho assalariado como forma dominante de inserção social e de acesso à renda; b) um nível de emprego assalariado alto e bem pago para a manutenção da estabilidade social e para a produção em massa; e c) a existência de instituições fortes nos Estados para impor ao capital privado disposições e disciplinamentos; a atual fase de acumulação destruiu ou danificou essas garantias. O novo modo de produção mostra sua incapacidade de gerir a existência do trabalho assalariado; gera desemprego estrutural; acentua diferenças profissionais e sociais; reduzindo drasticamente a capacidade dos governos e suas instituições de controlar o capital privado.

Dessa forma, independente dos interesses estatais, a nova configuração do capitalismo mundial e nos mecanismos que comandam seu desempenho e sua regulação, o processo de globalização que serviu de contexto para a “mundialização do capital” liberando totalmente as forças de mercado, o capitalismo financeiro - resultante de dois movimentos interligados: a mais longa fase de acumulação ininterrupta de capital (desde 1914) e as políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas nos governos de Thatcher e Reagan -, trouxe como “consequências mecânicas” da globalização a perda da capacidade da maioria dos países capitalistas de conduzir seu desenvolvimento, o desaparecimento de

34 “Na verdade, os regimes mais profundamente comprometidos com a economia da laissez-faire eram

também às vezes, e notadamente no caso dos EUA de Reagan e da Grã-Bretanha de Thatcher, profunda e visceralmente nacionalistas e desconfiados do mundo externo.” (HOBSBAWM, 2006, p.402).

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certa especificidade dos mercados nacionais e a destruição da possibilidade de levar adiante políticas nacionais próprias (CHESNAIS, 1996).

Novas organizações e instâncias de regulação supranacionais35 (ONGs, Mercosul,

Organização Mundial do Comércio, União Europeia, Banco Mundial, OCDE, FMI) ditam os parâmetros das reformas do Estado, as funções do aparelho político-administrativo e do controle social; ou a adoção de políticas modernizadoras, relegam ao Estado à função de mediação e adequação das prioridades externamente definidas; ou promoção das agendas para a transnacionalização capitalista e globalização hegemônica. – articulação das regulações (nacional e supranacional) (AFONSO, 2001).

Assim, a partir dos anos de 1980, caberia às empresas multinacionais ofertarem benefícios sociais que os Estados nacionais não conseguiam prover. Os Estados tiveram seu papel modificado quanto às políticas fiscais e monetárias internas, às políticas econômicas externas e ao controle das transações internacionais. Dessa forma, orçamentos públicos equilibrados seriam necessários para a manutenção da ordem econômica no mundo globalizado. Caberia então aos Estados nacionais garantir o equilíbrio entre o consumo e o investimento, o comando em acordos de taxação, o controle das relações entre capital e trabalho, a construção de um “consenso social” e o equacionamento da questão federativa (DUPAS, 2001).

No primeiro momento – no início dos anos 80, se se quiser – diríamos de modo resumido que tal movimento foi percebido principalmente nas suas dimensões negativas – a falência econômica, atribuída em grande parte a um estado em crise, a um esgotamento de regulação econômica. As dimensões da transformação produtiva e os acelerados graus de redução de tempo de trabalho nela embutidos, de um lado, e, de outro, os desafios à elevação da competitividade das economias apoiadas nas novas tecnologias e na globalização financeira – tais dimensões vieram a ser melhor percebidas e estimuladas num segundo momento, do final dos 80 em diante.

A ideologia neoliberal que acompanhou e praticamente “dirigiu” este movimento também teve ênfase e variações nas suas teses e propostas, segundo aqueles dois momentos. Na primeira fase, pode-se afirmar que foi basicamente defensivas suas “recomendações” visando superar a crise pela negação dos princípios socialdemocratas de regulação econômico-social.

35 “Houve, em resumo, uma luta pela recuperação, para a coletividade dos Estados capitalistas, de parte do

poder por eles perdido individualmente nas duas décadas passadas. Essa tendência foi institucionalizada em 1982, quando o FMI e o Banco Mundial foram designados como autoridade central capaz de exercer o poder coletivo das nações-Estado capitalistas sobre as negociações financeiras internacionais. Esse poder costuma ser empregado para forçar reduções de gastos públicos, cortes de salários reais e austeridade nas políticas fiscal e monetária, [...]” (HARVEY, 2000, pp.159-160).

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No segundo momento, a ênfase maior tem sido posta nos vetores de políticas que podem sustentar o crescimento apoiado na elevação da competitividade sistêmica, e no reforço a mecanismos de modernização e flexibilização das estruturas e fatores sociais, condizentes com as características das novas tecnologias.” (DRAIBE, 1993, p.92). Em linhas gerais, a ideia é de que à medida que novas forças econômicas, políticas e sociais vão surgindo, o Estado se destina a promover as condições econômicas necessárias para um novo regime de acumulação “pós-fordista”. A esse tipo de Estado, Jessop (2008) denominou de “Estado competitivo Schupeteriano”: caracterizado pela preocupação com as mudanças tecnológicas, as inovações e as empresas, e pela pretensão de desenvolver novas técnicas de governo e de governabilidade. “[...] considerada como una condensación

estratégicamente selectiva que está determinada por la forma del cambiante equilíbrio de las fuerzas políticas.” (JESSOP, 2008, p. 118). Ainda seguindo a explicação de Jessop

(2008), o Estado competitivo ao garantir o crescimento econômico dentro de suas fronteiras e assegurando a criação, a reestruturação e o reforço das vantagens competitivas para o capital interno ou estrangeiro dentro de suas fronteiras, promovendo as condições econômicas essenciais para a concorrência com outros Estados.

De tal forma as mudanças são profundas e sentidas especialmente nas políticas de trabalho e emprego. As questões atreladas à lógica de produção são transferidas para a área financeira. O processo se deu de forma rápida, resultando em uma enorme dificuldade das economias nacionais em se adequarem ao modelo, submetidas às diretrizes das grandes empresas internacionais. Segundo Chesnais (1996), tal modelo de acumulação transferiu a centralidade da produção no processo de acumulação para a esfera financeira. “É na produção que se cria riqueza, a partir da combinação social de formas de trabalho humano, de diferentes qualificações. Mas é a esfera financeira que comanda, cada vez mais, a repartição e a destinação social dessa riqueza.” (CHESNAIS, 1996, 15).

Essas mutações, portanto, inseridas na lógica da racionalidade instrumental do mundo empresarial, estão intimamente relacionadas ao processo de reestruturação produtiva do capital, no qual as grandes empresas, por meio da flexibilização dos regimes de trabalho, da subcontratação de profissionais e terceirização, procuram aumentar sua competitividade, fraturando e fragmentando ainda mais a classe que vive do trabalho (ANTUNES, 2006, 25).

Essas mudanças resultaram no que se convencionou chamar de desestruturação do mercado de trabalho ou a crise do emprego, caracterizado por: desemprego em todos os segmentos sociais; regressão dos postos de trabalho formais (desassalariamento); destruição dos postos de trabalho de melhor qualidade. As mudanças no perfil dos desempregados,

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antes em segmentos jovens, mulheres, negros e pessoas sem qualificação, analfabetos e trabalhadores com pequena experiência profissional passa a atingir todos os segmentos sociais. Nas faixas mais baixas de renda, o desemprego é mais elevado que a média para todas as classes. A elevação da escolaridade tem significado taxas progressivamente mais altas de desemprego (POCHMANN, 2006).

Dessa forma, segundo Castells (1999), nos anos 1980 a economia capitalista em geral se deslocava em três níveis: 1) detentores dos direitos de propriedade (a) acionistas de empresas; b) proprietários familiares; c) empresários individuais); 2) classes de administradores; 3) apropriação de lucros pelos mercados financeiros globais. O que, segundo o autor, nos leva a uma nova configuração social, caracterizada pela desigualdade social com base na renda e condições sociais (aumento da desigualdade social e polarização, resultantes da diferença entre mão de obra produtiva e auto-programável; da individualização dos trabalhadores; e pelo fim da assistência do Estado); pela exclusão social (desassociação das pessoas como trabalhadores/consumidores); e as relações de classe.

Segundo Draibe (1993), nessa nova sociedade as relações de produção são diferentes das relações em outros estágios de acumulação capitalista (competitividade, produtividade, inovação, flexibilização). Dos trabalhadores passou-se a exigir novas capacidades em especialidades necessárias, aumentando a pressão por acesso às aprendizagens de tais qualificações, gerando uma busca maciça por qualificação e uma grande parcela da população acabou desempregada, aprofundando o processo de pauperização36.

Dessa forma, a questão da pobreza entra na agenda política fortemente atrelada às criticas do modelo de acumulação capitalista vigente, em especial a partir da década de 1980. Segundo Castells (1999), do final dos anos de 1960 a meados dos anos 1970, a

36 “[...] o centro da tese sobre as novas exigências para a mão-de-obra: dada a aproximação entre gestão e

controle dos fluxos de produção, à base das novas tecnologias, a mão-de-obra deve ser antes de tudo educada e sua educação deve apoiar-se no desenvolvimento da capacidade lógico-abstrata para decodificar instruções, calcular, programar e gerenciar processos. Somente assim será capaz de inovar e assimilar rapidamente as contínuas e rápidas inovações a que está sujeita.

Ora, as bases institucionais do investimento em recursos humanos estão relacionadas com as redes públicas de educação básica e secundária, assim como com os programas universais de saúde coletiva, prevenção de doenças e atenção primária. Redes e programas, como se sabe, próprios da ação estatal e muito pouco adequados a modificações do tipo focalização ou privatização.”(DRAIBE, 1993, p.93).

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categoria pobreza emerge como problema social em consequência histórica de três